Como as barbearias podem manter os homens saudáveis
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0:03 - 0:05O que é que vocês veem?
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0:06 - 0:09A maioria vê uma barbearia,
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0:09 - 0:12mas eu vejo uma oportunidade,
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0:12 - 0:14uma oportunidade para a saúde,
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0:14 - 0:17uma oportunidade
para a igualdade na saúde. -
0:18 - 0:22Para os negros, a barbearia
não é apenas um lugar -
0:22 - 0:25onde cortamos o cabelo
ou aparamos a barba. -
0:26 - 0:28Não, é muito mais que isso.
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0:28 - 0:32Historicamente, a barbearia tem sido
um refúgio seguro para os negros. -
0:33 - 0:37É o lugar onde vamos
para encontrar amizade, -
0:37 - 0:39solidariedade e consolo.
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0:40 - 0:44É o lugar onde vamos
para fugir da ansiedade, -
0:44 - 0:47da rotina do trabalho,
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0:47 - 0:49e às vezes da vida familiar.
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0:50 - 0:52É o lugar onde não temos que nos preocupar
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0:52 - 0:55com a forma como somos vistos
pelo mundo exterior. -
0:56 - 1:00É o lugar onde não nos sentimos ameaçados,
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1:00 - 1:01nem ameaçadores.
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1:03 - 1:06É um lugar de lealdade e confiança.
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1:06 - 1:08Por essa razão,
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1:09 - 1:13é um dos poucos lugares em que
podemos ser nós mesmos, sem medo, -
1:13 - 1:15e apenas... conversar.
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1:17 - 1:20A conversa, o diálogo,
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1:20 - 1:22essa é a essência da barbearia dos negros.
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1:23 - 1:26Eu lembro-me de ir ao barbeiro
com o meu pai quando criança. -
1:27 - 1:31Íamos à barbearia do Sr. Mike
sábado sim, sábado não. -
1:32 - 1:35E, religiosamente,
estaria lá o mesmo grupo de homens -
1:35 - 1:38todas as vezes que lá íamos,
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1:38 - 1:39à espera do seu barbeiro preferido
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1:39 - 1:42ou apenas a absorver a atmosfera.
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1:43 - 1:47Lembro-me do cumprimento alegre
e caloroso que nos recebia -
1:47 - 1:49todas as vezes que lá íamos.
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1:50 - 1:53"Olá, Rev", diziam ao meu pai.
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1:54 - 1:57Ele é um pastor local
e eles tratavam-no como a uma celebridade. -
1:58 - 2:00"Olá, rapaz. Como vais?"
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2:00 - 2:02diziam-me a mim.
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2:02 - 2:04Faziam-me sentir muito especial.
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2:05 - 2:10Lembro-me que a variedade
das conversas era imensa. -
2:10 - 2:15Os homens falavam de política,
de desporto e de música, -
2:15 - 2:19de notícias sobre o mundo,
de notícias nacionais, -
2:19 - 2:21de notícias do bairro.
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2:21 - 2:23Havia alguma conversa sobre mulheres
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2:24 - 2:27e como era ser
um homem negro nos EUA. -
2:29 - 2:31Mas, muitas vezes, também
falavam sobre a saúde. -
2:33 - 2:36As conversas sobre saúde
eram longas e profundas. -
2:37 - 2:41Os homens contavam sobretudo
as recomendações dos seus médicos, -
2:41 - 2:43para cortar o sal da dieta
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2:43 - 2:45ou para comer menos fritos
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2:45 - 2:48ou para deixar de fumar
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2:48 - 2:50ou para reduzir a ansiedade.
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2:50 - 2:53Falavam das formas diferentes
de poder reduzir a ansiedade, -
2:53 - 2:56como simplificar a vida amorosa...
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2:57 - 3:00(Risos)
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3:01 - 3:04... todas as formas de tratar a tensão alta.
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3:06 - 3:09Havia muita conversa sobre
tensão alta na barbearia. -
3:10 - 3:15Isso porque quase 40%
dos negros sofrem disso. -
3:16 - 3:20Isso significa que quase
todos os negros -
3:20 - 3:22têm tensão alta
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3:22 - 3:25ou conhecem um negro que a tenha.
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3:26 - 3:29Às vezes, aquelas conversas na barbearia
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3:29 - 3:32eram sobre o que acontece
quando a tensão alta -
3:32 - 3:34não é devidamente tratada.
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3:35 - 3:39"Você soube do Jimmy?
Ele teve um ACV." -
3:42 - 3:46"Você soube do Eddie?
Ele morreu na semana passada. -
3:46 - 3:48"Um ataque cardíaco fulminante.
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3:48 - 3:49"Tinha 50 anos."
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3:51 - 3:55Morrem mais homens de tensão alta
do que de qualquer outra coisa, -
3:55 - 3:59apesar de décadas de sabedoria médica
e ciência terem demonstrado -
3:59 - 4:03que se pode evitar a morte por tensão alta
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4:03 - 4:06com um diagnóstico precoce
e um tratamento adequado. -
4:07 - 4:11Porque será que a tensão alta
é tão mortal para os negros? -
4:12 - 4:16Porque muito frequentemente,
a tensão alta fica sem tratamento -
4:16 - 4:19ou é mal tratada nos negros,
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4:19 - 4:24em parte por causa dum baixo envolvimento
no sistema de cuidados de saúde primários. -
4:25 - 4:28Os negros, em particular
os que têm tensão alta, -
4:28 - 4:31poucas vezes têm
um médico de clínica geral -
4:31 - 4:32em comparação com outros grupos.
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4:32 - 4:34Mas, porquê?
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4:34 - 4:38Parte da nossa investigação inicial
sobre a saúde dos negros -
4:38 - 4:42revelou que, para muitos, o consultório
médico está associado ao medo, -
4:43 - 4:45à falta de confiança,
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4:45 - 4:47à falta de respeito,
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4:47 - 4:50e a um aborrecimento desnecessário.
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4:51 - 4:56O consultório médico é apenas um lugar
onde vamos quando não nos sentimos bem. -
4:56 - 4:59E quando lá vamos,
podemos esperar horas -
4:59 - 5:02só para sermos mal informados,
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5:02 - 5:06para sermos avaliados por
uma figura indiferente de bata branca -
5:06 - 5:09que só dispõe de 10 minutos
para nos atender -
5:09 - 5:12e que não dá valor à conversa.
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5:13 - 5:17Não admira que alguns homens
não queiram ser incomodados -
5:17 - 5:20e evitem ir ao médico,
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5:20 - 5:23em especial quando se sentem bem.
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5:23 - 5:26Mas o problema é este.
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5:26 - 5:29Podemos sentir-nos muito bem
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5:29 - 5:32enquanto a tensão alta
vai danificando os órgãos vitais. -
5:35 - 5:38Este é Denny Moe,
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5:38 - 5:41o dono da Barbearia Superstar
de Denny Moe, em Harlem. -
5:42 - 5:46Tenho a sorte de ter tido o Denny
como meu barbeiro nos últimos oito anos. -
5:47 - 5:48Ele disse-me um dia:
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5:48 - 5:50"Olá, Doutor! Sabe,
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5:50 - 5:55"muitos negros confiam mais nos barbeiros
do que confiam nos médicos." -
5:56 - 5:58Isso impressionou-me,
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5:58 - 5:59inicialmente,
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6:00 - 6:02mas não tanto quando pensamos nisso.
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6:03 - 6:06Em média, os negros estão com os seus
barbeiros atuais -
6:06 - 6:08há tanto tempo
quanto eu estou com o Denny, -
6:08 - 6:10mais ou menos oito anos.
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6:10 - 6:14Os negros veem o seu barbeiro
de duas em duas semanas. -
6:15 - 6:19Confiam ao seu barbeiro
o seu aspeto e o seu estilo, -
6:19 - 6:24e também lhe confiam os seus segredos
e, às vezes, a sua vida. -
6:25 - 6:29Denny, como muitos barbeiros,
é mais do que apenas um artista, -
6:29 - 6:32é um homem de negócios e um confidente.
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6:32 - 6:37É um líder e um defensor apaixonado
do bem-estar da sua comunidade. -
6:39 - 6:42A primeira vez que entrei
na barbearia do Denny, -
6:42 - 6:45ele não estava só a cortar cabelos.
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6:44 - 6:48Estava a organizar
uma unidade de registo de eleitores -
6:48 - 6:53para dar voz aos seu clientes
e à sua comunidade. -
6:54 - 6:56Com esse tipo de ativismo,
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6:57 - 7:01e o investimento comunitário
que são típicos da barbearia negra, -
7:01 - 7:05é claro que a barbearia é o lugar perfeito
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7:05 - 7:07para falar de tensão alta
-
7:07 - 7:10e de outras preocupações
com a saúde na comunidade. -
7:10 - 7:14Primeiro, a barbearia
não é um ambiente médico, -
7:14 - 7:18por isso não há aquela
bagagem psicológica negativa -
7:18 - 7:19que lhe está associada.
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7:19 - 7:21Quando estamos numa barbearia,
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7:22 - 7:25estamos no nosso território,
estamos entre amigos -
7:25 - 7:27que partilham a sua história,
-
7:27 - 7:31as suas dificuldades
e os seus problemas de saúde. -
7:31 - 7:35Segundo, justamente porque a barbearia
é um lugar de interação, -
7:35 - 7:38de lealdade e de confiança,
-
7:38 - 7:41é um lugar onde estamos mais abertos
a ter uma conversa sobre saúde -
7:41 - 7:44e, especificamente, sobre tensão alta.
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7:44 - 7:48Afinal, as conversas sobre tensão alta
têm todos os elementos -
7:48 - 7:51de uma ótima conversa de barbearia:
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7:51 - 7:54ansiedade e tensão alta,
-
7:54 - 7:56comida e tensão alta,
-
7:56 - 7:59relações e tensão alta,
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7:59 - 8:03e também, como é ser um
homem negro nos EUA -
8:03 - 8:04e tensão alta.
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8:06 - 8:09Mas podemos fazer mais do que
falar apenas de tensão alta -
8:09 - 8:11na barbearia.
-
8:11 - 8:13Podemos tomar atitudes concretas.
-
8:14 - 8:19Aqui temos oportunidade de fazer
parceria com os Denny Moes do mundo -
8:19 - 8:23e fortalecer as comunidades
para abordarem as desigualdades na saúde -
8:23 - 8:25que os afetam de modo especial.
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8:25 - 8:29Quando o rastreio para a tensão alta
passou das clínicas e hospitais -
8:29 - 8:32para as comunidades, nos anos 60 e 70,
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8:32 - 8:35médicos negros como
o Dr. Eli Saunders, em Baltimore, -
8:35 - 8:38e o Dr. Keith Ferdinand, em Nova Orleães,
-
8:38 - 8:42estiveram na primeira linha para
promover a saúde nos centros comunitários -
8:42 - 8:44nos bairros negros urbanos.
-
8:44 - 8:49Esses pioneiros abriram caminho
para o meu percurso profissional -
8:49 - 8:51com barbearias e saúde,
-
8:51 - 8:54que começou na escola
de medicina em Chicago. -
8:55 - 8:58O primeiro projeto de investigação
em que trabalhei, -
8:58 - 8:59como estudante de medicina
-
8:59 - 9:02foi para conceber intervenções médicas
-
9:02 - 9:04que poderiam atrair negros.
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9:05 - 9:08Conduzimos uns doze grupos focais
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9:08 - 9:11com uma ampla secção transversal de negros
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9:11 - 9:13e aprendemos com eles
-
9:13 - 9:18que ser saudável tinha tanto a ver
com ser considerado saudável -
9:18 - 9:20como com sentir-se saudável,
-
9:20 - 9:24e que sentir-se bem estava associado
a ter bom aspeto. -
9:26 - 9:30Esse trabalho levou ao desenvolvimento
do Projeto Irmandade, -
9:30 - 9:33uma clínica comunitária
fundada pelo Dr. Eric Whitaker, -
9:33 - 9:36que prestava atendimento médico
personalizado a negros. -
9:37 - 9:39Parte desse atendimento personalizado
-
9:39 - 9:42envolvia ter um barbeiro no edifício,
-
9:42 - 9:45para recompensar os homens que vinham
para o necessário atendimento médico -
9:45 - 9:47com um corte de cabelo gratuito,
-
9:47 - 9:51para que eles soubessem que nós também
valorizávamos o seu aspeto, -
9:51 - 9:53tanto quanto o modo como eles se sentiam,
-
9:53 - 9:57e que aquilo que era importante para eles
também era importante para nós. -
9:58 - 10:02Mas, embora haja apenas
um Projeto Irmandade, -
10:02 - 10:05há milhares de barbearias negras
-
10:05 - 10:10onde pode ser cultivada a intersecção
da saúde com os cortes de cabelo. -
10:11 - 10:14A paragem seguinte no meu percurso
foi em Dallas, no Texas, -
10:14 - 10:17onde aprendemos que as barbearias
não só estavam dispostas -
10:17 - 10:21mas totalmente preparadas
para arregaçar as mangas e participar -
10:21 - 10:25na prestação do necessário
atendimento médico -
10:25 - 10:28para melhorar a saúde
dos seus clientes e da comunidade. -
10:29 - 10:32Juntámo-nos a uma equipa incrível
de barbeiros negros -
10:32 - 10:35e ensinámos-lhes a medir a tensão arterial,
-
10:35 - 10:37a aconselhar os seus clientes
-
10:37 - 10:38e a indicar-lhes médicos
-
10:38 - 10:41para eles controlarem a tensão alta.
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10:41 - 10:44Esses barbeiros estavam dispostos
a fazer esse trabalho -
10:44 - 10:45e eram excelentes nisso.
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10:46 - 10:48Ao fim de três anos,
-
10:48 - 10:51os barbeiros tinham medido
milhares de tensões arteriais, -
10:51 - 10:56tinham encaminhado
centenas de negros para medicos, -
10:56 - 10:59para cuidados médicos
relacionados com a tensão alta. -
10:59 - 11:02Essas parcerias entre barbeiros e médicos
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11:02 - 11:07resultaram num aumento de 20%
no número de homens -
11:07 - 11:09que conseguiram atingir
as metas de tensão arterial -
11:09 - 11:12caindo uma média de três pontos
-
11:12 - 11:14na tensão arterial de cada participante.
-
11:14 - 11:18Se pudéssemos extrapolar
essa queda de três pontos -
11:18 - 11:21para todos os negros
com tensão alta nos EUA, -
11:21 - 11:24conseguiríamos evitar
800 ataques cardíacos, -
11:24 - 11:29500 ACVs e 900 mortes
devidos à tensão alta -
11:29 - 11:31apenas num ano.
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11:33 - 11:37A nossa experiência com as barbearias
não foi diferente em Nova Iorque, -
11:37 - 11:40onde o meu percurso me levou recentemente.
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11:40 - 11:44Com uma equipa incrível
de diversos assistentes de investigação, -
11:44 - 11:47profissionais de saúde
e voluntários comunitários, -
11:47 - 11:50conseguimos fazer parcerias
com mais de 200 barbearias -
11:50 - 11:53e outros locais de confiança da comunidade
-
11:53 - 11:56para atingir mais de 7000 negros
mais velhos. -
11:57 - 12:00Proporcionámos um rastreio e aconselhamento
para a tensão alta -
12:00 - 12:01a cada um deles.
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12:02 - 12:04Graças a Denny Moe
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12:04 - 12:07e a milhares de outros barbeiros,
e líderes das comunidades -
12:07 - 12:12que partilharam a visão
da oportunidade e do fortalecimento, -
12:12 - 12:15para fazer a diferença
nas suas comunidades, -
12:15 - 12:19conseguimos baixar a tensão arterial
nos nossos participantes, -
12:19 - 12:23e também tivemos impacto
noutros indicadores de saúde. -
12:26 - 12:28Então, o que é que vocês veem?
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12:30 - 12:32O que é a vossa barbearia?
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12:34 - 12:37Para vocês, onde é o local
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12:38 - 12:41onde as pessoas que são afetadas
por um problema especial -
12:41 - 12:44podem encontrar uma solução especial?
-
12:46 - 12:50Quando encontrarem esse local,
vejam a oportunidade. -
12:51 - 12:52Obrigado.
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12:52 - 12:55(Aplausos)
- Title:
- Como as barbearias podem manter os homens saudáveis
- Speaker:
- Joseph Ravenell
- Description:
-
A barbearia pode ser um santuário seguro para os negros. Um lugar para conversas sinceras e confiança e, como o médico Joseph Ravenell sugere, um bom lugar para abordar assuntos difíceis sobre a saúde. Ele transformou a sua barbearia local num local onde se fala de problemas médicos que estatisticamente afetam os negros mais frequentemente e com mais complicações, tal como a tensão alta. É uma nova abordagem para a resolução de problemas com amplas aplicações. "O que é a vossa barbearia?" pergunta. "Onde é o local onde as pessoas que são afetadas por um problema especial podem encontrar uma solução especial"?
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 13:08
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