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Somos todos coloridos, somos puros na mistura | Amnah Asad | TEDxLaçador

  • 0:09 - 0:12
    Como pesquisadora,
    estudar a cultura da mistura
  • 0:12 - 0:16
    e como criativa, criar projetos
    a partir desse tema,
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    sempre foi a minha grande paixão.
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    Na verdade, não é nem uma grande paixão;
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    depois que a gente entra
    numa idade de 30 anos,
  • 0:25 - 0:27
    e começa aquela coisa
    de retorno de Saturno,
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    descobri que isso é muito a minha missão.
  • 0:30 - 0:32
    E por que que isso é uma missão?
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    Eu sou filha de um palestino
    com uma brasileira
  • 0:35 - 0:39
    que é filha de uma índia com um português.
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    E eu fui criada dentro
    duma loja popular, aquelas:
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    "Barato, barato. O patrão enlouqueceu.
    Passa aqui", não sei quê.
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    Por isso eu tenho esta voz. (Risos)
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    Porque eu aprendi, na loja, a fazer isso.
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    Meu primeiro emprego.
  • 0:52 - 0:55
    E foi dentro dessa loja que,
  • 0:55 - 0:58
    assim, quem não é daqui
    vai saber que é igual ao Saara,
  • 0:58 - 1:02
    igual à 25 de Março,
    todos os lugares dos centros do país.
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    Foi dentro dessa loja
    que, há mais ou menos 20 anos,
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    eu descobri que nascer neste país,
  • 1:11 - 1:15
    e com aquela mistura toda
    que era aquela loja, aquela gente,
  • 1:15 - 1:19
    com o camelô que gritava,
    o pacoteiro, aquela coisa toda,
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    que cada dia eu ficava
    mais feliz com aquilo,
  • 1:21 - 1:24
    eu descobri que nascer aqui no Brasil
  • 1:24 - 1:29
    faria com que eu conseguisse ou pudesse
  • 1:29 - 1:35
    criar uma estratégia pra não casar mais
    com um primo que eu era prometida, enfim.
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    Porque eu era filha de árabe,
    palestino, criado aqui,
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    mas que tinha a cultura, mesmo no Brasil,
  • 1:41 - 1:47
    de ter casamentos, ou pelo menos
    ter que casar com um outro árabe.
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    E foi a partir desse momento que eu pensei
    que eu poderia ser uma mulher "livre".
  • 1:53 - 1:57
    Então eu disse: "Nossa, este é o país".
  • 1:57 - 2:03
    Eu quero, aqui que eu tenho que criar
    como vou fazer pra não, enfim...
  • 2:03 - 2:08
    poder colocar minha voz e,
    como mulher, expressar o que eu penso
  • 2:08 - 2:11
    e não só ser mãe, apesar de amar ser mãe,
  • 2:11 - 2:13
    mas mãe e mulher e esposa.
  • 2:13 - 2:15
    Beleza.
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    Daí eu adoro lembrar um pouco,
    quando a gente fala de Brasil,
  • 2:19 - 2:22
    porque tem uma frase muito boa,
    MC Carol, pra mim, hoje em dia,
  • 2:22 - 2:24
    tem sido a minha grande poeta.
  • 2:24 - 2:27
    E ela fala uma coisa, eu gosto
    muito desta letra que ela fala:
  • 2:27 - 2:33
    "Nada contra ti, não me leve a mal,
    quem descobriu o Brasil não foi Cabral".
  • 2:33 - 2:36
    Porque eu fico pensando
    que, apesar de eu ser feliz,
  • 2:36 - 2:38
    ou, quando eu tinha 12 anos de idade,
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    descobri que nascer aqui
    seria muito bom pra mim,
  • 2:40 - 2:45
    eu noto que as pessoas
    deste lugar, deste país,
  • 2:45 - 2:48
    não se sentiam representadas,
    não se sentiam muito felizes.
  • 2:48 - 2:50
    Até quando eu conversava,
    antes de ser pesquisadora
  • 2:50 - 2:53
    já conversei com muita gente,
    viajei o Brasil inteiro conversando,
  • 2:53 - 2:57
    fazendo campo com milhares
    de jovens de todas as idades,
  • 2:57 - 2:58
    mas até mesmo dentro da loja,
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    eu via que as pessoas não se sentiam
    representadas, elas diziam:
  • 3:01 - 3:03
    "Ah, legal, ser brasileira".
  • 3:03 - 3:05
    Eu dizia: "Ah, tu tem
    muita sorte, tu é livre, né?"
  • 3:05 - 3:07
    Elas ficavam: "É... não sei..."
  • 3:07 - 3:11
    Então tinha essa coisa de não se sentir,
    talvez, tão representada,
  • 3:11 - 3:14
    como até a Yasmin estava contando.
  • 3:14 - 3:19
    Porque, de novo, a maioria das referências
    não representam o Brasil.
  • 3:19 - 3:23
    Gente, o Brasil é enorme,
    o território brasileiro é absurdo,
  • 3:23 - 3:25
    me lembro quando comecei
    a fazer campo, viajar,
  • 3:25 - 3:28
    saí do Rio Grande do Sul, eu disse:
    "Meu Deus, que coisa linda".
  • 3:28 - 3:30
    Cada dia me apaixonava mais pelo Brasil,
  • 3:30 - 3:33
    quando está no Pará, quando vai
    pro Nordeste, Rio de Janeiro.
  • 3:33 - 3:35
    E cada história!
  • 3:35 - 3:38
    Daria mil narrativas no Afroflix.
  • 3:38 - 3:41
    Então isso não é colocado, não é mostrado.
  • 3:41 - 3:44
    E é muito estranho, é muito triste,
    a gente não ver isso né?
  • 3:44 - 3:45
    Por quê?
  • 3:45 - 3:49
    Porque tudo que a gente absorve
    são referências de fora.
  • 3:49 - 3:53
    Eu, normalmente, como uma pessoa
    que trabalha muito também com tendências,
  • 3:53 - 3:55
    tudo que a gente tem que olhar é pra fora.
  • 3:55 - 3:58
    A gente sempre olha referências nórdicas.
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    O que vem de cima.
  • 3:59 - 4:01
    O que vem não sei de onde.
  • 4:01 - 4:03
    Ninguém gosta de se reconhecer.
  • 4:03 - 4:06
    Até quando a gente viaja,
    a gente quer viajar pra fora do país,
  • 4:06 - 4:08
    a gente não quer viajar pra dentro.
  • 4:08 - 4:12
    Então tem essa questão toda
    de não ser representado,
  • 4:12 - 4:17
    mas a gente também não tem
    esse grande amor de conhecer o outro
  • 4:17 - 4:19
    e conhecer o próprio território.
  • 4:20 - 4:23
    Muitas vezes eu vejo, aqui é
    uma representação de um pouco de mim,
  • 4:23 - 4:24
    que eu não vejo nesses lugares,
  • 4:24 - 4:26
    mas também tem várias outras histórias,
  • 4:26 - 4:30
    de pessoas do Nordeste,
    de pessoas do interior.
  • 4:30 - 4:35
    Eu poderia contar uma história aqui:
    "Oh, vamos trazer a galera do interior".
  • 4:35 - 4:39
    Rio Grande do Sul sabe quanto,
    muitas vezes, não aparece coisas gaúchas,
  • 4:39 - 4:41
    a gente sabe, o eixo é Rio e São Paulo.
  • 4:41 - 4:43
    Então, enfim, ninguém
    é muito representado.
  • 4:44 - 4:47
    E a partir disso, na minha vida,
  • 4:47 - 4:51
    comecei a sentir essa missão
    de não só pesquisar, mas criar projetos.
  • 4:51 - 4:55
    O último projeto que eu fiz
    se chama "Sou Dessas".
  • 4:55 - 5:01
    Foi muito pra passar o microfone
    pra mulheres que eu admirava;
  • 5:01 - 5:06
    que essas mulheres pudessem contar suas
    histórias, seus movimentos, entre elas;
  • 5:06 - 5:11
    chamava "Sou Dessas", e principalmente
    mulheres que além de ter seu trabalho,
  • 5:11 - 5:15
    também são articuladoras de redes;
    são pessoas que misturam.
  • 5:15 - 5:19
    Assim como as meninas aqui,
    no TEDx, também são articuladoras,
  • 5:19 - 5:23
    são pessoas que estão fazendo a gente
    ouvir essas histórias e se misturar.
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    No "Sou Dessas", a gente usou o palco
  • 5:28 - 5:31
    pra falar de um movimento muito grande
  • 5:31 - 5:34
    que a gente começou
    a identificar entre as mulheres,
  • 5:34 - 5:36
    por exemplo, que é a "sevirologia".
  • 5:36 - 5:40
    Quando um dos meninos estava contando
    sobre a mãe, eu fiquei pensando muito:
  • 5:40 - 5:44
    "As mães do Brasil são
    as verdadeiras 'sevirólogas'".
  • 5:44 - 5:49
    Porque sempre trabalham pra fazer várias
    coisas e elas têm que fazer um corre,
  • 5:49 - 5:51
    independente de classe,
  • 5:51 - 5:55
    mas quando a gente vai pra periferia,
    elas fazem dez vezes mais o corre,
  • 5:55 - 5:56
    não têm muita gente pra ajudar.
  • 5:56 - 6:00
    Tem, sim, os vizinhos, porque a economia
    colaborativa, dentro de comunidades,
  • 6:00 - 6:03
    é maior até do que fora dela, mas enfim.
  • 6:03 - 6:10
    Então nesse dia a gente começou a discutir
    e dizer: "Putz, vamos trazer mulheres,
  • 6:10 - 6:14
    sevirólogas e fazedoras, pra contar
    suas histórias e compartilhar".
  • 6:14 - 6:16
    O que é sevirologia?
  • 6:16 - 6:18
    Muitas vezes a galera fala que é muito
  • 6:18 - 6:23
    como dizia o Reinaldo Pamponet,
    que trouxe esse termo,
  • 6:23 - 6:26
    mas aqui, quando a gente ouve
    sobre sevirologia,
  • 6:26 - 6:29
    a gente ouve muito como a gambiarra,
    o jeitinho brasileiro.
  • 6:29 - 6:31
    Até nosso jeito de criar,
    nossa criatividade,
  • 6:31 - 6:36
    nosso jeito difícil de se virar,
    muitas vezes ele é diminuído,
  • 6:36 - 6:39
    não é visto como a criatividade, inovador.
  • 6:39 - 6:45
    Sevirologia, se fosse visto pelos caras
    de tendências, seria visto como "makers".
  • 6:45 - 6:47
    Ou a cultura maker.
  • 6:47 - 6:50
    Ou iam dizer: "Nossa, os hackers", né?
  • 6:50 - 6:54
    E quando a gente ouve falar sobre maker,
    sobre cultura hacker,
  • 6:54 - 6:58
    parece que está falando sobre inovadores,
    que vieram de outros lugares,
  • 6:58 - 7:03
    dentro das suas universidades,
    como outras por aí,
  • 7:03 - 7:06
    que são, enfim, dos Estados Unidos,
    conhecidas por tecnologia e tudo mais.
  • 7:06 - 7:12
    Mas quando a gente traz e se reconhece:
    "Eu sou um maker, eu sou uma fazedora,
  • 7:12 - 7:15
    eu sou um sevirólogo", começo
    a entender que aquilo faz parte,
  • 7:15 - 7:17
    que sou uma pessoa criativa,
    posso fazer acontecer.
  • 7:17 - 7:19
    E isso não é diminuído,
  • 7:19 - 7:24
    imagina, as nossas referências
    são até diminuídas
  • 7:24 - 7:28
    e colocadas como jeitinho brasileiro,
    gambiarra, em vez de dizer:
  • 7:28 - 7:30
    "uma grande força criativa",
  • 7:30 - 7:34
    "um grande jeito de trabalhar e criar
    dentro de pequenas barreiras".
  • 7:34 - 7:37
    Este é um exemplo de sevirologia,
    mas o próprio Carnaval,
  • 7:37 - 7:41
    o jeito que a galera cria, olha o tamanho
    do Carnaval, gente, pelo amor de Deus,
  • 7:41 - 7:43
    é muito difícil fazer tudo aquilo.
  • 7:43 - 7:48
    E aquilo tudo só acontece por um trabalho
    coletivo, muito bem colocado,
  • 7:48 - 7:50
    e por vários sevirólogos.
  • 7:50 - 7:53
    Então a gente identificou
    diversos sevirólogos aqui,
  • 7:53 - 7:58
    a Yasmin foi uma das nossas convidadas
    a contar a história,
  • 7:58 - 8:04
    mas o mais importante desses projetos
    foi que a gente tem que ter o tempo todo,
  • 8:04 - 8:07
    na nossa cabeça, que a gente
    pode ser consciência e ação.
  • 8:07 - 8:13
    Consciência é o saber que existem
    algumas coisas e trazer essas referências.
  • 8:13 - 8:16
    Mas criar e fazer algo
    é muito mais importante.
  • 8:16 - 8:22
    E a gente tem que sentir, todos,
    não culpados, mas sentir sim, a gente
  • 8:22 - 8:23
    nesse momento.
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    Então a gente traz aqui
    também um dado muito forte,
  • 8:27 - 8:29
    falando um pouco sobre as sevirólogas,
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    que hoje 40% das casas
    são comandadas por mulheres.
  • 8:32 - 8:35
    Se a gente vai pra outros lugares,
    como comunidades,
  • 8:35 - 8:37
    a gente vê que 70%
    é comandado pelas mulheres.
  • 8:37 - 8:40
    Mas nem as mulheres
    são tão representadas assim,
  • 8:40 - 8:42
    na política e também na mídia.
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    As mulheres, hoje, estão também, a gente
    fala nas sevirólogas, nas fazedoras,
  • 8:48 - 8:50
    elas estão cada vez mais sendo
  • 8:50 - 8:56
    as propagadoras de um novo "mindset"
    de sociedade, de um novo pensamento.
  • 8:56 - 8:59
    Cada vez mais a gente vê,
    e eu fico muito feliz como mulher,
  • 8:59 - 9:03
    vendo mulheres fazedoras brasileiras,
    também sendo propagadoras,
  • 9:03 - 9:06
    sendo esse megafone.
  • 9:06 - 9:09
    Eu vejo que a partir dessa tecnologia,
  • 9:09 - 9:13
    de ter as redes sociais agora como mídia
    e as pessoas terem voz,
  • 9:13 - 9:17
    a gente vê que alguns movimentos
    começam a emergir de vários lugares,
  • 9:17 - 9:22
    mas é muito interessante ver que essa
    mulher fazedora também está fazendo isso,
  • 9:22 - 9:24
    pra mudar muito a realidade.
  • 9:24 - 9:30
    E o que que a gente pode aprender
    com essa energia feminina?
  • 9:30 - 9:36
    Eu mesma, quando tive que fazer as minhas
    estratégias pra não ficar com meu primo,
  • 9:36 - 9:41
    e a gente como mulher
    está muito acostumada a servir,
  • 9:41 - 9:46
    a gente foi muito oprimida
    e tendo sempre que ser aquela pessoa:
  • 9:46 - 9:49
    como eu tenho que me portar
    para servir alguém;
  • 9:49 - 9:53
    como eu tenho que me portar
    para ser aceita pelo homem.
  • 9:53 - 9:56
    Meu pai me dizia sempre assim:
    "Ih, não sabe cozinhar, não vai casar".
  • 9:56 - 10:00
    Ou minha tia dizia: "Amnah, tu está
    com 18 anos, ninguém vai te querer".
  • 10:00 - 10:02
    E aí eu dizia: "Gente,
    eu quero fazer faculdade".
  • 10:02 - 10:05
    "Ah, o marido vai te deixar
    fazer faculdade."
  • 10:05 - 10:08
    E eu dizia: "Meu Deus, como vou
    contornar toda essa história?"
  • 10:08 - 10:11
    Aí descobri lá que meu pai
    não gostava de um certo biotipo,
  • 10:11 - 10:15
    que meu primo tinha esse certo biotipo,
  • 10:15 - 10:18
    eu falei: "Pai, olha só. Por favor.
  • 10:18 - 10:21
    Vamos fazer assim, eu escolho
    outro namorado, mas esse aí..."
  • 10:21 - 10:22
    Ele: "Ah, é verdade.
  • 10:22 - 10:26
    Então vou escolher um filho
    de um brasileiro moderno pra você casar".
  • 10:26 - 10:28
    E aí eu consegui enrolar.
  • 10:28 - 10:33
    Mas isso tudo pra dizer que esse jeito
  • 10:33 - 10:36
    da mulher também ser meio...
  • 10:37 - 10:42
    não é manipuladora, mas vamos dizer
    que ela tem uma certa articulação
  • 10:42 - 10:47
    de entender e muitas vezes por ter sido
    reprimida e prestar muita atenção,
  • 10:47 - 10:53
    ela tem uma sensibilidade talvez
    de fazer conexões e redes e de misturar.
  • 10:53 - 10:57
    Porque também é a mulher
    que gera um filho, ela que traz a vida.
  • 10:57 - 11:01
    Se a gente ver, muitas vezes eu falo,
    que se as mães não mudarem o mundo,
  • 11:01 - 11:03
    quem vai mudar?
  • 11:03 - 11:09
    Porque nada mais forte
    do que a nossa energia feminina.
  • 11:11 - 11:13
    E uma coisa muito importante
    que a gente tem que pensar,
  • 11:13 - 11:15
    quando pensa em mistura,
  • 11:15 - 11:18
    e aí, como eu estava
    falando antes, de empatia,
  • 11:18 - 11:21
    é o quanto que a tecnologia,
    sim, veio pra nos ajudar a misturar,
  • 11:21 - 11:28
    mas o quanto muitas vezes
    um Facebook da vida não é a realidade,
  • 11:28 - 11:29
    não é a nossa realidade.
  • 11:29 - 11:34
    Então o algoritmo do Facebook,
    eu não sei se todos estão familiarizados,
  • 11:34 - 11:39
    ele muitas vezes mostra
    pra ti só o que você gosta,
  • 11:39 - 11:44
    então quanto mais tu dá "like"
    nos assuntos, nas pessoas,
  • 11:44 - 11:46
    ele começa a criar um algoritmo
    pra tu só receber aquilo.
  • 11:46 - 11:49
    Só que isso não é uma realidade,
    isso é muito perigoso.
  • 11:49 - 11:52
    Porque esse momento
    que a gente está vivendo no Brasil,
  • 11:52 - 11:54
    é um momento de polarização,
  • 11:54 - 11:59
    muitas vezes acontece porque as pessoas
    se empoderam de determinados pensamentos
  • 11:59 - 12:02
    porque acha que todo mundo
    está pensando como ela.
  • 12:02 - 12:04
    E começa a ficar
    muito agressiva quanto àquilo.
  • 12:04 - 12:08
    Só que aquilo está muito refletido,
    talvez, num olhar, que ela está olhando
  • 12:08 - 12:11
    só para o seu umbigo, literalmente,
    ou para sua "timeline".
  • 12:11 - 12:13
    E ela acha que aquilo é realidade.
  • 12:13 - 12:15
    E aquilo não é realidade.
  • 12:15 - 12:16
    Então, na verdade,
  • 12:16 - 12:20
    a mistura não vai acontecer
    na frente do Facebook.
  • 12:20 - 12:23
    Ela não vai acontecer
    se a gente não se movimentar.
  • 12:23 - 12:26
    A mistura tem a ver com movimento.
  • 12:26 - 12:30
    Então, a primeira questão aqui
    de provocação que eu trago é:
  • 12:30 - 12:33
    a gente enquanto povo brasileiro
    precisa sair do armário.
  • 12:33 - 12:36
    Fazer uma espécie de terapia coletiva.
  • 12:36 - 12:39
    Porque a mudança, na verdade,
    vem de dentro, do autoconhecimento,
  • 12:39 - 12:42
    de eu não ter vergonha de dizer:
  • 12:42 - 12:47
    "Ah, os índios que estão lá, sem-terra,
    eles não fazem parte da minha vida".
  • 12:47 - 12:51
    "Ah, porque os negros que estão morrendo
    não fazem parte da minha vida."
  • 12:51 - 12:57
    "Ah, porque os palestinos refugiados
    que estão vindo pro Brasil, ou iranianos,
  • 12:57 - 13:00
    ou as crianças que estão morrendo
    não fazem parte da minha vida."
  • 13:00 - 13:03
    Porque o meu território aqui
    está muito bem guardado.
  • 13:03 - 13:06
    Só que a gente
    não é isso, gente, desculpa.
  • 13:06 - 13:08
    A gente é brasileiro e brasileiro
    é um monte de mistura.
  • 13:08 - 13:10
    E vai ficar cada vez mais misturado.
  • 13:10 - 13:14
    Não tem essa coisa de ser uma raça.
  • 13:14 - 13:17
    E é essa nossa grande riqueza abundante!
  • 13:17 - 13:21
    Só que se a gente não tiver
    autoconhecimento e ver que isso é forte,
  • 13:21 - 13:23
    a gente não vai
    se empoderar enquanto povo.
  • 13:23 - 13:26
    E se a gente não se empoderar,
    enquanto povo, enquanto nação,
  • 13:26 - 13:29
    e muita gente de fora não quer
    que a gente se empodere enquanto povo,
  • 13:29 - 13:32
    porque nosso território
    é muito interessante,
  • 13:32 - 13:37
    a gente vai deixar com que essa
    inteligência coletiva se vá.
  • 13:37 - 13:40
    Se vá pela radicalização, se vá pela briga
  • 13:40 - 13:42
    e se vá pela polarização.
  • 13:43 - 13:46
    A gente tem que entender
    que tendências estão do nosso lado,
  • 13:46 - 13:52
    que a coisa mais interessante que acontece
    pode ser uma ideia que nem o Afroflix,
  • 13:52 - 13:55
    que pode ser que nem uma poeta,
    porque eu acho, a MC Carol,
  • 13:55 - 13:58
    ou formas de se vestir de pessoas
  • 13:58 - 14:02
    que estão trazendo um estilo próprio
    de se vestir e não pra fora.
  • 14:02 - 14:05
    Olha tudo que o Brasil tem, imagina
    se a gente só trabalhasse dentro do Brasil
  • 14:05 - 14:10
    quanto interessante a gente
    teria de ideias e de inovação.
  • 14:10 - 14:15
    Como dizem, na verdade todos os criativos
    na área de inovação, independente,
  • 14:15 - 14:21
    os mais citados por escolas
    muito bem renomadas, eles falam:
  • 14:21 - 14:25
    "Pra uma grande ideia nascer,
    ela tem que ter uma equipe heterogênea".
  • 14:25 - 14:27
    E tem que ter uma mistura
    entre essas pessoas.
  • 14:27 - 14:29
    A gente tem tudo isso.
  • 14:29 - 14:31
    Então, primeira coisa
  • 14:31 - 14:34
    que eu estou provocando aqui,
    porque esse evento é de ação,
  • 14:34 - 14:37
    é muito de consciência e ação, é:
  • 14:37 - 14:39
    cada um aqui deve ser
    um agente de mistura.
  • 14:39 - 14:44
    E se não for, não estou querendo deixar
    vocês culpados, não é bem essa "vibe".
  • 14:44 - 14:48
    Mas na verdade é tipo:
    eu, sim, posso ser um agente de mistura.
  • 14:48 - 14:53
    Eu médico, eu advogado, eu criativa,
    eu pesquisadora, eu comunicadora.
  • 14:53 - 14:57
    Eu sempre quis ser uma grande comunicadora
    que existe aí, popular brasileira.
  • 14:57 - 15:00
    Eu dizia: "Ai, meu sonho
    é ser a futura Fulana".
  • 15:00 - 15:01
    Por quê?
  • 15:01 - 15:04
    Porque eu queria misturar
    o povo todo, botar na televisão
  • 15:04 - 15:06
    e trazer as coisas que eram do Brasil.
  • 15:06 - 15:08
    Aí eu descobri:
    "Não, eu posso fazer isso".
  • 15:08 - 15:10
    Então o que comecei a fazer
    como um agente de mistura?
  • 15:10 - 15:14
    Primeiro: reconhecer
    diferentes referências,
  • 15:14 - 15:18
    pra ter uma visão do coletivo, certo?
  • 15:18 - 15:21
    Mas eu não preciso só reconhecer e andar.
  • 15:21 - 15:25
    Eu, na verdade,
    também preciso espalhar isso.
  • 15:25 - 15:27
    Eu tenho que ser um inseto.
  • 15:27 - 15:29
    Eu tenho que ser a zika do bem.
  • 15:29 - 15:34
    A gente tem que grudar no fulano, pegou,
    pegou, pegou, todo mundo pegou.
  • 15:34 - 15:38
    Tudo misturado. Ai meu Deus, começa
    a sentir aquele funk começa a ficar louco.
  • 15:38 - 15:40
    É isso, entendeu? Essa é a vibe.
  • 15:40 - 15:45
    Não é: "Ai, isso não faz parte de mim,
    eu quero ir para Miami". Não!
  • 15:45 - 15:48
    Não. Entendeu? Porra!
  • 15:48 - 15:50
    (Aplausos)
  • 15:51 - 15:57
    Então a ideia é que vocês
    saiam daqui empoderados:
  • 15:57 - 15:59
    "Eu sou um agente da mistura.
    Eu sou um agente da mistura".
  • 15:59 - 16:02
    E o que é ser um agente da mistura?
    É conectar redes.
  • 16:02 - 16:05
    E principalmente falar com pessoas
    que vocês não falariam,
  • 16:05 - 16:11
    ou conectar pessoas
    que não se falariam espontaneamente.
  • 16:11 - 16:15
    A gente não pode negar e bloquear
    aquele cara que a gente acha revoltado.
  • 16:15 - 16:17
    Ele tem que ouvir o que
    estou falando no Facebook.
  • 16:17 - 16:20
    Ou, eu estou na família.
    Família é ótimo pra isso.
  • 16:20 - 16:26
    Tem aquela mesa da família que está lá:
    "Ah, mas essa pessoa aí..."
  • 16:26 - 16:30
    O aniversário da Morena, minha filha...
    Ah, Morena, olha que engraçado...
  • 16:30 - 16:31
    Minha filha se chama Morena.
  • 16:31 - 16:34
    Eu sou tão misturada,
    ela nasceu loira de olho azul.
  • 16:34 - 16:38
    Então pra gente entender que a gente
    é isso, aceita tudo, tudo misturado.
  • 16:38 - 16:43
    Então, no aniversário da Morena, eu trouxe
    um ônibus de pessoas, foi em Xerém,
  • 16:43 - 16:45
    e eu trouxe um monte de gente
    que eram meus amigos,
  • 16:45 - 16:50
    da família do meu marido, tinha gente
    evangélica, gente não evangélica,
  • 16:50 - 16:51
    tinha gente branca, gente preta,
  • 16:51 - 16:55
    aí entrou um monte de gay, amigos meus,
    desceram do ônibus: "Uuuh!"
  • 16:55 - 16:56
    Tudo purpurinado.
  • 16:56 - 16:58
    E aí eu me lembro a galera assim,
    toda em volta da festa,
  • 16:58 - 17:01
    muita gente, uma festa gigante,
    e todo mundo assim.
  • 17:01 - 17:06
    E teve uma hora que eu estava na piscina,
    assim, meio... meio assim, feliz,
  • 17:06 - 17:07
    (Risos)
  • 17:07 - 17:09
    e eu olhei pro lado e falei:
  • 17:09 - 17:13
    "Gente, que bagunça isso aqui,
    não preciso ser a apresentadora,
  • 17:13 - 17:15
    isso aqui é uma grande mistura!"
  • 17:15 - 17:19
    E foi muito engraçado, teve batalha de rap
    mas também teve samba,
  • 17:19 - 17:21
    e foi isso, foi lindo,
    porque pessoas talvez...
  • 17:21 - 17:24
    um evangélico olhar um gay,
    era uma coisa, meu Deus,
  • 17:24 - 17:26
    ele ficava olhando na piscina assim.
  • 17:26 - 17:27
    (Risos)
  • 17:27 - 17:32
    E meu amigo, nada discreto:
    "Quer purpurina? Quer purpurina?"
  • 17:32 - 17:34
    Então essa era um pouco a história.
  • 17:34 - 17:38
    Num aniversário consegui fazer isso,
    a gente pode fazer isso em qualquer lugar.
  • 17:38 - 17:41
    Então, ser um agente de mistura é:
  • 17:41 - 17:46
    criar novas narrativas, trazer novas
    referências, disseminar histórias reais,
  • 17:46 - 17:49
    entender que a gente é colorido, diverso,
  • 17:49 - 17:52
    e que dessa diversidade
    nascem coisas e ideias geniais.
  • 17:52 - 17:55
    E nos respeitar enquanto povo colorido.
  • 17:55 - 17:59
    A nossa alegria, a nossa purpurina
    tem que ser respeitada.
  • 17:59 - 18:02
    A nossa verdadeira riqueza está nisso.
  • 18:02 - 18:07
    E não ser revoltados,
    não ser brigões, isso não é nosso.
  • 18:07 - 18:09
    Nós estamos importando isso.
  • 18:09 - 18:15
    Porque todos nós, na verdade,
    somos coloridos e somos puros na mistura.
  • 18:15 - 18:16
    Gente, obrigada.
  • 18:16 - 18:18
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Somos todos coloridos, somos puros na mistura | Amnah Asad | TEDxLaçador
Description:

Amnah Asad nos convida a criar narrativas, disseminar histórias reais, entender que somos um país colorido, diverso e que dessa diversidade nascem ideias geniais. Dessa mistura nasce a característica mais marcante do povo e da mulher brasileira, a sevirologia. Sevirólogas são fazedoras, conectoras. Nas periferias, 70% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Amnah nos convida a ser um agente da mistura e desempenhar o nosso mais importante papel: espalhar pensamentos e ideias, conectando redes e pessoas que nunca se falariam espontaneamente. Porque é na mistura que somos puros.

Amnah Asad é pesquisadora e criativa. Trabalha em diversos projetos simultâneos, de inovação social a entretenimento, com a carreira focada em desenvolvimento de estratégias baseadas em tendências culturais e no comportamento humano.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:23

Portuguese, Brazilian subtitles

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