A próxima revolução industrial? Aberta, colaborativa e ágil | Paolo Sammicheli | TEDxSiena

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Paolo Sammicheli é um profissional e empreendedor de Siena que trabalha com tecnologia da informação há 25 anos.

Trabalha como "coach" de negócios, ajudando empresas na Itália e no exterior a exprimirem seu próprio potencial e descobrirem melhores formas de criar produtos com inovação. Também trabalhou por vários anos como líder na comunidade internacional para desenvolver o sistema operacional Ubuntu Linux.

No palco de Siena, ele apresenta o caso de sucesso da Wikispeed, uma introdução à nova metodologia de codesign, capaz de contaminar a indústria tradicional criando uma verdadeira e única revolução na manufatura.

Meu nome é Paolo Sammicheli,

e meu próximo carro fará 40 quilômetros
com um litro de gasolina.

Estou aqui para contar a vocês
a história da Wikispeed,

e de um herói moderno, a começar
pelo seu próprio nome: Joe Justice.

Em 2008, a seguradora "Progressive"

patrocinou, com US$ 10 milhões,

o prêmio XPrize,

desafiando os participantes
a criarem um carro

que fizesse 160 quilômetros
com um galão de combustível.

Para nós europeus, é basicamente

fazer 100 quilômetros
com 2,8 litros de combustível.

Em 2008, já existiam veículos
que faziam 100 quilômetros por galão,

mas eram como esse trenó.

Para um único passageiro,

e definitivamente não podiam circular
nas estradas de tráfego intenso.

Um dos requisitos do XPrize

era que o veículo fosse
legalmente permitido

para circular nos Estados Unidos.

Joe Justice decidiu participar,
e no começo estava praticamente sozinho,

mas via redes sociais
começou a dividir na web

a sua experiência, seus erros,
e o que aprendia.

E rapidamente,

uma comunidade de 44 pessoas
de 4 países diferentes

se formou para ajudá-lo.

Nascia assim a Wikispeed.

A Wikispeed, em apenas três meses,

sem nenhum financiamento,
nem de universidades ou de empresas,

conseguiu construir o primeiro
protótipo para concorrer ao XPrize

e ficou em décima posição, superando
mais de 100 concorrentes de todo o mundo,

que tinham financiamentos
de universidades e empresas,

alcançando o que o New York Times Online
chamou de "algo no limite do credível".

Mas como foi possível?

Joe Justice, assim como eu,
é um técnico em informática.

E da informática trouxe a metodologia

que permitia criar produtos
rapidamente, com inovação.

Metodologias ágeis, mas não mirabolantes,
como Scrum, Kanban, eXtreme Programming.

Com o prêmio de consolação de US$ 10 mil,

o time da Wikispeed conseguiu
inscrever seu veículo.

Em 2011, a Wikispeed recebeu um convite

para participar da maior
feira automotiva do mundo.

Em Detroit, Michigan, o covil dos leões.

Estariam ali todos os fabricantes
de veículos mais importantes do mundo.

Alegria geral do time, mas também pânico!

O time Wikispeed queria levar seu melhor
para um salão do automóvel,

o protótipo que haviam
levado para o concurso.

Mas para fazer uma carroceria sob medida

precisariam de três meses e US$ 36 mil.

Assim Joe voltou à escola,

e se inscreveu em um curso
de materiais compósitos.

E em seu retorno ao time,

começaram a modelar a nova
carroceria do Wikispeed.

Primeiro pequena, e depois
um modelo em tamanho real.

Em apenas três dias, gastando só US$ 800,

criaram a carroceria em fibra de carbono
que levaram para o salão do automóvel.

Felizmente era linda,

o stand ficava no piso principal do salão,

entre a Ford e Chevrolet.

E todos falavam sobre a Wikispeed:

New York Times Online,
National Geographics, Wired Magazine

até na Itália, no "Report", da Rai Tre.

Hoje a Wikispeed tem mil voluntários
de 40 países diferentes,

que produzem carros.

Se você visitar o site da Wikispeed,
verá que é como um projeto de Open Source:

pode baixar os projetos de graça
e construí-los sozinho.

Ou pedir partes dos projetos,
e montá-los sozinho.

Ou até pedir a eles que o montem por você.

Estão fazendo projetos muito interessantes

como uma microcasa,
que custa menos de US$ 100

com um quarto, banheiro
e uma porta que fecha por dentro,

para ajudar os sem-teto,
usando materiais recicláveis.

Mas o mais espantoso

que Joe e seus voluntários
da Wikispeed fizeram

é ter demonstrado que é possível utilizar
metodologias específicas de software

para construir objetos,

derrubando o paradigma
de que isso não era possível.

Organizaram um grupo de trabalho
com um método chamado Scrum,

que auxilia o time a manter
a coesão e produtividade,

no qual seus membros colaboram em duplas
com ideias do eXtreme Programming,

de modo que as competências
passam de um integrante ao outro,

aumentando a qualidade e segurança.

E projetando o veículo

com o que no software se chama
programação por objetos,

ou seja, dividindo a construção
do veículo em módulos,

com uma interface de conexão
clara entre os módulos,

de modo que seja possível alterar
e melhorar cada parte do veículo

sem ter que refazer todo o projeto.

O chassi da Wikispeed, ainda hoje,

é o mais leve disponível
nos Estados Unidos

que recebeu cinco estrelas
em testes de batidas.

Isso porque os testes de segurança

são feitos antes ainda
com as partes de sustentação.

Tiramos essa ideia da informática:

se chama "Test Driven Development".

Acima de tudo, ficou demonstrado
que mesmo para construir um objeto

o ânimo é um multiplicador
da produtividade.

Todas as indústrias podem
se beneficiar desta ideia.

E hoje Joe é consultor e ajuda
empresas de todo o mundo

a encontrar uma nova forma
de produzir produtos melhores.

Foi aqui que o encontrei no verão passado,

no Colorado, ao norte de Denver,
no encontro do "Scrum for Hardware"

que foi a primeira conferência
internacional desses loucos da informática

que tinham a ideia de contaminar
a indústria com as ideias

oriundas de software.

Por dois dias discutimos

sobre as coisas feitas pelo software,
o que funciona melhor,

e o que não funciona.

No final fizemos um documento público,

com os princípios e valores
da nossa experiência.

Na manhã de sábado fomos
até a garagem da casa de Hubert Smith,

a pessoa de óculos aqui atrás de mim.

Fizemos uma festa da Wikispeed

ou seja, construímos um veículo do zero.

Quando cheguei aos Estados Unidos pensava

que provavelmente eu seria o único
italiano, ou até o único europeu lá.

E eu estava enganado:

dos 30 participantes,
eu e mais 7 eram italianos,

funcionários em uma fábrica em Ivrea,

fundada dez anos atrás
por ex-funcionários da Olivetti.

Durante o período,

nos divertimos muito construindo o carro;
também ficamos bem cansados.

No final Joe estava muito feliz:

tínhamos montado no chassi
as quatro suspensões,

colocado as rodas, os freios,
o braço de direção,

reparado a carroceria que fora
danificada no transporte

e juntado todas as partes para assegurar
que se uniam perfeitamente.

Segundo Joe, tínhamos feito

o equivalente a dois dias e meio
de trabalho de um time normal,

e ele garantiu que se ficássemos
nos Estados Unidos mais quatro dias

poderíamos pôr em movimento
o nosso Wikispeed.

No fim do trabalho,
comemoramos com uma cerveja.

Eu me aproximei do dono da casa e disse:

"Hubert, você constrói seu próximo carro

com um grupo de nerds,

e boa parte deles são também italianos.
Te aconselho a fazer um seguro total!"

(Risos)

Naquele dia nasceu um grupo de pessoas

que querem contaminar todas as indústrias,

com a ideia nascida do software.

Escreveram um documento público,
com os princípios e valores dessa ideia.

Em inglês, e a primeira língua
para o qual foi traduzido é o italiano.

Fizeram um site

que conta a experiência
de empresas do mundo todo

que começaram a utilizar essa ideia.

Em inglês, e a outra língua
disponível é o italiano.

Tentei fazer algo parecido

na minha primeira viagem
aos Estados Unidos anos atrás.

Fui para a Califórnia, ao Vale do Silício,

para participar de uma conferência
no campus do Google.

No sábado, com colegas, fomos aos museus.

E em San Jose

capital administrativa do Vale do Silício,

no Museu de Ciências e Tecnologia

havia uma mostra sobre Leonardo da Vinci
e a engenharia do século 16.

Assim que entrei, me virei

e vi a história dos engenheiros de Siena,
e das galerias subterrâneas.

Saindo, vejo as bandeiras dos distritos
de Siena sobre a bilheteria.

Atravessei o oceano para chegar
ao lugar mais tecnológico do mundo

para ouvir que o lugar
mais tecnológico do mundo

é de onde venho, mas 500 anos atrás.

Veja que está começando
uma nova revolução industrial,

conhecida como a quarta
revolução industrial.

Dizem que não será mais
o peixe maior que pega o menor,

mas que o mais veloz
que pegará o mais lento.

É exatamente o que aconteceu
com a tecnologia nos últimos 15 anos,

quando jovens, numa garagem,
em poucos anos

conseguiram passar a perna
nos gigantes da Bolsa de Valores.

Agora, se tudo isso que a tecnologia
conseguiu nos últimos 15 anos:

o compartilhamento, a transparência,
o trabalho em equipe e a coragem...

se tudo isso pode contagiar
as demais indústrias

com certeza veremos mais coisas belas.

Obrigado.

(Aplausos)