Somos todos coloridos, somos puros na mistura | Amnah Asad | TEDxLaçador
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0:09 - 0:12Como pesquisadora,
estudar a cultura da mistura -
0:12 - 0:16e como criativa, criar projetos
a partir desse tema, -
0:16 - 0:19sempre foi a minha grande paixão.
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0:19 - 0:22Na verdade, não é nem uma grande paixão;
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0:22 - 0:25depois que a gente entra
numa idade de 30 anos, -
0:25 - 0:27e começa aquela coisa
de retorno de Saturno, -
0:27 - 0:30descobri que isso é muito a minha missão.
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0:30 - 0:32E por que que isso é uma missão?
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0:32 - 0:35Eu sou filha de um palestino
com uma brasileira -
0:35 - 0:39que é filha de uma índia com um português.
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0:39 - 0:43E eu fui criada dentro
duma loja popular, aquelas: -
0:43 - 0:46"Barato, barato. O patrão enlouqueceu.
Passa aqui", não sei quê. -
0:46 - 0:48Por isso eu tenho esta voz. (Risos)
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0:48 - 0:50Porque eu aprendi, na loja, a fazer isso.
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0:50 - 0:52Meu primeiro emprego.
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0:52 - 0:55E foi dentro dessa loja que,
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0:55 - 0:58assim, quem não é daqui
vai saber que é igual ao Saara, -
0:58 - 1:02igual à 25 de Março,
todos os lugares dos centros do país. -
1:02 - 1:06Foi dentro dessa loja
que, há mais ou menos 20 anos, -
1:06 - 1:10eu descobri que nascer neste país,
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1:11 - 1:15e com aquela mistura toda
que era aquela loja, aquela gente, -
1:15 - 1:19com o camelô que gritava,
o pacoteiro, aquela coisa toda, -
1:19 - 1:21que cada dia eu ficava
mais feliz com aquilo, -
1:21 - 1:24eu descobri que nascer aqui no Brasil
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1:24 - 1:29faria com que eu conseguisse ou pudesse
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1:29 - 1:35criar uma estratégia pra não casar mais
com um primo que eu era prometida, enfim. -
1:35 - 1:37Porque eu era filha de árabe,
palestino, criado aqui, -
1:37 - 1:41mas que tinha a cultura, mesmo no Brasil,
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1:41 - 1:47de ter casamentos, ou pelo menos
ter que casar com um outro árabe. -
1:47 - 1:53E foi a partir desse momento que eu pensei
que eu poderia ser uma mulher "livre". -
1:53 - 1:57Então eu disse: "Nossa, este é o país".
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1:57 - 2:03Eu quero, aqui que eu tenho que criar
como vou fazer pra não, enfim... -
2:03 - 2:08poder colocar minha voz e,
como mulher, expressar o que eu penso -
2:08 - 2:11e não só ser mãe, apesar de amar ser mãe,
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2:11 - 2:13mas mãe e mulher e esposa.
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2:13 - 2:15Beleza.
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2:15 - 2:19Daí eu adoro lembrar um pouco,
quando a gente fala de Brasil, -
2:19 - 2:22porque tem uma frase muito boa,
MC Carol, pra mim, hoje em dia, -
2:22 - 2:24tem sido a minha grande poeta.
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2:24 - 2:27E ela fala uma coisa, eu gosto
muito desta letra que ela fala: -
2:27 - 2:33"Nada contra ti, não me leve a mal,
quem descobriu o Brasil não foi Cabral". -
2:33 - 2:36Porque eu fico pensando
que, apesar de eu ser feliz, -
2:36 - 2:38ou, quando eu tinha 12 anos de idade,
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2:38 - 2:40descobri que nascer aqui
seria muito bom pra mim, -
2:40 - 2:45eu noto que as pessoas
deste lugar, deste país, -
2:45 - 2:48não se sentiam representadas,
não se sentiam muito felizes. -
2:48 - 2:50Até quando eu conversava,
antes de ser pesquisadora -
2:50 - 2:53já conversei com muita gente,
viajei o Brasil inteiro conversando, -
2:53 - 2:57fazendo campo com milhares
de jovens de todas as idades, -
2:57 - 2:58mas até mesmo dentro da loja,
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2:58 - 3:01eu via que as pessoas não se sentiam
representadas, elas diziam: -
3:01 - 3:03"Ah, legal, ser brasileira".
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3:03 - 3:05Eu dizia: "Ah, tu tem
muita sorte, tu é livre, né?" -
3:05 - 3:07Elas ficavam: "É... não sei..."
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3:07 - 3:11Então tinha essa coisa de não se sentir,
talvez, tão representada, -
3:11 - 3:14como até a Yasmin estava contando.
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3:14 - 3:19Porque, de novo, a maioria das referências
não representam o Brasil. -
3:19 - 3:23Gente, o Brasil é enorme,
o território brasileiro é absurdo, -
3:23 - 3:25me lembro quando comecei
a fazer campo, viajar, -
3:25 - 3:28saí do Rio Grande do Sul, eu disse:
"Meu Deus, que coisa linda". -
3:28 - 3:30Cada dia me apaixonava mais pelo Brasil,
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3:30 - 3:33quando está no Pará, quando vai
pro Nordeste, Rio de Janeiro. -
3:33 - 3:35E cada história!
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3:35 - 3:38Daria mil narrativas no Afroflix.
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3:38 - 3:41Então isso não é colocado, não é mostrado.
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3:41 - 3:44E é muito estranho, é muito triste,
a gente não ver isso né? -
3:44 - 3:45Por quê?
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3:45 - 3:49Porque tudo que a gente absorve
são referências de fora. -
3:49 - 3:53Eu, normalmente, como uma pessoa
que trabalha muito também com tendências, -
3:53 - 3:55tudo que a gente tem que olhar é pra fora.
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3:55 - 3:58A gente sempre olha referências nórdicas.
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3:58 - 3:59O que vem de cima.
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3:59 - 4:01O que vem não sei de onde.
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4:01 - 4:03Ninguém gosta de se reconhecer.
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4:03 - 4:06Até quando a gente viaja,
a gente quer viajar pra fora do país, -
4:06 - 4:08a gente não quer viajar pra dentro.
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4:08 - 4:12Então tem essa questão toda
de não ser representado, -
4:12 - 4:17mas a gente também não tem
esse grande amor de conhecer o outro -
4:17 - 4:19e conhecer o próprio território.
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4:20 - 4:23Muitas vezes eu vejo, aqui é
uma representação de um pouco de mim, -
4:23 - 4:24que eu não vejo nesses lugares,
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4:24 - 4:26mas também tem várias outras histórias,
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4:26 - 4:30de pessoas do Nordeste,
de pessoas do interior. -
4:30 - 4:35Eu poderia contar uma história aqui:
"Oh, vamos trazer a galera do interior". -
4:35 - 4:39Rio Grande do Sul sabe quanto,
muitas vezes, não aparece coisas gaúchas, -
4:39 - 4:41a gente sabe, o eixo é Rio e São Paulo.
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4:41 - 4:43Então, enfim, ninguém
é muito representado. -
4:44 - 4:47E a partir disso, na minha vida,
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4:47 - 4:51comecei a sentir essa missão
de não só pesquisar, mas criar projetos. -
4:51 - 4:55O último projeto que eu fiz
se chama "Sou Dessas". -
4:55 - 5:01Foi muito pra passar o microfone
pra mulheres que eu admirava; -
5:01 - 5:06que essas mulheres pudessem contar suas
histórias, seus movimentos, entre elas; -
5:06 - 5:11chamava "Sou Dessas", e principalmente
mulheres que além de ter seu trabalho, -
5:11 - 5:15também são articuladoras de redes;
são pessoas que misturam. -
5:15 - 5:19Assim como as meninas aqui,
no TEDx, também são articuladoras, -
5:19 - 5:23são pessoas que estão fazendo a gente
ouvir essas histórias e se misturar. -
5:24 - 5:28No "Sou Dessas", a gente usou o palco
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5:28 - 5:31pra falar de um movimento muito grande
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5:31 - 5:34que a gente começou
a identificar entre as mulheres, -
5:34 - 5:36por exemplo, que é a "sevirologia".
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5:36 - 5:40Quando um dos meninos estava contando
sobre a mãe, eu fiquei pensando muito: -
5:40 - 5:44"As mães do Brasil são
as verdadeiras 'sevirólogas'". -
5:44 - 5:49Porque sempre trabalham pra fazer várias
coisas e elas têm que fazer um corre, -
5:49 - 5:51independente de classe,
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5:51 - 5:55mas quando a gente vai pra periferia,
elas fazem dez vezes mais o corre, -
5:55 - 5:56não têm muita gente pra ajudar.
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5:56 - 6:00Tem, sim, os vizinhos, porque a economia
colaborativa, dentro de comunidades, -
6:00 - 6:03é maior até do que fora dela, mas enfim.
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6:03 - 6:10Então nesse dia a gente começou a discutir
e dizer: "Putz, vamos trazer mulheres, -
6:10 - 6:14sevirólogas e fazedoras, pra contar
suas histórias e compartilhar". -
6:14 - 6:16O que é sevirologia?
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6:16 - 6:18Muitas vezes a galera fala que é muito
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6:18 - 6:23como dizia o Reinaldo Pamponet,
que trouxe esse termo, -
6:23 - 6:26mas aqui, quando a gente ouve
sobre sevirologia, -
6:26 - 6:29a gente ouve muito como a gambiarra,
o jeitinho brasileiro. -
6:29 - 6:31Até nosso jeito de criar,
nossa criatividade, -
6:31 - 6:36nosso jeito difícil de se virar,
muitas vezes ele é diminuído, -
6:36 - 6:39não é visto como a criatividade, inovador.
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6:39 - 6:45Sevirologia, se fosse visto pelos caras
de tendências, seria visto como "makers". -
6:45 - 6:47Ou a cultura maker.
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6:47 - 6:50Ou iam dizer: "Nossa, os hackers", né?
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6:50 - 6:54E quando a gente ouve falar sobre maker,
sobre cultura hacker, -
6:54 - 6:58parece que está falando sobre inovadores,
que vieram de outros lugares, -
6:58 - 7:03dentro das suas universidades,
como outras por aí, -
7:03 - 7:06que são, enfim, dos Estados Unidos,
conhecidas por tecnologia e tudo mais. -
7:06 - 7:12Mas quando a gente traz e se reconhece:
"Eu sou um maker, eu sou uma fazedora, -
7:12 - 7:15eu sou um sevirólogo", começo
a entender que aquilo faz parte, -
7:15 - 7:17que sou uma pessoa criativa,
posso fazer acontecer. -
7:17 - 7:19E isso não é diminuído,
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7:19 - 7:24imagina, as nossas referências
são até diminuídas -
7:24 - 7:28e colocadas como jeitinho brasileiro,
gambiarra, em vez de dizer: -
7:28 - 7:30"uma grande força criativa",
-
7:30 - 7:34"um grande jeito de trabalhar e criar
dentro de pequenas barreiras". -
7:34 - 7:37Este é um exemplo de sevirologia,
mas o próprio Carnaval, -
7:37 - 7:41o jeito que a galera cria, olha o tamanho
do Carnaval, gente, pelo amor de Deus, -
7:41 - 7:43é muito difícil fazer tudo aquilo.
-
7:43 - 7:48E aquilo tudo só acontece por um trabalho
coletivo, muito bem colocado, -
7:48 - 7:50e por vários sevirólogos.
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7:50 - 7:53Então a gente identificou
diversos sevirólogos aqui, -
7:53 - 7:58a Yasmin foi uma das nossas convidadas
a contar a história, -
7:58 - 8:04mas o mais importante desses projetos
foi que a gente tem que ter o tempo todo, -
8:04 - 8:07na nossa cabeça, que a gente
pode ser consciência e ação. -
8:07 - 8:13Consciência é o saber que existem
algumas coisas e trazer essas referências. -
8:13 - 8:16Mas criar e fazer algo
é muito mais importante. -
8:16 - 8:22E a gente tem que sentir, todos,
não culpados, mas sentir sim, a gente -
8:22 - 8:23nesse momento.
-
8:23 - 8:27Então a gente traz aqui
também um dado muito forte, -
8:27 - 8:29falando um pouco sobre as sevirólogas,
-
8:29 - 8:32que hoje 40% das casas
são comandadas por mulheres. -
8:32 - 8:35Se a gente vai pra outros lugares,
como comunidades, -
8:35 - 8:37a gente vê que 70%
é comandado pelas mulheres. -
8:37 - 8:40Mas nem as mulheres
são tão representadas assim, -
8:40 - 8:42na política e também na mídia.
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8:44 - 8:48As mulheres, hoje, estão também, a gente
fala nas sevirólogas, nas fazedoras, -
8:48 - 8:50elas estão cada vez mais sendo
-
8:50 - 8:56as propagadoras de um novo "mindset"
de sociedade, de um novo pensamento. -
8:56 - 8:59Cada vez mais a gente vê,
e eu fico muito feliz como mulher, -
8:59 - 9:03vendo mulheres fazedoras brasileiras,
também sendo propagadoras, -
9:03 - 9:06sendo esse megafone.
-
9:06 - 9:09Eu vejo que a partir dessa tecnologia,
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9:09 - 9:13de ter as redes sociais agora como mídia
e as pessoas terem voz, -
9:13 - 9:17a gente vê que alguns movimentos
começam a emergir de vários lugares, -
9:17 - 9:22mas é muito interessante ver que essa
mulher fazedora também está fazendo isso, -
9:22 - 9:24pra mudar muito a realidade.
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9:24 - 9:30E o que que a gente pode aprender
com essa energia feminina? -
9:30 - 9:36Eu mesma, quando tive que fazer as minhas
estratégias pra não ficar com meu primo, -
9:36 - 9:41e a gente como mulher
está muito acostumada a servir, -
9:41 - 9:46a gente foi muito oprimida
e tendo sempre que ser aquela pessoa: -
9:46 - 9:49como eu tenho que me portar
para servir alguém; -
9:49 - 9:53como eu tenho que me portar
para ser aceita pelo homem. -
9:53 - 9:56Meu pai me dizia sempre assim:
"Ih, não sabe cozinhar, não vai casar". -
9:56 - 10:00Ou minha tia dizia: "Amnah, tu está
com 18 anos, ninguém vai te querer". -
10:00 - 10:02E aí eu dizia: "Gente,
eu quero fazer faculdade". -
10:02 - 10:05"Ah, o marido vai te deixar
fazer faculdade." -
10:05 - 10:08E eu dizia: "Meu Deus, como vou
contornar toda essa história?" -
10:08 - 10:11Aí descobri lá que meu pai
não gostava de um certo biotipo, -
10:11 - 10:15que meu primo tinha esse certo biotipo,
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10:15 - 10:18eu falei: "Pai, olha só. Por favor.
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10:18 - 10:21Vamos fazer assim, eu escolho
outro namorado, mas esse aí..." -
10:21 - 10:22Ele: "Ah, é verdade.
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10:22 - 10:26Então vou escolher um filho
de um brasileiro moderno pra você casar". -
10:26 - 10:28E aí eu consegui enrolar.
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10:28 - 10:33Mas isso tudo pra dizer que esse jeito
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10:33 - 10:36da mulher também ser meio...
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10:37 - 10:42não é manipuladora, mas vamos dizer
que ela tem uma certa articulação -
10:42 - 10:47de entender e muitas vezes por ter sido
reprimida e prestar muita atenção, -
10:47 - 10:53ela tem uma sensibilidade talvez
de fazer conexões e redes e de misturar. -
10:53 - 10:57Porque também é a mulher
que gera um filho, ela que traz a vida. -
10:57 - 11:01Se a gente ver, muitas vezes eu falo,
que se as mães não mudarem o mundo, -
11:01 - 11:03quem vai mudar?
-
11:03 - 11:09Porque nada mais forte
do que a nossa energia feminina. -
11:11 - 11:13E uma coisa muito importante
que a gente tem que pensar, -
11:13 - 11:15quando pensa em mistura,
-
11:15 - 11:18e aí, como eu estava
falando antes, de empatia, -
11:18 - 11:21é o quanto que a tecnologia,
sim, veio pra nos ajudar a misturar, -
11:21 - 11:28mas o quanto muitas vezes
um Facebook da vida não é a realidade, -
11:28 - 11:29não é a nossa realidade.
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11:29 - 11:34Então o algoritmo do Facebook,
eu não sei se todos estão familiarizados, -
11:34 - 11:39ele muitas vezes mostra
pra ti só o que você gosta, -
11:39 - 11:44então quanto mais tu dá "like"
nos assuntos, nas pessoas, -
11:44 - 11:46ele começa a criar um algoritmo
pra tu só receber aquilo. -
11:46 - 11:49Só que isso não é uma realidade,
isso é muito perigoso. -
11:49 - 11:52Porque esse momento
que a gente está vivendo no Brasil, -
11:52 - 11:54é um momento de polarização,
-
11:54 - 11:59muitas vezes acontece porque as pessoas
se empoderam de determinados pensamentos -
11:59 - 12:02porque acha que todo mundo
está pensando como ela. -
12:02 - 12:04E começa a ficar
muito agressiva quanto àquilo. -
12:04 - 12:08Só que aquilo está muito refletido,
talvez, num olhar, que ela está olhando -
12:08 - 12:11só para o seu umbigo, literalmente,
ou para sua "timeline". -
12:11 - 12:13E ela acha que aquilo é realidade.
-
12:13 - 12:15E aquilo não é realidade.
-
12:15 - 12:16Então, na verdade,
-
12:16 - 12:20a mistura não vai acontecer
na frente do Facebook. -
12:20 - 12:23Ela não vai acontecer
se a gente não se movimentar. -
12:23 - 12:26A mistura tem a ver com movimento.
-
12:26 - 12:30Então, a primeira questão aqui
de provocação que eu trago é: -
12:30 - 12:33a gente enquanto povo brasileiro
precisa sair do armário. -
12:33 - 12:36Fazer uma espécie de terapia coletiva.
-
12:36 - 12:39Porque a mudança, na verdade,
vem de dentro, do autoconhecimento, -
12:39 - 12:42de eu não ter vergonha de dizer:
-
12:42 - 12:47"Ah, os índios que estão lá, sem-terra,
eles não fazem parte da minha vida". -
12:47 - 12:51"Ah, porque os negros que estão morrendo
não fazem parte da minha vida." -
12:51 - 12:57"Ah, porque os palestinos refugiados
que estão vindo pro Brasil, ou iranianos, -
12:57 - 13:00ou as crianças que estão morrendo
não fazem parte da minha vida." -
13:00 - 13:03Porque o meu território aqui
está muito bem guardado. -
13:03 - 13:06Só que a gente
não é isso, gente, desculpa. -
13:06 - 13:08A gente é brasileiro e brasileiro
é um monte de mistura. -
13:08 - 13:10E vai ficar cada vez mais misturado.
-
13:10 - 13:14Não tem essa coisa de ser uma raça.
-
13:14 - 13:17E é essa nossa grande riqueza abundante!
-
13:17 - 13:21Só que se a gente não tiver
autoconhecimento e ver que isso é forte, -
13:21 - 13:23a gente não vai
se empoderar enquanto povo. -
13:23 - 13:26E se a gente não se empoderar,
enquanto povo, enquanto nação, -
13:26 - 13:29e muita gente de fora não quer
que a gente se empodere enquanto povo, -
13:29 - 13:32porque nosso território
é muito interessante, -
13:32 - 13:37a gente vai deixar com que essa
inteligência coletiva se vá. -
13:37 - 13:40Se vá pela radicalização, se vá pela briga
-
13:40 - 13:42e se vá pela polarização.
-
13:43 - 13:46A gente tem que entender
que tendências estão do nosso lado, -
13:46 - 13:52que a coisa mais interessante que acontece
pode ser uma ideia que nem o Afroflix, -
13:52 - 13:55que pode ser que nem uma poeta,
porque eu acho, a MC Carol, -
13:55 - 13:58ou formas de se vestir de pessoas
-
13:58 - 14:02que estão trazendo um estilo próprio
de se vestir e não pra fora. -
14:02 - 14:05Olha tudo que o Brasil tem, imagina
se a gente só trabalhasse dentro do Brasil -
14:05 - 14:10quanto interessante a gente
teria de ideias e de inovação. -
14:10 - 14:15Como dizem, na verdade todos os criativos
na área de inovação, independente, -
14:15 - 14:21os mais citados por escolas
muito bem renomadas, eles falam: -
14:21 - 14:25"Pra uma grande ideia nascer,
ela tem que ter uma equipe heterogênea". -
14:25 - 14:27E tem que ter uma mistura
entre essas pessoas. -
14:27 - 14:29A gente tem tudo isso.
-
14:29 - 14:31Então, primeira coisa
-
14:31 - 14:34que eu estou provocando aqui,
porque esse evento é de ação, -
14:34 - 14:37é muito de consciência e ação, é:
-
14:37 - 14:39cada um aqui deve ser
um agente de mistura. -
14:39 - 14:44E se não for, não estou querendo deixar
vocês culpados, não é bem essa "vibe". -
14:44 - 14:48Mas na verdade é tipo:
eu, sim, posso ser um agente de mistura. -
14:48 - 14:53Eu médico, eu advogado, eu criativa,
eu pesquisadora, eu comunicadora. -
14:53 - 14:57Eu sempre quis ser uma grande comunicadora
que existe aí, popular brasileira. -
14:57 - 15:00Eu dizia: "Ai, meu sonho
é ser a futura Fulana". -
15:00 - 15:01Por quê?
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15:01 - 15:04Porque eu queria misturar
o povo todo, botar na televisão -
15:04 - 15:06e trazer as coisas que eram do Brasil.
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15:06 - 15:08Aí eu descobri:
"Não, eu posso fazer isso". -
15:08 - 15:10Então o que comecei a fazer
como um agente de mistura? -
15:10 - 15:14Primeiro: reconhecer
diferentes referências, -
15:14 - 15:18pra ter uma visão do coletivo, certo?
-
15:18 - 15:21Mas eu não preciso só reconhecer e andar.
-
15:21 - 15:25Eu, na verdade,
também preciso espalhar isso. -
15:25 - 15:27Eu tenho que ser um inseto.
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15:27 - 15:29Eu tenho que ser a zika do bem.
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15:29 - 15:34A gente tem que grudar no fulano, pegou,
pegou, pegou, todo mundo pegou. -
15:34 - 15:38Tudo misturado. Ai meu Deus, começa
a sentir aquele funk começa a ficar louco. -
15:38 - 15:40É isso, entendeu? Essa é a vibe.
-
15:40 - 15:45Não é: "Ai, isso não faz parte de mim,
eu quero ir para Miami". Não! -
15:45 - 15:48Não. Entendeu? Porra!
-
15:48 - 15:50(Aplausos)
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15:51 - 15:57Então a ideia é que vocês
saiam daqui empoderados: -
15:57 - 15:59"Eu sou um agente da mistura.
Eu sou um agente da mistura". -
15:59 - 16:02E o que é ser um agente da mistura?
É conectar redes. -
16:02 - 16:05E principalmente falar com pessoas
que vocês não falariam, -
16:05 - 16:11ou conectar pessoas
que não se falariam espontaneamente. -
16:11 - 16:15A gente não pode negar e bloquear
aquele cara que a gente acha revoltado. -
16:15 - 16:17Ele tem que ouvir o que
estou falando no Facebook. -
16:17 - 16:20Ou, eu estou na família.
Família é ótimo pra isso. -
16:20 - 16:26Tem aquela mesa da família que está lá:
"Ah, mas essa pessoa aí..." -
16:26 - 16:30O aniversário da Morena, minha filha...
Ah, Morena, olha que engraçado... -
16:30 - 16:31Minha filha se chama Morena.
-
16:31 - 16:34Eu sou tão misturada,
ela nasceu loira de olho azul. -
16:34 - 16:38Então pra gente entender que a gente
é isso, aceita tudo, tudo misturado. -
16:38 - 16:43Então, no aniversário da Morena, eu trouxe
um ônibus de pessoas, foi em Xerém, -
16:43 - 16:45e eu trouxe um monte de gente
que eram meus amigos, -
16:45 - 16:50da família do meu marido, tinha gente
evangélica, gente não evangélica, -
16:50 - 16:51tinha gente branca, gente preta,
-
16:51 - 16:55aí entrou um monte de gay, amigos meus,
desceram do ônibus: "Uuuh!" -
16:55 - 16:56Tudo purpurinado.
-
16:56 - 16:58E aí eu me lembro a galera assim,
toda em volta da festa, -
16:58 - 17:01muita gente, uma festa gigante,
e todo mundo assim. -
17:01 - 17:06E teve uma hora que eu estava na piscina,
assim, meio... meio assim, feliz, -
17:06 - 17:07(Risos)
-
17:07 - 17:09e eu olhei pro lado e falei:
-
17:09 - 17:13"Gente, que bagunça isso aqui,
não preciso ser a apresentadora, -
17:13 - 17:15isso aqui é uma grande mistura!"
-
17:15 - 17:19E foi muito engraçado, teve batalha de rap
mas também teve samba, -
17:19 - 17:21e foi isso, foi lindo,
porque pessoas talvez... -
17:21 - 17:24um evangélico olhar um gay,
era uma coisa, meu Deus, -
17:24 - 17:26ele ficava olhando na piscina assim.
-
17:26 - 17:27(Risos)
-
17:27 - 17:32E meu amigo, nada discreto:
"Quer purpurina? Quer purpurina?" -
17:32 - 17:34Então essa era um pouco a história.
-
17:34 - 17:38Num aniversário consegui fazer isso,
a gente pode fazer isso em qualquer lugar. -
17:38 - 17:41Então, ser um agente de mistura é:
-
17:41 - 17:46criar novas narrativas, trazer novas
referências, disseminar histórias reais, -
17:46 - 17:49entender que a gente é colorido, diverso,
-
17:49 - 17:52e que dessa diversidade
nascem coisas e ideias geniais. -
17:52 - 17:55E nos respeitar enquanto povo colorido.
-
17:55 - 17:59A nossa alegria, a nossa purpurina
tem que ser respeitada. -
17:59 - 18:02A nossa verdadeira riqueza está nisso.
-
18:02 - 18:07E não ser revoltados,
não ser brigões, isso não é nosso. -
18:07 - 18:09Nós estamos importando isso.
-
18:09 - 18:15Porque todos nós, na verdade,
somos coloridos e somos puros na mistura. -
18:15 - 18:16Gente, obrigada.
-
18:16 - 18:18(Aplausos) (Vivas)
- Title:
- Somos todos coloridos, somos puros na mistura | Amnah Asad | TEDxLaçador
- Description:
-
Amnah Asad nos convida a criar narrativas, disseminar histórias reais, entender que somos um país colorido, diverso e que dessa diversidade nascem ideias geniais. Dessa mistura nasce a característica mais marcante do povo e da mulher brasileira, a sevirologia. Sevirólogas são fazedoras, conectoras. Nas periferias, 70% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Amnah nos convida a ser um agente da mistura e desempenhar o nosso mais importante papel: espalhar pensamentos e ideias, conectando redes e pessoas que nunca se falariam espontaneamente. Porque é na mistura que somos puros.
Amnah Asad é pesquisadora e criativa. Trabalha em diversos projetos simultâneos, de inovação social a entretenimento, com a carreira focada em desenvolvimento de estratégias baseadas em tendências culturais e no comportamento humano.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:23