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É o fim do mundo tal como o conhecemos (e eu acho ótimo) | Daniel Gilbert | TEDxAcademy

  • 0:17 - 0:20
    Obrigado por terem vindo.
  • 0:20 - 0:23
    Em 1896, foi fundada
  • 0:23 - 0:27
    a Sociedade Londrina para a Prevenção
    da Sepultura Prematura.
  • 0:28 - 0:30
    Formou-se especificamente
  • 0:31 - 0:33
    "para impedir a sepultura
    prematura em geral",
  • 0:33 - 0:36
    mas especificamente, dos seus membros.
  • 0:37 - 0:41
    No século XIX, em Londres,
    os médicos nem sempre tinham a tecnologia
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    de distinguir entre pessoas
    que estavam quase mortas
  • 0:45 - 0:48
    e pessoas que estavam mesmo mortas.
  • 0:48 - 0:52
    Em consequência, a sepultura
    prematura era um problema,
  • 0:52 - 0:55
    mas não era um grande problema.
  • 0:55 - 0:59
    Na verdade, a possibilidade de ser
    sepultado vivo, em Londres, em 1896,
  • 0:59 - 1:05
    era quase a mesma da possibilidade
    de ser sepultado vivo em Atenas, em 2014,
  • 1:05 - 1:09
    ou seja, praticamente zero.
  • 1:09 - 1:13
    Isso não impedia que os londrinos
    se preocupassem.
  • 1:13 - 1:16
    Escreviam editoriais,
    formavam sociedades,
  • 1:16 - 1:18
    pressionavam os legisladores
  • 1:18 - 1:21
    para aprovarem legislação
    extremamente dispendiosa
  • 1:21 - 1:26
    para impedir o horror
    duma sepultura prematura.
  • 1:27 - 1:30
    Porque, basicamente,
    nunca tinha acontecido.
  • 1:31 - 1:36
    Porque é que, por vezes, tratamos
    pequenas ameaças como se fossem grandes
  • 1:36 - 1:39
    e grandes ameaças
    como se fossem muito pequenas?
  • 1:40 - 1:43
    Essa é a pergunta a que hoje
    quero responder.
  • 1:43 - 1:45
    A resposta é muito simples.
  • 1:45 - 1:50
    O cérebro humano não é
    um computador para todo o serviço
  • 1:50 - 1:54
    que determina racionalmente
    como deve reagir a ameaças,
  • 1:54 - 1:57
    avaliando a probabilidade
    de elas poderem ocorrer
  • 1:57 - 2:00
    e a dimensão das suas consequências.
  • 2:00 - 2:04
    O cérebro humano é uma máquina
    muito especializada,
  • 2:05 - 2:09
    um computador que evoluiu para resolver
    um conjunto muito especial de problemas,
  • 2:09 - 2:12
    que eram problemas
    para um número muito pequeno
  • 2:12 - 2:15
    de caçadores-recoletores
    que viviam nas planícies
  • 2:15 - 2:19
    de África há 200 000 anos.
  • 2:19 - 2:22
    Quando as ameaças que enfrentamos
    são parecidas com as ameaças
  • 2:22 - 2:26
    que os nossos antepassados enfrentavam,
    reagimos rapidamente,
  • 2:26 - 2:29
    com grande força,
    com grande determinação.
  • 2:29 - 2:33
    Quando não são,
    é-nos muito difícil reagir.
  • 2:33 - 2:36
    Vejamos dois exemplos,
    duas ameaças que enfrentamos hoje.
  • 2:36 - 2:39
    O terrorismo e o aquecimento global.
  • 2:39 - 2:42
    O terrorismo é uma ameaça,
    é uma ameaça muito real.
  • 2:42 - 2:46
    Ameaça o tecido
    duma sociedade civil pacífica,
  • 2:46 - 2:51
    ameaça a nossa paz de espírito
    e ameaça a vida humana.
  • 2:51 - 2:56
    Por vezes, de dezenas de pessoas,
    por vezes, de centenas ou milhares.
  • 2:57 - 3:00
    Mas, por maior que seja
    a nossa imaginação,
  • 3:00 - 3:03
    não ameaça toda a vida no planeta.
  • 3:03 - 3:06
    O aquecimento global é que sim.
  • 3:06 - 3:10
    No entanto, gastaremos milhares
    de milhões de dólares, este ano,
  • 3:10 - 3:15
    para impedir a sepultura
    prematura do terrorismo.
  • 3:15 - 3:19
    Mas nem sequer conseguimos
    que os países industrializados da Terra
  • 3:19 - 3:23
    se reunissem para analisar
    a possibilidade de chegar a acordo
  • 3:23 - 3:29
    sobre as provisões totalmente inadequadas
    para impedir o aquecimento do planeta.
  • 3:29 - 3:33
    O aquecimento do planeta
    é um problema real.
  • 3:34 - 3:37
    Os cientistas modernos parecem
    profetas bíblicos.
  • 3:37 - 3:40
    Dizem-nos que, nos próximos 50 anos,
  • 3:40 - 3:43
    podemos esperar a inundação
    de importantes cidades.
  • 3:43 - 3:46
    Alguns países vão ficar debaixo de água.
  • 3:46 - 3:49
    Podemos esperar que locais secos
    fiquem mais secos
  • 3:49 - 3:52
    e que os refugiados desses locais
    que serão demasiado húmidos
  • 3:52 - 3:54
    ou demasiado secos para viver
    não terão para onde ir.
  • 3:54 - 3:58
    Podemos esperar que a água do oceano
    aqueça e crie mais furacões
  • 3:58 - 4:01
    que devastarão as cidades costeiras.
  • 4:01 - 4:04
    Podemos esperar que haja
    mais incêndios florestais
  • 4:04 - 4:07
    porque as florestas estarão
    demasiado secas para resistir ao fogo.
  • 4:07 - 4:09
    Podemos esperar fome.
  • 4:09 - 4:12
    O mundo subdesenvolvido
    reduzirá a sua produção agrícola,
  • 4:12 - 4:15
    entre 10 a 25%,
  • 4:15 - 4:18
    são países que já não conseguem
    alimentar os seus cidadãos.
  • 4:18 - 4:23
    Podemos esperar doenças, quando
    os insetos avancem de sul para norte,
  • 4:23 - 4:25
    levando a malária
    e o vírus do Nilo Ocidental
  • 4:25 - 4:29
    para locais que nunca ouviram
    falar dessas doenças.
  • 4:29 - 4:33
    Isto parece o Antigo Testamento:
    sangue, úlceras e rãs,
  • 4:33 - 4:35
    as pragas do Egito.
  • 4:35 - 4:38
    Mas elas vão surgir
    e vão surgir para todos nós.
  • 4:39 - 4:44
    Porque é que não fazemos
    nada quanto a isso?
  • 4:44 - 4:47
    A resposta é que o nosso cérebro evoluiu
  • 4:47 - 4:51
    para reagir a ameaças
    que têm quatro características essenciais.
  • 4:51 - 4:54
    Quando uma ameaça tem
    essas características, reagimos.
  • 4:55 - 4:58
    Na falta dessas características,
    temos dificuldade em nos preocuparmos.
  • 4:59 - 5:02
    Reagimos a ameaças
    que são intencionais, imorais,
  • 5:02 - 5:05
    iminentes e instantâneas.
  • 5:05 - 5:09
    Vou falar-vos da psicologia
    de cada uma destas quatro coisas.
  • 5:09 - 5:11
    Comecemos pelo "intencional".
  • 5:12 - 5:16
    Nem todos aqui sabem, julgo eu,
    que o cérebro humano tem partes diferentes
  • 5:16 - 5:19
    e cada uma das partes
    faz uma coisa levemente diferente.
  • 5:19 - 5:25
    O cérebro humano dedica regiões especiais
    a funções extremamente importantes.
  • 5:25 - 5:29
    Aqui atrás é onde se situa a visão.
  • 5:29 - 5:32
    Aqui é onde está situada a linguagem.
  • 5:32 - 5:37
    Ver e falar são extremamente
    importantes para a nossa sobrevivência.
  • 5:37 - 5:40
    O cérebro tem áreas especiais
    que fazem essas tarefas.
  • 5:40 - 5:44
    Não há nenhuma área para o ténis,
    não há nenhuma área para as compras.
  • 5:44 - 5:48
    Essas coisas não são importantes
    para a sobrevivência da nossa espécie
  • 5:48 - 5:51
    e o cérebro não tem uma área
    especial para as fazermos.
  • 5:51 - 5:54
    Adivinhem o que descobrimos
    nos últimos 15 anos.
  • 5:54 - 5:57
    O cérebro tem uma rede especializada
  • 5:57 - 6:02
    dedicada a compreender
    as mentes dos outros seres humanos,
  • 6:02 - 6:07
    uma rede especial que está dedicada
    apenas à compreensão dos pensamentos,
  • 6:07 - 6:10
    dos sentimentos, das intenções,
    dos planos, das ambições
  • 6:10 - 6:13
    dos outros seres humanos.
  • 6:13 - 6:17
    Mais ainda, esta rede nunca se desliga.
  • 6:17 - 6:20
    Está permanentemente a funcionar.
  • 6:20 - 6:25
    É por isso que o nosso cérebro
    é obcecado com tudo o que é humano.
  • 6:26 - 6:30
    Reparem nestas duas imagens
    em que não vemos nenhum padrão.
  • 6:30 - 6:33
    Mas se eu as virar ao contrário,
    todos vemos imediatamente
  • 6:34 - 6:38
    uma cara nas nuvens
    e Jesus numa tortilha!
  • 6:38 - 6:39
    (Risos)
  • 6:39 - 6:42
    Não tivemos de nos esforçar
    para ver estes padrões
  • 6:43 - 6:47
    porque esta rede especial
    está sempre à procura de padrões
  • 6:47 - 6:51
    da ação humana e da inteligência
    humana, na natureza.
  • 6:51 - 6:54
    É por isso que, quando ponho
    uns pontos no ecrã
  • 6:54 - 6:56
    e os movimento de certa forma,
  • 6:56 - 6:58
    vemos imediatamente
    um homem a correr na nossa direção
  • 6:58 - 7:00
    e depois uma mulher
    a correr na nossa direção.
  • 7:00 - 7:03
    Olhamos para o céu,
    vemos Hércules e Zeus.
  • 7:03 - 7:06
    Quando alucinamos,
    o que é que ouvimos?
  • 7:06 - 7:10
    Vozes humanas, não são apitos
    de comboio, nem despertadores.
  • 7:10 - 7:13
    Ouvimos pessoas a falar.
  • 7:14 - 7:17
    A nossa obsessão
    com as intenções humanas
  • 7:17 - 7:19
    é a razão por que nos preocupamos tanto
  • 7:19 - 7:23
    com pessoas que escondem bombas
    na roupa interior.
  • 7:23 - 7:26
    O total anual de mortes
    das bombas na roupa interior,
  • 7:26 - 7:28
    já agora, é zero.
  • 7:28 - 7:29
    (Risos)
  • 7:29 - 7:34
    E ninguém aqui se preocupa
    muito com a gripe.
  • 7:34 - 7:39
    O total de mortes por este vírus
    é de 300 000 pessoas por ano.
  • 7:40 - 7:42
    É um número muito grande.
  • 7:42 - 7:47
    Muitos pais preocupam-se mais
    que apareça um estranho
  • 7:47 - 7:49
    e rapte o seu filho
  • 7:49 - 7:52
    do que com que o seu filho
    coma demasiadas batatas fritas.
  • 7:52 - 7:56
    Mas o rapto de crianças por estranhos
    é um acontecimento extremamente raro
  • 7:56 - 8:02
    e a obesidade devida a maus alimentos
    não é rara e cada vez é menos rara.
  • 8:02 - 8:05
    Não é preciso procurar muito longe
    exemplos destes.
  • 8:05 - 8:11
    Penso que em Atenas, tal como nos EUA,
    todos os dias há notícias sobre um avião
  • 8:11 - 8:17
    que, por misteriosas razões, parece
    ter desaparecido e matado 200 pessoas.
  • 8:17 - 8:21
    Ouvi falar desse avião duas vezes por dia,
    todos os dias, durante meses,
  • 8:21 - 8:24
    e ainda oiço falar dele
    uma vez por semana.
  • 8:24 - 8:27
    No entanto, muitos de nós
    parece não ter visto um outro artigo
  • 8:27 - 8:29
    publicado na mesma altura,
  • 8:29 - 8:32
    de que a poluição matou sete milhões
    de pessoas em 2012.
  • 8:32 - 8:34
    Isso é um holocausto.
  • 8:34 - 8:37
    Pois, mas voltemos ao caso do avião,
  • 8:38 - 8:42
    porque o avião tem a ver
    com as intenções das pessoas
  • 8:42 - 8:44
    e a poluição nem por isso.
  • 8:45 - 8:47
    Vemos a mesma coisa
    nas experiências de laboratório.
  • 8:47 - 8:50
    Levamos sujeitos para o laboratório
  • 8:50 - 8:52
    e pomo-los a jogar
    jogos económicos.
  • 8:52 - 8:54
    Sabem que mais?
  • 8:54 - 8:58
    Eles ficam irritados
    se outro jogador faz batota,
  • 8:58 - 9:02
    mas não se importam se a batota
    for feita por um computador.
  • 9:02 - 9:06
    Se dermos um choque elétrico a uma pessoa
    num laboratório de psicologia,
  • 9:06 - 9:09
    ela diz que doeu mais,
    se for uma pessoa a dar-lhe o choque
  • 9:09 - 9:12
    do que se for uma máquina
    a dar-lhe o choque.
  • 9:12 - 9:15
    Se um avião embater num edifício
  • 9:16 - 9:18
    porque foi atingido por um raio,
  • 9:18 - 9:22
    ninguém nesta sala se lembrará
    da data em que isso aconteceu.
  • 9:22 - 9:25
    Mas, para todos os norte-americanos
    e para muitos europeus,
  • 9:25 - 9:30
    isto é uma fotografia icónica
    que nos faz dizer "11 de setembro".
  • 9:32 - 9:37
    O aquecimento global não está
    a tentar matar-nos, e isso é muito mau
  • 9:37 - 9:40
    porque, se o aquecimento global
    fosse uma conspiração
  • 9:40 - 9:43
    de um homem malévolo
    com um feio bigode,
  • 9:44 - 9:48
    teríamos organizações
    como a CIA e a NSA
  • 9:49 - 9:53
    empenhadas em acabar
    com o aquecimento global amanhã.
  • 9:55 - 9:58
    Número dois. Ameaças a que reagimos
  • 9:58 - 10:01
    são ameaças que têm
    uma componente moral.
  • 10:02 - 10:03
    Os seres humanos são animais sociais.
  • 10:03 - 10:06
    Preocupamo-nos muito
    com as mentes dos outros.
  • 10:06 - 10:08
    Mas também somos animais morais.
  • 10:08 - 10:11
    Na verdade, o único animal
    que se preocupa profundamente
  • 10:11 - 10:16
    com o bom e o mau,
    o certo e o errado, o bem e o mal.
  • 10:17 - 10:20
    Mas gostava que reparassem
    numa coisa muito interessante
  • 10:20 - 10:23
    sobre as nossas regras morais
    e na sua violação.
  • 10:23 - 10:25
    Vou contar-vos uma história
    que, segundo penso,
  • 10:25 - 10:28
    vai violar as regras morais
    de toda a gente.
  • 10:28 - 10:31
    Julie e Mark são irmão e irmã.
  • 10:31 - 10:35
    Viajam juntos em França
    numas férias de verão da faculdade.
  • 10:35 - 10:39
    Uma noite, estão os dois sozinhos
    numa cabana perto da praia.
  • 10:39 - 10:45
    Resolvem que seria interessante
    e divertido se tentassem fazer amor.
  • 10:46 - 10:50
    Pelo menos, seria uma experiência
    nova para cada um.
  • 10:50 - 10:53
    Julie já andava a tomar
    pílulas de controlo de gravidez
  • 10:53 - 10:56
    mas Mark usou um preservativo,
    à cautela.
  • 10:56 - 11:00
    Ambos gostaram de fazer amor
    mas decidiram não voltar a fazê-lo.
  • 11:00 - 11:03
    Mantiveram aquela noite
    em segredo absoluto
  • 11:03 - 11:06
    o que os torna ainda mais
    próximos um do outro.
  • 11:06 - 11:08
    Agora, uma pergunta.
  • 11:08 - 11:11
    O que é que pensam disto?
    Foi certo eles terem feito amor?
  • 11:12 - 11:15
    Esta pergunta foi feita
    a milhares de pessoas
  • 11:15 - 11:18
    e, até agora, ninguém disse: "Foi".
  • 11:18 - 11:23
    Toda a gente acha que foi errado
    eles terem feito amor.
  • 11:23 - 11:26
    Depois, perguntamos-lhes porquê.
  • 11:26 - 11:28
    Aparecem todo o tipo de respostas.
  • 11:28 - 11:31
    "Bolas, se um irmão e irmã
    têm relações sexuais,
  • 11:31 - 11:33
    "vão ter filhos deformados".
  • 11:33 - 11:34
    Bom, mas a história diz
  • 11:34 - 11:37
    que eles usaram dois tipos
    de controlo de gravidez.
  • 11:37 - 11:38
    Não tiveram nenhum bebé.
  • 11:38 - 11:42
    "Isso vai mexer com eles
    psicologicamente".
  • 11:42 - 11:45
    Bom, mas a história diz
    que eles ficaram na maior,
  • 11:45 - 11:47
    tinha sido uma ocasião especial
    para ambos
  • 11:47 - 11:50
    e até os tinha tornado mais próximos.
  • 11:50 - 11:52
    "Bom, é contra a lei".
  • 11:52 - 11:55
    Sim, mas não em França.
    Eles estavam em França.
  • 11:55 - 11:57
    (Risos)
  • 11:57 - 12:00
    Como veem, podem continuar
    a dizer-me que é errado
  • 12:00 - 12:02
    e eu continuo a dizer
    que essas razões não contam,
  • 12:02 - 12:05
    mas não altero a vossa mentalidade
    nem durante um minuto,
  • 12:05 - 12:09
    porque a razão por que vocês
    pensam que é errado não é razão nenhuma,
  • 12:09 - 12:10
    é uma emoção.
  • 12:10 - 12:14
    A violação das regras morais
    provoca-nos emoções fortes
  • 12:14 - 12:16
    que nos impelem à ação.
  • 12:16 - 12:20
    Neste caso, as emoções
    são habitualmente a raiva e o desagrado.
  • 12:20 - 12:24
    Mas reparem numa coisa
    sobre a violação das regras morais
  • 12:24 - 12:26
    e sobre as próprias regras morais.
  • 12:26 - 12:29
    Têm tendência a preocupar-se
    com as mesmas coisas
  • 12:29 - 12:31
    que preocupavam os nossos antepassados.
  • 12:31 - 12:34
    Todas as culturas humanas
    têm uma regra moral
  • 12:34 - 12:38
    sobre quem podemos beijar
    e quem podemos matar.
  • 12:38 - 12:40
    Nenhuma cultura moral
    tem uma regra moral
  • 12:40 - 12:44
    sobre se podemos usar
    ar condicionado no carro
  • 12:44 - 12:47
    ou que tipo de lâmpadas
    devemos comprar.
  • 12:47 - 12:51
    Em consequência, os problemas
    como o aquecimento global
  • 12:51 - 12:53
    parecem não ter uma componente moral.
  • 12:53 - 12:56
    Sim, fazem-nos sentir preocupados,
    fazem-nos sentir responsáveis.
  • 12:56 - 13:01
    Mas não nos fazem sentir irritados,
    não nos fazem sentir repugnância,
  • 13:01 - 13:05
    não nos fazem sentir insultados,
    não nos fazem sentir desonrados.
  • 13:05 - 13:10
    Em consequência, é-nos muito difícil
    sermos mobilizados por problemas
  • 13:10 - 13:13
    como o aquecimento global
    e, em vez disso, viramos a nossa atenção
  • 13:13 - 13:16
    para outras ameaças importantes
    da vida na Terra
  • 13:16 - 13:19
    como o casamento "gay",
    a queima de bandeiras,
  • 13:19 - 13:23
    o tipo de coisas que muito provavelmente
    eliminarão as espécies.
  • 13:23 - 13:25
    (Risos)
  • 13:25 - 13:28
    "Iminente", reagimos a ameaças
    que são iminentes.
  • 13:29 - 13:34
    Se eu agarrar no sapato
    e o atirar a vocês, como este homem fez,
  • 13:34 - 13:38
    vocês farão o mesmo
    que o presidente Bush está a fazer.
  • 13:38 - 13:40
    Abaixam-se.
  • 13:40 - 13:44
    Garanto que, se o presidente Bush
    pode fazer isso, vocês também podem fazer.
  • 13:44 - 13:45
    (Risos)
  • 13:45 - 13:48
    (Aplausos)
  • 13:51 - 13:54
    O nosso presidente não era conhecido
    por ser um homem de reflexos rápidos
  • 13:54 - 13:57
    mas olhem como ele conseguiu
    esquivar-se tão depressa.
  • 13:57 - 14:01
    Isso porque é a especialidade
    do cérebro humano
  • 14:02 - 14:05
    esquivar-se do caminho
    de perigos imediatos.
  • 14:06 - 14:10
    Na verdade, durante as primeiras
    centenas de milhões de anos no planeta,
  • 14:10 - 14:12
    era isso o que o cérebro fazia.
  • 14:12 - 14:14
    Era apenas uma grande máquina
    de "afasta-te do caminho"
  • 14:14 - 14:18
    e tentava esquivar-se do caminho
    das coisas que tentavam comê-lo.
  • 14:19 - 14:24
    Nos últimos dois milhões de anos,
    o cérebro humano aprendeu um novo truque:
  • 14:24 - 14:27
    aprendeu a afastar-se do caminho
  • 14:27 - 14:30
    de ameaças que ainda
    não tinham aparecido.
  • 14:30 - 14:34
    Há cerca de dois milhões de anos,
    o cérebro humano descobriu
  • 14:34 - 14:36
    um novo país chamado "o futuro",
  • 14:36 - 14:39
    um país onde não vive nenhum outro animal,
  • 14:39 - 14:44
    um país que a nossa espécie
    nunca antes tinha visto.
  • 14:44 - 14:50
    A nossa capacidade de pensar no futuro,
    de reagir às consequências de coisas
  • 14:50 - 14:51
    que ainda não aconteceram
  • 14:52 - 14:53
    — não só os sapatos
    que vêm contra nós,
  • 14:53 - 14:56
    mas a sapatos que, um dia,
    podem vir contra nós.
  • 14:56 - 14:59
    Isto é uma nova capacidade.
  • 14:59 - 15:02
    Envolve uma parte particular do cérebro,
  • 15:02 - 15:04
    uma parte nova, chamada o lobo frontal.
  • 15:04 - 15:09
    O lobo frontal é a parte mais nova
    do cérebro, em termos de evolução,
  • 15:09 - 15:12
    é a última parte do cérebro
    a formar-se totalmente.
  • 15:12 - 15:16
    Até aos 18 ou 19 anos, o lobo frontal
    não está totalmente desenvolvido.
  • 15:16 - 15:20
    É a primeira parte do cérebro
    a deteriorar-se quando envelhecemos.
  • 15:21 - 15:23
    É uma parte do cérebro muito frágil
  • 15:23 - 15:26
    e a capacidade que nos confere
    também é muito frágil.
  • 15:26 - 15:30
    A capacidade de pensar no futuro
    é uma coisa muito recente, para nós,
  • 15:30 - 15:33
    e, por vezes, não somos muito bons nisso.
  • 15:33 - 15:35
    Imaginem o que será
    não ter essa capacidade,
  • 15:36 - 15:38
    de ter danos no lobo frontal.
  • 15:38 - 15:40
    Esta é uma conversa entre
    um psicólogo e um doente
  • 15:40 - 15:43
    com danos nesta área crítica.
  • 15:43 - 15:46
    O psicólogo faz uma pergunta
    que qualquer um de nós consegue responder
  • 15:46 - 15:50
    mas este doente acha
    extremamente incómoda.
  • 15:50 - 15:53
    "O que é que vai fazer amanhã?"
  • 15:53 - 15:54
    "Não sei".
  • 15:55 - 15:57
    "Lembra-se da pergunta?"
  • 15:57 - 15:59
    "Foi sobre o que vou fazer amanhã".
  • 15:59 - 16:03
    "Pois foi, consegue descrever
    o seu estado de espírito
  • 16:03 - 16:05
    "quando tenta pensar nisso?"
  • 16:05 - 16:09
    "Em branco, parece-me,
    é como se estivesse a dormir,
  • 16:10 - 16:13
    "como estar numa sala vazia
  • 16:13 - 16:16
    "e haver uma pessoa
    a pedir-me uma cadeira,
  • 16:16 - 16:18
    "mas não haver nada ali,
  • 16:18 - 16:20
    "é como estar a nadar no meio de um lago.
  • 16:20 - 16:23
    "Não há ninguém a segurar-nos
    nem há nada para fazer".
  • 16:24 - 16:27
    É assim que é viver
    num presente permanente,
  • 16:27 - 16:29
    um presente sem amanhã.
  • 16:30 - 16:33
    Se observarmos o cérebro humano,
    reparamos numa coisa interessante.
  • 16:33 - 16:37
    Temos uma parte deste tamanho
    dedicada a preocuparmo-nos com o agora,
  • 16:37 - 16:39
    e uma parte deste tamanho
  • 16:39 - 16:42
    dedicada a preocuparmo-nos
    com o resto da eternidade.
  • 16:42 - 16:45
    É por isso que, quando fazemos
    perguntas às pessoas
  • 16:45 - 16:49
    elas podem dar-nos o que parecem
    ser respostas bastante irracionais.
  • 16:49 - 16:56
    "Queres 100 euros dentro de 12 meses
    ou 200 euros dentro de 13 meses?"
  • 16:56 - 17:00
    A maioria das pessoas
    optam pelos 200 euros.
  • 17:00 - 17:04
    Porquê? Porque vale a pena esperar
    mais um mês para duplicar o dinheiro.
  • 17:04 - 17:05
    Não acham? Claro.
  • 17:06 - 17:09
    Mas reparem no que acontece
    quando fazemos a mesma pergunta,
  • 17:09 - 17:14
    mas oferecemos 100 euros já
    e os 200 euros dentro de um mês.
  • 17:14 - 17:16
    De repente, as pessoas ficam impacientes.
  • 17:16 - 17:18
    "Oh, não, quero o dinheiro já".
    Porquê?
  • 17:18 - 17:24
    Porque "já" tem um poder especial
    que nenhum "amanhã" consegue desafiar.
  • 17:25 - 17:30
    Um dos problemas com o aquecimento
    global é que vai acontecer mais tarde.
  • 17:31 - 17:35
    Por fim, reagimos às ameaças
    que são instantâneas.
  • 17:36 - 17:41
    Ninguém aqui, segundo vejo, consegue
    tirar os olhos desta vela tremeluzente.
  • 17:41 - 17:45
    A razão é que o cérebro humano
    preocupa-se muito com a mudança.
  • 17:45 - 17:49
    Preocupa-se com a mudança do local,
    a mudança da luz, a mudança do som,
  • 17:49 - 17:52
    a mudança do tamanho,
    a mudança da pressão,
  • 17:52 - 17:53
    a mudança da temperatura.
  • 17:53 - 17:57
    Qualquer tipo de mudança é uma coisa
    em que o cérebro humano repara,
  • 17:57 - 18:00
    mas só se essa mudança for rápida.
  • 18:00 - 18:03
    Isto não é uma foto, é um filme.
  • 18:03 - 18:07
    Neste momento, estão a ver um filme
    e há uma coisa muito importante no ecrã
  • 18:07 - 18:10
    que está a mudar, mas vocês não veem,
  • 18:10 - 18:14
    porque está a mudar
    no decorrer de 20 segundos.
  • 18:15 - 18:17
    Alguém aqui reparou no que era?
  • 18:17 - 18:19
    Pronto, vou passá-lo outra vez.
  • 18:19 - 18:21
    Vou acelerá-lo para o dobro.
  • 18:21 - 18:25
    Agora estão a ver esta mudança
    em 10 segundos.
  • 18:25 - 18:27
    Alguns de vocês já começaram a reparar.
  • 18:27 - 18:31
    Vou passá-lo ainda mais depressa,
    Vou passá-lo em cinco segundos.
  • 18:32 - 18:36
    É exatamente a mesma mudança
    que mostrei no primeiro filme.
  • 18:36 - 18:41
    só que a maioria não conseguiu vê-la
    porque estava muito devagar.
  • 18:41 - 18:44
    O terrorismo provoca mudanças rápidas.
  • 18:44 - 18:48
    Um dia está aqui um edifício,
    no dia seguinte desapareceu
  • 18:48 - 18:50
    e o cérebro dá por isso,
  • 18:50 - 18:53
    mas todas as alterações
    do aquecimento global são lentas.
  • 18:53 - 18:58
    Nos últimos 15 ou 20 anos,
    a impureza da água,
  • 18:58 - 19:02
    do ar e dos alimentos
    aumentou drasticamente,
  • 19:02 - 19:05
    mas foi sempre aumentando
    um dia de cada vez.
  • 19:06 - 19:09
    O cérebro não está concebido
    para reconhecer mudanças
  • 19:09 - 19:11
    que acontecem tão lentamente.
  • 19:11 - 19:14
    Olhem, nós preocupamo-nos
    com o ambiente.
  • 19:14 - 19:16
    Vejam como ficamos furiosos
    quando uma petrolífera
  • 19:16 - 19:19
    derrama mil barris de petróleo num dia,
  • 19:20 - 19:23
    mas não nos importamos
    se derrama um barril de petróleo
  • 19:23 - 19:26
    todos os dias, durante mil dias.
  • 19:26 - 19:28
    Jovens, tenham cuidado.
  • 19:28 - 19:30
    (Risos)
  • 19:30 - 19:33
    A calvície começa
    com um cabelo de cada vez.
  • 19:33 - 19:35
    (Risos)
  • 19:35 - 19:38
    (Aplausos)
  • 19:41 - 19:44
    Se eu não tivesse um espelho
    ou uma mulher,
  • 19:44 - 19:47
    nem sequer sabia
    que isso tinha acontecido.
  • 19:47 - 19:48
    (Risos)
  • 19:48 - 19:50
    Mas o que é importante é isto:
  • 19:50 - 19:54
    Se eu acordasse uma manhã em 1989,
    olhasse para o espelho
  • 19:54 - 19:57
    e visse este homem calvo,
    teria gritado,
  • 19:57 - 20:01
    teria ido a correr ao médico,
    teria recorrido a ginástica capilar
  • 20:01 - 20:03
    e teria dito: "Implantem qualquer coisa".
  • 20:03 - 20:08
    Mas quase não dei conta de ficar
    sem cabelo, porque aconteceu lentamente.
  • 20:09 - 20:13
    A ironia é que o cérebro humano
    não está concebido
  • 20:13 - 20:17
    para combater um inimigo
    que se move lentamente.
  • 20:19 - 20:22
    As ameaças que são intencionais,
    imorais, iminentes e instantâneas
  • 20:22 - 20:25
    atraem a nossa atenção
    e levam-nos a reagir.
  • 20:25 - 20:27
    As ameaças que não têm
    essas características não o fazem.
  • 20:28 - 20:30
    O aquecimento global,
    uma das maiores ameaças
  • 20:30 - 20:35
    para o futuro da nossa espécie
    não tem nenhuma destas características.
  • 20:35 - 20:39
    Isso significa que a nossa destruição
    é inevitável?
  • 20:39 - 20:41
    Não há nada que possamos fazer?
  • 20:41 - 20:43
    Não, nada disso.
  • 20:43 - 20:48
    Os seres humanos fazem muitas coisas
    para as quais a natureza não nos concebeu.
  • 20:48 - 20:50
    Eu cheguei aqui num voo.
  • 20:50 - 20:55
    A natureza nunca imaginou
    que este mamífero iria voar até à Grécia.
  • 20:55 - 20:59
    Eu sei fazer contas,
    eu posso escrever uma sinfonia.
  • 20:59 - 21:02
    Posso viver numa sociedade
    pacífica, civilizada.
  • 21:02 - 21:06
    Todas as coisas para as quais
    a natureza não me concebeu.
  • 21:06 - 21:11
    Podemos reagir a ameaças
    que não têm estas quatro características.
  • 21:11 - 21:13
    Mas temos de o fazer com esforço.
  • 21:13 - 21:16
    Não é uma reação, é uma ação.
  • 21:16 - 21:19
    Na verdade, é uma proeza humana.
  • 21:19 - 21:23
    Quando as simpáticas pessoas no Starbucks
    me convidaram para escrever umas palavras
  • 21:23 - 21:26
    para pôr nos copos,
    pensei muito no que havia de ser
  • 21:26 - 21:29
    porque percebi que seriam,
    provavelmente,
  • 21:29 - 21:31
    as palavras mais importantes
    que jamais escrevera.
  • 21:31 - 21:36
    Afinal, essas palavras iriam
    ser vistas por milhões de pessoas
  • 21:36 - 21:38
    que ainda não tinham tomado café
  • 21:38 - 21:41
    e estariam muito sugestíveis
    e podiam acreditar em tudo.
  • 21:41 - 21:42
    (Risos)
  • 21:42 - 21:46
    Por isso pensei muito, concentrei-me
    e são estas as palavras que escrevi:
  • 21:46 - 21:50
    "O cérebro humano é o único objeto
    no universo conhecido
  • 21:50 - 21:55
    "que pode prever o futuro
    e determinar o seu destino.
  • 21:55 - 21:59
    "O facto de podermos tomar
    decisões desastrosas,
  • 21:59 - 22:01
    "mesmo quando prevemos
    as suas consequências
  • 22:02 - 22:06
    "é o grande mistério por resolver
    do comportamento humano.
  • 22:06 - 22:08
    "Quando detemos o destino na nossa mão,
  • 22:09 - 22:11
    "porque é que havemos de fechar o punho?"
  • 22:12 - 22:13
    Sabemos qual é a resposta.
  • 22:13 - 22:17
    Fechar o punho é a resposta natural
    ao perigo.
  • 22:18 - 22:20
    A nossa salvação, se chegar,
  • 22:20 - 22:25
    chegará porque somos o animal
    que usa o cérebro
  • 22:25 - 22:29
    para fazer o que nenhum animal faz
    quando é ameaçado.
  • 22:29 - 22:31
    Abram as mãos.
  • 22:32 - 22:33
    Obrigado.
  • 22:33 - 22:37
    (Aplausos)
Title:
É o fim do mundo tal como o conhecemos (e eu acho ótimo) | Daniel Gilbert | TEDxAcademy
Description:

Embora estudos científicos confirmem que o aumento das temperaturas globais e a mudança dos padrões climáticos ameacem a saúde humana, a biodiversidade e a sustentabilidade dos ecossistemas, a segurança alimentar, a qualidade da água e do ar, e outros serviços dos ecossistemas de que dependemos, menos de metade do mundo adulto consideram o aquecimento global como uma ameaça a si mesmos e às suas famílias. Porque é que não nos preocupamos mais com este terrível desastre?
Daniel Gilbert argumenta que o nosso cérebro reage naturalmente a ameaças que são intencionais, iminentes, imorais e instantâneas, enquanto o aquecimento global não apresenta nenhuma destas características. Para avaliar as ameaças que enfrentamos hoje, diz que devemos abrir as mãos em vez de as fecharmos num punho.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:48

Portuguese subtitles

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