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A procura de dinossauros mostrou-me o nosso lugar no universo

  • 0:02 - 0:04
    Como encontrar um dinossauro?
  • 0:04 - 0:07
    Parece impossível, não parece?
  • 0:07 - 0:08
    Não é.
  • 0:08 - 0:12
    A resposta reside numa fórmula
    que todos os paleontólogos usam.
  • 0:13 - 0:15
    E vou-vos dizer qual é o segredo.
  • 0:15 - 0:19
    Primeiro, encontrem rochas
    com a idade certa.
  • 0:19 - 0:23
    Segundo, essas rochas
    devem ser rochas sedimentares.
  • 0:24 - 0:28
    E terceiro, as camadas dessas rochas
    devem estar expostas naturalmente.
  • 0:29 - 0:30
    É só isso.
  • 0:30 - 0:33
    Encontrem estas três coisas
    e vão para o terreno,
  • 0:33 - 0:36
    têm boas hipóteses de encontrar fósseis.
  • 0:36 - 0:39
    Agora vou explicar esta fórmula.
  • 0:39 - 0:43
    Os organismos só existem
    em certos intervalos geológicos.
  • 0:43 - 0:47
    Portanto, têm de encontrar rochas
    que tenham a idade certa,
  • 0:47 - 0:48
    consoante os vossos interesses.
  • 0:48 - 0:50
    Se quiserem encontrar trilobites,
  • 0:50 - 0:53
    têm de encontrar rochas
    muito antigas, do Paleozoico,
  • 0:53 - 0:56
    rochas que tenham entre 500 milhões
    a 250 milhões de anos.
  • 0:56 - 0:58
    Mas, se quiserem encontrar dinossauros,
  • 0:58 - 1:01
    não procurem no Paleozoico,
    não os vão achar aí.
  • 1:01 - 1:02
    Ainda não tinham evoluído.
  • 1:02 - 1:05
    Têm de encontrar rochas
    mais jovens do Mesozoico.
  • 1:05 - 1:07
    No caso dos dinossauros,
  • 1:07 - 1:11
    entre 235 e 66 milhões de anos.
  • 1:11 - 1:15
    Hoje em dia, é relativamente fácil
    encontrar rochas com a idade certa,
  • 1:15 - 1:18
    pois a Terra, embora de modo grosseiro,
  • 1:18 - 1:20
    está cartografada geologicamente.
  • 1:20 - 1:22
    Esta é uma informação
    que foi difícil de obter.
  • 1:22 - 1:25
    Os anais da história da Terra
    estão escritos nas rochas,
  • 1:25 - 1:27
    capítulo atrás de capítulo.
  • 1:27 - 1:29
    As páginas mais antigas estão por baixo
  • 1:29 - 1:31
    e as mais novas estão por cima.
  • 1:32 - 1:36
    Se fosse tudo assim tão fácil,
    os geólogos ficariam felizes.
  • 1:36 - 1:37
    Mas não é.
  • 1:37 - 1:39
    A biblioteca da Terra é muito antiga,
  • 1:39 - 1:42
    não tem um bibliotecário para a arrumar.
  • 1:42 - 1:45
    Ao longo de um enorme período de tempo,
  • 1:45 - 1:50
    os múltiplos processos geológicos
    vão agredindo com frequência
  • 1:50 - 1:52
    as rochas antigas.
  • 1:52 - 1:55
    Há muitas páginas destruídas,
    logo após serem escritas.
  • 1:55 - 1:58
    Há páginas com escritas sobrepostas,
  • 1:58 - 2:00
    o que cria palimpsestos
    difíceis de decifrar
  • 2:00 - 2:02
    de paisagens há muito desaparecidas.
  • 2:02 - 2:07
    As páginas que encontram abrigo
    sob as areias do Tempo,
  • 2:07 - 2:09
    nunca estão em segurança.
  • 2:09 - 2:13
    Ao contrário da lua
    — a nossa companheira rochosa morta —
  • 2:13 - 2:17
    a Terra está viva, palpitante
    de forças criadoras e destruidoras
  • 2:17 - 2:19
    que alimentam o seu metabolismo geológico.
  • 2:20 - 2:22
    As rochas lunares que os astronautas
    do Apollo trouxeram
  • 2:22 - 2:25
    remontam todas à era do sistema solar.
  • 2:26 - 2:28
    As rochas da lua são eternas.
  • 2:29 - 2:33
    As rochas da Terra, por outro lado,
    enfrentam os perigos duma litosfera viva.
  • 2:33 - 2:35
    Todas caminham para a ruína,
  • 2:35 - 2:38
    através da combinação
    da mutilação, da compressão,
  • 2:38 - 2:41
    do empilhamento, da destruição,
    da abrasão e da calcinação.
  • 2:41 - 2:46
    Por isso, os volumes da história da Terra
    estão incompletos e desordenados.
  • 2:47 - 2:52
    A biblioteca é vasta e magnífica
  • 2:52 - 2:54
    — mas está decrépita.
  • 2:54 - 2:57
    Foi esta complexidade fragmentada
    do registo das rochas
  • 2:57 - 3:01
    que obscureceu o seu sentido
    até há pouco tempo, relativamente.
  • 3:01 - 3:04
    A Natureza não forneceu
    um catálogo aos geólogos
  • 3:04 - 3:06
    — teve que ser inventado.
  • 3:06 - 3:09
    Cinco mil anos depois de os sumérios
    terem aprendido
  • 3:09 - 3:11
    a registar os seus pensamentos
    em tabuinhas de argila,
  • 3:11 - 3:14
    os volumes da Terra mantiveram-se
    impenetráveis para os homens.
  • 3:14 - 3:17
    Éramos geologicamente analfabetos,
  • 3:18 - 3:21
    inconscientes da antiguidade
    do nosso planeta
  • 3:21 - 3:25
    e ignorantes da nossa relação
    com o Tempo Profundo.
  • 3:25 - 3:28
    Foi só na viragem para o século XIX
  • 3:28 - 3:31
    que caíram as nossas vendas,
  • 3:31 - 3:35
    primeiro, com a publicação de
    "Theory of the Earth" de James Hutton,
  • 3:35 - 3:39
    em que ele nos diz que a Terra
    não revela vestígios de um começo
  • 3:39 - 3:41
    nem perspetiva de um fim.
  • 3:42 - 3:45
    Depois, com a impressão do mapa
    da Grã-Bretanha, de William Smith,
  • 3:46 - 3:48
    o primeiro mapa geológico,
    à escala de um país,
  • 3:48 - 3:50
    que nos deu, pela primeira vez,
  • 3:50 - 3:53
    uma previsão da localização
    de certos tipos de rochas.
  • 3:54 - 3:56
    Depois disso, podíamos dizer coisas como:
  • 3:56 - 3:59
    "Se formos ali,
    devemos estar no Jurássico",
  • 3:59 - 4:02
    ou "Se subirmos àquela colina,
    encontramos o Cretáceo".
  • 4:03 - 4:06
    Por isso, se quiserem
    encontrar trilobites,
  • 4:06 - 4:08
    arranjem um bom mapa geológico
  • 4:08 - 4:11
    e vão às rochas do Paleozoico.
  • 4:11 - 4:14
    Se, como eu, quiserem
    encontrar dinossauros,
  • 4:14 - 4:17
    encontrem as rochas do Mesozoico
    e vão até lá.
  • 4:17 - 4:21
    Claro que só podem encontrar
    um fóssil numa rocha sedimentar,
  • 4:21 - 4:22
    uma rocha formada por areia e argila.
  • 4:22 - 4:24
    Não podem arranjar um fóssil
  • 4:24 - 4:27
    numa rocha ígnea, formada
    por magma, como o granito,
  • 4:27 - 4:30
    ou numa rocha metamórfica,
    que foi aquecida e comprimida.
  • 4:31 - 4:33
    Têm que ir a um deserto.
  • 4:33 - 4:36
    Não é que os dinossauros
    tenham vivido em desertos,
  • 4:36 - 4:38
    viveram em todo o tipo de terreno
  • 4:38 - 4:40
    e em todos os ambientes imagináveis.
  • 4:41 - 4:44
    Mas têm que ir a um local
    que seja hoje um deserto,
  • 4:44 - 4:47
    um local em que não haja
    demasiadas plantas a cobrir as rochas,
  • 4:47 - 4:51
    um local em que a erosão esteja sempre
    a expor novos ossos à superfície.
  • 4:51 - 4:53
    Portanto, encontrem três coisas:
  • 4:53 - 4:55
    rochas da idade certa,
  • 4:55 - 4:57
    que sejam rochas sedimentares,
    num deserto
  • 4:58 - 4:59
    e mantenham-se ao nível do terreno.
  • 4:59 - 5:01
    Caminhem, caminhem,
  • 5:01 - 5:04
    até verem um osso
    a sobressair duma rocha.
  • 5:05 - 5:08
    Esta é uma foto que tirei
    no sul da Patagónia.
  • 5:08 - 5:11
    Cada seixo que aqui vemos no terreno
  • 5:11 - 5:13
    é um bocado de osso de dinossauro.
  • 5:13 - 5:15
    Quando estiverem no local certo,
  • 5:15 - 5:18
    o problema não é encontrar fósseis ou não.
  • 5:18 - 5:20
    Vão encontrar fósseis.
  • 5:20 - 5:23
    O problema é: Irão encontrar alguma coisa
    que tenha significado científico?
  • 5:24 - 5:28
    Para vos ajudar nisso, vou acrescentar
    uma quarta parte à formula,
  • 5:28 - 5:29
    que é a seguinte:
  • 5:29 - 5:33
    afastem-se dos outros paleontólogos
    o mais que puderem.
  • 5:33 - 5:35
    (Risos)
  • 5:35 - 5:37
    Não é que eu não goste
    dos outros paleontólogos.
  • 5:37 - 5:40
    Quando vamos a um local
    relativamente pouco explorado,
  • 5:40 - 5:43
    temos muito mais hipóteses
    de encontrar fósseis
  • 5:43 - 5:46
    e, sobretudo, de encontrar
    qualquer coisa de novo para a ciência.
  • 5:46 - 5:49
    Portanto, é esta a minha fórmula
    para encontrar dinossauros
  • 5:49 - 5:50
    e tenho-a aplicado pelo mundo fora.
  • 5:50 - 5:52
    No verão austral de 2004,
  • 5:52 - 5:54
    fui até à ponta sul
    da América do Sul,
  • 5:54 - 5:56
    até ao sul da Patagónia, na Argentina,
  • 5:56 - 5:59
    à procura de dinossauros,
  • 5:59 - 6:02
    um sítio que tem rochas sedimentares
    terrestres da idade certa,
  • 6:02 - 6:03
    num deserto,
  • 6:03 - 6:07
    um sítio que pouco tinha sido visitado
    pelos paleontólogos.
  • 6:07 - 6:09
    Encontrámos isto.
  • 6:09 - 6:11
    É um fémur, um osso da coxa,
  • 6:11 - 6:14
    dum gigantesco dinossauro herbívoro.
  • 6:14 - 6:17
    Este osso tem 2,2 metros
    duma ponta à outra.
  • 6:17 - 6:19
    São mais de sete pés de comprimento.
  • 6:20 - 6:22
    Infelizmente, este osso estava isolado.
  • 6:22 - 6:25
    Escavámos e escavámos
    e não encontrámos mais nenhum osso.
  • 6:25 - 6:28
    Ficámos desejosos de voltar
    no ano seguinte, à procura de mais.
  • 6:28 - 6:30
    No primeiro dia da estação seguinte,
  • 6:30 - 6:34
    encontrei isto:
    outro fémur de dois metros,
  • 6:34 - 6:36
    só que, desta vez, não estava isolado,
  • 6:36 - 6:39
    desta vez, estava associado
    a mais 145 ossos
  • 6:39 - 6:41
    dum gigantesco herbívoro.
  • 6:41 - 6:45
    Ao fim de três estações no terreno,
    difíceis, brutais mesmo,
  • 6:45 - 6:47
    a escavação tinha este aspeto.
  • 6:48 - 6:52
    Vemos ali, à minha volta,
    a cauda desse grande animal..
  • 6:52 - 6:55
    Chamámos "Dreadnoughtus schrani."
  • 6:55 - 6:59
    ao gigante que jazia nesta sepultura,
    uma nova espécie de dinossauro.
  • 7:00 - 7:03
    O Dreadnoughtus tinha 26 metros
    do focinho à ponta da cauda.
  • 7:03 - 7:06
    Até aos ombros, tinha a altura
    de dois pisos e meio
  • 7:06 - 7:10
    e, em carne e osso,
    pesaria 65 toneladas.
  • 7:10 - 7:13
    As pessoas perguntam-me, por vezes:
  • 7:13 - 7:15
    "O Dreadnoughtus era maior
    do que um T-Rex?"
  • 7:15 - 7:18
    É oito ou nove vezes um T-Rex.
  • 7:19 - 7:21
    Uma das coisas boas
    de ser paleontólogo é que,
  • 7:21 - 7:25
    quando encontramos uma nova espécie,
    somos nós que lhe damos o nome.
  • 7:25 - 7:26
    Sempre achei uma vergonha
  • 7:26 - 7:28
    que estes gigantescos
    dinossauros herbívoros
  • 7:28 - 7:33
    sejam retratados como desajeitadas
    travessas de carne passivas
  • 7:33 - 7:34
    na paisagem.
  • 7:34 - 7:36
    (Risos)
  • 7:36 - 7:37
    Não são nada.
  • 7:37 - 7:40
    Os grandes herbívoros
    podem ser brutos e territoriais
  • 7:40 - 7:45
    — ninguém quer meter-se com um búfalo,
    um hipopótamo ou um rinoceronte.
  • 7:45 - 7:50
    O bisonte em Yellowstone
    é mais perigoso do que os ursos pardos.
  • 7:50 - 7:55
    Agora imaginem um grande touro,
    um Dreadnoughtus de 65 toneladas
  • 7:55 - 7:57
    na época da procriação,
  • 7:57 - 7:59
    a defender o seu território.
  • 7:59 - 8:02
    Esse animal devia ser
    terrivelmente perigoso,
  • 8:02 - 8:06
    uma ameaça para tudo à sua volta,
    e não tinha nada a recear.
  • 8:07 - 8:09
    Daí o nome de "Dreadnoughtus",
  • 8:09 - 8:11
    ou seja, "o que não receia nada".
  • 8:12 - 8:14
    Para alcançar aquele tamanho,
  • 8:14 - 8:17
    um animal como o Dreadnoughtus
    devia ter sido um modelo de eficácia.
  • 8:17 - 8:21
    Aquele pescoço comprido e a longa cauda
    ajudavam-no a irradiar o calor no ambiente
  • 8:21 - 8:24
    controlando passivamente
    a sua temperatura.
  • 8:24 - 8:27
    O longo pescoço também era
    um meio de alimentação muito eficaz.
  • 8:27 - 8:30
    O Dreadnoughtus podia encontrar-se
    num local e, com aquele pescoço,
  • 8:30 - 8:32
    limpar uma área enorme de vegetação,
  • 8:32 - 8:37
    ingerindo dezenas de milhares de calorias,
    enquanto gastava muito poucas.
  • 8:37 - 8:41
    Estes animais desenvolveram
    uma marcha ampla, tipo buldogue.
  • 8:41 - 8:43
    o que lhes dava uma enorme estabilidade,
  • 8:44 - 8:48
    porque, quando pesamos 65 toneladas,
    quando somos do tamanho dum prédio,
  • 8:48 - 8:51
    a punição para uma queda é a morte.
  • 8:52 - 8:54
    Sim, estes animais são grandes e robustos,
  • 8:54 - 8:55
    mas não resistiram a um golpe desses.
  • 8:55 - 8:58
    Se o Dreadnoughtus cair,
    parte as costelas e perfura os pulmões.
  • 8:58 - 9:00
    Os órgãos rebentam.
  • 9:00 - 9:02
    Um Dreadnoughtus de 65 toneladas
  • 9:02 - 9:04
    não pode cair, nem sequer uma vez.
  • 9:06 - 9:09
    Depois de sepultada esta carcaça
    do Dreadnoughtus
  • 9:09 - 9:14
    e de descarnada por uma multidão
    de bactérias, vermes e insetos,
  • 9:14 - 9:16
    os ossos passaram
    por uma breve metamorfose,
  • 9:16 - 9:19
    — uma troca de moléculas
    com a água subterrânea —
  • 9:19 - 9:22
    confundindo-se cada vez mais
    com a rocha em que estava contido.
  • 9:22 - 9:24
    À medida que se acumulavam
    as camadas de sedimentos,
  • 9:24 - 9:27
    a pressão de todos os lados
    pesava como uma luva de pedra
  • 9:27 - 9:33
    cujo peso firme e permanente
    manteve os ossos num abraço estabilizador.
  • 9:34 - 9:36
    E depois, ocorreu um longo...
  • 9:36 - 9:37
    nada.
  • 9:38 - 9:41
    Época após época, sempre a mesma coisa,
  • 9:41 - 9:43
    não acontecimentos infindáveis.
  • 9:44 - 9:47
    Todo esse tempo, o esqueleto
    manteve-se eterno e imutável
  • 9:47 - 9:49
    em perfeito equilíbrio
  • 9:49 - 9:52
    dentro da sua sepultura rochosa.
  • 9:52 - 9:55
    Entretanto, desenrolava-se
    a história da Terra.
  • 9:55 - 9:57
    Os dinossauros iriam reinar
    mais 12 milhões de anos,
  • 9:57 - 10:01
    antes de a sua hegemonia ter sido
    aniquilada por um apocalipse abrasador.
  • 10:02 - 10:04
    Os continentes andavam à deriva.
    Apareceram os mamíferos.
  • 10:04 - 10:06
    Chegou a Idade do Gelo.
  • 10:07 - 10:09
    Depois, na África Oriental,
  • 10:09 - 10:12
    uma espécie pouco promissora de macacos
  • 10:12 - 10:15
    desenvolveu a estranho base do pensamento.
  • 10:16 - 10:20
    Esses primatas inteligentes
    não eram especialmente rápidos nem fortes.
  • 10:20 - 10:22
    Mas foram excelentes
    na cobertura do terreno
  • 10:22 - 10:24
    e numa diáspora espantosa
  • 10:24 - 10:28
    ultrapassaram o registo dos dinossauros
    na conquista territorial,
  • 10:28 - 10:29
    dispersaram-se pelo planeta,
  • 10:29 - 10:32
    apoderando-se de todos os ecossistemas
    que encontravam,
  • 10:33 - 10:36
    e, entretanto, inventaram a cultura,
    a metalurgia e a pintura,
  • 10:36 - 10:39
    a dança, a música, a ciência
  • 10:40 - 10:45
    e os foguetões que acabaram
    por colocar 12 desses macacos excelentes
  • 10:45 - 10:46
    na superfície da Lua.
  • 10:49 - 10:53
    Com sete mil milhões de Homo Sapiens
    peripatéticos no planeta,
  • 10:53 - 10:55
    talvez fosse inevitável
  • 10:55 - 10:59
    que um deles acabasse por tropeçar
    na sepultura do magnífico titã
  • 10:59 - 11:02
    sepultado por baixo das terras
    do sul da Patagónia.
  • 11:03 - 11:04
    Fui eu esse macaco.
  • 11:05 - 11:08
    E ali de pé, sozinho no meio do deserto,
  • 11:09 - 11:10
    pensei que a probabilidade
  • 11:10 - 11:13
    de um indivíduo entrar no registo fóssil
  • 11:13 - 11:15
    era praticamente nula.
  • 11:16 - 11:18
    Mas a Terra é muito, muito velha.
  • 11:18 - 11:22
    E durante grandes períodos de tempo,
    o improvável torna-se possível.
  • 11:22 - 11:25
    É essa a magia do registo geológico.
  • 11:25 - 11:28
    Essa multidão de criaturas
    que viveram e morreram num planeta velho
  • 11:28 - 11:31
    deixam atrás de si inúmeros fósseis,
  • 11:31 - 11:33
    cada um deles um pequeno milagre,
  • 11:33 - 11:36
    mas, no seu conjunto, inevitável.
  • 11:37 - 11:40
    Há 66 milhões de anos,
    um asteroide atingiu a Terra
  • 11:40 - 11:42
    e os dinossauros extinguiram-se.
  • 11:43 - 11:45
    Isto podia não ter acontecido.
  • 11:45 - 11:48
    Mas só temos uma História
    e é esta que temos.
  • 11:48 - 11:50
    Mas esta realidade não era inevitável.
  • 11:50 - 11:54
    A mais pequena perturbação
    desse asteroide tão longe da Terra
  • 11:54 - 11:57
    teria feito com que ele falhasse
    o nosso planeta por uma larga margem.
  • 11:57 - 12:00
    Esse dia calamitoso, em que
    os dinossauros foram aniquilados,
  • 12:00 - 12:03
    que preparou o cenário
    para o mundo moderno como o conhecemos,
  • 12:03 - 12:06
    não precisava de ter acontecido.
  • 12:06 - 12:07
    Podia ter sido apenas mais um dia
  • 12:07 - 12:09
    — uma sexta-feira, talvez —
  • 12:10 - 12:15
    entre os 63 mil milhões de dias
    já gozados pelos dinossauros.
  • 12:15 - 12:17
    Mas, no decurso do Tempo Geológico,
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    ocorrem acontecimentos improváveis,
    quase impossíveis.
  • 12:21 - 12:24
    Desde os vermes cambrianos,
    nossos antepassados,
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    até aos primatas, de fato completo,
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    inúmeras bifurcações na estrada
    levaram-nos a esta realidade particular.
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    Os ossos do Dreadnoughtus estiveram
    soterrados durante 77 milhões de anos.
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    Quem teria imaginado
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    que uma única espécie
    de mamíferos, tipo ratos,
  • 12:41 - 12:43
    que viviam nas fendas
    do mundo dos dinossauros,
  • 12:43 - 12:45
    iria evoluir em seres sensíveis
  • 12:45 - 12:48
    capazes de caracterizar e compreender
  • 12:48 - 12:52
    os dinossauros que teriam temido?
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    Estive uma vez na foz do Rio Missouri
  • 12:57 - 12:59
    e atravessei-o.
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    Não passa dum gorgolejo de água
  • 13:02 - 13:06
    que brota por baixo duma rocha
    no meio do campo,
  • 13:06 - 13:08
    no alto das montanhas Bitterroot.
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    O ribeiro ao lado corre
    durante umas centenas de metros
  • 13:11 - 13:13
    e acaba numa pequena lagoa.
  • 13:14 - 13:18
    Essas duas correntes parecem idênticas,
  • 13:18 - 13:20
    mas uma é um fio de água anónimo
  • 13:20 - 13:23
    e a outra é o Rio Missouri.
  • 13:24 - 13:27
    Agora desçamos até à foz
    do Missouri, perto de St. Louis.
  • 13:27 - 13:30
    É óbvio que este rio mete respeito.
  • 13:31 - 13:34
    Mas se subirmos até Bitterroots
    e olharmos para o Missouri,
  • 13:34 - 13:39
    a perspetiva humana não nos permite
    vê-lo como nada de especial.
  • 13:39 - 13:41
    Voltemos ao Período Cretáceo
  • 13:41 - 13:44
    e olhemos para os nossos
    pequenos e peludos antepassados.
  • 13:44 - 13:47
    Nunca suporíamos que chegariam
    a alguma coisa de especial
  • 13:47 - 13:49
    e, provavelmente, não teriam chegado,
  • 13:49 - 13:51
    se não fosse aquele asteroide funesto.
  • 13:52 - 13:55
    Imaginemos mais mil mundos
    e mais mil sistemas solares
  • 13:55 - 13:57
    e deixemo-los evoluir.
  • 13:57 - 13:59
    Nunca obteriam o mesmo resultado.
  • 13:59 - 14:03
    Sem dúvida, esses mundos seriam
    espantosos e espantosamente improváveis,
  • 14:03 - 14:06
    mas não seriam o nosso mundo
    e não teriam a nossa História.
  • 14:06 - 14:09
    Há um número infinito de histórias
    que podiam ter acontecido.
  • 14:09 - 14:12
    Só tivemos uma e, felizmente,
    foi uma muito boa.
  • 14:12 - 14:15
    Os dinossauros, como o Dreadnoughtus,
    foram reais.
  • 14:15 - 14:19
    Os monstros marinhos,
    como o mosassauro, foram reais.
  • 14:19 - 14:22
    As libelinhas, com a envergadura
    duma águia
  • 14:22 - 14:24
    e os bichos-de-conta do tamanho dum carro
  • 14:24 - 14:26
    existiram realmente.
  • 14:27 - 14:29
    Porquê estudar o passado antigo?
  • 14:31 - 14:34
    Porque nos dá perspetiva e humildade
  • 14:35 - 14:39
    Os dinossauros morreram na quinta
    extinção em massa mundial,
  • 14:39 - 14:42
    aniquilados por um acidente cósmico
    sem terem qualquer culpa disso.
  • 14:43 - 14:47
    Não o viram chegar,
    não tinham possibilidade de escolha.
  • 14:48 - 14:52
    Nós, por outro lado, temos escolha.
  • 14:52 - 14:56
    A natureza dos registos fósseis
    diz-nos que o nosso lugar neste planeta
  • 14:56 - 14:59
    é precária e possivelmente fugaz.
  • 14:59 - 15:03
    Neste momento, a nossa espécie
    está a propagar um desastre ambiental
  • 15:03 - 15:07
    de proporções geológicas,
    tão amplo e tão grave
  • 15:07 - 15:09
    que pode chamar-se, com razão,
    a sexta extinção.
  • 15:10 - 15:13
    Só que, ao contrário dos dinossauros,
  • 15:13 - 15:15
    podemos vê-lo aproximar-se.
  • 15:15 - 15:17
    E, ao contrário dos dinossauros,
  • 15:18 - 15:20
    podemos fazer qualquer coisa
    quanto a isso.
  • 15:20 - 15:23
    Essa escolha é nossa.
  • 15:23 - 15:25
    Obrigado.
  • 15:25 - 15:28
    (Aplausos)
Title:
A procura de dinossauros mostrou-me o nosso lugar no universo
Speaker:
Kenneth Lacovara
Description:

O que acontece quando descobrimos um dinossauro? O paleontólogo Kenneth Lacovara descreve como descobriu o Dreadnoughtus — um saurópode com 77 milhões de anos que era tão alto como um prédio de dois pisos e tão pesado como um jato Jumbo — e considera como é espantosamente improvável que um pequeno mamífero que vivia nas fendas do mundo dos dinossauros tivesse podido evoluir para um ser sensível capaz de compreender essas criaturas magníficas. Juntem-se a ele numa celebração da História Geológica da Terra e contemplem o nosso lugar no Tempo.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:49

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