O que nos faz adoecer? Procure rio acima.
-
0:01 - 0:02Por mais de dez anos sendo médico,
-
0:02 - 0:05eu cuidei de veteranos sem-teto,
-
0:05 - 0:07famílias de classe-média.
-
0:08 - 0:11Eu cuidei de pessoas que
vivem e trabalham -
0:11 - 0:14em condições duras,
ou até perigosas, -
0:14 - 0:16e esse trabalho me fez achar
-
0:16 - 0:18que precisamos de um
jeito completamente novo -
0:18 - 0:20de encarar tratamentos de saúde.
-
0:20 - 0:21Precisamos de um sistema de saúde
-
0:21 - 0:23que vá além de só examinar os sintomas
-
0:23 - 0:25que levam as pessoas aos consultórios,
-
0:25 - 0:28e que consiga ver
-
0:28 - 0:30e melhorar a saúde onde ela começa.
-
0:31 - 0:32E a saúde não começa
-
0:32 - 0:35entre as quatro paredes de
um consultório médico, -
0:35 - 0:36e sim onde vivemos
-
0:36 - 0:38e onde trabalhamos,
-
0:39 - 0:41onde comemos, dormimos,
aprendemos e brincamos, -
0:41 - 0:44onde passamos a maior parte
das nossas vidas. -
0:45 - 0:48Então, como é essa nova visão
dos tratamentos médicos, -
0:48 - 0:51que pode melhorar a saúde onde ela começa?
-
0:51 - 0:55Para explicar isso, eu vou
contar a vocês da Veronica. -
0:55 - 0:56A Veronica foi a 17ª
-
0:56 - 0:58dos meus 26 pacientes do dia
-
0:58 - 1:01naquela clínica no
Centro-Sul de Los Angeles. -
1:01 - 1:04Ela chegou com dores de cabeça crônicas.
-
1:04 - 1:05Essas dores vinham acontecendo
-
1:05 - 1:07há alguns anos, e essa crise em especial
-
1:07 - 1:09estava muito, muito problemática.
-
1:09 - 1:13Na verdade, três semanas antes
de ela vir até nós pela primeira vez, -
1:13 - 1:16ela foi para um pronto-socorro
em Los Angeles. -
1:16 - 1:18Os médicos de plantão disseram,
-
1:18 - 1:20"Fizemos alguns exames, Veronica.
-
1:20 - 1:22Todos deram normal, então
tome esses analgésicos -
1:23 - 1:25e fale com o seu médico,
-
1:25 - 1:27mas se a dor persistir ou aumentar,
-
1:27 - 1:28volte aqui."
-
1:29 - 1:31A Veronica seguiu essas instruções padrão
-
1:31 - 1:33e voltou lá.
-
1:34 - 1:36Não uma, mas duas vezes.
-
1:37 - 1:39Nas três semanas antes
da Veronica nos procurar, -
1:39 - 1:41ela foi para o pronto-socorro três vezes.
-
1:41 - 1:43Ela foi pra lá e pra cá,
-
1:43 - 1:45entrou e saiu de hospitais e clínicas,
-
1:45 - 1:46como tinha feito por anos,
-
1:46 - 1:50tentando encontrar alívio, sem sucesso.
-
1:50 - 1:52A Veronica veio à nossa clínica,
-
1:52 - 1:55e apesar de todas essas consultas
com profissionais da saúde, -
1:55 - 1:57ela ainda estava doente.
-
1:58 - 2:01Mas quando ela veio até nós,
tentamos algo diferente. -
2:02 - 2:04Começamos com a nossa assistente,
-
2:04 - 2:06uma pessoa formada no ensino médio,
-
2:06 - 2:07mas que conhecia a comunidade.
-
2:07 - 2:10A assistente fez as perguntas de rotina.
-
2:10 - 2:12Ela perguntou "Qual é a
sua principal reclamação?" -
2:12 - 2:14"Dor de cabeça."
-
2:14 - 2:16"Vamos medir seus sinais vitais" —
-
2:16 - 2:18Pressão sanguínea e ritmo cardíaco,
-
2:18 - 2:21mas vamos perguntar também
à Veronica e vários pacientes como ela -
2:21 - 2:24do Sul de Los Angeles,
algo tão importante quanto. -
2:24 - 2:26"Veronica, pode me contar
sobre onde você mora? -
2:26 - 2:28Em especial, sobre o estado da sua casa?
-
2:28 - 2:32Tem mofo nela? Vazamentos? Baratas?"
-
2:33 - 2:35A Veronica disse sim para
essas três coisas: -
2:35 - 2:37baratas, vazamentos e mofo.
-
2:37 - 2:40Eu recebi a ficha dela, li,
-
2:40 - 2:43virei a maçaneta e entrei na sala.
-
2:44 - 2:45Entendam, a Veronica,
-
2:45 - 2:48como muitos pacientes
que eu tive o privilégio de cuidar, -
2:48 - 2:50é uma pessoa de respeito,
de uma presença formidável -
2:50 - 2:52e uma personalidade exuberante,
-
2:52 - 2:54mas lá estava ela,
-
2:54 - 2:57encolhida de dor na minha mesa.
-
2:57 - 3:01Sua cabeça, claramente pulsando,
estava apoiada nas mãos. -
3:01 - 3:02Ela ergueu a cabeça,
-
3:02 - 3:05eu vi seu rosto, disse "olá",
-
3:05 - 3:07e imediatamente percebi uma coisa
-
3:07 - 3:08na ponte do nariz dela,
-
3:08 - 3:10uma ruga em sua pele.
-
3:10 - 3:14Na Medicina, chamamos essa ruga
de saudação alérgica. -
3:14 - 3:17Geralmente, ela é vista em crianças
que têm alergias crônicas. -
3:17 - 3:20Ela vem do hábito de esfregar o nariz
para cima e para baixo, -
3:20 - 3:22tentando se livrar dos sintomas,
-
3:22 - 3:24e lá estava a Veronica, uma mulher adulta,
-
3:24 - 3:26com os mesmos indícios de alergia.
-
3:26 - 3:29Logo depois, tendo feito
algumas perguntas a ela, -
3:29 - 3:31examinando-a e ouvindo-a,
-
3:31 - 3:34eu disse, "Veronica, eu acho
que sei o que você tem. -
3:34 - 3:36Eu acho que você tem alergia crônica,
-
3:36 - 3:39e também enxaquecas,
e uma leve congestão nasal, -
3:39 - 3:42e eu acho que tudo isso
é por causa de onde você mora." -
3:43 - 3:44Ela pareceu aliviada,
-
3:44 - 3:46porque, pela primeira vez,
houve um diagnóstico -
3:46 - 3:49mas eu disse, "Veronica,
vamos falar do tratamento. -
3:49 - 3:51Vamos prescrever uns
remédios para os sintomas, -
3:51 - 3:55mas eu também quero que
você vá num especialista, se possível." -
3:55 - 3:58Especialistas são
meio difíceis de se encontrar -
3:58 - 3:59no Centro-Sul de Los Angeles,
-
3:59 - 4:02então ela me olhou com cara de "É sério?"
-
4:02 - 4:05E eu disse, "Veronica,
o especialista que eu falei -
4:05 - 4:07é um profissional da saúde comunitário,
-
4:07 - 4:10alguém que, se você quiser,
pode ir na sua casa -
4:10 - 4:12e tentar entender a razão
desse mofo e desses vazamentos, -
4:12 - 4:14e te ajudar com esses
problemas na sua casa, -
4:14 - 4:17que devem estar causando seus sintomas,
-
4:17 - 4:18e, se preciso, ele pode te indicar
-
4:18 - 4:21outro especialista, um advogado
de interesse público, -
4:21 - 4:23porque pode ser que o seu senhorio
-
4:23 - 4:26não esteja fazendo os consertos
que ele é obrigado a fazer." -
4:26 - 4:28A Veronica voltou alguns meses depois.
-
4:28 - 4:31Ela concordou com todos os tratamentos.
-
4:31 - 4:34Ela nos disse que seus sintomas
tinham melhorado 90%. -
4:34 - 4:36Ela estava passando
mais tempo no trabalho -
4:36 - 4:38e com a família, e menos tempo
-
4:38 - 4:42indo para lá e para cá entre
os prontos-socorros de Los Angeles. -
4:42 - 4:44A Veronica tinha melhorado incrivelmente.
-
4:45 - 4:47Seus filhos, um dos quais tinha asma,
-
4:47 - 4:48não estavam mais tão doentes.
-
4:48 - 4:51Ela tinha melhorado e,
não por coincidência, -
4:51 - 4:53sua casa estava melhor também.
-
4:54 - 4:56O que há com esse jeito diferente
que tentamos, -
4:56 - 5:00que gerou um tratamento melhor,
-
5:00 - 5:03menos visitas ao PS, mais saúde?
-
5:03 - 5:05Bom, para ser simples,
começou com a pergunta: -
5:05 - 5:08"Veronica, onde você mora?"
-
5:08 - 5:11Mas, mais importante,
nós colocamos em prática -
5:11 - 5:13um sistema que nos permite perguntar
-
5:13 - 5:15à Veronica e outras centenas como ela
-
5:15 - 5:17sobre as condições que importavam
-
5:17 - 5:19sobre a comunidade, sobre onde a saúde
-
5:19 - 5:22e infelizmente a doença começam
-
5:22 - 5:24em lugares como no Sul de L.A.
-
5:24 - 5:27Naquela comunidade, moradia precária
e insegurança alimentar -
5:27 - 5:29eram o que nós da clínica
mais tínhamos que conhecer, -
5:29 - 5:31mas em outras comunidades, poderia ser
-
5:31 - 5:33dificuldade de locomoção, obesidade,
-
5:33 - 5:37acesso a parques, violência armada.
-
5:37 - 5:39O importante é que
colocamos em prática -
5:39 - 5:40um sistema que funcionou.
-
5:40 - 5:43É um método que eu chamo de
"método rio acima" . -
5:43 - 5:45É um termo que
muitos de vocês conhecem. -
5:45 - 5:46Vem de uma parábola muito usada
-
5:46 - 5:49na comunidade de saúde pública.
-
5:49 - 5:51É a história de três amigos.
-
5:51 - 5:53Imagine que você é um deles,
-
5:53 - 5:55e vocês encontram um rio.
-
5:55 - 5:58É uma cena linda, mas que
é quebrada pelo choro de uma criança, -
5:59 - 6:01e na verdade várias crianças
precisam ser salvas na água. -
6:01 - 6:04Então, você faz o que
se quer que todos façam: -
6:04 - 6:05Pula na água com seus amigos.
-
6:05 - 6:07O primeiro diz, eu vou salvar os que
-
6:07 - 6:08estão se afogando,
-
6:08 - 6:10os em maior perigo de
cair da cachoeira. -
6:10 - 6:12O segundo diz, eu vou construir uma balsa.
-
6:12 - 6:14Vou fazer com que menos pessoas
-
6:14 - 6:15cheguem perto da cachoeira.
-
6:15 - 6:17Vamos gerar mais segurança
-
6:17 - 6:18construindo essa balsa,
-
6:18 - 6:20unindo essas ideias.
-
6:20 - 6:24Ao longo do tempo, eles conseguem,
mas não tanto quanto queriam. -
6:24 - 6:26Mais pessoas caem, e eles
enfim olham para cima -
6:26 - 6:28e veem que a terceira amiga sumiu.
-
6:28 - 6:29Finalmente, eles a enxergam.
-
6:29 - 6:31Ela está na água, nadando para longe,
-
6:31 - 6:34rio acima, salvando crianças no caminho,
-
6:34 - 6:35e eles gritam: "Onde você vai?
-
6:35 - 6:37Há crianças para salvar aqui".
-
6:37 - 6:38E ela responde,
-
6:38 - 6:39"Eu vou descobrir
-
6:39 - 6:43quem ou o que está
jogando as crianças na água". -
6:43 - 6:46No sistema de saúde,
temos o primeiro amigo — -
6:46 - 6:48o especialista,
-
6:48 - 6:50o traumatologista, a enfermeira da UTI,
-
6:50 - 6:51os plantonistas do PS.
-
6:51 - 6:54Temos essas pessoas que são os salvadores,
-
6:54 - 6:57os que você quer que estejam perto
quando a situação apertar. -
6:57 - 6:59Também temos o segundo amigo —
-
6:59 - 7:01o construtor da balsa.
-
7:01 - 7:03Esse é o médico de cuidados primários,
-
7:03 - 7:05a equipe que está lá para
-
7:05 - 7:07cuidar das suas doenças crônicas,
-
7:07 - 7:08sua diabetes, sua hipertensão,
-
7:08 - 7:10que fazem os checkups anuais,
-
7:10 - 7:12e checam se sua vacinação está em dia,
-
7:12 - 7:13mas que também se certificam
-
7:13 - 7:17que você tenha uma balsa
para ficar em segurança. -
7:17 - 7:19Mas mesmo isso sendo vital e necessário,
-
7:19 - 7:20está faltando a terceira amiga.
-
7:20 - 7:22Não temos rios-acima o suficiente.
-
7:22 - 7:24Eles são os profissionais da saúde
-
7:24 - 7:26que sabem que a saúde começa
-
7:26 - 7:28onde vivemos, trabalhamos e brincamos,
-
7:29 - 7:31mas que vai além e mobiliza
-
7:31 - 7:33os recursos para criar o sistema
-
7:33 - 7:35em suas clínicas e hospitais
-
7:35 - 7:38que realmente começam a tratar disso,
-
7:38 - 7:41a ligar as pessoas ao que elas precisam
-
7:41 - 7:43fora das paredes do consultório.
-
7:43 - 7:45Agora, vocês podem fazer
a pergunta óbvia, -
7:45 - 7:47que vários colegas médicos fazem:
-
7:47 - 7:51"Médicos e enfermeiras pensando
em transporte e habitação? -
7:51 - 7:53Não deveríamos só dar
tratamentos e remédios -
7:53 - 7:55e nos preocupar com os nossos deveres?
-
7:55 - 7:58Claro, salvar pessoas perto da cachoeira
-
7:58 - 8:00é bem importante.
-
8:00 - 8:02Alguém tem horas?
-
8:02 - 8:05Mas eu diria que se
usarmos a ciência como guia, -
8:05 - 8:07descobriríamos que o pensamento
rio-acima é indispensável. -
8:07 - 8:09Hoje, os cientistas sabem
-
8:09 - 8:11que as condições de vida e de trabalho
-
8:11 - 8:13de que todos somos parte
-
8:13 - 8:15tem duas vezes mais impacto na saúde
-
8:15 - 8:18que o nosso código genético,
-
8:18 - 8:20e as condições de vida e trabalho,
as estruturas do ambiente, -
8:20 - 8:24as maneiras como a sociedade se tece,
-
8:24 - 8:26e o impacto que tudo isso tem
no nosso comportamento, -
8:26 - 8:29todos juntos, eles têm um impacto
mais de cinco vezes maior -
8:29 - 8:31que todos os tratamentos e remédios
-
8:31 - 8:33prescritos por médicos e hospitais juntos.
-
8:34 - 8:36Juntas, as condições de vida e trabalho
-
8:36 - 8:39são a causa de 60% das mortes evitáveis.
-
8:40 - 8:42Deixem-me dar um exemplo disso.
-
8:42 - 8:45Digamos que haja uma empresa,
uma startup de tecnologia, -
8:45 - 8:47que chega para você e diz
"Temos um ótimo produto. -
8:47 - 8:49Ele diminui o risco de morrer
de doenças cardíacas." -
8:49 - 8:51Agora, você provavelmente investiria
-
8:51 - 8:54se o produto fosse
um remédio ou um aparelho, -
8:54 - 8:57mas e se fosse um parque?
-
8:58 - 8:59Um estudo no Reino Unido,
-
8:59 - 9:01um divisor de águas,
que leu os históricos -
9:01 - 9:04de mais de 40 milhões de britânicos,
-
9:04 - 9:06considerou muitas variáveis,
-
9:06 - 9:09controlou vários fatores, e descobriu
-
9:09 - 9:13que quando se calcula o risco
de doenças cardíacas, -
9:13 - 9:16o contato da pessoa com
espaços verdes tem muito peso. -
9:16 - 9:18Quanto mais perto de espaços verdes,
-
9:18 - 9:19árvores e parques,
-
9:19 - 9:20menor o risco de doenças,
-
9:20 - 9:23e isso é verdadeiro
para os ricos e para os pobres. -
9:23 - 9:26O estudo ilustra o que
meus amigos na Saúde Pública -
9:26 - 9:27costumam dizer hoje em dia:
-
9:27 - 9:29o CEP da pessoa importa mais
-
9:29 - 9:31que o código genético.
-
9:31 - 9:32Também estamos aprendendo que o CEP
-
9:32 - 9:35está moldando nosso código genético.
-
9:35 - 9:38O campo da epigenética
estuda esses mecanismos moleculares, -
9:38 - 9:41essas complexas maneiras
de literalmente moldar nosso DNA, -
9:41 - 9:42ligar e desligar genes,
-
9:42 - 9:45baseadas na exposição ao ambiente,
-
9:45 - 9:47a onde vivemos e trabalhamos.
-
9:47 - 9:49Está claro que esses fatores,
-
9:49 - 9:52esses problemas rio acima,
realmente importam. -
9:52 - 9:53Importam para a nossa saúde,
-
9:53 - 9:56portanto, os profissionais
têm que cuidar delas. -
9:56 - 9:57Mesmo assim, a Veronica me fez
-
9:57 - 10:00o que deve ser a pergunta
mais estimulante dos últimos tempos -
10:00 - 10:02Naquele retorno, ela perguntou:
-
10:02 - 10:04"Por que nenhum outro médico
-
10:04 - 10:07nunca me perguntou da minha casa?
-
10:07 - 10:09Naquelas visitas ao pronto-socorro,
-
10:09 - 10:11eu fiz duas tomografias,
-
10:11 - 10:13me enfiaram uma agulha nas costas
-
10:13 - 10:14para coletar fluido espinhal,
-
10:14 - 10:16e uma dúzia de exames de sangue.
-
10:16 - 10:19Eu fui e voltei, falei com todo tipo
de pessoa da Saúde, -
10:19 - 10:22e ninguém me perguntou da minha casa."
-
10:23 - 10:25A resposta sincera é que,
na área da saúde, -
10:25 - 10:27trata-se dos sintomas sem pensar
-
10:27 - 10:29no que te deixou doente para começar.
-
10:29 - 10:32E há várias razões para isso,
mas as três maiores -
10:32 - 10:35são, primeiro, não pagamos por isso.
-
10:36 - 10:39Na área da Saúde, pagamos
por quantidade e não por qualidade. -
10:40 - 10:41Pagamos médicos e hospitais geralmente
-
10:41 - 10:43pelo número de atendimentos,
-
10:43 - 10:46não por quanto eles melhoram sua saúde.
-
10:46 - 10:49Isso leva a outro fenômeno, que eu chamo
-
10:49 - 10:50de método "não pergunte, não diga"
-
10:50 - 10:52para as questões rio-acima na Saúde.
-
10:52 - 10:54Não perguntamos onde
você mora e trabalha, -
10:54 - 10:58porque se tem um problema lá,
não sabemos o que dizer. -
10:58 - 11:01Não é que os médicos
não saibam que isso é importante. -
11:01 - 11:04Em uma pesquisa recente
feita com médicos nos EUA, -
11:04 - 11:07mais de mil deles, 80% disseram que
-
11:07 - 11:09sabem que os problemas
rio-acima dos pacientes -
11:09 - 11:11são tão importantes quanto as doenças
-
11:11 - 11:12e problemas médicos,
-
11:12 - 11:15e mesmo assim, apesar dessa consciência
-
11:15 - 11:17da importância das questões rio-acima,
-
11:17 - 11:19só um de cada cinco médicos disseram
-
11:19 - 11:21que tinham qualquer confiança
para lidar com esses assuntos, -
11:21 - 11:23para melhorar a saúde no seu início.
-
11:23 - 11:25Existe esse vale entre saber
-
11:25 - 11:27que as vidas dos pacientes,
como vivem e trabalham, -
11:27 - 11:30é importante, e poder
fazer algo a respeito -
11:30 - 11:32com os sistemas que temos.
-
11:32 - 11:34Esse é um problema enorme hoje em dia,
-
11:34 - 11:36porque ele leva à próxima questão, que é
-
11:36 - 11:38"Quem é responsável por isso?"
-
11:38 - 11:40E isso me traz ao terceiro ponto,
-
11:40 - 11:43a terceira resposta à pergunta
estimulante da Veronica. -
11:43 - 11:45Parte da razão de termos essa contradição
-
11:45 - 11:48é porque estamos longe de ter
rios-acima o suficiente -
11:48 - 11:50no sistema de saúde.
-
11:50 - 11:52Não temos o suficiente daquela amiga
-
11:52 - 11:54que vai descobrir
-
11:54 - 11:57quem ou o que está
jogando as crianças na água. -
11:57 - 11:59Agora, há vários rios-acima,
-
11:59 - 12:01e eu tive o privilégio de conhecer vários,
-
12:01 - 12:04em Los Angeles e no resto do país
-
12:04 - 12:05e no resto do mundo,
-
12:06 - 12:08e é importante dizer que eles
-
12:08 - 12:10às vezes são médicos,
mas eles não precisam ser. -
12:10 - 12:13Eles podem ser enfermeiros, clínicos,
-
12:13 - 12:15atendentes, assistentes sociais.
-
12:15 - 12:16O tipo de diploma que um rio-acima
-
12:16 - 12:18tem no final do nome não é importante.
-
12:18 - 12:20Mais importante que isso é que todos
-
12:20 - 12:24compartilhem a habilidade
de criar um processo -
12:24 - 12:26que transforme seu atendimento,
-
12:26 - 12:29e o jeito que exercem a medicina.
-
12:29 - 12:30E esse processo é muito simples.
-
12:30 - 12:33Três lições.
-
12:33 - 12:34Primeiro, eles se sentam e dizem,
-
12:34 - 12:36"Vamos encontrar o problema clínico
-
12:36 - 12:38comum a um grupo de pacientes.
-
12:38 - 12:39Por exemplo, digamos que
-
12:39 - 12:41vamos ajudar crianças
-
12:41 - 12:43que estão indo e voltando do hospital
-
12:43 - 12:45com asma".
-
12:45 - 12:48Depois de identificar o problema,
els vão ao segundo passo, -
12:48 - 12:50e dizem, "Vamos encontrar
a fonte do problema". -
12:50 - 12:54No sistema de saúde, encontrar a causa
-
12:54 - 12:56geralmente quer dizer
"vamos olhar seus genes, -
12:56 - 12:58e como você está agindo.
-
12:58 - 13:00Talvez você não esteja comendo direito.
-
13:00 - 13:01Alimente-se melhor".
-
13:01 - 13:03É um jeito bem simplista
-
13:03 - 13:04de procurar as fontes.
-
13:04 - 13:06Ao que parece, isso não funciona
-
13:06 - 13:08quando nos prendemos
a esse ponto de vista. -
13:08 - 13:10A análise de fonte que um rio-acima
-
13:10 - 13:12coloca na mesa é, por exemplo,
-
13:12 - 13:16vamos ver como você mora e trabalha.
-
13:16 - 13:18Talvez, para as crianças com asma,
-
13:18 - 13:19seja algo dentro de casa,
-
13:19 - 13:22ou talvez eles morem perto de uma rodovia,
-
13:22 - 13:24onde a poluição do ar cause a asma.
-
13:24 - 13:27E talvez seja isso que devamos
nos mobilizar para resolver, -
13:27 - 13:29porque essa terceira parte do processo,
-
13:29 - 13:32é aquela parte vital que
os rios-acima fazem. -
13:32 - 13:34Eles mobilizam os recursos
para criar uma solução, -
13:34 - 13:36dentro do sistema médico
-
13:36 - 13:38e depois, trazendo gente
da Saúde Pública, -
13:38 - 13:40de outros setores, advogados,
-
13:40 - 13:41todo mundo que queira entrar no jogo,
-
13:42 - 13:44vamos pegá-los e criar
uma solução coerente, -
13:44 - 13:46pegar os pacientes que
de fato tem problemas clínicos -
13:46 - 13:48e tratar a fonte do problema de todos,
-
13:48 - 13:51ligando-os aos recursos que precisam.
-
13:51 - 13:53Para mim está claro
que há tantas histórias -
13:53 - 13:55de rios-acima fazendo coisas incríveis.
-
13:55 - 13:58O problema é que não há
muitos deles por aí. -
13:58 - 14:00Estima-se que precisamos de um rio-acima
-
14:00 - 14:03para cada 20 ou 30 médicos
no sistema de saúde. -
14:03 - 14:05Nos EUA, por exemplo, isso significa
-
14:05 - 14:07que precisamos de 25 mil rios-acima
-
14:07 - 14:09até 2020.
-
14:10 - 14:14Mas, pelo que se sabe,
só temos alguns milhares, -
14:14 - 14:17e é por isso que, alguns anos atrás,
eu e meus colegas dissemos, -
14:17 - 14:19"Quer saber, precisamos treinar
-
14:19 - 14:21e criar mais rios-acima.
-
14:21 - 14:23Então decidimos criar uma organização
-
14:23 - 14:25chamada Health Begins,
-
14:25 - 14:28e a Health Begins faz exatamente isso:
treinar rios-acima. -
14:28 - 14:29E medimos nosso sucesso
de vários jeitos, -
14:29 - 14:33mas estamos interessados principalmente
em ter certeza que estamos mudando -
14:33 - 14:34a sensação de confiança,
-
14:34 - 14:36o mantra "não pergunte, não diga".
-
14:36 - 14:39Estamos tentando ter certeza
de que os clínicos, -
14:39 - 14:41e portanto os sistemas em que trabalham,
-
14:41 - 14:43tenham a habilidade, a confiança
-
14:43 - 14:45de encarar os problemas das condições
-
14:45 - 14:48de vida e de trabalho em nossas vidas.
-
14:48 - 14:50Estamos vendo quase o triplo
-
14:50 - 14:52dessa confiança no nosso trabalho.
-
14:52 - 14:53É incrível,
-
14:54 - 14:57mas eu vou contar o que
mais estimula de trabalhar -
14:57 - 15:01com rios-acima, em juntá-los.
-
15:01 - 15:03O que mais estimula é que, a cada dia,
-
15:03 - 15:07a cada semana, eu ouço
histórias como a da Veronica. -
15:08 - 15:11Há histórias por aí da Veronica
e de muitos como ela, -
15:11 - 15:13pessoas que vêm até sistema de saúde
-
15:13 - 15:15e tendo um lampejo do que é
-
15:15 - 15:17fazer parte de algo que funciona,
-
15:17 - 15:20um sistema de saúde que
para de te mandar lá e cá -
15:20 - 15:22e de fato melhora sua saúde,
-
15:22 - 15:23escuta quem você é,
-
15:23 - 15:25e trata do contexto da sua vida,
-
15:25 - 15:28seja você rico, pobre ou de classe média.
-
15:29 - 15:31Essas histórias estimulam porque
-
15:31 - 15:33não apenas elas mostram
que estamos muito perto -
15:33 - 15:36de ter o sistema de saúde que queremos,
-
15:36 - 15:38mas também que há algo
para todos nós fazemos para ajudar. -
15:38 - 15:41Médicos e enfermeiras podem
melhorar com as perguntas -
15:41 - 15:45sobre as condições de vida dos pacientes,
e não só porque é educado, -
15:45 - 15:48mas, francamente, porque
é um nível melhor de tratamento. -
15:48 - 15:50Os sistemas de saúde e os contribuintes
-
15:50 - 15:53podem começar a chamar postos de saúde
-
15:53 - 15:54e hospitais públicos e dizer,
-
15:54 - 15:56vamos olhar os dados juntos.
-
15:56 - 15:59Vamos ver se achamos um padrão
nos dados sobre as vidas dos pacientes -
15:59 - 16:02e ver se conseguimos achar
uma causa rio acima, -
16:02 - 16:04e aí, tão importante quanto,
fazer uso dos recursos -
16:04 - 16:07para resolvê-la?
-
16:07 - 16:10Faculdades de Medicina, de Enfermagem,
todo tipo de curso da área da Saúde -
16:10 - 16:14pode ajudar treinando
a próxima geração de rios-acima. -
16:14 - 16:16Também podemos ter certeza
que essas escolas -
16:16 - 16:19formem uma espinha dorsal
do pensamento rio-acima, -
16:19 - 16:21o profissional da saúde comunitário.
-
16:21 - 16:24Precisamos de mais deles
no sistema de saúde -
16:24 - 16:25se quisermos que ele seja eficaz,
-
16:25 - 16:28que deixe de ser um "sistema de doença"
e seja um sistema de saúde. -
16:28 - 16:30Mas, por fim, e talvez o mais importante,
-
16:30 - 16:33o que fazer? O que fazer como pacientes?
-
16:33 - 16:35Podemos começar indo até nossos médicos,
-
16:35 - 16:37nossos enfermeiros, nossas clínicas,
-
16:37 - 16:39e perguntando, "Tem algo que eu deva saber
-
16:39 - 16:41sobre onde eu moro e trabalho?
-
16:41 - 16:44Há obstáculos à saúde de que eu não saiba,
-
16:45 - 16:46e, mais importante, se houver obstáculos
-
16:46 - 16:49que eu esteja mostrando,
se eu venho até vocês -
16:49 - 16:50e digo que tem algo errado
-
16:50 - 16:53com o meu apartamento ou o meu escritório
-
16:53 - 16:55ou que eu não tenho acesso a transporte,
-
16:55 - 16:56ou que há um parque muito longe,
-
16:56 - 16:58então desculpe, doutor,
eu não posso seguir -
16:58 - 17:00seu conselho de fazer caminhada,
-
17:01 - 17:02se esses problemas existem,
-
17:02 - 17:05então, doutor, você está disposto a ouvir?
-
17:05 - 17:07E o que podemos fazer, juntos,
-
17:07 - 17:09para melhorar minha saúde
onde ela começa?" -
17:09 - 17:12Se todos fizermos isso,
-
17:12 - 17:13os médicos, os sistemas de saúde,
-
17:13 - 17:15os contribuintes, todos nós juntos,
-
17:15 - 17:18vamos perceber uma coisa sobre a saúde.
-
17:18 - 17:21Ela não é uma responsabilidade
ou fenômeno pessoal. -
17:21 - 17:24A saúde é um bem coletivo.
-
17:25 - 17:27Ela vem do nosso
esforço pessoal de entender -
17:27 - 17:29que nossas vidas têm importância,
-
17:29 - 17:31que o contexto de
onde vivemos, trabalhamos, -
17:31 - 17:33comemos e dormimos tem importância,
-
17:33 - 17:35e que o que fazemos para nós mesmos,
-
17:35 - 17:36também devemos fazer para aqueles
-
17:36 - 17:38cujas condições de vida e de trabalho,
-
17:38 - 17:41novamente, podem ser duras,
ou mesmo perigosas. -
17:41 - 17:44Todos podemos ter certeza
que se melhorarmos -
17:44 - 17:46a distribuição de recursos
para cima do rio, -
17:46 - 17:48e ao mesmo tempo trabalharmos juntos
-
17:48 - 17:52e mostrarmos que podemos
mudar o sistema de saúde rio acima, -
17:53 - 17:56podemos melhorar a saúde onde ela começa.
-
17:56 - 17:57Muito obrigado.
-
17:57 - 18:00(Aplausos)
- Title:
- O que nos faz adoecer? Procure rio acima.
- Speaker:
- Rishi Manchanda
- Description:
-
Rishi Manchanda trabalha como médico no Centro-Sul de Los Angeles há mais de dez anos, e lá ele percebeu: seu trabalho não é tratar os sintomas dos pacientes, mas descobrir o que os está deixando doentes — as causas "rio acima", como má alimentação, um emprego estressante e falta de ar fresco. É um forte chamado aos médicos para que prestem atenção na vida do paciente fora do consultório.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:13
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