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A escuta da marionete | Bruno Descaves | TEDxPSU

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    Você já parou para pensar
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    no tipo de relação que temos com objetos?
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    Nos relacionamos com eles a toda hora:
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    um pão,
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    um tapete vermelho,
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    um violino,
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    um carro,
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    um martelo.
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    Mas será que estamos sempre impondo neles
    os nossos próprios desejos,
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    de forma a se comportarem
    da maneira que planejamos?
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    Meu trabalho como marionetista
    consiste em animar objetos,
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    o que significa imbuir neles
    "Anima" ou "vida".
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    Gostaria de mostrar
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    que uma relação mais sensível com objetos
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    pode mudar a maneira como
    nos relacionamos com o mundo material,
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    assim como, a relação entre nós.
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    Esta frase de Albert Einstein me inspira:
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    "Você não pode amar um carro
    da mesma maneira que ama um cavalo.
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    O cavalo proporciona sentimentos humanos
    que máquinas não podem trazer".
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    Curiosamente,
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    marionetes estão no limiar
    entre o cavalo e as máquinas.
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    Por um lado, temos uma maneira
    de nos relacionar com elas com carinho:
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    podemos chamá-las pelo nome,
    reconhecer seus rostos,
  • 1:32 - 1:35
    e, quando animadas, expressam emoções.
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    Por outro lado,
    elas possuem uma maquinaria,
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    algumas vezes complexa,
    na sua fabricação e construção,
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    que produz seus truques,
    como por exemplo uma trapezista.
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    Mas como é controlar uma marionete?
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    Ela simplesmente obedece minhas ordens?
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    Existe uma tendência em nós
    de sermos somente manipuladores.
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    A palavra "manipulador"
    vem de "manus", que significa "mão".
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    Controlamos com nossas mãos.
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    Há também um significado
    negativo em manipulação.
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    Se você sente que alguém
    está tentando manipulá-lo,
  • 2:13 - 2:14
    você não gosta.
  • 2:14 - 2:16
    Você não gosta de ser empurrado,
  • 2:16 - 2:18
    você não gosta de perder o controle.
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    Mas para marionetes,
  • 2:21 - 2:24
    a fim de encontrar seu movimento gracioso,
  • 2:25 - 2:28
    uma atitude que empurra nunca funciona.
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    Para animar uma marionete,
    temos que puxar fios.
  • 2:33 - 2:37
    Estive pesquisando
    como transferir essa experiência
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    para que as pessoa pudessem senti-la.
  • 2:41 - 2:43
    Eu gostaria de convidar
  • 2:44 - 2:48
    alguém que esteja disposto a experimentar
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    puxar e ser puxado.
  • 2:55 - 2:56
    Oh...
  • 2:57 - 2:58
    Olá!
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    (Risos)
  • 3:06 - 3:09
    Então, podemos puxar...
  • 3:09 - 3:12
    Você pode puxar, eu posso puxar...
  • 3:14 - 3:16
    Podemos "escutar" o outro...
  • 3:16 - 3:19
    e ver o que acontece.
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    (Sons de cordas e de passos no palco)
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    Podemos ser gentis...
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    Podemos nos sentir leves,
    leves como uma marionete.
  • 3:34 - 3:35
    (Risos)
  • 3:35 - 3:36
    Isso!
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    Entrar na atmosfera, sem pensamentos...
  • 3:43 - 3:45
    somente sentindo ser puxado.
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    Podemos descer, subir...
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    As marionetes podem voar, mas nós não...
  • 3:53 - 3:54
    (Riso)
  • 3:54 - 3:56
    Muito obrigado.
  • 3:57 - 3:58
    (Aplausos)
  • 3:58 - 4:00
    Obrigado.
  • 4:00 - 4:02
    (Aplausos)
  • 4:04 - 4:07
    Estes são os "Intercessores-cordas".
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    Assim, para animar a marionete,
    puxamos cordas.
  • 4:14 - 4:16
    Não empurramos!
  • 4:16 - 4:18
    Se você parar e pensar,
  • 4:18 - 4:22
    Empurramos pedais, empurramos teclas
    em nossos telefones celulares,
  • 4:22 - 4:25
    Até empurramos nossos pés
    pesadamente para baixo,
  • 4:25 - 4:29
    em vez de andar levemente
    como uma marionete.
  • 4:29 - 4:32
    Empurrar é um hábito em nossa vida diária.
  • 4:33 - 4:36
    O filósofo Soren Kierkegaard
    disse certa vez:
  • 4:37 - 4:41
    "A porta da felicidade se abre para fora".
  • 4:42 - 4:45
    Quanto mais você empurra,
    mais ela emperra.
  • 4:46 - 4:50
    Então, por que estamos
    empurrando tudo o tempo todo?
  • 4:50 - 4:55
    Talvez porque vivemos cada vez mais
    em um mundo de máquinas.
  • 4:55 - 5:00
    Máquinas têm botões,
    gatilhos, pedais, telas,
  • 5:00 - 5:04
    que, sempre que empurradas,
    se comportam de uma maneira programada.
  • 5:05 - 5:08
    É difícil de acreditar,
    mas algumas crianças hoje em dia
  • 5:08 - 5:12
    consideram chatos estes dispositivos
    demasiadamente programados.
  • 5:12 - 5:17
    Estão à procura de algo diferente,
    alguma coisa fora da caixa.
  • 5:19 - 5:21
    Outro dia tive uma experiência.
  • 5:22 - 5:24
    Uma mãe veio [a mim],
    depois do espetáculo,
  • 5:24 - 5:27
    e disse que ficou
    impressionada com seu filho.
  • 5:27 - 5:30
    Ela tentou perguntar-lhe algo
    durante o espetáculo,
  • 5:30 - 5:32
    e ele respondeu calmamente:
  • 5:33 - 5:37
    "Silencio mãe! Ele está se apresentando!
  • 5:37 - 5:40
    Está acontecendo agora".
  • 5:42 - 5:44
    A conexão entre a marionete e eu
  • 5:44 - 5:48
    tornou possível para o garoto
    esquecer os fios
  • 5:48 - 5:51
    e entrar no momento presente,
  • 5:52 - 5:54
    que é onde a vida existe.
  • 5:55 - 6:01
    Eu fico sempre um pouco nervoso
    quando animo marionetes
  • 6:01 - 6:03
    pois elas têm sua própria
    substância em movimento,
  • 6:03 - 6:07
    e tenho que escutá-las
    cuidadosamente através dos fios,
  • 6:07 - 6:10
    pois estes podem se embolar.
  • 6:10 - 6:12
    Sandra...
  • 6:12 - 6:15
    Oh, Sandra!
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    (Som da marionete andando)
  • 6:26 - 6:28
    Vamos voar!
  • 6:28 - 6:31
    (Música)
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    (Música acaba)
  • 7:20 - 7:23
    (Aplauso) (Vivas)
  • 7:24 - 7:28
    Você fez muito bem, Sandra!
    Olhe para eles!
  • 7:29 - 7:30
    Vamos.
  • 7:38 - 7:41
    Alguns físicos na sala devem ter notado
  • 7:41 - 7:44
    que Sandra tem uma freqüência natural.
  • 7:45 - 7:48
    Eu escolhi uma música
    que combina com esse ritmo
  • 7:48 - 7:52
    e, a partir daí, criar variedade
    e, finalmente, vida.
  • 7:54 - 7:57
    Tenho que confessar uma coisa.
  • 7:58 - 8:02
    Existe uma divisão em mim
    entre meu coração calculista...
  • 8:02 - 8:04
    não, não,...
  • 8:04 - 8:09
    meu cérebro calculista
    e meu coração sensível.
  • 8:10 - 8:12
    Quando tive que escolher uma carreira,
  • 8:12 - 8:16
    queria algo mais
    manipulador e controlador.
  • 8:16 - 8:19
    Escolhi a física.
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    Gostava das equações,
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    pensar nas interações
    entre a matéria e as forças materiais,
  • 8:25 - 8:27
    as forças naturais...
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    a força da gravidade que puxa.
  • 8:32 - 8:35
    "Oh, esta também puxa! Eureca!"
  • 8:37 - 8:40
    Mas a física moderna me ensinou
  • 8:40 - 8:44
    que eu tinha que mudar
    minha rígida estrutura mental.
  • 8:45 - 8:50
    Que não podia simplesmente
    observar e fazer previsões
  • 8:50 - 8:53
    porque a simples ação de observar
  • 8:54 - 8:57
    iria interagir com o objeto,
  • 8:57 - 8:59
    afetando-o.
  • 9:00 - 9:03
    Este novo conhecimento mudou,
    profundamente em mim,
  • 9:03 - 9:07
    a maneira como eu compreendia
    e me relacionava com o mundo.
  • 9:07 - 9:09
    Na minha pesquisa recente,
  • 9:09 - 9:14
    desenvolvi objetos manipulados
    que funcionam como instrumentos
  • 9:14 - 9:19
    para interação e observação
    de nossa própria Persona.
  • 9:20 - 9:22
    Gostaria de convidar uma pessoa
  • 9:23 - 9:28
    interessada em observar e interagir
  • 9:28 - 9:30
    com sua própria máscara.
  • 9:35 - 9:37
    Oh, sim, por favor.
  • 9:41 - 9:43
    (Aplausos)
  • 9:43 - 9:45
    Muito obrigado.
  • 9:45 - 9:47
    Sente por favor.
  • 10:26 - 10:28
    Podemos observar um ao outro aqui.
  • 10:29 - 10:34
    Aqui você pode ver-se da maneira
    que uma terceira pessoa iria vê-lo.
  • 10:35 - 10:38
    Dois espelhos tornam isto possível.
  • 10:55 - 10:56
    Obrigado.
  • 10:56 - 10:57
    (Risos)
  • 10:57 - 10:59
    (Aplausos)
  • 11:05 - 11:09
    Estes eram os "Intercessores-espelhos".
  • 11:13 - 11:16
    Alguns meses depois da minha graduação...
  • 11:23 - 11:26
    deixando uma bolsa de mestrado,
  • 11:27 - 11:32
    embarco em um pequeno veleiro
    partindo do Rio para Lisboa,
  • 11:32 - 11:39
    com o objetivo de observar
    e interagir com o mundo
  • 11:39 - 11:45
    em uma viagem de sete anos
    ao redor do mundo, por terra e mar.
  • 11:45 - 11:48
    Para ganhar a vida,
    trabalhei como padeiro,
  • 11:48 - 11:50
    assando pão.
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    Trabalhamos a massa,
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    a empurramos,
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    a puxamos,
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    batemos nela
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    e a deixamos crescer.
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    Ela cresce, está viva!
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    E então a assamos.
  • 12:04 - 12:08
    Ela se transforma em
    deliciosos objetos comestíveis.
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    Podemos cheirá-los,
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    Saboreá-los.
  • 12:12 - 12:14
    Podemos compartilhá-los.
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    Em Paris, arranjei um emprego num circo.
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    O trabalho era bem estressante,
  • 12:21 - 12:26
    e eu voltava para casa de metrô
    todas as noites, cansado e sozinho.
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    Um dia, um músico entrou no trem.
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    Tocou uma música que mudou
    totalmente meus sentimentos.
  • 12:33 - 12:39
    Após três meses trabalhando com cavalos,
    elefantes e palhaços mandões,
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    tive um dia livre.
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    Então, reunindo toda a minha coragem,
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    peguei meu violino,
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    entrei num vagão e toquei...
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    Funcionou!
  • 12:52 - 12:57
    Pude tocar os corações das pessoas
    com minha música, e ganhar a vida!
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    Aqui o objeto "violino" cantava,
  • 13:02 - 13:05
    expressava melodia e harmonia.
  • 13:05 - 13:06
    Curiosamente,
  • 13:06 - 13:09
    este é um outro tipo de animação,
  • 13:09 - 13:11
    e meu violino estava vivo novamente.
  • 13:13 - 13:16
    Alguns anos depois, em Tóquio,
  • 13:16 - 13:19
    comecei a construir marionetes
  • 13:19 - 13:22
    para se unirem às apresentações musicais.
  • 13:23 - 13:25
    Foi quando descobri
  • 13:25 - 13:31
    que as pessoas adoravam ver
    objetos animados vivos.
  • 13:36 - 13:42
    Fui fundo e inventei uma máquina
    que se comportava como uma marionete:
  • 13:42 - 13:44
    a Máquina Marionete,
  • 13:45 - 13:48
    um dispositivo com muitos pedais,
  • 13:50 - 13:51
    conectados a alavancas,
  • 13:51 - 13:56
    que transformavam empurradas
    em puxadas gentis
  • 13:56 - 14:00
    de maneira a poder animar marionetes
    enquanto tocava o violino.
  • 14:00 - 14:03
    (Palestrante cantarola)
  • 14:05 - 14:08
    (Sons de agogôs e pratos)
  • 14:17 - 14:22
    Meu professor e grande marionetista,
    Phillip Huber, diz:
  • 14:22 - 14:26
    "Marionetes a fio
    são uma forma sobrevivente de arte,
  • 14:26 - 14:29
    que se depara com situações difíceis".
  • 14:30 - 14:33
    Isto me faz pensar, me faz refletir:
  • 14:33 - 14:36
    o que está realmente se debatendo
    para sobreviver em nossa sociedade?
  • 14:37 - 14:42
    Será o valor da artesania
    e manipulação da marionete
  • 14:42 - 14:44
    que está se debatendo para sobreviver?
  • 14:44 - 14:46
    Não fazemos mais coisas a mão.
  • 14:47 - 14:54
    Seria a lúdica relação
    entre pessoas e objetos animados
  • 14:54 - 14:56
    que está lutando para sobreviver?
  • 14:56 - 14:59
    A vida se tornou tão séria.
  • 14:59 - 15:02
    A ideia que eu gostaria
    de compartilhar com vocês é esta:
  • 15:02 - 15:05
    Vamos "escutar" esta marionete,
  • 15:05 - 15:11
    vamos "escutar" a reação de todos
    estes objetos que tocamos todos os dias,
  • 15:11 - 15:14
    "escutar" nossos pés quando caminhamos,
  • 15:14 - 15:18
    ou mesmo nossas mãos
    quando encontramos alguém.
  • 15:19 - 15:24
    Isso irá nos mostrar os fios certos
    que devemos puxar para abrir a porta.
  • 15:24 - 15:28
    E não vamos ter medo
    de trazer bem do fundo de nós
  • 15:28 - 15:34
    esta criança que quer brincar
    com objetos reais,
  • 15:35 - 15:37
    ao vivo.
  • 15:40 - 15:43
    (Sons vindos da engenhoca)
  • 15:55 - 15:56
    (O balão explode)
  • 15:56 - 15:58
    (Risos)
  • 15:58 - 16:00
    Está acontecendo agora!
  • 16:00 - 16:02
    (Aplausos)
  • 16:02 - 16:03
    (Vivas)
  • 16:03 - 16:05
    Obrigado!
  • 16:05 - 16:06
    (Aplausos)
Title:
A escuta da marionete | Bruno Descaves | TEDxPSU
Description:

Você já parou para pensar que tipo de relação temos com os objetos? Nós lidamos com eles o tempo todo. O trabalho de um marionetista é animar objetos, o que significa dar-lhes "Anima", ou vida. Nesta palestra TEDx, o mestre de artes cênicas e marionetista Bruno Descaves mostra que uma mudança em nosso comportamento com relação aos objetos pode trazer uma transformação onde vida e máquinas interagiriam para criar um relacionamento mais alegre e lúdico com o mundo material.

Com seu talento e criatividade, as marionetes, interpretações no violino e engenhocas de Bruno Descaves fascinam o público em vários países, enchendo os ambientes com fortes vibrações de contentamento e grande alegria, que permanecem na vida das pessoas como momentos preciosos. Sua trajetória incomum levou-o, após a sua graduação em física, a dar a volta ao mundo em sete anos, por terra e mar. Em 2016, obteve seu mestrado em Artes da Cena pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisando marionetes e construindo seus "Objetos Intercessores", dispositivos baseados nas qualidades das marionetes, que manipulados e usados ​​por pessoas durante as apresentações, permitem uma expansão em nossa consciência como seres humanos.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
16:08

Portuguese, Brazilian subtitles

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