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O futuro da medicina é pessoal | Molly Shoichet | TEDxToronto

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    Aos 14 anos, tive a oportunidade
  • 0:10 - 0:15
    de atuar numa peça escrita e dirigida
    por meu irmão, Richard Shoichet.
  • 0:16 - 0:21
    A peça "Landscape" era sobre uma criança,
    eu, observando o mundo
  • 0:21 - 0:27
    e questionando por que continuamos
    a cometer os mesmos erros várias vezes.
  • 0:27 - 0:33
    A última fala da peça era minha:
    "Não está na hora de mudar isso?"
  • 0:33 - 0:38
    Essa simples frase se repete ao longo
    de toda a minha vida e carreira.
  • 0:38 - 0:45
    Temos instrutores, roupas sob medida,
    até "apps" com dicas de estilo de cabelo.
  • 0:45 - 0:49
    Então, por que não temos
    uma medicina personalizada?
  • 0:50 - 0:56
    Quando penso nos tratamentos médicos
    de antigamente, fico feliz em viver hoje.
  • 0:56 - 0:59
    Imagine ir ao médico
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    e ser tratado com sanguessugas
    para curar uma doença.
  • 1:04 - 1:09
    Ou o médico receitar cocaína
    para dor de dente.
  • 1:10 - 1:14
    Ou supositórios de rádio
    para ter uma vida mais longa.
  • 1:16 - 1:18
    (Risos)
  • 1:19 - 1:23
    A medicina avançou bastante.
  • 1:25 - 1:30
    Por isso, estou realmente
    feliz em viver hoje.
  • 1:30 - 1:32
    Mas não consigo parar de pensar
  • 1:32 - 1:37
    como vamos ver, no futuro,
    os tratamentos médicos de hoje;
  • 1:37 - 1:40
    vamos dar risadas do que, e por quê?
  • 1:42 - 1:45
    Estou animada com o futuro da medicina
  • 1:45 - 1:51
    porque sei que temos a oportunidade
    de conceber estratégias para cada pessoa.
  • 1:52 - 1:56
    Podemos ir além do tratamento
    dos sintomas da doença,
  • 1:56 - 1:59
    podemos interrompê-la
    ou até mesmo revertê-la.
  • 1:59 - 2:02
    Essa é a promessa
    da medicina regenerativa,
  • 2:02 - 2:05
    a promessa da medicina personalizada.
  • 2:05 - 2:07
    Na Universidade de Toronto,
  • 2:07 - 2:11
    lidero um laboratório
    com 25 cientistas excelentes.
  • 2:11 - 2:16
    Usamos ferramentas de engenharia para
    resolver grandes problemas da medicina.
  • 2:16 - 2:20
    Temos a oportunidade
    de aproveitar cada momento,
  • 2:20 - 2:24
    fazer coisas de outra maneira,
    de inventar o futuro.
  • 2:24 - 2:27
    Vou contar para você
    como estamos tentando fazer isso
  • 2:27 - 2:34
    no contexto do câncer, da cegueira
    e do derrame cerebral.
  • 2:34 - 2:39
    Depois de várias décadas,
    ainda é verdade hoje em dia
  • 2:39 - 2:44
    que a melhor maneira de tratar o câncer
    é com a cirurgia de remoção do tumor.
  • 2:44 - 2:49
    Em seguida, tentamos matar com veneno
    as células que se dividem com rapidez.
  • 2:50 - 2:54
    Acho que no futuro, vamos olhar
    para os tratamentos de câncer atuais
  • 2:54 - 2:59
    e indagar por que tratamos
    todos os pacientes da mesma maneira
  • 2:59 - 3:02
    em vez de usar soluções
    sob medida para cada um.
  • 3:03 - 3:07
    Imagine se você pudesse fazer uma biópsia
    de suas células cancerosas,
  • 3:07 - 3:11
    cultivá-las em laboratório para descobrir
  • 3:11 - 3:14
    quais medicamentos seriam
    mais adequados para você,
  • 3:14 - 3:18
    não para pacientes em geral,
    mas para você, como indivíduo.
  • 3:19 - 3:23
    Quando percebi que isso não estava
    sendo feito, quis saber o motivo.
  • 3:23 - 3:26
    Porque para um engenheiro,
    isso parece bastante lógico.
  • 3:26 - 3:29
    Aprendi que as células cancerosas
    retiradas dos pacientes
  • 3:29 - 3:33
    não são cultivadas facilmente
    em laboratório.
  • 3:33 - 3:36
    Quando pensei nisso, tudo fez sentido.
  • 3:36 - 3:39
    Por que uma célula cancerosa,
  • 3:39 - 3:42
    que normalmente se reproduz
    em um ambiente gelatinoso,
  • 3:42 - 3:47
    nutrida por outras células e proteínas
    seria cultivada num prato de plástico?
  • 3:47 - 3:53
    O ácido hialurônico é encontrado
    em muitos tecidos cancerosos,
  • 3:53 - 3:55
    e pensamos que ele seria
    a substância ideal
  • 3:55 - 3:59
    para cultivar as nossas
    células cancerosas em laboratório.
  • 3:59 - 4:04
    Mas o ácido hialurônico, ou AH,
    não é uma substância gelatinosa,
  • 4:04 - 4:06
    mas um líquido viscoso,
  • 4:06 - 4:11
    parecido com um melado,
    porém claro, incolor e inodoro.
  • 4:11 - 4:15
    Para encontrar um meio de cultivar
    células cancerosas em laboratório,
  • 4:15 - 4:20
    precisávamos encontrar um jeito
    de transformar o AH em gel.
  • 4:20 - 4:26
    Mas ao contrário da gelatina,
    colocá-lo na geladeira não funcionaria.
  • 4:27 - 4:32
    Então, inventamos uma química
    para fazer um gel de ácido hialurônico,
  • 4:32 - 4:35
    e, em seguida, incorporamos
    os sinais biológicos
  • 4:35 - 4:38
    que as células cancerosas
    geralmente encontram em tumores.
  • 4:38 - 4:41
    Nós inventamos uma nova substância
  • 4:41 - 4:44
    para cultivar células cancerosas
    em três dimensões.
  • 4:44 - 4:47
    Embora não percebemos isso na ocasião,
  • 4:47 - 4:50
    é muito importante cultivar
    células cancerosas
  • 4:50 - 4:53
    em um ambiente tridimensional
  • 4:53 - 4:56
    para simular como elas crescem
    no nosso corpo.
  • 4:57 - 5:01
    Hoje, podemos cultivar simples
    tecidos cancerosos em laboratório.
  • 5:02 - 5:06
    Agora temos a oportunidade
    de imaginar o futuro,
  • 5:06 - 5:11
    que não era possível antigamente;
    um futuro de medicina personalizada
  • 5:11 - 5:16
    no qual descobriremos quais drogas são
    mais adequadas exclusivamente para você.
  • 5:17 - 5:22
    Isso foi possível por indagamos por quê.
  • 5:23 - 5:28
    Em 2009, tive a oportunidade
    de iniciar uma nova colaboração
  • 5:28 - 5:31
    com o professor Derek van der Kooy.
  • 5:31 - 5:36
    Ele descobriu que todos nós temos
    células-tronco da retina exclusivas
  • 5:36 - 5:38
    de cada pessoa nos olhos.
  • 5:38 - 5:43
    No meu laboratório, inventamos
    uma nova biosubstância injetável.
  • 5:43 - 5:50
    Decidimos colaborar em um projeto
    para combater a cegueira.
  • 5:51 - 5:54
    Como se isso fosse fácil.
  • 5:54 - 5:56
    Mas eu gosto de desafios.
  • 5:56 - 6:02
    Existem medicamentos que retardam
    o progresso da cegueira
  • 6:02 - 6:08
    mas não tem como impedir o seu avanço,
    nem existe uma maneira de revertê-la.
  • 6:08 - 6:12
    Então essa era,
    e continua sendo, a nossa ideia.
  • 6:12 - 6:17
    Nós substituiríamos as células
    perdidas com a cegueira,
  • 6:17 - 6:22
    ou seja, as células fotorreceptoras
    da parte posterior do olho.
  • 6:22 - 6:25
    Mas conseguir células fotorreceptoras
    para transplante
  • 6:25 - 6:29
    é extremamente difícil.
  • 6:30 - 6:33
    As células-tronco da retina,
    que são encontradas
  • 6:33 - 6:36
    na parte externa da extremidade
    escura que circunda a íris,
  • 6:36 - 6:41
    podem ser programadas para
    se transformarem em fotorreceptores.
  • 6:42 - 6:47
    Mas a maioria das células que são
    transplantadas no sistema nervoso perecem.
  • 6:48 - 6:52
    Se quisermos conseguir
    combater a cegueira,
  • 6:52 - 6:57
    precisamos encontrar um meio de
    as células fotorreceptoras transplantadas
  • 6:57 - 7:02
    sobreviverem e se integrarem
    no circuito neural.
  • 7:03 - 7:07
    Fazendo uma analogia, imagine
    um cabo de rede de fios espesso
  • 7:07 - 7:09
    que foi cortado ao meio.
  • 7:09 - 7:12
    Se tentarmos emendá-lo
    com um monte de fios,
  • 7:12 - 7:16
    a condução elétrica não será restaurada.
  • 7:16 - 7:20
    Cada fio teria de ser
    soldado no seu devido lugar.
  • 7:20 - 7:23
    O mesmo acontece com o sistema nervoso.
  • 7:24 - 7:27
    A luz entra pelo olho
    e é captada pela retina;
  • 7:27 - 7:31
    os sinais luminosos se transformam
    em sinais elétricos no cérebro,
  • 7:31 - 7:33
    possibilitando a visão.
  • 7:34 - 7:41
    Nós inventamos uma nova biosubstância,
    hidrogel, que incha em contato com a água.
  • 7:41 - 7:44
    Este produto favorece
    a sobrevivência da célula.
  • 7:44 - 7:49
    Quando misturamos células fotorreceptoras
    com o hidrogel injetável
  • 7:49 - 7:53
    e transplantamos essas células no olho,
  • 7:53 - 7:59
    vimos que a sobrevivência celular e a
    integração no circuito neural aumentaram.
  • 8:01 - 8:07
    Assim como soldar os fios do cabo
    no devido lugar, só que biologicamente.
  • 8:07 - 8:12
    No exemplo da cegueira, observamos
    que a visão melhorou um pouco.
  • 8:13 - 8:17
    As pupilas se contraíram
    ao serem expostas à luz intensa;
  • 8:17 - 8:24
    portanto, o transplante de células
    provocou a regeneração do tecido do olho.
  • 8:24 - 8:26
    O futuro realmente é promissor.
  • 8:27 - 8:29
    (Risos)
  • 8:29 - 8:35
    Sabe, às vezes, eu me pergunto por que
    somos tão ousados em nossa pesquisa.
  • 8:36 - 8:40
    Sim, sou curiosa, mas por que
    assumimos tantos riscos?
  • 8:40 - 8:42
    Eu acho que como engenheiros,
  • 8:42 - 8:46
    nós não carregamos certos
    dogmas ou crenças tradicionais
  • 8:46 - 8:51
    comuns em um biólogo ou neurocientista
    ou médico que estuda o câncer.
  • 8:51 - 8:56
    Nós colaboramos com especialistas
    em tudo que fazemos.
  • 8:57 - 9:02
    Mas temos também certa liberdade
    de fazer perguntas diferentes
  • 9:02 - 9:04
    e de propor soluções diferentes.
  • 9:06 - 9:10
    Antes do início de 1990,
    todos nós pensamos
  • 9:10 - 9:15
    que nascemos com um determinado
    número de células nervosas no cérebro,
  • 9:15 - 9:17
    e se essas células nervosas do cérebro
    fossem danificadas
  • 9:17 - 9:20
    não seria possível regenerá-las.
  • 9:21 - 9:24
    Mas Sam Weiss e Brent Reynolds descobriram
  • 9:24 - 9:29
    que todos nós temos células-tronco
    no cérebro, células-tronco neurais.
  • 9:30 - 9:32
    E isso gerou uma mudança de paradigma.
  • 9:32 - 9:38
    Isso quer dizer que o cérebro possui,
    na verdade, a capacidade de se regenerar.
  • 9:39 - 9:42
    Um dos meus colaboradores,
    a professora Cindi Morshead,
  • 9:42 - 9:47
    descobriu que as células-tronco
    do cérebro poderiam ser estimuladas
  • 9:47 - 9:50
    para promover a restauração
    no caso de derrame cerebral.
  • 9:51 - 9:55
    Ao ministrar em sequência
    duas proteínas terapêuticas
  • 9:55 - 9:58
    diretamente nas células-tronco do cérebro,
  • 9:58 - 10:01
    observamos a restauração do cérebro.
  • 10:01 - 10:04
    Mas tem um problema.
  • 10:04 - 10:07
    Para estimular
    essas células-tronco residentes,
  • 10:07 - 10:10
    um tubo fino foi inserido no cérebro,
  • 10:10 - 10:16
    danificando diretamente o tecido
    que estávamos tentando regenerar.
  • 10:16 - 10:22
    Ficamos animados em conseguir alcançar
    o Santo Graal da medicina regenerativa
  • 10:22 - 10:24
    mas sabíamos que a abordagem
    não era perfeita.
  • 10:25 - 10:29
    Após milhares de ensaios clínicos
    em derrame cerebral fracassados,
  • 10:29 - 10:31
    existe apenas um único
    medicamento aprovado.
  • 10:31 - 10:37
    Se você não chegar no hospital rápido,
    a única solução é a reabilitação.
  • 10:38 - 10:42
    Sem dúvida, propor
    uma estratégia terapêutica
  • 10:42 - 10:46
    para tratar o derrame cerebral
    é um tremendo desafio clínico.
  • 10:46 - 10:48
    Parte desse desafio
  • 10:48 - 10:53
    é o fato de que os métodos convencionais
    de ministrar medicamentos não funcionam.
  • 10:53 - 10:56
    Os métodos orais e intravenosos
    de ministrar medicamentos
  • 10:56 - 10:59
    não chegam ao cérebro.
  • 10:59 - 11:05
    Isso ocorre porque o cérebro é protegido
    por uma barreira hematoencefálica.
  • 11:05 - 11:08
    Em geral, a barreira hematoencefálica
    é fantástica
  • 11:08 - 11:12
    porque ela protege o cérebro
    contra as toxinas do dia a dia.
  • 11:12 - 11:16
    Como estávamos especificamente tentando
    ministrar medicamentos no cérebro,
  • 11:16 - 11:21
    a barreira hematocefálica
    torna-se um grande empecilho.
  • 11:21 - 11:26
    Sabíamos que era preciso estimular
    as células-tronco residentes no cérebro,
  • 11:26 - 11:29
    mas não tínhamos certeza como fazer isso.
  • 11:30 - 11:34
    Tínhamos apenas o que pode
    ser considerado uma ideia maluca.
  • 11:34 - 11:38
    Injetaríamos as proteínas terapêuticas
  • 11:38 - 11:40
    que tinham estimulado
    a restauração cerebral anteriormente
  • 11:40 - 11:44
    não no cérebro,
    mas diretamente sobre o cérebro.
  • 11:44 - 11:49
    Faríamos um pequeno orifício no crânio e
    injetaríamos a substância sobre o cérebro.
  • 11:50 - 11:52
    Mas ficamos preocupados.
  • 11:52 - 11:55
    Se apenas injetássemos
    as proteínas terapêuticas
  • 11:55 - 11:58
    sobre o cérebro
    sem nenhum tipo de revestimento,
  • 11:58 - 12:00
    elas se dispersariam rapidamente.
  • 12:00 - 12:05
    Então, fizemos um adesivo, um Band-Aid
    com uma infusão de drogas,
  • 12:05 - 12:08
    que pudéssemos aplicar
    diretamente sobre o cérebro.
  • 12:09 - 12:14
    Colocamos as proteínas em nanoesferas,
    ou seja, grãos minúsculos,
  • 12:14 - 12:17
    mil vezes menor
    que o fio de cabelo humano,
  • 12:18 - 12:23
    e distribuímos essas proteínas envoltas
    em nanoesferas em uma substância injetável
  • 12:23 - 12:28
    que aplicamos diretamente sobre o cérebro
    num estudo de derrame cerebral.
  • 12:29 - 12:32
    Conseguimos contornar
    a barreira hematocefálica,
  • 12:32 - 12:37
    estimular as células-tronco residentes,
    promover a restauração do tecido,
  • 12:37 - 12:41
    tudo isso sem causar
    nenhum dano ao cérebro.
  • 12:42 - 12:47
    Estou convencida de que a medicina
    personalizada é a mudança que precisamos.
  • 12:47 - 12:49
    A medicina regenerativa promete
  • 12:49 - 12:54
    revolucionar a maneira como ministramos
    medicamentos aos pacientes.
  • 12:54 - 12:59
    Estou animada com as oportunidades
    que temos pela frente, mas também sei
  • 12:59 - 13:03
    que demos apenas o primeiro passo
    de muitos que ainda virão
  • 13:03 - 13:08
    para aplicar essas tecnologias
    e estratégias nos pacientes.
  • 13:08 - 13:11
    Hoje, não temos condições
    de ajudar os pacientes,
  • 13:11 - 13:14
    mas sei que teremos amanhã.
  • 13:15 - 13:21
    No futuro, vamos olhar para alguns
    tratamentos médicos da atualidade,
  • 13:21 - 13:23
    como os sanguessugas de antigamente.
  • 13:23 - 13:28
    No futuro, indagaremos
    por que levou tanto tempo
  • 13:28 - 13:31
    para fazermos uma mudança.
  • 13:32 - 13:33
    Obrigada.
  • 13:33 - 13:35
    (Aplausos)
Title:
O futuro da medicina é pessoal | Molly Shoichet | TEDxToronto
Description:


Esta palestra foi dada em um evento local TEDx , produzido de forma independente das Conferências TED.

A professora Molly Shoichet lidera um grupo de 25 pesquisadores que faz avanços de ponta em medicina regenerativa na intersecção das áreas de estudo em engenharia, química e biologia . Um dos objetivos de Shoichet é criar dispositivos que possam ajudar a estimular as células-tronco existentes no corpo a restaurar o tecido danificado em decorrência de acidente vascular cerebral ou lesão traumática.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:47

Portuguese, Brazilian subtitles

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