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Robert Gupta: Entre a música e medicina


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    (Música)
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    (Aplausos)
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    Muito obrigado. (Aplausos)
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    Obrigado. É um grande privilégio estar aqui.
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    Há algumas semanas, eu vi um vídeo no YouTube
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    da congressista Gabrielle Giffords
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    nas fases iniciais da sua recuperação
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    de uma terrível ferida de bala.
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    A bala entrou em seu hemisfério esquerdo e
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    danificou sua área de Broca, o centro da fala do cérebro.
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    No vídeo, Gabby está tendo uma sessão com um terapeuta da fala,
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    e se esforça para emitir
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    algumas palavras bem básicas, e vê-se que ela
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    se sente cada vez mais devastada, até que finalmente
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    ela cai no choro e começa a soluçar
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    silenciosamente nos braços de seu terapeuta.
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    Após alguns momentos, o terapeuta tenta uma nova tática,
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    e eles começam a cantar juntos,
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    e Gabby começa a cantar entre lágrimas,
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    e você pode ouvi-la claramente enunciando
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    a letra da canção que descreve a maneira como se sente,
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    e ela canta, em uma escala descendente, ela canta:
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    “Deixa brilhar, deixa brilhar, deixa brilhar.”
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    Isso é um lembrete muito poderoso e comovente de como
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    a beleza da música tem a capacidade de falar
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    quando as palavras falham, neste caso, literalmente.
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    Ver este vídeo de Gabby Giffords me fez lembrar
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    do trabalho do doutor Gottfried Schlaug,
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    um dos neurocientistas proeminentes que estudam música e cérebro em Harvard,
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    e Schlaug é proponente de uma terapia chamada
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    Terapia de Entonação Melódica, que se tornou muito popular em terapia da música.
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    Schlaug descobriu que as vítimas de AVC que eram afásicas
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    não conseguiam formar frases de três ou quatro palavras,
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    todavia podiam cantar a letra de uma canção,
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    fosse ela “Parabéns pra Você”
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    ou sua música favorita das bandas Eagles ou Rolling Stones.
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    E após 70 horas de aulas intensivas de canto,
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    ele viu que a música era capaz de reconectar, literalmente,
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    os cérebros dos seus pacientes e criar um centro da fala
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    homólogo em seu hemisfério direito, para
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    compensar o dano do hemisfério esquerdo.
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    Quando eu tinha 17 anos, eu visitei o laboratório do Dr. Schlaug, e numa tarde
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    ele me mostrou algumas das principais pesquisas
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    sobre a música e o cérebro: como os músicos têm
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    estruturas cerebrais fundamentalmente diferentes dos não-músicos;
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    como a música, e ouvir música,
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    poderia iluminar por completo o cérebro, desde
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    o córtex pré-frontal até o cerebelo;
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    como a música se tornava uma modalidade neuropsiquiátrica
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    para ajudar crianças com autismo e ajudar as pessoas que lutam
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    com estresse, ansiedade e depressão;
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    quão profundamente os pacientes de Parkinson poderiam estabilizar seu tremor
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    e seu caminhar ao ouvirem música;
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    e como pacientes com Alzheimer em fase final, cuja demência
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    era tão avançada que já não podiam reconhecer
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    suas famílias, podiam reconhecer uma melodia de Chopin
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    ao piano, que tinham aprendido quando pequenos.
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    Mas minha visita a Gottfried Schlaug tinha outra intenção:
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    eu estava em uma encruzilhada na minha vida,
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    tentando escolher entre a música e a medicina.
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    Eu tinha completado minha licenciatura e trabalhava
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    como assistente de pesquisa no laboratório de Dennis Selkoe,
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    estudando a doença de Parkinson em Harvard, e tinha me
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    apaixonado pela neurociência. Eu queria ser um cirurgião.
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    Queria ser um médico como Paul Farmer ou Rick Hodes,
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    esse tipo de homens corajosos que vão para lugares como o Haiti ou a Etiópia
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    para trabalhar com pacientes aidéticos com tuberculose
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    multirresistente às drogas, ou com crianças com câncer desfigurante.
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    Queria ser aquele tipo de médico da Cruz Vermelha,
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    um Médico sem Fronteiras.
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    Por outro lado, tinha tocado violino a minha vida inteira.
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    A música para mim era mais que uma paixão. Era uma obsessão.
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    Era oxigênio. Tive o privilégio de estudar
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    na Juilliard School, em Manhattan, e na minha estreia
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    toquei com Zubin Mehta e a Orquestra Filarmônica de Israel em Tel Aviv,
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    e descobri que Gottfried Schlaug
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    havia aprendido a tocar órgão no Conservatório de Viena,
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    mas havia desistido do seu amor pela música para seguir a
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    carreira de médico. E naquela tarde eu tinha que lhe perguntar:
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    “Como se sentiu ao tomar essa decisão?”
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    Ele disse que ainda havia momentos em que desejava
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    poder voltar atrás e tocar órgão como antes,
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    e que, para mim, a medicina podia esperar,
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    mas o violino, simplesmente não.
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    E após mais dois anos estudando música, decidi
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    tentar o impossível antes de fazer o MCAT (Exame de Acesso à Faculdade de Medicina)
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    e me candidatar à faculdade de medicina, como um bom filho de indiano,
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    para me tornar o próximo Dr. Gupta. (Risos)
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    Decidi tentar o impossível e fiz uma
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    audição para a prestigiosa Orquestra Filarmônica de Los Angeles.
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    Era minha primeira audição, e, após 3 dias tocando
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    atrás de uma divisória numa semana de teste, me ofereceram a posição.
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    Foi um sonho. Foi um sonho fantástico tocar
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    em um orquestra, tocar no icônico Walt Disney Concert Hall,
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    em uma orquestra conduzida agora pelo famoso Gustavo Dudamel,
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    mas, muito mais importante para mim, estar cercado
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    de músicos e orientadores que se tornaram minha nova família,
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    meu novo lar musical.
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    Mas, um ano depois, conheci um outro músico que também
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    tinha estudado na Juilliard, que me ajudou de maneira profunda
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    a encontrar minha voz e formar minha identidade de músico.
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    Nathaniel Ayers era um contrabaixista na Juilliard, mas
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    sofreu uma série de episódios psicóticos quando tinha 20 e poucos anos,
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    foi tratado com thorazine no Hospital Bellevue,
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    e 30 anos depois acabou como um sem-teto nas ruas
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    de Skid Row, no centro de Los Angeles.
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    A história de Nathaniel tornou-se um ‘farol’ para a defesa dos sem-teto
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    e da saúde mental em todos os Estados Unidos,
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    como contado no livro e no filme “O Solista”,
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    mas eu me tornei seu amigo e fui seu professor de violino,
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    e eu disse a ele que, onde quer que ele tivesse seu violino,
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    e eu o meu, eu tocaria com ele.
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    E nas muitas vezes que vi Nathaniel em Skid Row,
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    fui testemunha de como a música era capaz de trazê-lo de volta
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    dos seus momentos mais sombrios, do que parecia a mim,
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    apesar da minha inexperiência,
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    o início de um episódio de esquizofrenia.
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    Tocando para Nathaniel, a música adquiriu um significado mais profundo,
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    porque agora ela era comunicação,
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    uma comunicação onde as palavras falharam, uma comunicação
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    de uma mensagem que ia além das palavras, que ficou registrada
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    em nível fundamentalmente primitivo na psiquê de Nathaniel,
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    mas que era uma verdadeira oferenda musical minha.
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    Indignava-me que alguém
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    como Nathaniel pudesse ser um sem-teto em Skid Row
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    devido a sua doença mental, e, ainda, quantas dezenas
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    de milhares de outros estavam lá sozinhos, em Skid Row,
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    com histórias tão trágicas quanto a dele, mas que nunca iam ter um livro ou um filme
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    sobre eles que os ajudariam a tirá-los das ruas?
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    E no meio dessa minha crise, senti de alguma forma
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    que a vida de músico havia me escolhido,
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    possivelmente de forma muito ingênua, senti que Skid Row
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    realmente precisava de alguém como Paul Farmer,
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    e não de um outro músico clássico tocando em Bunker Hill.
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    Mas, no final, foi Nathaniel que me mostrou
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    que, se eu fosse realmente apaixonado pela mudança,
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    se quisesse fazer a diferença, eu já possuía o instrumento perfeito para isto,
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    que a música era a ponte que unia meu mundo ao dele.
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    Há uma bela citação
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    do compositor romântico alemão Robert Schumann,
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    que diz: “Enviar luz à escuridão dos corações dos homens,
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    esse é o dever do artista.”
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    E essa é uma citação particularmente comovente
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    porque o próprio Schumann sofria de esquizofrenia
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    e morreu em um hospício.
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    Inspirado pelo que aprendi com Nathaniel,
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    criei uma organização de músicos em Skid Row
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    chamada Street Symphony, que leva a luz da música
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    para os lugares mais escuros, tocando
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    para os sem-teto e doentes mentais em abrigos e clínicas
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    em Skid Row, tocando para os veteranos de guerra
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    com transtorno de estresse pós-traumático, para os encarcerados
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    e para aqueles rotulados de criminosos insanos.
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    Após um dos nossos eventos no Hospital Público Patton,
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    em San Bernardino, uma mulher veio a nós
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    com lágrimas rolando no rosto,
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    ela tinha paralisia, estava tremendo
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    e tinha um sorriso maravilhoso, ela disse
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    que nunca tinha ouvido música clássica,
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    que tinha achado que não ia gostar e que nunca tinha ouvido
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    um violino, mas que ouvir esta música era como ouvir a luz do sol,
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    e que ninguém vinha visitá-los e que, pela primeira vez em seis anos,
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    ela parou de tremer sem medicação quando nos ouviu tocar.
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    De repente, o que estávamos buscando com esses concertos,
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    longe do palco, longe da ribalta, longe dos
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    fraques, os músicos tornam-se a via
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    para transmitir os tremendos benefícios terapêuticos
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    da música no cérebro para um público que nunca
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    teria acesso a esta sala,
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    que nunca teria acesso ao tipo de música que fazemos.
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    Assim como a medicina serve para curar mais
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    que os componentes do corpo por si mesmos,
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    a força e a beleza da música transcendem a nota "mi"
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    no meio do nosso querido acrônimo.
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    A música transcende a beleza estética por si mesma.
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    A sincronia das emoções que sentimos quando
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    ouvimos uma ópera de Wagner, ou uma sinfonia de Brahms,
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    ou a música de câmara de Beethoven, nos obriga a lembrar
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    nossa humanidade compartilhada, a consciência conectada
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    profundamente comunal, a consciência empática
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    que o neuropsiquiatra Iain McGilchrist diz estar fortemente conectada
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    no hemisfério direito do nosso cérebro.
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    E, para aqueles que vivem nas condições mais desumanas
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    da doença mental, sem teto
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    e encarcerados, a música e a beleza da música
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    oferecem uma oportunidade de transcender o mundo ao seu redor,
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    de lembrar que eles ainda têm a capacidade de sentir
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    algo belo e que a humanidade não os esqueceu.
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    E a fagulha dessa beleza, a fagulha dessa humanidade
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    transforma-se em esperança,
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    e nós sabemos, se escolhemos o caminho da música
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    ou da medicina, isso é a primeira coisa que devemos inculcar
  • 12:20 - 12:22
    em nossas comunidades, em nossos públicos,
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    se quisermos inspirar a cura a partir de dentro.
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    Gostaria de terminar com uma citação de John Keats,
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    o poeta romântico inglês,
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    uma citação muito famosa que tenho certeza que todos vocês conhecem.
  • 12:34 - 12:37
    Keats também abandonou uma carreira em medicina
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    para escrever poesia, mas morreu quando era um ano mais velho do que eu.
  • 12:40 - 12:45
    E Keats disse: “A beleza é a verdade, e verdade é beleza.
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    Isso é tudo que se sabe, e tudo que se precisa saber.”
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    (Música)
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    (Aplausos)
Title:
Robert Gupta: Entre a música e medicina

Speaker:
Robert Gupta
Description:

Quando Robert Gupta se deparou com a escolha entre a carreira de médico e a de violinista, ele viu que seu lugar era no meio, com um arco na mão e um sentido de justiça social no coração. Ele conta uma história comovente dos marginalizados da sociedade e do poder da terapia da música, que pode ter sucesso onde a medicina convencional falha.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:27

Portuguese, Brazilian subtitles

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