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O que nos faz adoecer? Procure rio acima.

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    Por mais de dez anos sendo médico,
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    eu cuidei de veteranos sem-teto,
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    famílias de classe-média.
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    Eu cuidei de pessoas que
    vivem e trabalham
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    em condições duras,
    ou até perigosas,
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    e esse trabalho me fez achar
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    que precisamos de um
    jeito completamente novo
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    de encarar tratamentos de saúde.
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    Precisamos de um sistema de saúde
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    que vá além de só examinar os sintomas
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    que levam as pessoas aos consultórios,
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    e que consiga ver
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    e melhorar a saúde onde ela começa.
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    E a saúde não começa
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    entre as quatro paredes de
    um consultório médico,
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    e sim onde vivemos
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    e onde trabalhamos,
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    onde comemos, dormimos,
    aprendemos e brincamos,
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    onde passamos a maior parte
    das nossas vidas.
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    Então, como é essa nova visão
    dos tratamentos médicos,
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    que pode melhorar a saúde onde ela começa?
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    Para explicar isso, eu vou
    contar a vocês da Veronica.
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    A Veronica foi a 17ª
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    dos meus 26 pacientes do dia
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    naquela clínica no
    Centro-Sul de Los Angeles.
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    Ela chegou com dores de cabeça crônicas.
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    Essas dores vinham acontecendo
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    há alguns anos, e essa crise em especial
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    estava muito, muito problemática.
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    Na verdade, três semanas antes
    de ela vir até nós pela primeira vez,
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    ela foi para um pronto-socorro
    em Los Angeles.
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    Os médicos de plantão disseram,
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    "Fizemos alguns exames, Veronica.
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    Todos deram normal, então
    tome esses analgésicos
  • 1:23 - 1:25
    e fale com o seu médico,
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    mas se a dor persistir ou aumentar,
  • 1:27 - 1:28
    volte aqui."
  • 1:29 - 1:31
    A Veronica seguiu essas instruções padrão
  • 1:31 - 1:33
    e voltou lá.
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    Não uma, mas duas vezes.
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    Nas três semanas antes
    da Veronica nos procurar,
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    ela foi para o pronto-socorro três vezes.
  • 1:41 - 1:43
    Ela foi pra lá e pra cá,
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    entrou e saiu de hospitais e clínicas,
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    como tinha feito por anos,
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    tentando encontrar alívio, sem sucesso.
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    A Veronica veio à nossa clínica,
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    e apesar de todas essas consultas
    com profissionais da saúde,
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    ela ainda estava doente.
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    Mas quando ela veio até nós,
    tentamos algo diferente.
  • 2:02 - 2:04
    Começamos com a nossa assistente,
  • 2:04 - 2:06
    uma pessoa formada no ensino médio,
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    mas que conhecia a comunidade.
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    A assistente fez as perguntas de rotina.
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    Ela perguntou "Qual é a
    sua principal reclamação?"
  • 2:12 - 2:14
    "Dor de cabeça."
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    "Vamos medir seus sinais vitais" —
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    Pressão sanguínea e ritmo cardíaco,
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    mas vamos perguntar também
    à Veronica e vários pacientes como ela
  • 2:21 - 2:24
    do Sul de Los Angeles,
    algo tão importante quanto.
  • 2:24 - 2:26
    "Veronica, pode me contar
    sobre onde você mora?
  • 2:26 - 2:28
    Em especial, sobre o estado da sua casa?
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    Tem mofo nela? Vazamentos? Baratas?"
  • 2:33 - 2:35
    A Veronica disse sim para
    essas três coisas:
  • 2:35 - 2:37
    baratas, vazamentos e mofo.
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    Eu recebi a ficha dela, li,
  • 2:40 - 2:43
    virei a maçaneta e entrei na sala.
  • 2:44 - 2:45
    Entendam, a Veronica,
  • 2:45 - 2:48
    como muitos pacientes
    que eu tive o privilégio de cuidar,
  • 2:48 - 2:50
    é uma pessoa de respeito,
    de uma presença formidável
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    e uma personalidade exuberante,
  • 2:52 - 2:54
    mas lá estava ela,
  • 2:54 - 2:57
    encolhida de dor na minha mesa.
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    Sua cabeça, claramente pulsando,
    estava apoiada nas mãos.
  • 3:01 - 3:02
    Ela ergueu a cabeça,
  • 3:02 - 3:05
    eu vi seu rosto, disse "olá",
  • 3:05 - 3:07
    e imediatamente percebi uma coisa
  • 3:07 - 3:08
    na ponte do nariz dela,
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    uma ruga em sua pele.
  • 3:10 - 3:14
    Na Medicina, chamamos essa ruga
    de saudação alérgica.
  • 3:14 - 3:17
    Geralmente, ela é vista em crianças
    que têm alergias crônicas.
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    Ela vem do hábito de esfregar o nariz
    para cima e para baixo,
  • 3:20 - 3:22
    tentando se livrar dos sintomas,
  • 3:22 - 3:24
    e lá estava a Veronica, uma mulher adulta,
  • 3:24 - 3:26
    com os mesmos indícios de alergia.
  • 3:26 - 3:29
    Logo depois, tendo feito
    algumas perguntas a ela,
  • 3:29 - 3:31
    examinando-a e ouvindo-a,
  • 3:31 - 3:34
    eu disse, "Veronica, eu acho
    que sei o que você tem.
  • 3:34 - 3:36
    Eu acho que você tem alergia crônica,
  • 3:36 - 3:39
    e também enxaquecas,
    e uma leve congestão nasal,
  • 3:39 - 3:42
    e eu acho que tudo isso
    é por causa de onde você mora."
  • 3:43 - 3:44
    Ela pareceu aliviada,
  • 3:44 - 3:46
    porque, pela primeira vez,
    houve um diagnóstico
  • 3:46 - 3:49
    mas eu disse, "Veronica,
    vamos falar do tratamento.
  • 3:49 - 3:51
    Vamos prescrever uns
    remédios para os sintomas,
  • 3:51 - 3:55
    mas eu também quero que
    você vá num especialista, se possível."
  • 3:55 - 3:58
    Especialistas são
    meio difíceis de se encontrar
  • 3:58 - 3:59
    no Centro-Sul de Los Angeles,
  • 3:59 - 4:02
    então ela me olhou com cara de "É sério?"
  • 4:02 - 4:05
    E eu disse, "Veronica,
    o especialista que eu falei
  • 4:05 - 4:07
    é um profissional da saúde comunitário,
  • 4:07 - 4:10
    alguém que, se você quiser,
    pode ir na sua casa
  • 4:10 - 4:12
    e tentar entender a razão
    desse mofo e desses vazamentos,
  • 4:12 - 4:14
    e te ajudar com esses
    problemas na sua casa,
  • 4:14 - 4:17
    que devem estar causando seus sintomas,
  • 4:17 - 4:18
    e, se preciso, ele pode te indicar
  • 4:18 - 4:21
    outro especialista, um advogado
    de interesse público,
  • 4:21 - 4:23
    porque pode ser que o seu senhorio
  • 4:23 - 4:26
    não esteja fazendo os consertos
    que ele é obrigado a fazer."
  • 4:26 - 4:28
    A Veronica voltou alguns meses depois.
  • 4:28 - 4:31
    Ela concordou com todos os tratamentos.
  • 4:31 - 4:34
    Ela nos disse que seus sintomas
    tinham melhorado 90%.
  • 4:34 - 4:36
    Ela estava passando
    mais tempo no trabalho
  • 4:36 - 4:38
    e com a família, e menos tempo
  • 4:38 - 4:42
    indo para lá e para cá entre
    os prontos-socorros de Los Angeles.
  • 4:42 - 4:44
    A Veronica tinha melhorado incrivelmente.
  • 4:45 - 4:47
    Seus filhos, um dos quais tinha asma,
  • 4:47 - 4:48
    não estavam mais tão doentes.
  • 4:48 - 4:51
    Ela tinha melhorado e,
    não por coincidência,
  • 4:51 - 4:53
    sua casa estava melhor também.
  • 4:54 - 4:56
    O que há com esse jeito diferente
    que tentamos,
  • 4:56 - 5:00
    que gerou um tratamento melhor,
  • 5:00 - 5:03
    menos visitas ao PS, mais saúde?
  • 5:03 - 5:05
    Bom, para ser simples,
    começou com a pergunta:
  • 5:05 - 5:08
    "Veronica, onde você mora?"
  • 5:08 - 5:11
    Mas, mais importante,
    nós colocamos em prática
  • 5:11 - 5:13
    um sistema que nos permite perguntar
  • 5:13 - 5:15
    à Veronica e outras centenas como ela
  • 5:15 - 5:17
    sobre as condições que importavam
  • 5:17 - 5:19
    sobre a comunidade, sobre onde a saúde
  • 5:19 - 5:22
    e infelizmente a doença começam
  • 5:22 - 5:24
    em lugares como no Sul de L.A.
  • 5:24 - 5:27
    Naquela comunidade, moradia precária
    e insegurança alimentar
  • 5:27 - 5:29
    eram o que nós da clínica
    mais tínhamos que conhecer,
  • 5:29 - 5:31
    mas em outras comunidades, poderia ser
  • 5:31 - 5:33
    dificuldade de locomoção, obesidade,
  • 5:33 - 5:37
    acesso a parques, violência armada.
  • 5:37 - 5:39
    O importante é que
    colocamos em prática
  • 5:39 - 5:40
    um sistema que funcionou.
  • 5:40 - 5:43
    É um método que eu chamo de
    "método rio acima" .
  • 5:43 - 5:45
    É um termo que
    muitos de vocês conhecem.
  • 5:45 - 5:46
    Vem de uma parábola muito usada
  • 5:46 - 5:49
    na comunidade de saúde pública.
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    É a história de três amigos.
  • 5:51 - 5:53
    Imagine que você é um deles,
  • 5:53 - 5:55
    e vocês encontram um rio.
  • 5:55 - 5:58
    É uma cena linda, mas que
    é quebrada pelo choro de uma criança,
  • 5:59 - 6:01
    e na verdade várias crianças
    precisam ser salvas na água.
  • 6:01 - 6:04
    Então, você faz o que
    se quer que todos façam:
  • 6:04 - 6:05
    Pula na água com seus amigos.
  • 6:05 - 6:07
    O primeiro diz, eu vou salvar os que
  • 6:07 - 6:08
    estão se afogando,
  • 6:08 - 6:10
    os em maior perigo de
    cair da cachoeira.
  • 6:10 - 6:12
    O segundo diz, eu vou construir uma balsa.
  • 6:12 - 6:14
    Vou fazer com que menos pessoas
  • 6:14 - 6:15
    cheguem perto da cachoeira.
  • 6:15 - 6:17
    Vamos gerar mais segurança
  • 6:17 - 6:18
    construindo essa balsa,
  • 6:18 - 6:20
    unindo essas ideias.
  • 6:20 - 6:24
    Ao longo do tempo, eles conseguem,
    mas não tanto quanto queriam.
  • 6:24 - 6:26
    Mais pessoas caem, e eles
    enfim olham para cima
  • 6:26 - 6:28
    e veem que a terceira amiga sumiu.
  • 6:28 - 6:29
    Finalmente, eles a enxergam.
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    Ela está na água, nadando para longe,
  • 6:31 - 6:34
    rio acima, salvando crianças no caminho,
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    e eles gritam: "Onde você vai?
  • 6:35 - 6:37
    Há crianças para salvar aqui".
  • 6:37 - 6:38
    E ela responde,
  • 6:38 - 6:39
    "Eu vou descobrir
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    quem ou o que está
    jogando as crianças na água".
  • 6:43 - 6:46
    No sistema de saúde,
    temos o primeiro amigo —
  • 6:46 - 6:48
    o especialista,
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    o traumatologista, a enfermeira da UTI,
  • 6:50 - 6:51
    os plantonistas do PS.
  • 6:51 - 6:54
    Temos essas pessoas que são os salvadores,
  • 6:54 - 6:57
    os que você quer que estejam perto
    quando a situação apertar.
  • 6:57 - 6:59
    Também temos o segundo amigo —
  • 6:59 - 7:01
    o construtor da balsa.
  • 7:01 - 7:03
    Esse é o médico de cuidados primários,
  • 7:03 - 7:05
    a equipe que está lá para
  • 7:05 - 7:07
    cuidar das suas doenças crônicas,
  • 7:07 - 7:08
    sua diabetes, sua hipertensão,
  • 7:08 - 7:10
    que fazem os checkups anuais,
  • 7:10 - 7:12
    e checam se sua vacinação está em dia,
  • 7:12 - 7:13
    mas que também se certificam
  • 7:13 - 7:17
    que você tenha uma balsa
    para ficar em segurança.
  • 7:17 - 7:19
    Mas mesmo isso sendo vital e necessário,
  • 7:19 - 7:20
    está faltando a terceira amiga.
  • 7:20 - 7:22
    Não temos rios-acima o suficiente.
  • 7:22 - 7:24
    Eles são os profissionais da saúde
  • 7:24 - 7:26
    que sabem que a saúde começa
  • 7:26 - 7:28
    onde vivemos, trabalhamos e brincamos,
  • 7:29 - 7:31
    mas que vai além e mobiliza
  • 7:31 - 7:33
    os recursos para criar o sistema
  • 7:33 - 7:35
    em suas clínicas e hospitais
  • 7:35 - 7:38
    que realmente começam a tratar disso,
  • 7:38 - 7:41
    a ligar as pessoas ao que elas precisam
  • 7:41 - 7:43
    fora das paredes do consultório.
  • 7:43 - 7:45
    Agora, vocês podem fazer
    a pergunta óbvia,
  • 7:45 - 7:47
    que vários colegas médicos fazem:
  • 7:47 - 7:51
    "Médicos e enfermeiras pensando
    em transporte e habitação?
  • 7:51 - 7:53
    Não deveríamos só dar
    tratamentos e remédios
  • 7:53 - 7:55
    e nos preocupar com os nossos deveres?
  • 7:55 - 7:58
    Claro, salvar pessoas perto da cachoeira
  • 7:58 - 8:00
    é bem importante.
  • 8:00 - 8:02
    Alguém tem horas?
  • 8:02 - 8:05
    Mas eu diria que se
    usarmos a ciência como guia,
  • 8:05 - 8:07
    descobriríamos que o pensamento
    rio-acima é indispensável.
  • 8:07 - 8:09
    Hoje, os cientistas sabem
  • 8:09 - 8:11
    que as condições de vida e de trabalho
  • 8:11 - 8:13
    de que todos somos parte
  • 8:13 - 8:15
    tem duas vezes mais impacto na saúde
  • 8:15 - 8:18
    que o nosso código genético,
  • 8:18 - 8:20
    e as condições de vida e trabalho,
    as estruturas do ambiente,
  • 8:20 - 8:24
    as maneiras como a sociedade se tece,
  • 8:24 - 8:26
    e o impacto que tudo isso tem
    no nosso comportamento,
  • 8:26 - 8:29
    todos juntos, eles têm um impacto
    mais de cinco vezes maior
  • 8:29 - 8:31
    que todos os tratamentos e remédios
  • 8:31 - 8:33
    prescritos por médicos e hospitais juntos.
  • 8:34 - 8:36
    Juntas, as condições de vida e trabalho
  • 8:36 - 8:39
    são a causa de 60% das mortes evitáveis.
  • 8:40 - 8:42
    Deixem-me dar um exemplo disso.
  • 8:42 - 8:45
    Digamos que haja uma empresa,
    uma startup de tecnologia,
  • 8:45 - 8:47
    que chega para você e diz
    "Temos um ótimo produto.
  • 8:47 - 8:49
    Ele diminui o risco de morrer
    de doenças cardíacas."
  • 8:49 - 8:51
    Agora, você provavelmente investiria
  • 8:51 - 8:54
    se o produto fosse
    um remédio ou um aparelho,
  • 8:54 - 8:57
    mas e se fosse um parque?
  • 8:58 - 8:59
    Um estudo no Reino Unido,
  • 8:59 - 9:01
    um divisor de águas,
    que leu os históricos
  • 9:01 - 9:04
    de mais de 40 milhões de britânicos,
  • 9:04 - 9:06
    considerou muitas variáveis,
  • 9:06 - 9:09
    controlou vários fatores, e descobriu
  • 9:09 - 9:13
    que quando se calcula o risco
    de doenças cardíacas,
  • 9:13 - 9:16
    o contato da pessoa com
    espaços verdes tem muito peso.
  • 9:16 - 9:18
    Quanto mais perto de espaços verdes,
  • 9:18 - 9:19
    árvores e parques,
  • 9:19 - 9:20
    menor o risco de doenças,
  • 9:20 - 9:23
    e isso é verdadeiro
    para os ricos e para os pobres.
  • 9:23 - 9:26
    O estudo ilustra o que
    meus amigos na Saúde Pública
  • 9:26 - 9:27
    costumam dizer hoje em dia:
  • 9:27 - 9:29
    o CEP da pessoa importa mais
  • 9:29 - 9:31
    que o código genético.
  • 9:31 - 9:32
    Também estamos aprendendo que o CEP
  • 9:32 - 9:35
    está moldando nosso código genético.
  • 9:35 - 9:38
    O campo da epigenética
    estuda esses mecanismos moleculares,
  • 9:38 - 9:41
    essas complexas maneiras
    de literalmente moldar nosso DNA,
  • 9:41 - 9:42
    ligar e desligar genes,
  • 9:42 - 9:45
    baseadas na exposição ao ambiente,
  • 9:45 - 9:47
    a onde vivemos e trabalhamos.
  • 9:47 - 9:49
    Está claro que esses fatores,
  • 9:49 - 9:52
    esses problemas rio acima,
    realmente importam.
  • 9:52 - 9:53
    Importam para a nossa saúde,
  • 9:53 - 9:56
    portanto, os profissionais
    têm que cuidar delas.
  • 9:56 - 9:57
    Mesmo assim, a Veronica me fez
  • 9:57 - 10:00
    o que deve ser a pergunta
    mais estimulante dos últimos tempos
  • 10:00 - 10:02
    Naquele retorno, ela perguntou:
  • 10:02 - 10:04
    "Por que nenhum outro médico
  • 10:04 - 10:07
    nunca me perguntou da minha casa?
  • 10:07 - 10:09
    Naquelas visitas ao pronto-socorro,
  • 10:09 - 10:11
    eu fiz duas tomografias,
  • 10:11 - 10:13
    me enfiaram uma agulha nas costas
  • 10:13 - 10:14
    para coletar fluido espinhal,
  • 10:14 - 10:16
    e uma dúzia de exames de sangue.
  • 10:16 - 10:19
    Eu fui e voltei, falei com todo tipo
    de pessoa da Saúde,
  • 10:19 - 10:22
    e ninguém me perguntou da minha casa."
  • 10:23 - 10:25
    A resposta sincera é que,
    na área da saúde,
  • 10:25 - 10:27
    trata-se dos sintomas sem pensar
  • 10:27 - 10:29
    no que te deixou doente para começar.
  • 10:29 - 10:32
    E há várias razões para isso,
    mas as três maiores
  • 10:32 - 10:35
    são, primeiro, não pagamos por isso.
  • 10:36 - 10:39
    Na área da Saúde, pagamos
    por quantidade e não por qualidade.
  • 10:40 - 10:41
    Pagamos médicos e hospitais geralmente
  • 10:41 - 10:43
    pelo número de atendimentos,
  • 10:43 - 10:46
    não por quanto eles melhoram sua saúde.
  • 10:46 - 10:49
    Isso leva a outro fenômeno, que eu chamo
  • 10:49 - 10:50
    de método "não pergunte, não diga"
  • 10:50 - 10:52
    para as questões rio-acima na Saúde.
  • 10:52 - 10:54
    Não perguntamos onde
    você mora e trabalha,
  • 10:54 - 10:58
    porque se tem um problema lá,
    não sabemos o que dizer.
  • 10:58 - 11:01
    Não é que os médicos
    não saibam que isso é importante.
  • 11:01 - 11:04
    Em uma pesquisa recente
    feita com médicos nos EUA,
  • 11:04 - 11:07
    mais de mil deles, 80% disseram que
  • 11:07 - 11:09
    sabem que os problemas
    rio-acima dos pacientes
  • 11:09 - 11:11
    são tão importantes quanto as doenças
  • 11:11 - 11:12
    e problemas médicos,
  • 11:12 - 11:15
    e mesmo assim, apesar dessa consciência
  • 11:15 - 11:17
    da importância das questões rio-acima,
  • 11:17 - 11:19
    só um de cada cinco médicos disseram
  • 11:19 - 11:21
    que tinham qualquer confiança
    para lidar com esses assuntos,
  • 11:21 - 11:23
    para melhorar a saúde no seu início.
  • 11:23 - 11:25
    Existe esse vale entre saber
  • 11:25 - 11:27
    que as vidas dos pacientes,
    como vivem e trabalham,
  • 11:27 - 11:30
    é importante, e poder
    fazer algo a respeito
  • 11:30 - 11:32
    com os sistemas que temos.
  • 11:32 - 11:34
    Esse é um problema enorme hoje em dia,
  • 11:34 - 11:36
    porque ele leva à próxima questão, que é
  • 11:36 - 11:38
    "Quem é responsável por isso?"
  • 11:38 - 11:40
    E isso me traz ao terceiro ponto,
  • 11:40 - 11:43
    a terceira resposta à pergunta
    estimulante da Veronica.
  • 11:43 - 11:45
    Parte da razão de termos essa contradição
  • 11:45 - 11:48
    é porque estamos longe de ter
    rios-acima o suficiente
  • 11:48 - 11:50
    no sistema de saúde.
  • 11:50 - 11:52
    Não temos o suficiente daquela amiga
  • 11:52 - 11:54
    que vai descobrir
  • 11:54 - 11:57
    quem ou o que está
    jogando as crianças na água.
  • 11:57 - 11:59
    Agora, há vários rios-acima,
  • 11:59 - 12:01
    e eu tive o privilégio de conhecer vários,
  • 12:01 - 12:04
    em Los Angeles e no resto do país
  • 12:04 - 12:05
    e no resto do mundo,
  • 12:06 - 12:08
    e é importante dizer que eles
  • 12:08 - 12:10
    às vezes são médicos,
    mas eles não precisam ser.
  • 12:10 - 12:13
    Eles podem ser enfermeiros, clínicos,
  • 12:13 - 12:15
    atendentes, assistentes sociais.
  • 12:15 - 12:16
    O tipo de diploma que um rio-acima
  • 12:16 - 12:18
    tem no final do nome não é importante.
  • 12:18 - 12:20
    Mais importante que isso é que todos
  • 12:20 - 12:24
    compartilhem a habilidade
    de criar um processo
  • 12:24 - 12:26
    que transforme seu atendimento,
  • 12:26 - 12:29
    e o jeito que exercem a medicina.
  • 12:29 - 12:30
    E esse processo é muito simples.
  • 12:30 - 12:33
    Três lições.
  • 12:33 - 12:34
    Primeiro, eles se sentam e dizem,
  • 12:34 - 12:36
    "Vamos encontrar o problema clínico
  • 12:36 - 12:38
    comum a um grupo de pacientes.
  • 12:38 - 12:39
    Por exemplo, digamos que
  • 12:39 - 12:41
    vamos ajudar crianças
  • 12:41 - 12:43
    que estão indo e voltando do hospital
  • 12:43 - 12:45
    com asma".
  • 12:45 - 12:48
    Depois de identificar o problema,
    els vão ao segundo passo,
  • 12:48 - 12:50
    e dizem, "Vamos encontrar
    a fonte do problema".
  • 12:50 - 12:54
    No sistema de saúde, encontrar a causa
  • 12:54 - 12:56
    geralmente quer dizer
    "vamos olhar seus genes,
  • 12:56 - 12:58
    e como você está agindo.
  • 12:58 - 13:00
    Talvez você não esteja comendo direito.
  • 13:00 - 13:01
    Alimente-se melhor".
  • 13:01 - 13:03
    É um jeito bem simplista
  • 13:03 - 13:04
    de procurar as fontes.
  • 13:04 - 13:06
    Ao que parece, isso não funciona
  • 13:06 - 13:08
    quando nos prendemos
    a esse ponto de vista.
  • 13:08 - 13:10
    A análise de fonte que um rio-acima
  • 13:10 - 13:12
    coloca na mesa é, por exemplo,
  • 13:12 - 13:16
    vamos ver como você mora e trabalha.
  • 13:16 - 13:18
    Talvez, para as crianças com asma,
  • 13:18 - 13:19
    seja algo dentro de casa,
  • 13:19 - 13:22
    ou talvez eles morem perto de uma rodovia,
  • 13:22 - 13:24
    onde a poluição do ar cause a asma.
  • 13:24 - 13:27
    E talvez seja isso que devamos
    nos mobilizar para resolver,
  • 13:27 - 13:29
    porque essa terceira parte do processo,
  • 13:29 - 13:32
    é aquela parte vital que
    os rios-acima fazem.
  • 13:32 - 13:34
    Eles mobilizam os recursos
    para criar uma solução,
  • 13:34 - 13:36
    dentro do sistema médico
  • 13:36 - 13:38
    e depois, trazendo gente
    da Saúde Pública,
  • 13:38 - 13:40
    de outros setores, advogados,
  • 13:40 - 13:41
    todo mundo que queira entrar no jogo,
  • 13:42 - 13:44
    vamos pegá-los e criar
    uma solução coerente,
  • 13:44 - 13:46
    pegar os pacientes que
    de fato tem problemas clínicos
  • 13:46 - 13:48
    e tratar a fonte do problema de todos,
  • 13:48 - 13:51
    ligando-os aos recursos que precisam.
  • 13:51 - 13:53
    Para mim está claro
    que há tantas histórias
  • 13:53 - 13:55
    de rios-acima fazendo coisas incríveis.
  • 13:55 - 13:58
    O problema é que não há
    muitos deles por aí.
  • 13:58 - 14:00
    Estima-se que precisamos de um rio-acima
  • 14:00 - 14:03
    para cada 20 ou 30 médicos
    no sistema de saúde.
  • 14:03 - 14:05
    Nos EUA, por exemplo, isso significa
  • 14:05 - 14:07
    que precisamos de 25 mil rios-acima
  • 14:07 - 14:09
    até 2020.
  • 14:10 - 14:14
    Mas, pelo que se sabe,
    só temos alguns milhares,
  • 14:14 - 14:17
    e é por isso que, alguns anos atrás,
    eu e meus colegas dissemos,
  • 14:17 - 14:19
    "Quer saber, precisamos treinar
  • 14:19 - 14:21
    e criar mais rios-acima.
  • 14:21 - 14:23
    Então decidimos criar uma organização
  • 14:23 - 14:25
    chamada Health Begins,
  • 14:25 - 14:28
    e a Health Begins faz exatamente isso:
    treinar rios-acima.
  • 14:28 - 14:29
    E medimos nosso sucesso
    de vários jeitos,
  • 14:29 - 14:33
    mas estamos interessados principalmente
    em ter certeza que estamos mudando
  • 14:33 - 14:34
    a sensação de confiança,
  • 14:34 - 14:36
    o mantra "não pergunte, não diga".
  • 14:36 - 14:39
    Estamos tentando ter certeza
    de que os clínicos,
  • 14:39 - 14:41
    e portanto os sistemas em que trabalham,
  • 14:41 - 14:43
    tenham a habilidade, a confiança
  • 14:43 - 14:45
    de encarar os problemas das condições
  • 14:45 - 14:48
    de vida e de trabalho em nossas vidas.
  • 14:48 - 14:50
    Estamos vendo quase o triplo
  • 14:50 - 14:52
    dessa confiança no nosso trabalho.
  • 14:52 - 14:53
    É incrível,
  • 14:54 - 14:57
    mas eu vou contar o que
    mais estimula de trabalhar
  • 14:57 - 15:01
    com rios-acima, em juntá-los.
  • 15:01 - 15:03
    O que mais estimula é que, a cada dia,
  • 15:03 - 15:07
    a cada semana, eu ouço
    histórias como a da Veronica.
  • 15:08 - 15:11
    Há histórias por aí da Veronica
    e de muitos como ela,
  • 15:11 - 15:13
    pessoas que vêm até sistema de saúde
  • 15:13 - 15:15
    e tendo um lampejo do que é
  • 15:15 - 15:17
    fazer parte de algo que funciona,
  • 15:17 - 15:20
    um sistema de saúde que
    para de te mandar lá e cá
  • 15:20 - 15:22
    e de fato melhora sua saúde,
  • 15:22 - 15:23
    escuta quem você é,
  • 15:23 - 15:25
    e trata do contexto da sua vida,
  • 15:25 - 15:28
    seja você rico, pobre ou de classe média.
  • 15:29 - 15:31
    Essas histórias estimulam porque
  • 15:31 - 15:33
    não apenas elas mostram
    que estamos muito perto
  • 15:33 - 15:36
    de ter o sistema de saúde que queremos,
  • 15:36 - 15:38
    mas também que há algo
    para todos nós fazemos para ajudar.
  • 15:38 - 15:41
    Médicos e enfermeiras podem
    melhorar com as perguntas
  • 15:41 - 15:45
    sobre as condições de vida dos pacientes,
    e não só porque é educado,
  • 15:45 - 15:48
    mas, francamente, porque
    é um nível melhor de tratamento.
  • 15:48 - 15:50
    Os sistemas de saúde e os contribuintes
  • 15:50 - 15:53
    podem começar a chamar postos de saúde
  • 15:53 - 15:54
    e hospitais públicos e dizer,
  • 15:54 - 15:56
    vamos olhar os dados juntos.
  • 15:56 - 15:59
    Vamos ver se achamos um padrão
    nos dados sobre as vidas dos pacientes
  • 15:59 - 16:02
    e ver se conseguimos achar
    uma causa rio acima,
  • 16:02 - 16:04
    e aí, tão importante quanto,
    fazer uso dos recursos
  • 16:04 - 16:07
    para resolvê-la?
  • 16:07 - 16:10
    Faculdades de Medicina, de Enfermagem,
    todo tipo de curso da área da Saúde
  • 16:10 - 16:14
    pode ajudar treinando
    a próxima geração de rios-acima.
  • 16:14 - 16:16
    Também podemos ter certeza
    que essas escolas
  • 16:16 - 16:19
    formem uma espinha dorsal
    do pensamento rio-acima,
  • 16:19 - 16:21
    o profissional da saúde comunitário.
  • 16:21 - 16:24
    Precisamos de mais deles
    no sistema de saúde
  • 16:24 - 16:25
    se quisermos que ele seja eficaz,
  • 16:25 - 16:28
    que deixe de ser um "sistema de doença"
    e seja um sistema de saúde.
  • 16:28 - 16:30
    Mas, por fim, e talvez o mais importante,
  • 16:30 - 16:33
    o que fazer? O que fazer como pacientes?
  • 16:33 - 16:35
    Podemos começar indo até nossos médicos,
  • 16:35 - 16:37
    nossos enfermeiros, nossas clínicas,
  • 16:37 - 16:39
    e perguntando, "Tem algo que eu deva saber
  • 16:39 - 16:41
    sobre onde eu moro e trabalho?
  • 16:41 - 16:44
    Há obstáculos à saúde de que eu não saiba,
  • 16:45 - 16:46
    e, mais importante, se houver obstáculos
  • 16:46 - 16:49
    que eu esteja mostrando,
    se eu venho até vocês
  • 16:49 - 16:50
    e digo que tem algo errado
  • 16:50 - 16:53
    com o meu apartamento ou o meu escritório
  • 16:53 - 16:55
    ou que eu não tenho acesso a transporte,
  • 16:55 - 16:56
    ou que há um parque muito longe,
  • 16:56 - 16:58
    então desculpe, doutor,
    eu não posso seguir
  • 16:58 - 17:00
    seu conselho de fazer caminhada,
  • 17:01 - 17:02
    se esses problemas existem,
  • 17:02 - 17:05
    então, doutor, você está disposto a ouvir?
  • 17:05 - 17:07
    E o que podemos fazer, juntos,
  • 17:07 - 17:09
    para melhorar minha saúde
    onde ela começa?"
  • 17:09 - 17:12
    Se todos fizermos isso,
  • 17:12 - 17:13
    os médicos, os sistemas de saúde,
  • 17:13 - 17:15
    os contribuintes, todos nós juntos,
  • 17:15 - 17:18
    vamos perceber uma coisa sobre a saúde.
  • 17:18 - 17:21
    Ela não é uma responsabilidade
    ou fenômeno pessoal.
  • 17:21 - 17:24
    A saúde é um bem coletivo.
  • 17:25 - 17:27
    Ela vem do nosso
    esforço pessoal de entender
  • 17:27 - 17:29
    que nossas vidas têm importância,
  • 17:29 - 17:31
    que o contexto de
    onde vivemos, trabalhamos,
  • 17:31 - 17:33
    comemos e dormimos tem importância,
  • 17:33 - 17:35
    e que o que fazemos para nós mesmos,
  • 17:35 - 17:36
    também devemos fazer para aqueles
  • 17:36 - 17:38
    cujas condições de vida e de trabalho,
  • 17:38 - 17:41
    novamente, podem ser duras,
    ou mesmo perigosas.
  • 17:41 - 17:44
    Todos podemos ter certeza
    que se melhorarmos
  • 17:44 - 17:46
    a distribuição de recursos
    para cima do rio,
  • 17:46 - 17:48
    e ao mesmo tempo trabalharmos juntos
  • 17:48 - 17:52
    e mostrarmos que podemos
    mudar o sistema de saúde rio acima,
  • 17:53 - 17:56
    podemos melhorar a saúde onde ela começa.
  • 17:56 - 17:57
    Muito obrigado.
  • 17:57 - 18:00
    (Aplausos)
Title:
O que nos faz adoecer? Procure rio acima.
Speaker:
Rishi Manchanda
Description:

Rishi Manchanda trabalha como médico no Centro-Sul de Los Angeles há mais de dez anos, e lá ele percebeu: seu trabalho não é tratar os sintomas dos pacientes, mas descobrir o que os está deixando doentes — as causas "rio acima", como má alimentação, um emprego estressante e falta de ar fresco. É um forte chamado aos médicos para que prestem atenção na vida do paciente fora do consultório.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:13

Portuguese, Brazilian subtitles

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