A pedra do julgamento | Loy Machedo |TEDxDubai

Como julgamos os outros, quando o medo e os preconceitos superam o coração e a alma.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Quantas crianças há nesta sala?

Podem levantar a mão?

Vou dedicar esta palestra

a todas as crianças nesta sala,

incluindo a criança que há em todos nós

e a todas as crianças do mundo inteiro.

Prestem atenção

a esta pessoa que está aqui.

O que significa ser diferente?

Para encontrar a resposta
a esta pergunta tão profunda,

decidi perguntar ao guru de todos os gurus

o Google.com.

Pesquisei no Google

e voilà! recebi a resposta.

Mas havia um problema

porque recebi apenas

umas 410 786 434 páginas.

Como temos pouco tempo

vou comprimi-las numa única frase,

ou seja, o meu número.

E foi isto o que obtive.

Quando temos CCE, ou seja,

duas ou mais
Culturas, Crenças, Estilos de vida,

ou quando temos VOP, ou seja,

Visões, Opiniões, Perceções,

é quando temos uma diferença.

Se olharem para mim,

eu tenho algumas tatuagens no corpo,

uma alargada, muito grande.

Talvez pensem que sou diferente de vocês,

mas sou como vocês.

Como, durmo, rio, choro.

Quantos aqui fazem isso?

Mashallah! somos iguais.

Também tenho um passatempo:

ler livros, escrever artigos
e estar no Facebook.

Quantos aqui fazem isso?

Mashallah! somos iguais!

E sabem que mais? Tenho alguns sonhos.

Gostava de ter o cabelo comprido

embora penso que isso não vai acontecer.

Gostava de tocar a vida de muita gente.

Quando morrer, quero morrer depressa.

Quantos aqui querem isso?

Ok, umas mãos a menos.

Mas, quando as pessoas olham para mim,

ficam com esta expressão.

(Risos)

É como se eu entrasse na mercearia

e, de repente...

eu digo:

"Uau, relaxa, miúdo",

As pessoas batizaram-me
com nomes espantosos.

Vou revelar alguns deles:

fumador, bebedolas,
até viciado em drogas,

um tipo que conduz uma Harley,

gangster, lutador

irmão do cangalheiro
e uma aberração do "heavy metal"

Pois é.

E o último para pôr no topo do cartaz

foi este:

Uuu-aaaaaah.

Deviam ver as pessoas

quando entram no elevador e me veem.

Ora bem, lamento informar

mas não fumo, não bebo,

não guio uma Harley,

adoro brincar com crianças.

Adoro crianças e as crianças
adoram brincar comigo.

Mas deviam ver os pais delas

quando me veem com os filhos.

Ficam...

"Hum, é melhor levá-lo".

Qual é a diferença?

Qual é a diferença?

Eu sou orador, escritor,

Sou uma pessoa que adora ler livros.

Sou como vocês.

Esqueçam-me.

Quantas outras pessoas
julgamos

antes de as conhecermos?

Já pensaram nisso?

O curioso é que,

por causa de todas estas experiências

eu arranjei uma nova teoria

que isso magoa.

Magoa, quando julgamos outras pessoas.

Magoa, quando privamos
alguém dos seus sonhos.

ou dos seus objetivos

ou até duma promoção,

porque os categorizamos
em diversos compartimentos.

E magoa,

quando ensinamos aos nossos filhos

uma coisa que não é verdade.

Por causa das minhas experiências de vida,

arranjei uma nova teoria

e, a propósito, tem direitos de autor.

Chamo-lhe a Teoria dos Ovos de Loy.

Nesta teoria profunda

os seres humanos são como ovos.

Diferentes formas, tamanhos e cores.

Alguns deles são muito grandes,

outros médios, outros muito pequenos.

Mas a minha teoria declara

que todos nós, ovos, somos iguais.

Deem uma salva de palmas!

(Aplausos)

Obrigado.

Não, a minha palestra ainda não acabou.

Houve uma pessoa que se levantou,
descontraia-se.

Como estava dizendo,

nós, ovos, somos todos iguais.

Se quiserem uma prova, façam o seguinte:

Partam um ovo.

O que é que obtêm?

A mesma coisa lá dentro.

Mas há pessoas aqui

que classificam os seres humanos

como classificam os ovos,

as regiões ou os países.

Obtêm essas classificações
dividindo as pessoas

em "boa qualidade", "má qualidade".

Compre um, leve dois de graça.

O que há de errado com essas pessoas?

Mas experimentem fazer o seguinte.

Deem a uma criança uma dúzia de ovos,

de cores diferentes.

Para a criança, um ovo é apenas um ovo.

Nada me apareceu mais evidente

do que, quando estava no aeroporto,

à espera do voo, a sonhar acordado,

a pensar naqueles pensamentos românticos.

Então, aconteceu.

Uma coisa começou a arranhar-me na mão.

Olhei para baixo e vi isto.

Uma menininha que deve ter julgado

que eu era um livro de colorir a passear.

(Risos)

(Aplausos)

e estava a começar a pintar-me.

Decidi mostrar-lhe a minha cara de mau.

E mostrei.

Ela olhou para mim assim.

E depois, tive de lhe dizer:

"Ok, tudo bem, descontrai.

"Porque é que não pintas aqui?"

Ela ficou muito feliz.

Foi subindo, cada vez mais acima.

Antes de eu dar por isso,
apareceram duas amigas a correr,

e as três continuaram a colorir-me.

Agora, imaginem,

um tipo enorme tatuado
e três criancinhas a colori-lo.

Imensas pessoas
tiraram fotografias de borla.

Mas não me julgaram.

O que acontece com as crianças

é que, para elas, tudo é
curiosidade e maravilha.

Elas nunca julgam ninguém.

Já tentaram dar um livro a uma criança?

A criança abre as páginas,
tenta ler o livro.

Se não consegue, come-o.

Mas uma criança nunca julga
um livro pela sua capa.

Fico a pensar:

Porque é que os adultos
perdem esse sentido de brincadeira?

Com efeito, durante o intervalo

— Ali estás na sala?
Ali, onde é que estás?

Ali está algures por aí?

Ok, há vários Alis.

Ali fez-me esta pergunta espantosa

e eu admirei a coragem dele.

Disse-me: "Amigo,

"com esse aspeto que você tem,

"como é que admira que o julguem?"

Que quantidade de "media" são precisos

para nós mudarmos de opinião

ou formar opiniões sobre outras pessoas?

Experimentem fazer o seguinte.

Agarrem num grupo de crianças,
coloquem-nas aqui.

Crianças de diversas culturas,
comunidades, religiões.

Ponham-nas aqui.

E façam o mesmo com adultos.

Verão a diferença,

e verão uma diferença aqui

A razão é porque alguém lá fora

está a dar-vos informações
que não são verdade.

Para nós, que nos sentimos confortáveis

escondidos dentro
da nossa zona de conforto,

e a julgar os outros.

Eu acredito que todos os seres humanos
aqui são iguais.

Eu acredito que,

se classificarem as pessoas
segundo o seu CCE.

Culturas, Crenças, Estilos de vida,

ou segundo os VOP,

Visões, Opiniões ou Perceções

estão a fazer um pecado,

incluindo se julgarem alguém
com tatuagens.

Caros amigos, isto é apenas cor.

Quando eu morrer, fico dois metros
abaixo do chão

e muitos de vocês vão juntar-se a mim.

Então, porquê a diferenciação
entre mim ou qualquer outro?

É aqui que vou concluir.

E, a concluir, esta é a mensagem
que vos deixo:

Nascemos todos diferentes,

de diferentes pais e mães

mas somos todos o mesmo.

Somos irmãs, somos todos irmãos,

Todos temos um par de membros,

olhos, orelhas, um nariz, uma boca.

Todos temos o mesmo aspeto,

sejamos de leste, do oeste,
do norte ou do sul.

Se somos todos o mesmo,

porque odiamos, lutamos e gritamos?

Em vez disso, oremos uns pelos outros

sob este enorme e belo céu azul.

Todos os dias, abençoemo-nos
uns aos outros,

à brisa fresca do verão,
ao calor do sol,

Olhemos para cada um de nós

com os olhos duma criança.

Abracemo-nos com carinho

com orações, poderosas mas meigas.

Reparem nos passos dos bebés
quando aprendem a andar.

E façam uma pequena coisa.

Não travar mais guerras.

Cantar canções de vitória.

Sejamos como as criancinhas,

é esta a mensagem que trago.

Porque esta criança aqui, todos vós,

todas as pessoas aqui,

todas as crianças do mundo

são, na verdade,
a beleza das coisas pequenas.

(Aplausos)