"Esqueça os banhos mais curtos"
-
0:06 - 0:09Será que alguma pessoa sã pensaria
que catar lixo teria impedido Hitler, -
0:09 - 0:13ou que compostagem teria
acabado com a escravidão -
0:14 - 0:17ou trazido a jornada de
trabalho de oito horas, -
0:17 - 0:20ou que cortar lenha e carregar água
-
0:20 - 0:23teria tirado as pessoas
das prisões czaristas, -
0:23 - 0:25ou que dançar em volta de uma fogueira
-
0:25 - 0:28teria auxiliado na aprovação
dos direitos ao voto -
0:29 - 0:32ou dos direitos civis?
-
0:33 - 0:36Então, por que agora,
com todo o mundo em jogo, -
0:36 - 0:38tantas pessoas partem
para estas "soluções" -
0:39 - 0:40inteiramente pessoais?
-
0:40 - 0:42"Soluções"
-
0:43 - 0:48"Esqueça os banhos mais curtos"
-
0:49 - 0:51Parte do problema é que temos sido vítimas
-
0:51 - 0:54de uma enganosa campanha sistemática.
-
0:54 - 0:57A cultura de consumo e a
mentalidade capitalista -
0:57 - 1:00nos ensinaram a utilizar atos de
opções pessoais de estilo de vida -
1:00 - 1:03em substituição à resistência
política organizada. -
1:05 - 1:08O mesmo é verdadeiro para o
esclarecimento espiritual. -
1:08 - 1:12Isso não é resistência política organizada.
-
1:15 - 1:18O filme "Uma verdade inconveniente"
ajudou a aumentar a conscientização -
1:18 - 1:19a respeito do aquecimento global,
-
1:19 - 1:22mas você percebeu que
todas as soluções apresentadas -
1:22 - 1:24tinham a ver com consumo pessoal:
-
1:24 - 1:27trocar lâmpadas,
calibrar pneus, dirigir menos... -
1:28 - 1:31e não tinham nada a ver com
a retirada de poder -
1:31 - 1:32das corporações
-
1:33 - 1:34ou a interrupção do crescimento econômico
-
1:34 - 1:36que está destruindo o planeta?
-
1:36 - 1:39(Al Gore) "Cada um de nós é a causa do aquecimento global,
-
1:39 - 1:41mas cada um de nós pode fazer
escolhas para modificar isso: -
1:42 - 1:45o que compramos, a eletricidade
que usamos, os carros que dirigimos, -
1:45 - 1:49podemos fazer escolhas para zerar
nossas emissões individuais de carbono." -
1:50 - 1:53Mas mesmo que cada pessoa nos EUA
-
1:53 - 1:55fizesse tudo que o filme sugere,
-
1:55 - 1:58as emissões de carbono no país diminuiriam
-
1:58 - 2:00apenas 22%,
-
2:00 - 2:02e o consenso científico é
de que as emissões -
2:02 - 2:04devem ser reduzidas em pelo menos 75%...
-
2:05 - 2:07no mundo todo.
-
2:08 - 2:10Ou vamos falar da água.
-
2:10 - 2:12Nós tão frequentemente ouvimos
-
2:12 - 2:13que a água do mundo está acabando.
-
2:13 - 2:15Pessoas estão morrendo por falta de água,
-
2:15 - 2:17rios estão secando por falta de água.
-
2:18 - 2:20E ainda que seja verdade,
-
2:20 - 2:21nos dizem que por causa disso,
-
2:21 - 2:24temos que tomar banhos mais curtos.
-
2:25 - 2:27Percebem a falta de nexo?
-
2:28 - 2:30Porque eu tomo banho,
eu sou responsável -
2:30 - 2:32pela drenagem dos aquíferos?
-
2:32 - 2:33Bem, não.
-
2:33 - 2:36Mais de 90% da água utilizada por humanos
-
2:36 - 2:39é consumida pela agricultura
e pela indústria. -
2:40 - 2:42Os 10% restantes são divididos
-
2:42 - 2:43entre os municípios
-
2:43 - 2:46e indivíduos humanos que
realmente vivem e respiram. -
2:47 - 2:51Coletivamente, os campos
municipais de golf utilizam tanta água -
2:51 - 2:53quanto os seres humanos do município.
-
2:53 - 2:55Isso é insano.
-
2:57 - 3:00Tanto seres humanos como peixes
-
3:00 - 3:02não estão morrendo porque o mundo
-
3:02 - 3:03está ficando sem água.
-
3:04 - 3:05Estão morrendo
-
3:05 - 3:08porque a água está sendo roubada.
-
3:11 - 3:13Bem, vamos falar de energia.
-
3:14 - 3:16Kirkpatrick Sale resumiu bem:
-
3:16 - 3:17"Pelos últimos 15 anos
-
3:17 - 3:19tem sido a mesma história a cada ano.
-
3:19 - 3:21O consumo individual (de energia) -
-
3:21 - 3:23residencial, carro próprio,
e por aí vai - -
3:23 - 3:25nunca é maior do que
aproximadamente um quarto -
3:25 - 3:27do consumo total.
-
3:27 - 3:29A vasta maioria é comercial, industrial,
-
3:29 - 3:32corporativo, pelo agronegócio
e pelo governo. -
3:32 - 3:33[Ele esqueceu o consumo militar.]
-
3:33 - 3:36Então, mesmo se todos nós
passássemos a andar de bicicleta -
3:36 - 3:37e a usar fogões a lenha,
-
3:37 - 3:39isso teria um impacto insignificante
-
3:39 - 3:41no uso de energia,
no aquecimento global, -
3:41 - 3:43e na poluição atmosférica."
-
3:50 - 3:52Ou falemos do lixo (resíduos).
-
3:52 - 3:54Em 2005, a produção
-
3:54 - 3:55municipal per-capita de resíduos
-
3:55 - 3:58(basicamente tudo que vai para a lixeira)
-
3:58 - 4:02nos EUA era por volta de 750 Kg.
-
4:03 - 4:05Digamos que você é um ativista
-
4:05 - 4:07fervoroso, de vida simples,
-
4:07 - 4:08e você reduz esse número a zero.
-
4:08 - 4:10Você recicla tudo.
-
4:10 - 4:13Você usa sacolas de tecido
para carregar suas compras. -
4:13 - 4:15Você conserta sua torradeira.
-
4:15 - 4:17Seus dedos saem para fora
do seu tênis velho e furado. -
4:18 - 4:19Mas isso não é tudo.
-
4:19 - 4:21Já que o lixo municipal
-
4:21 - 4:23inclui não apenas os
resíduos residenciais, -
4:23 - 4:25mas também os resíduos dos
escritórios do governo -
4:25 - 4:26e das empresas,
-
4:26 - 4:27você vai até esses escritórios,
-
4:27 - 4:30panfletos para a redução de lixo na mão,
-
4:30 - 4:32e convence-os a diminuir os resíduos
-
4:32 - 4:34o suficiente para eliminar sua parcela.
-
4:35 - 4:37Bem, eu tenho más notícias.
-
4:37 - 4:38O lixo municipal
-
4:38 - 4:40é responsável por apenas 3%
-
4:40 - 4:41do total de resíduos gerados
-
4:41 - 4:42nos EUA.
-
4:50 - 4:51Quero ser claro.
-
4:52 - 4:55Não quero dizer que nós não
devemos levar uma vida simples. -
4:55 - 4:58Eu mesmo vivo de forma simples,
-
4:58 - 5:01mas não finjo que não comprar muito,
-
5:01 - 5:03ou não dirigir muito,
ou não ter filhos, -
5:03 - 5:05sejam atos políticos poderosos,
-
5:06 - 5:08ou que sejam profundamente
revolucionários, -
5:08 - 5:10porque não são.
-
5:10 - 5:13Mudança pessoal não equivale a mudança social.
-
5:14 - 5:15Então, como,
-
5:15 - 5:18e especialmente com o
mundo inteiro em risco, -
5:18 - 5:19fomos aceitar
-
5:19 - 5:22estas respostas totalmente insuficientes?
-
5:25 - 5:28Penso que parte disso é porque estamos
"entre a cruz e a espada". -
5:28 - 5:30Esse impasse ocorre quando dão a você
-
5:30 - 5:31múltiplas opções,
-
5:31 - 5:33mas não importa qual você escolha,
-
5:33 - 5:34você perde,
-
5:34 - 5:37e a desistência não é uma opção.
-
5:38 - 5:40Neste ponto deveria ser bem fácil
-
5:40 - 5:42reconhecer que cada ação
-
5:42 - 5:43envolvendo a economia industrial
-
5:43 - 5:45é destrutiva,
-
5:45 - 5:46e não deveríamos fingir que
-
5:46 - 5:48painéis solares fotovoltaicos,
por exemplo, -
5:48 - 5:50nos isentam disso.
-
5:50 - 5:51Eles ainda requerem infraestruturas
-
5:51 - 5:53de mineração e transporte
-
5:53 - 5:55em cada ponto do
processo de produção. -
5:55 - 5:56O mesmo pode ser dito
-
5:56 - 6:00para cada outra tecnologia
chamada de "verde". -
6:03 - 6:05Se escolhemos a opção um -
-
6:05 - 6:07se participamos avidamente
-
6:07 - 6:08da economia industrial,
-
6:08 - 6:11podemos pensar que vencemos
no curto prazo -
6:11 - 6:13porque acumulamos riqueza,
-
6:13 - 6:15o indicador do chamado "sucesso"
-
6:15 - 6:16nessa cultura.
-
6:16 - 6:18Mas nós perdemos,
-
6:18 - 6:20porque assim desistimos
de nossa empatia, -
6:20 - 6:22de nossa humanidade animal.
-
6:22 - 6:24E realmente perdemos porque
-
6:24 - 6:26a civilização industrial está
matando o planeta, -
6:26 - 6:29o que significa que todos perdem.
-
6:29 - 6:32E se escolhemos a opção "alternativa"
-
6:32 - 6:33de viver de forma mais simples,
-
6:33 - 6:35e assim causando menos danos,
-
6:35 - 6:37mas ainda sem impedir
a economia industrial -
6:37 - 6:38de matar o planeta,
-
6:38 - 6:41nós podemos a curto prazo
pensar que vencemos, -
6:41 - 6:42porque temos que nos sentir puros,
-
6:42 - 6:44e nós nem tivemos que desistir
-
6:44 - 6:45de toda nossa empatia,
-
6:45 - 6:48apenas o suficiente para justificar
o fato de não interrompermos o horror, -
6:49 - 6:50porém, mais uma vez realmente perdemos,
-
6:50 - 6:52porque a civilização industrial
-
6:52 - 6:53está matando o planeta,
-
6:53 - 6:56o que significa que todos ainda perdem.
-
7:00 - 7:02A terceira opção,
-
7:02 - 7:04agir de forma decisiva para
deter a economia industrial, -
7:05 - 7:07é muito aterrorizante por várias razões,
-
7:08 - 7:10incluindo, mas não se restringindo,
ao fato de que -
7:10 - 7:12perderíamos alguns dos luxos,
-
7:12 - 7:14por exemplo, eletricidade,
-
7:14 - 7:17aos quais nos tornamos muito acostumados,
-
7:17 - 7:18e o fato de que aqueles no poder
-
7:18 - 7:20podem tentar nos matar se
nós realmente impedirmos -
7:20 - 7:22sua capacidade de explorar o mundo,
-
7:23 - 7:28mas nada que altere o fato de que é
uma melhor opção do que um planeta morto. -
7:28 - 7:31Qualquer opção é melhor
do que um planeta morto. -
7:37 - 7:39Além de ser ineficaz em produzir
-
7:39 - 7:41os tipos de mudanças necessárias
-
7:41 - 7:43para impedir que esta cultura
mate o planeta, -
7:43 - 7:45há pelo menos outros quatro problemas
-
7:45 - 7:48com a percepção de viver de
forma simples como um ato político -
7:48 - 7:50oposta à de viver de forma simples
-
7:50 - 7:51porque é o que você quer fazer.
-
7:52 - 7:54A primeira está baseada
na noção errônea -
7:54 - 7:58de que os humanos inevitavelmente
prejudicam a terra que ocupam. -
7:58 - 7:59O viver simples como um ato político
-
7:59 - 8:02consiste apenas na redução de danos,
-
8:02 - 8:04ignorando o fato de que os humanos
-
8:04 - 8:06podem ajudar à Terra tanto
quanto prejudicá-la. -
8:07 - 8:10Podemos reabilitar riachos,
-
8:10 - 8:12podemos nos livrar de invasores nocivos,
-
8:12 - 8:14podemos remover represas,
-
8:14 - 8:16podemos destruir um sistema político
-
8:16 - 8:17voltado para os ricos
-
8:17 - 8:20assim como um sistema
econômico extrativista, -
8:20 - 8:22podemos destruir a economia industrial
-
8:22 - 8:26que está destruindo o mundo físico real.
-
8:37 - 8:38O segundo problema,
-
8:38 - 8:40e também é um grande,
-
8:41 - 8:43é que esse pensamento
incorretamente atribui culpa -
8:43 - 8:46ao indivíduo, e mais especialmente
-
8:46 - 8:48a indivíduos que são particularmente impotentes,
-
8:49 - 8:52ao invés de responsabilizar aqueles
que realmente têm poder -
8:52 - 8:53nesse sistema
-
8:53 - 8:56e ao sistema em si.
-
9:00 - 9:01O terceiro problema
-
9:02 - 9:05é que esse pensamento aceita que
o capitalismo nos redefine -
9:05 - 9:08de cidadãos a consumidores.
-
9:08 - 9:10Ao aceitar essa redefinição,
-
9:10 - 9:13nós reduzimos nossas potenciais
formas de resistência -
9:13 - 9:15a consumir e a não consumir.
-
9:17 - 9:19Mas cidadãos têm uma gama
muito maior -
9:19 - 9:21de táticas de resistência disponíveis,
-
9:21 - 9:23incluindo votar ou não votar,
-
9:23 - 9:26concorrer a um cargo,
panfletar, boicotar, -
9:26 - 9:28organizar, fazer lobby,
protestar, -
9:28 - 9:32e, quando um governo torna-se destruidor
da vida, liberdade e busca por felicidade, -
9:33 - 9:35nós temos o direito de
alterá-lo ou aboli-lo. -
9:41 - 9:42O quarto problema
-
9:42 - 9:44é que o objetivo final da lógica
-
9:44 - 9:46de viver de forma simples
como um ato político -
9:46 - 9:48é o suicídio.
-
9:48 - 9:50Se cada ato dentro de
uma economia industrial -
9:50 - 9:51é destrutivo,
-
9:51 - 9:53e se queremos parar
com essa destruição, -
9:53 - 9:56e não estamos dispostos ou
somos incapazes de questionar, -
9:56 - 9:58e menos ainda de destruir,
-
9:58 - 9:59as infraestruturas intelectuais, morais,
-
9:59 - 10:01econômicas e físicas
-
10:01 - 10:02que fazem cada ato
-
10:02 - 10:04dentro de uma economia industrial
-
10:04 - 10:05ser destrutivo,
-
10:05 - 10:07então podemos facilmente vir a acreditar
-
10:07 - 10:09que nós causaremos
-
10:09 - 10:10a menor destruição possível
-
10:10 - 10:12se estivermos mortos.
-
10:14 - 10:15A boa notícia é
-
10:15 - 10:16que há outras opções.
-
10:17 - 10:19Podemos seguir os exemplos
de corajosos ativistas -
10:20 - 10:22que viveram através dos
tempos difíceis que mencionei: -
10:23 - 10:25Alemanha nazista, Rússia czarista,
-
10:25 - 10:27EUA pré-guerra civil...
-
10:27 - 10:28que fizeram muito mais
-
10:28 - 10:31que manifestar uma forma
de purificação pessoal. -
10:32 - 10:34Eles agiram ativamente
contra as injustiças -
10:34 - 10:36que os cercavam.
-
10:36 - 10:38Podemos seguir o exemplo
-
10:38 - 10:39daqueles que se lembraram
-
10:39 - 10:40de que o papel de um ativista
-
10:40 - 10:41não é navegar nos sistemas
-
10:41 - 10:43do poder opressor
-
10:43 - 10:45com a maior integridade pessoal possível,
-
10:45 - 10:47mas sim confrontar
-
10:47 - 10:49e acabar com aqueles sistemas.
-
10:56 - 10:59Vamos ao trabalho!
- Title:
- "Esqueça os banhos mais curtos"
- Description:
-
Será que alguma pessoa sã pensaria
que catar lixo teria impedido Hitler, ou que compostagem teria
acabado com a escravidão ou trazido a jornada de
trabalho de oito horas, ou que cortar lenha e carregar água teria tirado as pessoas
das prisões czaristas, ou que dançar em volta de uma fogueira teria auxiliado na aprovação
dos direitos ao voto ou dos direitos civis? Então, por que agora,
com todo o mundo em jogo, tantas pessoas partem
para estas "soluções" inteiramente pessoais? Por que estas "soluções" não são suficientes? Mais importante, o que pode ser feito para que realmente seja interrompido o assassinato ao planeta? - Video Language:
- English
- Duration:
- 11:23
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