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Ruby Wax: O que há de tão engraçado sobre doenças mentais?

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    Uma em cada quatro pessoas sofre de algum tipo de doença mental,
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    então, se fosse uma, duas, três, quatro, é você, senhor.
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    Você. Sim (Risos)
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    Com os dentes estranhos. E você ao lado dele. (Risos)
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    Você sabe quem você é.
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    Na verdade, toda a fileira não está bem. (Risos)
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    Isso não é bom. Oi. Sim. Realmente ruim. Nem olhe para mim. (Risos)
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    Eu sou uma das "uma em quatro". Obrigada.
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    Acho que herdei isso da minha mãe, que
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    costumava engatinhar pela casa.
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    Ela tinha duas esponjas nas mãos, e outras duas
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    presas nos joelhos. Minha mãe era completamente absorvente. (Risos)
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    E ela engantinhava atrás de mim, dizendo:
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    "Quem traz pegadas para dentro de casa?!"
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    Isso era um indício de que as coisas não iam bem.
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    Então, antes de começar, eu quero agradecer
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    aos fabricantes da Lamotrigina, da Sertralina e da Reboxetina,
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    porque sem essas substâncias químicas simples, eu não estaria de pé aqui hoje.
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    E como isso começou?
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    Minha doença mental -- bem, eu nem vou falar sobre minha doença mental.
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    Sobre o que eu vou falar? OK.
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    Eu sempre sonhei que, quando eu tivesse meu colapso final,
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    seria por ter tido uma revelação existencialista
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    profundamente kafkiana,
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    ou que talvez a Cate Blanchett iria me interpretar e ganharia o Oscar por isso. (Risos)
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    Mas não foi isso o que aconteceu. Eu tive um colapso
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    durante uma prova esportiva da minha filha.
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    Estavam todos os pais sentados em um estacionamento,
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    comendo na parte traseira de seus carros - somente os Ingleses --
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    comendo suas salsichas. Eles adoram suas salsichas. (Risos)
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    Sr. e Sra. Rigor Mortis estavam beliscando na pista,
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    e então foi dada a largada e todas as garotinhas começaram a correr,
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    e todas as mamães dizendo: "Corra! Corra, Clamídia! Corra!" (Risos)
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    "Corra como o vento, Veruca! Corra!"
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    e todas as garotinhas correndo, correndo, correndo,
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    todas exceto minha filha, que estava parada
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    na linha de partida, apenas acenando,
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    porque ela não sabia que deveria correr.
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    Então fiquei de cama por cerca de um mês, e, quando acordei,
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    descobri que eu estava internada, e quando eu vi os outros pacientes,
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    me dei conta de que tinha encontrado minha gente, minha tribo. (Risos)
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    Porque eles se tornaram meus únicos amigos, eles se tornaram meus amigos,
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    porque poucas pessoas que eu conhecia - Bem eu não
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    recebia muitos cartões ou flores. Quero dizer, se eu tivesse uma perna quebrada
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    ou tivesse tido bebê, eu teria sido inundadada,
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    mas tudo o que eu recebi foram alguns telefonemas me dizendo para me animar.
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    Me animar.
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    Porque eu não pensei nisso. (Risos)
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    (Risos) (Aplausos)
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    Porque, sabem, a única coisa que você consegue com esta doença,
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    e isso vem com o pacote, é que você tem um real sentimento de vergonha,
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    porque seus amigos dizem: "Qual é, me mostre o tumor,
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    me mostre os raios x," e é claro que você não tem nada para mostrar,
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    então você fica realmente enojada com você mesma porque pensa:
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    "Eu não estou sendo bombardeada. Eu não moro em uma favela."
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    Aí você começa a ouvir essas vozes abusivas, mas você não ouve uma voz abusiva,
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    você ouve milhares - 100 mil vozes abusivas,
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    como se o demônio tivesse síndrome de Tourette, é assim que parece.
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    Mas todos nós aqui sabemos, vocês sabem, não existe demônio,
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    não há vozes na sua cabeça.
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    Vocês sabem que quando você tem essas vozes abusivas,
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    todos aqueles pequenos neurônios se unem e naquele pequeno espaço
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    você tem um tipo de química "quero me matar" realmente tóxica,
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    e se você tem isso repetidamente, em círculos,
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    pode ficar deprimido.
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    Ah, e isso não é nem a ponta do iceberg.
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    Se você tem um bebezinho, e você o maltrata verbalmente,
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    seu pequeno cérebro envia substâncias químicas que são tão destrutivas
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    que a pequena parte de seu cérebro que distingue o bem do mal simplesmente não cresce,
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    então você pode ter criado um psicótico.
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    Se um soldado vê seu companheiro voar pelos ares, seu cérebro
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    entra em um estado de alarme tão alto que ele realmente não consegue expressar a experiência em palavras,
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    então apenas sente o horror repetidamente.
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    Então aqui está minha pergunta. Minha pergunta é: por que é que,
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    quando as pessoas têm danos mentais, é sempre imaginação fértil?
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    Por que é que qualquer outro órgão do seu corpo pode adoecer
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    e você receber compaixão, exceto o cérebro?
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    Eu gostaria de falar um pouco mais sobre o cérebro,
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    porque eu sei que vocês gostam disso aqui no TED,
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    então se apenas me derem um minuto aqui, OK.
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    OK, deixe-me apenas dizer, há algumas boas notícias.
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    Há algumas boas notícias. Primeiro de tudo, deixe-me dizer
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    que percorremos um longo, longo caminho.
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    Começamos como uma pequenina, uma pequenina ameba unicelular,
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    minúscula, presa a uma rocha, e agora, voilá, o cérebro.
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    Aqui está. (Risos)
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    Esta coisinha tem muita potência.
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    Ele vem completamente consciente. Possui lóbulos de última geração.
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    Nós temos os lóbulos occipitais para que possamos ver o mundo.
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    Nós temos os lóbulos temporais para que possamos ouvir o mundo.
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    Aqui temos um pouco da memória de longo prazo,
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    então, sabe aquela noite que você quer esquecer, quando ficou completamente bêbado? Tchauzinho! Já era. (Risos)
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    Então, na verdade, é preenchido com 100 bilhões de neurônios
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    zanzando de um lado pro outro, transmitindo informação eletricamente,
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    zanzando, zanzando. Vou lhes dar um pouco de visão lateral aqui.
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    Não sei se conseguem ver isso aqui. (Risos)
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    Então, zanzando, e - (Risos)-
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    E para cada um - eu sei, eu mesma desenhei isso. Obrigada.
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    Para cada neurônio, você pode na verdade ter
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    de 10 mil a 100 mil conexões diferentes
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    ou dendritos ou como queira chamar isso, e toda vez
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    que aprende algo, ou tem uma experiência,
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    esse arbusto cresce, sabem, esse arbusto de informação.
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    Você consegue imaginar, cada ser humano está carregando
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    esse equipamento, até a Paris Hilton? (Risos)
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    Vai entender.
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    Mas eu tenho uma má notícia para vocês, pessoal. Tenho algumas más notícias.
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    Isto não se aplica a um em quatro. Isto é para quatro em quatro.
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    Nós não estamos equipados para o século 21.
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    A evolução não nos preparou para isso. Nós simplesmente não temos banda larga,
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    e, para pessoas que dizem: ah, eles estão tendo um bom dia,
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    eles estão perfeitamente bem, eles säo mais insanos que o resto de nós.
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    Porque eu mostrarei a vocês onde pode haver algumas falhas
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    na evolução. Ok, vou explicar isso a vocês.
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    Quando nós éramos o homem antigo - (Risos) -
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    milhões de anos atrás, e de repente nos sentíamos ameaçados
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    por um predador, certo? - (Risos) -
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    poderíamos - Obrigada. Eu mesma desenhei (Risos)
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    Muito obrigada. Obrigada. Obrigada. (Aplausos)
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    Obrigada. Vamos lá, nós nos enchíamos com nossa própria adrenalina
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    e nosso próprio cortisol, e então matávamos ou morríamos,
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    comíamos ou éramos comidos, e então gastávamos este combustível de uma vez,
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    e voltávamos ao normal. Ok.
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    Então o problema é, hoje em dia, com o homem moderno - (Risos) -
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    quando nos sentimos em perigo, ainda nos abastecemos com nossas próprias químicas
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    mas, como não podemos matar guardas de trânsito - (Risos) -
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    ou comer agentes imobiliários, o combustível permanece no nosso corpo
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    repetidamente, então estamos em constante estado de alerta,
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    um estado constante. E há outra coisa que aconteceu.
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    Cerca de 150 mil anos atrás, quando a linguagem surgiu,
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    começamos a colocar em palavras esta constante emergência,
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    e não foi apenas: "Oh meu Deus, há um tigre dente-de-sabre,"
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    o que poderia ser, era: "Oh, meu Deus, não enviei o e-mail. Ai, meu Deus, minhas coxas estão muito gordas.
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    Ah, meu Deus, todos podem ver que eu sou burra. Não fui convidada para a festa de Natal!"
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    Então ficamos com esta cobrança mental contínua,
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    que se repete até nos levar à loucura, então,
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    você vê qual é o problema? O que antes nos dava segurança,
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    agora nos leva à loucura.
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    Sinto muito em ser a portadora das más notícias, mas alguém tem que ser.
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    Seus animais de estimação são mais felizes que vocês. (Risos)
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    (Aplausos)
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    Então o gatinho, miau, feliz, feliz, feliz, seres humanos, ferrados. (Risos)
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    Completamente e totalmente - tão ferrados.
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    Mas minha questão é: se nós não falamos sobre essas coisas,
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    e não aprendemos a lidar com nossas vidas, não será
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    um em quatro. Serão quatro em quatro
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    que ficarão realmente doentes no departamento de cima.
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    E enquanto estamos assim, podemos por favor parar com o estigma?
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    Obrigada a vocês (Aplausos)
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    (Aplausos) Obrigada.
Title:
Ruby Wax: O que há de tão engraçado sobre doenças mentais?
Speaker:
Ruby Wax
Description:

Doenças do corpo angariam simpatia, diz a comediante Ruby Wax -- exceto aquelas do cérebro. Por que isso? Com energia e humor admiráveis, Wax, diagnosticada há dez anos com depressão clínica, nos mostra a urgência de colocar um fim no estigma da doença mental.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:44

Portuguese, Brazilian subtitles

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