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Como os espaços públicos fazem com que as cidades funcionem

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    Quando as pessoas pensam nas cidades,
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    têm a tendência para pensar
    em certas coisas.
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    Pensam em edifícios e em ruas
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    e arranha-céus, táxis barulhentos.
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    Mas eu, quando penso em cidades,
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    penso nas pessoas.
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    As cidades são, fundamentalmente,
    as pessoas,
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    e os locais onde as pessoas andam,
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    os locais onde as pessoas se encontram
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    estão no centro do que faz funcionar
    uma cidade.
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    Numa cidade, mais importantes
    do que os edifícios
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    são os espaços públicos entre eles.
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    E actualmente, algumas das alterações
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    mais transformadoras nas cidades
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    estão a ocorrer nesses espaços públicos.
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    Penso que os espaços públicos,
    animados, agradáveis,
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    são a chave para planear
    uma grande cidade.
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    São eles que fazem com que ela tenha vida.
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    Mas o que é que torna funcional
    um espaço público?
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    O que é que atrai as pessoas
    aos espaços públicos de sucesso?
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    O que é que acontece com locais
    sem sucesso
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    que mantêm as pessoas afastadas?
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    Pensei que, se conseguisse responder
    a estas perguntas,
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    podia dar uma enorme contribuição
    para a minha cidade.
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    Uma das minhas facetas mais excêntricas
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    é que eu sou uma especialista
    em comportamento animal,
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    mas não uso essa minha aptidão
    para estudar o comportamento dos animais,
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    mas para estudar o modo
    como as pessoas, nas cidades,
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    usam os espaços públicos da cidade.
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    Um dos primeiros espaços que estudei
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    foi este pequeno parque de bolso,
    chamado Paley Park
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    no centro de Manhattan.
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    Este pequeno espaço tornou-se
    num pequeno fenómeno,
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    e, como teve um profundo impacto
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    nos nova-iorquinos,
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    causou-me uma impressão enorme.
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    Estudei este parque,
    no início da minha carreira
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    porque acontece que foi construído
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    pelo meu padrasto.
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    Portanto, sabia que locais como
    o Paley Park
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    não acontecem por acaso.
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    Vi, em primeira mão, que exigem
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    uma dedicação incrível
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    e uma enorme atenção aos pormenores.
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    Mas o que é que este espaço tinha
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    que o tornou especial e atraiu as pessoas?
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    Bem, sentei-me no parque
    e observei atentamente
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    e, em primeiro lugar, entre outras coisas,
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    havia cadeiras móveis, confortáveis.
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    As pessoas chegavam, procuravam um assento,
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    mudavam-no um pouco e ficavam ali algum tempo.
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    Curiosamente,
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    as próprias pessoas atraíam
    outras pessoas,
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    e, ironicamente, eu sentia-me
    mais tranquila
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    se houvesse outras pessoas à volta.
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    E era verde.
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    Este pequeno parque proporcionava
    o que os nova-iorquinos adoram:
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    conforto e espaços verdes.
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    Mas a minha pergunta era,
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    porque é que não há mais espaços verdes
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    e locais onde nos sentarmos
    no meio da cidade
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    onde não nos sintamos sós,
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    nem como um intruso?
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    Infelizmente, não era assim que as cidades
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    estavam a ser concebidas.
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    Vemos aqui uma vista familiar,
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    Isto é como uma praça
    é concebida há gerações.
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    Têm este aspecto estilizado, espartano,
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    que associamos quase sempre
    à arquitectura moderna,
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    e não admira que as pessoas
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    evitem espaços como este.
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    Não só têm um ar desértico,
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    como parecem mesmo perigosos.
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    Quer dizer, onde é que nos sentamos ali?
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    O que é que fazemos ali?
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    Mas os arquitectos adoram-nos.
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    São um plinto para as suas criações.
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    Podem tolerar uma ou duas esculturas,
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    e é tudo.
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    E para os urbanizadores, são ideais.
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    Não há nada para regarem,
    nada para manterem,
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    e nada de pessoas indesejáveis
    com que se preocuparem.
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    Mas não acham que isto é um desperdício?
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    Quanto a mim, ter-me tornado
    projectista de uma cidade
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    significou ser capaz de transformar
    a cidade
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    em que vivia e que amava.
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    Queria ser capaz de criar espaços
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    que nos proporcionassem
    a sensação que temos
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    no Paley Park,
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    e não permitir que os urbanizadores
    construíssem locais áridos como este.
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    Mas, ao longo dos anos,
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    aprendi como é difícil
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    criar espaços públicos de sucesso,
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    significativos, agradáveis.
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    Como aprendi com o meu padrasto,
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    certamente não aparecem por acaso,
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    principalmente numa cidade
    como Nova Iorque,
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    onde, para começar, é preciso
    lutar por um espaço público,
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    e, depois, para que ele tenha êxito,
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    alguém tem que pensar muito bem
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    em todos os pormenores.
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    Ora bem, os espaços abertos
    nas cidades são oportunidades,
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    Pois é, são oportunidades
    para investimento comercial,
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    mas também são oportunidades
    para o bem comum
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    da cidade.
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    E esses dois objectivos normalmente
    não estão alinhados um com o outro,
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    e é aí que reside o conflito.
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    A primeira oportunidade que tive de lutar
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    por um grande espaço público aberto,
    foi no início da década de 80,
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    quando estava a chefiar uma equipa
    de projectistas
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    num aterro gigantesco chamado
    Battery Park City
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    na baixa de Manhattan, no rio Hudson.
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    Aquele areal desértico
    tinha estado abandonado
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    durante 10 anos,
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    e disseram-nos que,
    se não arranjássemos um urbanizador,
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    dentro de seis meses, iria à falência.
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    Assim, aparecemos com uma ideia
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    radical, quase louca.
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    Em vez de construir um parque
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    como complemento de um projecto futuro,
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    porque é que não invertíamos a equação
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    e construíamos primeiro
    um espaço público aberto,
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    pequeno, mas de alta qualidade,
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    e víamos se isso marcava uma diferença?
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    Só tínhamos possibilidade de construir
    uma secção de dois blocos
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    do que viria a ser uma esplanada
    de 1 500 metros de comprimento,
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    portanto, o que fôssemos construir
    tinha que ser perfeito.
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    Portanto, à cautela, insisti
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    que construíssemos um modelo
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    em madeira, à escala, da vedação
    e do paredão.
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    E quando me sentei naquele banco teste
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    com a areia ainda a rodopiar
    à minha volta,
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    a vedação estava exactamente
    ao nível dos olhos,
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    barrando a vista e arruinando
    o espectáculo
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    à borda de água.
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    Estão a ver, os pormenores
    são mesmo importantes.
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    Mas o "design" não é apenas
    o aspecto que as coisas têm,
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    é como o nosso corpo se sente
    naquele banco, naquele local,
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    e penso que um "design" de sucesso
    depende sempre
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    da experiência individual.
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    Nesta foto, parece que está tudo
    muito bem acabado,
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    mas aquela borda de granito,
    aquelas luzes,
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    as costas daquele banco,
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    as árvores plantadas
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    e os tipos muito diferentes
    de locais onde nos sentamos
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    todos eles foram pequenas batalhas
    que fizeram deste projecto
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    um local onde as pessoas queriam estar.
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    Isto provou ser muito valioso
    20 anos depois
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    quando Michael Bloomberg me pediu
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    para ser a sua comissária de planeamento
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    e me encarregou de reformular
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    toda a cidade de Nova Iorque.
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    E disse-me nesse mesmo dia,
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    disse que se previa que Nova Iorque
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    fosse aumentar de oito
    para nove milhões de pessoas.
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    E perguntou-me:
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    "Então, onde é que vais pôr
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    "mais um milhão de nova-iorquinos?"
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    Eu não fazia a minima ideia.
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    Vocês sabem que Nova Iorque
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    dá muito valor a atrair imigrantes,
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    por isso ficámos entusiasmados
    com a perspectiva de crescimento,
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    mas, honestamente,
    onde é que iríamos aumentar
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    uma cidade que já estava a ser construída
    para fora dos seus limites
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    e estava rodeada de água?
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    Como íamos arranjar habitações
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    para tantos outros nova-iorquinos?
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    E, se não nos podíamos expandir,
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    o que, provavelmente, era uma coisa boa,
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    onde é que podíamos encaixar
    novas habitações?
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    E quanto aos carros?
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    A nossa cidade possivelmente
    não aguentaria mais carros.
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    O que é que havíamos de fazer?
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    Se não podíamos expandir-nos,
    teríamos que construir na vertical
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    E se tínhamos que construir na vertical,
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    tínhamos que o fazer em locais
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    onde não fosse necessário ter carro.
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    Isso significava usar
    um dos nossos maiores trunfos:
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    o nosso sistema de trânsito,
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    Mas nunca tínhamos pensado anteriormente
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    como poderíamos tirar daí
    o melhor partido.
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    Foi esta a resposta ao nosso
    quebra-cabeças.
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    Se conseguíssemos canalizar
    e redireccionar
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    todo o novo desenvolvimento
    em torno do tráfego,
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    podíamos resolver o problema
    do aumento da população,
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    foi o que pensámos.
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    E então o plano foi este,
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    o que precisávamos de fazer era:
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    Precisávamos de refazer o zonamento
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    — o zonamento é a ferramenta reguladora
    do projectista da cidade —
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    e basicamente reformular toda a cidade,
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    marcando os locais onde podia haver
    novos desenvolvimentos
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    e proibindo terminantemente
    qualquer desenvolvimento
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    nos nossos bairros orientados para carros,
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    de estilo suburbano.
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    Era uma ideia incrivelmente ambiciosa,
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    ambiciosa porque as comunidades
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    tinham que aprovar esses planos.
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    Como é que eu havia de fazer
    para o conseguir?
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    Escutando.
    Portanto, comecei a escutar.
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    Na verdade, milhares de horas a escutar
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    só para encontrar a verdade.
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    Sabem, as comunidades podem dizer
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    se compreendemos ou não os seus bairros.
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    Não é uma coisa que possamos fingir.
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    E por isso, comecei a caminhar.
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    Não vos sei dizer
    quantos quarteirões percorri,
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    em verões sufocantes, em invernos gelados,
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    ano após ano,
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    só para conseguir compreender
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    o ADN de cada bairro
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    e saber como se sentia cada rua.
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    Tornei-me numa especialista incrível
    de zonamento,
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    descobrindo maneiras de o zonamento
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    resolver preocupações das comunidades.
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    Pouco a pouco, bairro a bairro,
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    quarteirão a quarteirão,
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    começámos a estabelecer limites de alturas
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    de modo que todos
    os novos desenvolvimentos
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    fossem previsíveis e perto do tráfego.
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    Ao longo de 12 anos,
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    conseguimos refazer o zonamento
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    de 124 bairros,
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    40 por cento da cidade,
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    12 500 quarteirões, de modo que agora,
  • 10:02 - 10:06
    90 por cento de todos os novos
    desenvolvimentos de Nova Iorque
  • 10:06 - 10:08
    estão a 10 minutos
    duma estação de metro.
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    Por outras palavras,
    nesses novos edifícios
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    ninguém precisa de ter carro.
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    Essa operação de novo zonamento
    foi esgotante
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    e enervante e importante,
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    mas refazer o zonamento
    nunca foi a minha missão.
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    Não podemos ver o zonamento,
    não podemos sentir o zonamento.
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    A minha missão foi sempre criar
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    excelentes espaços públicos.
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    Por isso nas áreas que zonámos
    para desenvolvimentos significativos,
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    eu estava determinada em criar locais
  • 10:36 - 10:39
    que fizessem a diferença
    na vida das pessoas.
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    Vêem aqui o que eram
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    três quilómetros de litoral
    abandonado, degradado
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    nos bairros de Greenpoint
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    e de Williamsburg, em Brooklyn.
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    Era impossível lá chegar e
    era impossível usá-lo.
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    O zonamento aqui era maciço,
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    por isso, senti-me na obrigação de criar
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    parques magníficos
    naquela zona ribeirinha,
  • 10:59 - 11:02
    e passei uma incrível quantidade de tempo
  • 11:02 - 11:05
    em cada centímetro quadrado
    daqueles planos.
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    Queria ter a certeza de que havia
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    caminhos ladeados de árvores
    desde o interior até à água,
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    de que havia árvores e arbustos
    por toda a parte
  • 11:12 - 11:16
    e, claro, montes e montes de sítios
    para nos sentarmos.
  • 11:16 - 11:19
    Honestamente, não fazia ideia
    de qual seria o resultado.
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    Tinha que ter fé,
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    mas usei tudo o que
    tinha estudado e aprendido
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    naqueles planos.
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    E depois, foi inaugurado,
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    e, devo dizer-vos, foi incrível.
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    As pessoas vinham de toda a cidade
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    para estar naqueles parques.
  • 11:34 - 11:38
    Sei que mudaram a vida das pessoas
    que ali viviam,
  • 11:38 - 11:40
    mas também mudaram a imagem
  • 11:40 - 11:42
    que os nova-iorquinos tinham
    da sua cidade.
  • 11:42 - 11:44
    Vou lá com frequência e observo as pessoas
  • 11:44 - 11:45
    a entrarem neste pequeno barco
  • 11:45 - 11:47
    que faz a travessia entre os subúrbios.
  • 11:47 - 11:49
    E não sei dizer porquê,
  • 11:49 - 11:50
    mas sinto-me muito comovida
  • 11:50 - 11:52
    pelo facto de as pessoas estarem a usá-lo
  • 11:52 - 11:55
    como se ele sempre tivesse estado ali.
  • 11:55 - 11:58
    E eis um novo parque
    na baixa de Manhattan.
  • 11:58 - 12:01
    A borda da água na baixa de Manhattan
  • 12:01 - 12:04
    era um caos total antes do 11 de Setembro.
  • 12:04 - 12:05
    A Wall Street estava encravada
  • 12:05 - 12:08
    porque, ali perto, não havia
    nenhum sítio para onde ir.
  • 12:08 - 12:12
    E, depois do 11 de Setembro,
    a cidade tinha muito pouco controlo.
  • 12:12 - 12:13
    Mas pensei que se fôssemos
  • 12:13 - 12:16
    à Lower Manhattan Development Corporation
  • 12:16 - 12:19
    e arranjássemos dinheiro para reclamar
  • 12:19 - 12:20
    estes três quilómetros
    de litoral degradado,
  • 12:20 - 12:22
    isso havia de ter um efeito tremendo
  • 12:22 - 12:25
    na reconstrução da baixa de Manhattan.
  • 12:25 - 12:26
    E teve.
  • 12:26 - 12:29
    A baixa de Manhattan, finalmente,
    tem uma zona ribeirinha pública
  • 12:29 - 12:31
    pelos três lados.
  • 12:31 - 12:34
    Adoro este parque.
  • 12:34 - 12:36
    Aqui a vedação tem que ser mais alta,
  • 12:36 - 12:39
    por isso pusemos bancos de bar,
  • 12:39 - 12:41
    e ficamos tão próximos da água
  • 12:41 - 12:42
    que estamos praticamente em cima dela.
  • 12:42 - 12:44
    E vejam como o parapeito se alarga
  • 12:44 - 12:46
    e achata de modo que podemos pôr
    em cima dele
  • 12:46 - 12:48
    o almoço ou o computador.
  • 12:48 - 12:49
    E gosto de ver as pessoas que chegam
  • 12:49 - 12:51
    e olham para cima e dizem,
  • 12:51 - 12:55
    "Uau, ali é Brooklyn, está tão perto!".
  • 12:55 - 12:58
    Então, qual foi o truque?
  • 12:58 - 13:00
    Como é que se transforma um parque
  • 13:00 - 13:03
    num local onde as pessoas gostam de estar?
  • 13:03 - 13:06
    Bem, isso depende de nós,
  • 13:06 - 13:09
    não como projectista de uma cidade,
    mas como um ser humano.
  • 13:09 - 13:12
    Não tiramos partido do nosso saber
    enquanto projectistas.
  • 13:12 - 13:16
    Tiramos partido da nossa humanidade.
  • 13:16 - 13:19
    Ou seja, queremos ir para ali?
  • 13:19 - 13:21
    Queremos ficar ali?
  • 13:21 - 13:23
    Queremos vê-lo por dentro e por fora?
  • 13:23 - 13:26
    Há ali outras pessoas?
  • 13:26 - 13:28
    Tem um aspecto verde e agradável?
  • 13:28 - 13:31
    Podemos encontrar um local
    para nos sentarmos?
  • 13:31 - 13:34
    Agora, por toda a cidade de Nova Iorque
  • 13:34 - 13:36
    há espaços onde podemos
  • 13:36 - 13:38
    encontrar um lugar nosso.
  • 13:38 - 13:40
    Onde antigamente só havia
    espaços para estacionamento,
  • 13:40 - 13:43
    surgem agora Cafés.
  • 13:43 - 13:45
    Onde era habitual passar o tráfego
    da Broadway,
  • 13:45 - 13:47
    há agora mesas e cadeiras.
  • 13:47 - 13:50
    Onde, há 12 anos, não eram autorizadas
    as esplanadas dos Cafés nos passeios,
  • 13:50 - 13:52
    elas estão agora por todo o lado.
  • 13:52 - 13:55
    Mas conquistar estes espaços
    para utilização pública
  • 13:55 - 13:56
    não foi fácil
  • 13:56 - 13:59
    e ainda é mais difícil mantê-los assim.
  • 13:59 - 14:01
    Por isso, vou contar-vos uma história
  • 14:01 - 14:05
    sobre um parque muito invulgar,
    chamado High Line.
  • 14:05 - 14:07
    O High Line era uma via-férrea elevada...
  • 14:07 - 14:10
    (Aplausos)
  • 14:14 - 14:16
    O High Line era
    uma linha de comboio elevada
  • 14:16 - 14:18
    que atravessava três bairros
  • 14:18 - 14:19
    na parte ocidental de Manhattan,
  • 14:19 - 14:21
    e, quando o comboio deixou de lá passar,
  • 14:21 - 14:23
    tornou-se numa paisagem espontânea,
  • 14:23 - 14:26
    numa espécie de jardim no meio do céu.
  • 14:26 - 14:28
    E quando o vi pela primeira vez,
  • 14:28 - 14:31
    sinceramente, quando subi àquele
    velho viaduto,
  • 14:31 - 14:34
    apaixonei-me, tal como
    nos apaixonamos por uma pessoa,
  • 14:34 - 14:35
    sinceramente.
  • 14:35 - 14:37
    E quando fui nomeada,
  • 14:37 - 14:39
    a minha primeira prioridade
    foi salvar da demolição
  • 14:39 - 14:42
    as duas primeiras secções do High Line.
  • 14:42 - 14:45
    Foi o meu projecto mais importante.
  • 14:45 - 14:48
    Sabia que, se houvesse um só dia
    em que não me preocupasse
  • 14:48 - 14:52
    com o High Line, ele ia por água abaixo.
  • 14:52 - 14:54
    E o High Line,
  • 14:54 - 14:56
    apesar de ser bem conhecido agora
  • 14:56 - 14:58
    e extremamente popular,
  • 14:58 - 15:02
    é o espaço público
    mais contestado da cidade.
  • 15:02 - 15:05
    Podemos vê-lo como um parque belíssimo,
  • 15:05 - 15:07
    mas nem toda a gente o vê asim.
  • 15:07 - 15:10
    Com efeito, a verdade
    é que os interesses comerciais
  • 15:10 - 15:13
    lutarão sempre contra os espaços públicos.
  • 15:13 - 15:15
    Podemos dizer,
  • 15:15 - 15:17
    "Que maravilha!
    Mais de quatro milhões de pessoas
  • 15:17 - 15:19
    "vêm de todo o mundo
  • 15:19 - 15:21
    "para visitar o High Line".
  • 15:21 - 15:25
    Mas um empresário
    apenas vê uma coisa: clientes.
  • 15:25 - 15:28
    "Ei, porque é que não se tiram
    aquelas plantas
  • 15:28 - 15:30
    "e pomos lojas ao longo do High Line?
  • 15:30 - 15:32
    "Não seria magnífico?
  • 15:32 - 15:34
    "E não significaria muito mais dinheiro
    para a cidade?"
  • 15:34 - 15:37
    Não, não seria magnífico.
  • 15:37 - 15:40
    Seria um centro comercial,
    e não um parque.
  • 15:40 - 15:43
    (Aplausos)
  • 15:47 - 15:49
    E sabem uma coisa, pode ser
  • 15:49 - 15:51
    que significasse mais dinheiro para a cidade,
  • 15:51 - 15:55
    mas uma cidade tem que ver à distância,
  • 15:55 - 15:58
    ver o bem comum.
  • 15:58 - 16:02
    Mais recentemente,
    a última secção do High Line,
  • 16:02 - 16:03
    a terceira secção do High Line,
  • 16:03 - 16:05
    a última secção do High Line,
  • 16:05 - 16:08
    virou-se contra os interesses
    dos empresários do ramo imobiliário,
  • 16:08 - 16:10
    onde alguns dos mais importantes
    empresários da cidade
  • 16:10 - 16:13
    estão a construir mais de
    um milhão e meio de metros quadrados
  • 16:13 - 16:15
    em Hudson Yards.
  • 16:15 - 16:17
    Vieram ter comigo e propuseram
  • 16:17 - 16:20
    "desmontar temporariamente"
  • 16:20 - 16:22
    aquela terceira e última secção.
  • 16:22 - 16:25
    Talvez o High Line não estivesse de acordo
  • 16:25 - 16:28
    com a sua imagem de uma cidade
    resplandecente de arranha-céus
  • 16:28 - 16:29
    sobre uma colina.
  • 16:29 - 16:32
    Talvez estivesse apenas no seu caminho.
  • 16:32 - 16:34
    De qualquer modo,
    foram precisos nove meses
  • 16:34 - 16:37
    de negociações diárias ininterruptas
  • 16:37 - 16:39
    para conseguir finalmente
    o acordo assinado
  • 16:39 - 16:41
    para a proibição da sua demolição,
  • 16:41 - 16:45
    e isso foi apenas há dois anos.
  • 16:45 - 16:48
    Portanto, por mais popular
    que um espaço público possa ser
  • 16:48 - 16:50
    e por maior que seja o seu êxito,
  • 16:50 - 16:52
    nunca pode ser considerado definitivo.
  • 16:52 - 16:55
    Os espaços públicos — este está salvo! —
  • 16:55 - 16:59
    os espaços públicos precisam sempre
    de defensores vigilantes,
  • 16:59 - 17:02
    não só para os conquistar de início
    para utilização pública,
  • 17:02 - 17:06
    mas para os conceber
    para as pessoas que os vão usar,
  • 17:06 - 17:08
    e depois para os manter,
  • 17:08 - 17:10
    de modo a garantir que
    são de toda a gente,
  • 17:10 - 17:12
    que não são violados, invadidos,
  • 17:12 - 17:15
    abandonados ou ignorados.
  • 17:15 - 17:17
    Se há alguma lição
  • 17:17 - 17:20
    que aprendi na minha vida,
    enquanto projectista da cidade,
  • 17:20 - 17:23
    é que os espaços públicos têm poder.
  • 17:23 - 17:27
    Não é só o número de pessoas que os usa,
  • 17:27 - 17:28
    é o número ainda maior de pessoas
  • 17:28 - 17:31
    que se sentem melhor com a sua cidade
  • 17:31 - 17:34
    sabendo que eles estão ali.
  • 17:34 - 17:37
    O espaço público pode alterar o modo
    como vivemos numa cidade,
  • 17:37 - 17:39
    como nos sentimos numa cidade,
  • 17:39 - 17:43
    quer escolhamos esta ou aquela cidade.
  • 17:43 - 17:46
    e o espaço público é uma das
    razões mais importantes
  • 17:46 - 17:49
    para ficarmos numa cidade.
  • 17:49 - 17:51
    Acredito que uma cidade bem sucedida
  • 17:51 - 17:54
    é como uma festa fabulosa.
  • 17:54 - 17:58
    As pessoas ficam porque
    estão a sentir-se muito felizes.
  • 17:58 - 18:00
    Obrigada.
  • 18:00 - 18:03
    (Aplausos)
  • 18:06 - 18:09
    Obrigada.
    (Aplausos)
Title:
Como os espaços públicos fazem com que as cidades funcionem
Speaker:
Amanda Burden
Description:

Mais de oito milhões de pessoas amontoam-se a viver na cidade de Nova Iorque. Como é que isso é possível? Em parte, devido aos grandes espaços públicos — desde os pequenos parques até aos compridos passeios ribeirinhos — onde as pessoas podem passear e distrair-se. Amanda Burden ajudou a planear alguns dos novos espaços públicos, de acordo com a sua experiência na qualidade, surpreendentemente, de especialista em comportamento animal. Transmite-nos os desafios inesperados do planeamento de parques de que as pessoas gostam — e porque é que isso é importante.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:28
  • Apenas pequenas correções Parabéns!

  • César, Esta tradução é em português de Portugal, não em português do Brasil. A sua pressa em fazer esta revisão foi tão grande que surge para aprovação sem ter a tradução da introdução nem do título!

  • César / Isabel,

    Comecei a traduzir há pouco e temho alguma dificuldade em navegar no Amara.
    Quando saio do quadro da tradução do título e introdução (por azelhice minha) não consigo lá voltar. Há algum meio de o fazer? Ou de alertar o revisor?

  • Cesar Trevisan / Isabel Vaz Belchior

    De facto, esta tradução é em português de Portugal.
    Por isso, considero incorrecto substituir 'secção' por 'seção'. porque em Portugal, nós pronunciamos os 2 c's:
    'seq'ção'.
    Já agora, alerto para 2 gralhas:
    - secão (em vez de secção)
    - Magnífico com maiúscula no meio da frase.

  • Cesar Trevisan / Isabel Vaz Belchior

    De facto, esta tradução é em português de Portugal.
    Por isso, considero incorrecto substituir 'secção' por 'seção'. porque em Portugal, nós pronunciamos os 2 c's:
    'seq'ção'.
    Já agora, alerto para 2 gralhas:
    - secão (em vez de secção)
    - Magnífico com maiúscula no meio da frase.

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