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A história desconhecida da Capela Sistina

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    Imagine que você esteja em Roma
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    e chegou aos Museus do Vaticano.
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    E percorre vagarosamente
    os longos corredores,
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    passando por estátuas, afrescos
    e tantos outros objetos.
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    Vai em direção à Capela Sistina.
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    E por fim, um longo corredor,
    uma escada e uma porta.
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    Você se encontra na entrada
    da Capela Sistina.
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    O que você espera encontrar?
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    Cúpulas enormes? Coros de anjos?
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    Não há nada disso lá.
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    Você deve estar se perguntando:
    "O que há lá de fato?"
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    Bem, cortinas nas paredes da Capela.
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    Você está literalmente cercado
    de cortinas pintadas,
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    a decoração original desta capela.
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    As igrejas não usavam tapeçarias só para
    manter o ambiente quente em longas missas.
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    mas também como um meio
    de representar o grande teatro da vida.
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    O drama humano em que cada um de nós
    atua é parte de uma grande história;
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    uma história que engloba o mundo todo
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    e se desenrola nos três níveis
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    das pinturas na Capela Sistina.
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    Essa edificação foi idealizada
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    para um pequeno grupo de sacerdotes
    cristãos ricos e bem instruídos.
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    Lá rezavam e elegiam seu papa.
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    Quinhentos anos atrás,
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    era o maior reduto eclesiástico masculino.
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    Então, você deve estar se perguntando,
    como ela consegue hoje atrair e encantar
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    cinco milhões de pessoas por ano,
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    dos mais variados contextos sociais?
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    Porque naquele espaço reduzido
    houve uma explosão de criatividade,
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    incitada pela euforia causada
    pelas novas fronteiras geopolíticas,
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    a qual pôs fogo na antiga
    tradição missionária da Igreja
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    e produziu uma das maiores
    obras de arte da humanidade.
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    Este desenvolvimento aconteceu
    como uma grande evolução,
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    saindo de uma elite restrita
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    e finalmente conseguindo
    falar com um público
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    que vem de todos os cantos do planeta.
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    Essa evolução se deu em 3 fases,
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    cada uma ligada a um evento histórico.
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    A primeira teve um alcance mais limitado:
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    refletiu uma perspectiva mais paroquial.
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    A segunda se deu após as visões de mundo
    terem sido dramaticamente alteradas
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    após a viagem histórica
    de Cristóvão Colombo;
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    e a terceira,
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    quando a Era das Grandes
    Navegações já se desenrolava,
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    e a Igreja aceitou o desafio
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    de se tornar global.
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    A decoração original desta igreja
    refletia um mundo menor.
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    Havia cenas congestionadas
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    que contavam as histórias das vidas
    de Jesus e Moisés,
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    refletindo o desenvolvimento
    dos cristãos e dos judeus.
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    O homem encarregado disto,
    o Papa Sisto IV,
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    organizou uma equipe
    dos sonhos da arte florentina,
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    incluindo homens como Sandro Botticelli
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    e o homem que se tornaria o futuro
    professor de pintura de Michelangelo,
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    Ghirlandaio.
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    Estes homens cobriram as paredes
    com linhas de pura cor,
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    e nestas histórias perceberá
    paisagens familiares,
  • 3:04 - 3:08
    os artistas usaram monumentos
    romanos ou uma paisagem toscana
  • 3:08 - 3:11
    para tornar uma história distante,
    algo muito mais familiar.
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    Com a adição de imagens
    dos familiares e amigos do Papa,
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    esta era a decoração perfeita
    para uma pequena corte
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    limitada ao continente europeu.
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    Entretanto, em 1492, o Novo Mundo
    foi descoberto,
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    os horizontes se expandiam,
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    e este pequeno microcosmo de 40 m x 14 m
    também teve de se expandir.
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    E assim foi,
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    graças a um gênio criativo,
  • 3:37 - 3:40
    um visionário e uma história fantástica.
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    O gênio criativo era
    Michelangelo Buonarroti,
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    tinha 33 anos quando foi escolhido
    para decorar os 1.115 m2 de teto.
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    Tudo conspirava contra ele:
  • 3:49 - 3:52
    havia treinado pintura,
    mas a deixou para esculpir.
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    Havia mecenas furiosos em Florença
    porque ele havia deixado diversos
  • 3:55 - 3:57
    pedidos inacabados,
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    atraído por Roma pela possibilidade
    de um grande trabalho escultural,
  • 4:01 - 4:03
    o qual havia fracassado.
  • 4:03 - 4:07
    E ele havia sido comissionado
    para pintar doze apóstolos
  • 4:07 - 4:10
    em um pano de fundo decorativo
    no teto da Capela Sistina,
  • 4:10 - 4:13
    o que se pareceria com
    qualquer outro teto na Itália.
  • 4:14 - 4:15
    Mas este gênio aceitou o desafio.
  • 4:15 - 4:19
    Em uma época em que um homem ousou
    navegar através do oceano Atlântico,
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    Michelangelo ousou navegar
    em um novo oceano artístico.
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    Ele também contaria uma história,
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    sem apóstolos, mas uma história
    de um glorioso início:
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    a história da Criação.
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    Nada muito fácil de vender,
    histórias em um teto.
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    Como poderia interpretar uma cena
    complexa estando a 18 m abaixo?
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    A técnica que havia sido
    passada adiante durante 200 anos
  • 4:42 - 4:45
    em estúdios florentinos incapazes
    de criar este tipo de narrativa.
  • 4:46 - 4:49
    Mas Michelangelo não era
    exatamente um pintor,
  • 4:49 - 4:51
    e por isso trabalhou com
    os recursos que possuía.
  • 4:51 - 4:54
    Em vez de preencher o espaço
    com imagens cheias de informação,
  • 4:54 - 4:58
    pegou um martelo e um cinzel
    e trabalhou em um pedaço de mármore
  • 4:58 - 5:01
    para revelar a figura que havia lá dentro.
  • 5:01 - 5:03
    Michelangelo era um essencialista:
  • 5:03 - 5:07
    decidiu contar sua história
    em enormes corpos dinâmicos.
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    Este plano foi aceito
    pelo magnífico Papa Júlio II,
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    um homem que não teve medo
    do gênio atrevido de Michelangelo.
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    Ele era sobrinho do Papa Sisto IV,
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    havia sido educado em arte por 30 anos
    e tinha conhecimento do seu poder.
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    A história lhe deu o nome
    de o Papa Guerreiro,
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    mas o legado deste homem para o Vaticano
    não foi de fortalezas e artilharia:
  • 5:29 - 5:30
    foi a arte.
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    Ele nos deixou as Salas
    de Rafael, a Capela Sistina.
  • 5:33 - 5:34
    Nos deixou a Basílica de São Pedro
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    bem como uma coleção extraordinária
    de esculturas greco-romanas,
  • 5:40 - 5:43
    obras definitivamente
    não cristãs que se tornariam
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    o canteiro do primeiro museu moderno
    do mundo, os Museus Vaticanos.
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    O papa Júlio foi um homem
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    que imaginou um Vaticano
    eternamente importante
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    através de sua grandiosidade e beleza.
  • 5:56 - 5:58
    E ele estava certo.
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    O encontro entre esse dois gigantes,
    Michelangelo e Júlio II,
  • 6:03 - 6:05
    nos deu a Capela Sistina.
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    Michelangelo se dedicou
    tanto a esse projeto
  • 6:08 - 6:13
    que conseguiu concluí-lo
    em três anos e meio,
  • 6:13 - 6:17
    utilizando uma equipe reduzida e passando
    a maior parte do tempo,
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    horas a fio, lá no alto,
    pintando as cenas no teto.
  • 6:21 - 6:23
    Vamos então olhar para o teto
  • 6:23 - 6:26
    e ver histórias se tornarem globais.
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    Sem mais referências artísticas
    conhecidas pelo mundo ao seu redor.
  • 6:31 - 6:35
    Só há espaço, estrutura e energia;
  • 6:35 - 6:40
    uma estrutura pintada monumental,
    a qual se abre em nove painéis,
  • 6:40 - 6:44
    mais atraentes pela sua forma escultural
    do que pela cor da sua pintura.
  • 6:44 - 6:48
    Ficamos no lado mais afastado
    perto da entrada,
  • 6:48 - 6:52
    distantes do altar e da área
    fechada reservada ao clero
  • 6:52 - 6:57
    e olhamos ao longe,
    procurando por um início.
  • 6:57 - 7:01
    Quer seja em um questionamento
    científico ou em uma tradição bíblica,
  • 7:01 - 7:05
    pensamos em termos
    de uma faísca primitiva.
  • 7:05 - 7:07
    Michelangelo nos deu uma energia inicial
  • 7:07 - 7:10
    quando nos deu a separação
    entre a luz e a trevas,
  • 7:10 - 7:13
    uma imagem agitada embaçada ao longe,
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    comprimida em um espaço reduzido.
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    A imagem seguinte aparenta ser maior.
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    Vemos uma figura movendo-se
    rapidamente de um lado para o outro,
  • 7:21 - 7:26
    deixando para trás
    o sol, a lua e vegetação.
  • 7:26 - 7:30
    Michelangelo não se concentrou
    no que estava sendo criado,
  • 7:30 - 7:32
    diferentemente dos demais artistas.
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    Ele se concentrou no ato da criação.
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    E então a movimentação cessa,
    como uma pausa em poesia
  • 7:40 - 7:41
    e o criador paira no ar.
  • 7:41 - 7:43
    O que ele está fazendo?
  • 7:43 - 7:46
    Criando o solo? Criando o mar?
  • 7:46 - 7:50
    Ou está ele admirando sua criação,
    o universo e seus tesouros,
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    como Michelangelo deve ter feito,
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    admirando seu trabalho no teto
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    e declarando: "Está bom".
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    Então agora a cena está pronta,
  • 8:01 - 8:04
    e chegamos ao ápice da criação: o homem.
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    Adão salta ao olhar, uma imagem suave
    contra um fundo escuro.
  • 8:09 - 8:10
    Mas ao olhar mais perto,
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    aquela perna repousa
    com certa fraqueza no chão,
  • 8:13 - 8:15
    o braço pesado sobre o joelho.
  • 8:15 - 8:19
    Falta a Adão aquela faísca interior
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    que o conduzirá à grandiosidade.
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    Essa faísca lhe será concedida
    pelo criador com aquele dedo,
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    o qual está a um milímetro da mão de Adão.
  • 8:29 - 8:31
    Esta cena nos deixa sem fôlego
  • 8:31 - 8:34
    porque estamos pouco antes desse contato
  • 8:34 - 8:37
    através do qual aquele homem
    descobrirá o seu propósito,
  • 8:37 - 8:40
    se levantará e assumirá seu posto
    no topo da Criação.
  • 8:40 - 8:43
    E aí Michelangelo fez algo inesperado.
  • 8:43 - 8:45
    Quem está no outro braço?
  • 8:46 - 8:47
    Eva, a primeira mulher.
  • 8:47 - 8:50
    Não, ela não é uma ideia tardia.
    Ela é parte do plano.
  • 8:50 - 8:53
    Ela sempre esteve na mente dele.
  • 8:53 - 8:57
    Olhem pra ela, tão íntima com Deus
    com sua mão em volta do braço dele.
  • 8:57 - 9:03
    Para mim, uma americana historiadora
    da arte, do século 21,
  • 9:03 - 9:06
    foi este o momento
    em que a pintura me tocou.
  • 9:06 - 9:09
    Porque pude perceber que essa
    representação do drama humano
  • 9:09 - 9:12
    sempre foi sobre homens e mulheres,
  • 9:12 - 9:16
    tanto que, o centro morto,
    o coração do teto,
  • 9:16 - 9:18
    é a criação da mulher, não de Adão.
  • 9:18 - 9:22
    A verdade é que, quando os vemos
    juntos no Jardim do Éden,
  • 9:22 - 9:24
    eles caem em tentação juntos
  • 9:24 - 9:28
    e é juntos que seu orgulho
    se transforma em vergonha.
  • 9:29 - 9:31
    Estamos agora em um ponto crítico no teto.
  • 9:31 - 9:34
    Estamos no ponto em que não podemos
  • 9:34 - 9:36
    seguir em frente.
  • 9:36 - 9:39
    A área fechada nos mantém
    fora do santuário interior
  • 9:39 - 9:42
    e somos banidos
    assim como Adão e Eva.
  • 9:42 - 9:44
    O restante das imagens no teto
  • 9:44 - 9:46
    refletem o caos do mundo ao nosso redor.
  • 9:46 - 9:49
    Temos Noé, sua arca e o dilúvio.
  • 9:49 - 9:52
    Temos Noé, fazendo um sacrifício
    e uma aliança com Deus.
  • 9:52 - 9:54
    Talvez ele seja o salvador.
  • 9:54 - 9:58
    Ah, mas não, Noé é aquele
    que cultivava uvas, inventou o vinho,
  • 9:58 - 10:00
    embebedou-se e desmaiou
    nu em seu celeiro.
  • 10:00 - 10:03
    É um jeito curioso de projetar um telhado,
  • 10:03 - 10:05
    iniciando com Deus criando a vida
  • 10:05 - 10:07
    e encerrando com um cara
    embriagado em um celeiro.
  • 10:07 - 10:10
    Assim, comparado com Adão,
  • 10:10 - 10:12
    podemos pensar que Michelangelo
    debocha de nós.
  • 10:13 - 10:15
    Mas ele esta prestes
    a dissipar a escuridão
  • 10:15 - 10:18
    utilizando cores vibrantes
    logo abaixo de Noé:
  • 10:18 - 10:22
    esmeralda, topázio e escarlate
    no profeta Zacarias.
  • 10:22 - 10:25
    Zacarias prevê uma luz vinda do oriente,
  • 10:25 - 10:28
    e neste momento nos viramos
    para um novo destino,
  • 10:28 - 10:32
    com sibilas e profetas
    que nos guiarão em um desfile.
  • 10:32 - 10:36
    Temos os heróis e heroínas
    que garantem a segurança do caminho
  • 10:36 - 10:38
    e seguimos os pais e as mães.
  • 10:38 - 10:42
    Eles são os motores da grande máquina
    humana, levando-a adiante.
  • 10:42 - 10:45
    Estamos agora na pedra angular do teto,
  • 10:45 - 10:47
    o ápice de toda obra,
  • 10:47 - 10:51
    com uma figura que parece
    estar prestes a cair do seu espaço
  • 10:51 - 10:52
    para o nosso,
  • 10:52 - 10:53
    invadindo nosso espaço.
  • 10:53 - 10:56
    Este é o momento mais importante.
  • 10:56 - 10:58
    O passado se choca com o presente.
  • 10:58 - 11:01
    Esta figura, Jonas, que passou
    três dias na barriga da baleia,
  • 11:01 - 11:04
    para os cristãos, é o símbolo
    do renascimento da humanidade
  • 11:04 - 11:05
    pelo sacrifício de Jesus,
  • 11:05 - 11:08
    mas para as multidões que visitam o museu,
  • 11:08 - 11:11
    de todos os credos
    que o visitam todos os dias,
  • 11:11 - 11:17
    ele é o momento que o passado distante
    se choca com a realidade imediata.
  • 11:18 - 11:23
    Tudo isso nos conduz ao grandioso
    arco na parede no altar,
  • 11:23 - 11:25
    onde vemos a versão de
    Michelangelo do Juízo Final,
  • 11:25 - 11:29
    pintada em 1534 depois do mundo
    ter novamente mudado.
  • 11:29 - 11:31
    A Reforma havia abalado a Igreja,
  • 11:31 - 11:34
    o Império Otomano havia feito
    do Islã um mundo conhecido
  • 11:34 - 11:38
    e Magalhães havia encontrado
    uma rota para o oceano Pacífico.
  • 11:38 - 11:42
    Como um artista de 59 anos que nunca
    havia ido mais longe do que Veneza
  • 11:42 - 11:45
    se comunicaria com este novo mundo?
  • 11:45 - 11:48
    Michelangelo optou por pintar o destino,
  • 11:48 - 11:50
    este desejo universal,
  • 11:50 - 11:51
    comum a todos nós,
  • 11:51 - 11:54
    para deixar um legado de excelência.
  • 11:54 - 11:57
    Contado com base na visão cristã
    do Juízo Final,
  • 11:57 - 11:59
    o fim do mundo,
  • 11:59 - 12:02
    Michelangelo nos ofertou
    uma série de figuras
  • 12:02 - 12:05
    exibindo corpos incrivelmente belos.
  • 12:05 - 12:08
    Eles já não utilizam roupas,
    já não há mais retratos
  • 12:08 - 12:09
    com a exceção de um casal.
  • 12:09 - 12:12
    É uma composição unicamente de corpos.
  • 12:12 - 12:15
    Há 391 deles, nenhum idêntico,
  • 12:15 - 12:18
    singulares como cada um de nós.
  • 12:18 - 12:22
    Eles surgem no canto inferior,
    surgindo do solo,
  • 12:22 - 12:24
    se debatendo e tentado se erguer.
  • 12:24 - 12:27
    Aqueles que conseguem erguer-se,
    ajudam os demais,
  • 12:27 - 12:29
    e, em uma vinheta surpreendente,
  • 12:29 - 12:32
    temos um negro e um branco
    sendo erguidos, juntos,
  • 12:32 - 12:34
    em uma visão incrível da unidade humana
  • 12:34 - 12:36
    neste mundo novo.
  • 12:36 - 12:39
    A área mais espaçosa é
    destinada ao círculo de vencedores.
  • 12:39 - 12:44
    Lá encontramos homens e mulheres
    completamente nus como atletas.
  • 12:44 - 12:47
    São aqueles que superaram a adversidade
  • 12:47 - 12:50
    e, na visão de Michelangelo,
    as pessoa que combatem a adversidade,
  • 12:50 - 12:52
    que superam os obstáculos,
  • 12:52 - 12:54
    são exatamente como atletas.
  • 12:54 - 12:57
    Temos homens e mulheres flexionando
    seus músculos e fazendo poses
  • 12:57 - 12:59
    nesta cena extraordinária.
  • 13:00 - 13:02
    Quem preside esta assembléia é Jesus:
  • 13:02 - 13:04
    primeiramente um homem agonizando na cruz
  • 13:04 - 13:07
    e posteriormente um glorioso
    dirigente no Paraíso.
  • 13:07 - 13:10
    Como Michelangelo prova com sua pintura,
  • 13:10 - 13:12
    as dificuldades, os contratempos
    e os obstáculos
  • 13:12 - 13:15
    não limitam a excelência,
    mas sim a forjam.
  • 13:16 - 13:19
    Entretanto, isto nos leva a algo estranho.
  • 13:19 - 13:21
    Essa é a capela privada do Papa,
  • 13:21 - 13:24
    e a melhor maneira de descrevê-la
    é como um "cozido" de nudez.
  • 13:24 - 13:28
    Mas Michelangelo tentava usar
    somente a melhor linguagem artística,
  • 13:28 - 13:30
    a linguagem mais universal
    que ele conseguiu imaginar:
  • 13:30 - 13:32
    a do corpo humano.
  • 13:32 - 13:38
    Então em vez de mostrar virtude
    através de coragem e maestria,
  • 13:38 - 13:42
    usou da fantástica coleção
    de esculturas do Papa Júlio II
  • 13:42 - 13:46
    com o objetivo de mostrar
    a força interior como poder externo.
  • 13:47 - 13:51
    Um contemporâneo de fato escreveu
  • 13:51 - 13:55
    que a Capela era bela demais
    para não causar controvérsias.
  • 13:55 - 13:56
    E foi assim que aconteceu.
  • 13:56 - 14:00
    Michelangelo logo descobriu
    que, graças à imprensa,
  • 14:00 - 14:03
    reclamações sobre a nudez
    se espalharam por toda parte
  • 14:03 - 14:07
    e rapidamente sua obra-prima do drama
    humano foi chamada de pornografia.
  • 14:07 - 14:09
    Nessa altura, ele incluiu
    mais dois retratos:
  • 14:09 - 14:12
    um do homem que o criticou,
    um cortesão papal,
  • 14:12 - 14:16
    e o outro dele mesmo como
    um corpo seco, nada atlético,
  • 14:16 - 14:18
    na mãos de um mártir resignado.
  • 14:18 - 14:22
    No ano de sua morte, viu diversas
    dessas figuras serem tapadas,
  • 14:22 - 14:28
    um triunfo para desviar a atenção
    de sua grande exortação à glória.
  • 14:28 - 14:30
    Agora estamos aqui,
  • 14:30 - 14:32
    no presente.
  • 14:32 - 14:34
    Ficamos presos naquele espaço
  • 14:34 - 14:36
    entre começos e fins,
  • 14:36 - 14:41
    nessa incrível e gigantesca
    totalidade da experiência humana.
  • 14:41 - 14:45
    A Capela Sistina nos faz olhar
    em volta como se ela fosse um espelho.
  • 14:45 - 14:46
    Quem sou eu nesta imagem?
  • 14:46 - 14:47
    Serei um na multidão?
  • 14:47 - 14:49
    Serei eu o bêbado?
  • 14:49 - 14:50
    Serei eu o atleta?
  • 14:50 - 14:52
    Ao sairmos deste reduto
    de arrebatadora beleza,
  • 14:52 - 14:56
    somos inspirados a refletir sobre
    as grandes questões da vida:
  • 14:56 - 15:01
    quem sou eu e qual meu papel
    no grande teatro da vida?
  • 15:02 - 15:03
    Obrigada.
  • 15:03 - 15:06
    (Aplausos)
  • 15:06 - 15:09
    Bruno Giussani: Obrigado, Elizabeth Lev.
  • 15:09 - 15:13
    Elizabeth, você mencionou
    toda esta questão da pornografia,
  • 15:13 - 15:18
    muitas figuras nuas, muitas cenas
    corriqueiras e coisas impróprias
  • 15:19 - 15:20
    sob a ótica daquele período.
  • 15:20 - 15:22
    Mas a história vai mais longe.
  • 15:22 - 15:25
    Não foram somente retoques
    e algumas imagens cobertas.
  • 15:25 - 15:28
    Este obra foi quase destruída
    por causa disso.
  • 15:28 - 15:31
    Elisabeth Lev: O efeito
    do Juízo Final foi enorme.
  • 15:31 - 15:34
    A imprensa fez questão
    que todos o vissem.
  • 15:34 - 15:38
    Não foi algo que aconteceu
    em poucas semanas.
  • 15:38 - 15:42
    Foi algo que se deu
    no espaço de 20 anos
  • 15:42 - 15:44
    de editorias e reclamações,
  • 15:44 - 15:45
    dizendo à Igreja:
  • 15:45 - 15:48
    "Vocês não podem nos dizer
    como viver nossas vidas.
  • 15:48 - 15:51
    Já perceberam que há
    pornografia na capela do Papa?"
  • 15:51 - 15:54
    Então, após queixas e insistência
  • 15:54 - 15:56
    que tentavam destruir essa obra,
  • 15:56 - 15:59
    no ano da morte de Michelangelo
  • 15:59 - 16:01
    a Igreja conseguiu chegar a um meio-termo,
  • 16:01 - 16:02
    uma maneira de salvar a pintura.
  • 16:02 - 16:06
    Mandaram pintar 30 coberturas extras.
  • 16:06 - 16:08
    Esta foi a origem do uso
    das folhas de figueira.
  • 16:08 - 16:10
    Foi isso que aconteceu,
  • 16:10 - 16:14
    uma igreja tentando
    salvar uma obra de arte,
  • 16:14 - 16:16
    não descaracterizá-la ou destruí-la.
  • 16:17 - 16:20
    BG: Isso que você nos deu
    não é uma visita guiada clássica,
  • 16:20 - 16:23
    dessas que fazemos quando vamos
    à Capela Sistina de fato.
  • 16:23 - 16:25
    (Risos)
  • 16:25 - 16:27
    EL: Não sei, isso é propaganda?
  • 16:27 - 16:28
    (Risos)
  • 16:28 - 16:31
    BG: Não, não, não necessariamente.
    É uma afirmação.
  • 16:32 - 16:35
    Vivenciar a arte é
    bem problemático hoje em dia.
  • 16:35 - 16:38
    Muitas pessoas querem ver isso lá
  • 16:38 - 16:41
    e o resultado é cinco milhões
    de pessoas cruzando aquela porta
  • 16:41 - 16:44
    e vivenciando a arte
    de um jeito muito diferente
  • 16:44 - 16:45
    de como fizemos aqui.
  • 16:45 - 16:48
    EL: Eu concordo. Acho muito legal
    poder parar e observar,
  • 16:48 - 16:51
    mas também perceber,
    mesmo nesses dias,
  • 16:51 - 16:53
    com 28 mil pessoas por dia,
  • 16:53 - 16:56
    mesmo nos dias em que estamos
    com todas essas pessoas lá dentro,
  • 16:56 - 16:58
    que podemos olhar ao redor
    e pensar como é incrível
  • 16:58 - 17:02
    que esse gesso pintado há 500 anos
  • 17:02 - 17:05
    possa ainda atrair todas aquelas pessoas
    em pé ao nosso lado,
  • 17:05 - 17:07
    olhando para cima, boquiabertos.
  • 17:07 - 17:12
    É uma grande afirmação de como
    a beleza pode nos tocar
  • 17:12 - 17:15
    através dos tempos e do espaço geográfico.
  • 17:15 - 17:16
    BG: [Italiano]: Obrigado.
  • 17:16 - 17:17
    EL: [Italiano]: Obrigada.
  • 17:17 - 17:18
    BG: Obrigado.
  • 17:18 - 17:20
    (Aplausos)
Title:
A história desconhecida da Capela Sistina
Speaker:
Elizabeth Lev
Description:

A Capela Sistina é uma das edificações mais icônicas na face da Terra -- mas há muitas coisas que você provavelmente não sabe sobre ela. Nesta incrível palestra, a historiadora da arte Elizabeth Lev nos guia através do teto desta edificação tão famosa e a representação vital das histórias tradicionais sob a ótica de Michelangelo, mostrando como o pintor foi além da iconografia religiosa do período para navegar em um novo oceano artístico. Quinhentos anos após sua pintura, diz Lev, a Capela Sistina nos faz olhar em volta como se ela fosse um espelho e perguntar, "Quem sou eu e qual é o meu papel neste grande teatro da vida?"

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:33

Portuguese, Brazilian subtitles

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