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Por que o design deveria incluir todos

  • 0:01 - 0:03
    Gostaria de lhes dar uma nova perspectiva.
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    Isso soa grandioso, e é mesmo.
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    Saí da Irlanda ontem de manhã.
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    Viajei de Dublin para Nova Iorque
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    sozinha.
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    Mas o design do aeroporto,
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    do avião e do terminal
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    nos oferecem pouca independência
    quando temos 1,05 m de altura.
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    Para os norte-americanos, são 3,5 pés.
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    Fui levada pelo aeroporto
    por funcionários numa cadeira de rodas.
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    Mas eu não preciso
    de uma cadeira de rodas,
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    mas o design de um aeroporto
  • 0:38 - 0:40
    e sua falta de acessibilidade
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    me limitam a essa forma de locomoção.
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    Com minha bagagem de mão entre meus pés,
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    eu fui levada pela segurança,
    e verificação de passaporte
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    e cheguei ao portão de embarque.
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    Eu uso os serviços
    de acessibilidade do aeroporto
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    porque a maioria dos terminais
    não é feita pensando em mim.
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    A segurança, por exemplo.
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    Não tenho força o suficiente
    para levantar minha bagagem de mão
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    do chão para a esteira.
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    A esteira fica na altura dos meus olhos.
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    E quem trabalha ali, por motivos
    de segurança, não pode me ajudar
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    e não pode levantá-la para mim.
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    Esse design inibe minha autonomia
    e minha independência.
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    Mas ser deste tamanho
    não é de todo ruim para viajar.
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    O espaço para as pernas na classe
    econômica parece o da classe executiva.
  • 1:30 - 1:32
    (Risos)
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    Sempre me esqueço do meu tamanho.
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    O espaço físico e a sociedade
    é que me lembram.
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    Usar um banheiro público
    é uma experiência excruciante.
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    Eu entro na cabine,
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    mas não consigo alcançar o trinco.
  • 1:50 - 1:52
    Sou criativa e resiliente.
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    Olho ao redor e vejo se há
    uma lixeira na qual eu possa subir.
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    É seguro?
  • 1:59 - 2:00
    Não.
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    É higiênico e salubre?
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    Definitivamente não.
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    Mas a alternativa é bem pior.
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    Se isso não funciona, uso meu telefone.
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    Ele me dá um alcance adicional
    de uns 10 cm a 15 cm,
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    e eu tento fechar o trinco com ele.
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    Imagino que isso não era o que Jony Ive
    pensou quando desenhou o iPhone,
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    mas funciona.
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    Outra alternativa é abordar uma estranha.
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    Eu peço mil desculpas
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    e peço para que a pessoa
    fique na porta da cabine.
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    As pessoas fazem
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    e eu volto grata,
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    mas extremamente envergonhada,
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    esperando que ninguém tenha percebido
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    que saí do banheiro sem lavar as mãos.
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    Eu carrego um antisséptico
    para as mãos todos os dias,
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    porque a pia, o sabonete,
    o secador de mãos e o espelho
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    estão fora do meu alcance.
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    O banheiro acessível pode ser uma opção.
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    Nesse espaço eu alcanço a fechadura,
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    a pia, o sabonete,
    o secador de mãos e o espelho.
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    Mas eu não consigo usar o vaso.
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    Ele é intencionalmente
    desenhado para ser mais alto
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    para que os cadeirantes
    possam se sentar facilmente.
  • 3:21 - 3:25
    Essa é uma inovação
    maravilhosa e necessária,
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    mas, no mundo do design, quando dizemos
    que um projeto ou ideia é acessível,
  • 3:31 - 3:32
    o que isso significa?
  • 3:33 - 3:35
    Acessível para quem?
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    E as necessidades de quem
    estão sendo deixadas de lado?
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    O banheiro é um exemplo
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    de como um design impacta minha dignidade,
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    mas o espaço físico tem impactos
    de formas casuais na minha vida também,
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    algo simples como pedir
    uma xícara de café.
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    Certo, eu admito.
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    Eu tomo café demais.
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    Meu pedido é um vanilla latte desnatado,
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    mas estou tentando ficar longe da calda.
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    Mas os cafés não são bem projetados,
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    pelo menos não para mim.
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    Na fila, fico ao lado
    da estufa de salgados,
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    e o barista passa ao próximo pedido.
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    "Próximo, por favor!", eles gritam.
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    Eles não conseguem me ver.
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    A pessoa atrás de mim na fila
    aponta para a minha existência
  • 4:21 - 4:24
    e todo mundo fica constrangido.
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    Faço meu pedido o mais rápido possível
    e vou pegar o meu café.
  • 4:28 - 4:31
    Agora, pensem um pouco.
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    Onde eles colocam o café?
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    Em um balcão alto, e sem a tampa.
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    Alcançar o café pelo qual paguei
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    é uma experiência incrivelmente perigosa.
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    Mas o design também tem impacto
    nas roupas que quero vestir.
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    Eu quero roupas que reflitam
    a minha personalidade.
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    O que é difícil de achar
    no departamento infantil.
  • 4:53 - 4:56
    E no departamento feminino
    precisaria fazer muitos ajustes.
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    Eu quero sapatos que mostrem minha
    maturidade, meu estilo e profissionalismo.
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    Em vez disso me oferecem
    tênis com velcro e luzes.
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    Eu não me oponho ao tênis com luzinhas.
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    (Risos)
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    Mas o design também reflete
    em coisas simples,
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    como me sentar numa cadeira.
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    Não consigo me sentar
    numa cadeira com classe.
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    Por causa dos padrões de altura
    com que as cadeiras são projetadas,
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    eu preciso usar as mãos e joelhos
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    para conseguir subir,
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    enquanto tomo cuidado
    para que ela não vire.
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    Mas enquanto o design me impacta,
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    seja na cadeira, no banheiro,
    no café ou nas roupas,
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    eu me beneficio e conto
    com a gentileza de estranhos.
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    Mas nem todos são assim gentis.
  • 5:52 - 5:55
    Sou lembrada de que sou pequena
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    quando um estranho aponta,
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    encara,
  • 5:59 - 6:01
    ri,
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    me xinga,
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    ou tira uma foto minha.
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    Isso acontece quase todo dia.
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    Com o crescimento das redes sociais,
    foi me dada a oportunidade
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    e uma plataforma para ter voz
    como blogueira e ativista,
  • 6:16 - 6:19
    mas também me deixou com medo
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    de virar um meme
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    ou uma sensação viral,
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    tudo sem meu consentimento.
  • 6:26 - 6:29
    Então vamos agora
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    deixar algo muito claro.
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    A palavra "nanico" é ofensiva.
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    Ela veio da era dos circos e show
    de aberrações de PT Barnum.
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    A sociedade evoluiu.
  • 6:44 - 6:46
    Nosso vocabulário também deveria.
  • 6:46 - 6:48
    A língua é uma ferramenta poderosa.
  • 6:48 - 6:50
    Ela não só nomeia nossa sociedade.
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    Ela molda a sociedade.
  • 6:53 - 6:56
    Eu sou extremamente
    orgulhosa de ser pequena,
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    de ter herdado a acondroplasia.
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    Sou ainda mais grata por ser Sinead.
  • 7:03 - 7:06
    Acondroplasia é a forma
    mais comum de nanismo.
  • 7:06 - 7:10
    Acondroplasia significa
    "sem formação de cartilagem".
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    Eu tenho membros curtos,
    traços faciais, testa
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    e nariz acondroplásticos.
  • 7:18 - 7:20
    Meus braços não ficam completamente retos,
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    mas consigo lamber meu cotovelo.
  • 7:23 - 7:24
    Não vou demonstrar isso.
  • 7:24 - 7:25
    (Risos)
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    Acondroplasia acontece em aproximadamente
    1 em cada 20 mil nascimentos.
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    E 80% das pessoas pequenas
    nascem de dois pais de altura regular.
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    Isso significa que qualquer pessoa aqui
    pode ter um filho com acondroplasia.
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    Sim, herdei minha condição do meu pai.
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    Gostaria de mostrar
    uma foto da minha família.
  • 7:47 - 7:49
    Minha mãe tem altura regular,
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    meu pai é uma pessoa pequena,
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    e sou a mais velha de cinco filhos.
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    Eu tenho três irmãs e um irmão.
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    Eles todos possuem altura regular.
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    Tenho a sorte incrível
    de ter nascido numa família
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    que cultivou minha curiosidade
    e minha tenacidade,
  • 8:08 - 8:13
    que me protegeu da ignorância
    e da falta de gentileza de estranhos
  • 8:13 - 8:17
    e que me muniu de resiliência,
    criatividade e confiança
  • 8:17 - 8:22
    que eu precisava para sobreviver
    e lidar com o ambiente e a sociedade.
  • 8:23 - 8:27
    Se eu tivesse que apontar
    uma razão do meu sucesso
  • 8:27 - 8:31
    é porque eu era e sou uma filha amada.
  • 8:32 - 8:35
    Bem, uma criança amada
    com um monte de petulância e sarcasmo,
  • 8:35 - 8:38
    mas uma filha amada mesmo assim.
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    Ao lhes dar um insight
    sobre quem eu sou hoje,
  • 8:42 - 8:45
    queria lhes oferecer uma nova perspectiva.
  • 8:45 - 8:47
    Queria desafiar a ideia
  • 8:47 - 8:50
    de que o design não passa duma ferramenta
    para criar função e beleza.
  • 8:51 - 8:54
    O design impacta enormemente
    a vida das pessoas,
  • 8:55 - 8:57
    todas as vidas.
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    O design é uma forma na qual
    podemos nos sentir incluídos no mundo,
  • 9:01 - 9:05
    mas é também uma forma na qual podemos
    preservar a dignidade de uma pessoa
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    e seus direitos humanos.
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    O design pode também
    infligir vulnerabilidade
  • 9:10 - 9:13
    num grupo cujas necessidades
    não são consideradas.
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    Então, hoje quero desafiar
    suas percepções.
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    Para quem não estamos projetando?
  • 9:21 - 9:24
    Como podemos ampliar suas vozes
  • 9:24 - 9:25
    e suas experiências?
  • 9:26 - 9:28
    Qual é o próximo passo?
  • 9:28 - 9:34
    O design é um privilégio enorme,
    mas é uma responsabilidade maior ainda.
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    Quero que abram seus olhos.
  • 9:37 - 9:38
    Muito obrigada.
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    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Por que o design deveria incluir todos
Speaker:
Sinead Burke
Description:

Sinéad Burke é tremendamente consciente dos detalhes que são praticamente invisíveis para muitos de nós. Com 1,05 m de altura, a forma como o mundo é projetado, desde a altura do trinco das portas até os tamanhos disponíveis de sapatos, geralmente inibe sua capacidade de fazer coisas sozinha. Aqui ela nos conta como é navegar pelo mundo como uma pessoa pequena e perguntar: "Para quem não estamos projetando?"

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:57

Portuguese, Brazilian subtitles

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