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A comunicação entre cérebros já chegou. Como conseguimos.

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    Em 12 de junho de 2014,
    exatamente às 15h 33min
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    numa agradável tarde de inverno
    em São Paulo, Brasil,
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    uma tarde típica de inverno
    na América do Sul,
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    este rapaz, este jovem
    que vocês veem aqui, comemorando,
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    como se tivesse feito um gol,
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    Juliano Pinto, de 29 anos,
    realizou uma façanha maravilhosa.
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    Apesar de ser paralítico
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    e não ter qualquer sensibilidade
    do meio do peito aos dedos dos pés,
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    consequência de um acidente de carro,
    seis anos atrás, que matou seu irmão
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    e provocou a lesão completa
    da medula espinhal,
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    que deixou Juliano
    em uma cadeira de rodas,
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    Juliano superou suas dificuldades
    e naquele dia fez algo
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    que as pessoas que o assistiam
    há seis anos julgavam ser impossível.
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    Juliano Pinto deu o chute inicial
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    da Copa do Mundo de Futebol
    de 2014, aqui no Brasil
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    usando apenas o pensamento.
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    Ele não podia movimentar seu corpo,
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    mas podia imaginar os movimentos
    necessários para chutar uma bola.
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    Ele era um atleta antes da lesão.
    Agora ele é um paratleta.
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    Ele vai estar nos Jogos Paralímpicos,
    espero, dentro de dois anos.
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    Mas o que a lesão da medula espinhal
    não roubou de Juliano
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    foi a sua capacidade de sonhar.
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    E naquela tarde ele sonhou,
    em um estádio com cerca de 75 mil pessoas
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    e uma audiência de perto de um bilhão
    de espectadores de TV.
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    E aquele chute coroou, essencialmente,
    30 anos de pesquisa básica
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    estudando como o cérebro,
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    como este maravilhoso universo
    que temos entre as orelhas
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    que é somente comparável ao universo
    situado nas alturas
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    porque ele tem cerca de
    100 bilhões de elementos
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    que se comunicam entre si
    por meio de descargas elétricas,
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    aquilo que o Juliano realizou
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    consumiu 30 anos
    para ser imaginado em laboratórios
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    e cerca de 15 anos para planejar.
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    Quando John Chapin e eu, há 15 anos,
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    propusemos em um trabalho
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    que construiríamos algo a que chamamos
    interface cérebro-máquina
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    isto é, a ligação
    entre um cérebro e dispositivos
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    de modo que animais e humanos
    pudessem movimentar estes dispositivos,
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    a qualquer distância de seus corpos,
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    apenas imaginando
    o que eles desejariam fazer,
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    nossos colegas nos disseram
    que precisávamos de ajuda profissional,
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    de natureza psiquiátrica.
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    Apesar disso, um escocês
    e um brasileiro perseveraram,
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    porque foi assim que fomos educados
    em nossos respectivos países,
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    e durante 12, 15 anos,
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    fizemos demonstrações, uma atrás da outra,
    sugerindo que isto era possível.
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    E uma interface cérebro-máquina
    não é nada excepcional,
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    é só pesquisa sobre o cérebro.
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    Não passa do uso de sensores
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    para ler as descargas elétricas
    que um cérebro produz
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    para gerar comandos motores
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    que devem ser transportados
    medula espinhal abaixo,
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    por isso projetamos
    sensores capazes de ler
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    centenas e agora milhares
    desses sinais cerebrais, simultaneamente,
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    e extraímos destes sinais elétricos
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    o planejamento motor que o cérebro cria
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    para nos movermos pelo espaço ao redor.
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    Assim fazendo, nós convertemos
    os sinais em comandos digitais
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    que qualquer dispositivo
    seja mecânico, seja eletrônico
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    ou até mesmo virtual, possa compreender
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    de modo que o sujeito pode imaginar
    o que ele ou ela quer mover
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    e o dispositivo obedece
    ao comando do cérebro.
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    Conectando a esses dispositivos
    muitos tipos diferentes de sensores,
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    como vocês verão logo a seguir,
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    nós enviamos mensagens
    de volta ao cérebro para confirmar
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    que o desejo motor voluntário
    estava sendo executado, não importa onde:
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    próximo ao sujeito, na vizinhança,
    ou do outro lado do planeta.
  • 4:04 - 4:08
    E quando a mensagem dava
    um feedback ao cérebro,
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    a mente atingia seu objetivo:
    fazer-nos movimentar.
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    Este é apenas um experimento
    que nós publicamos há alguns anos,
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    no qual um macaco, sem mover seu corpo,
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    aprendeu a controlar os movimentos
    de um braço avatar,
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    um braço virtual que não existe.
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    O que vocês estão ouvindo
    é o som do cérebro deste macaco
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    enquanto explora três esferas diferentes,
    visualmente idênticas
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    em um espaço virtual.
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    Para receber uma recompensa,
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    um pouco de suco de laranja
    que os macacos adoram,
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    o animal tem de detectar,
    selecionar um dos objetos
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    pelo tato,
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    não pela visão, mas tocando-o,
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    pois toda vez que a mão virtual
    toca um dos objetos,
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    um pulso elétrico retorna
    ao cérebro do animal
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    descrevendo a textura fina
    da superfície do objeto,
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    e assim o animal pode decidir
    qual o objeto correto que ele deve pegar,
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    e se ele o fizer, ele ganha uma recompensa
    sem mover um músculo.
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    O almoço brasileiro perfeito:
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    sem ter de mover um músculo
    e ganhar o suco de laranja.
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    Quando vimos isto acontecer,
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    nós propusemos a ideia
    que publicamos há 15 anos.
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    Nós republicamos o trabalho.
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    Nós o tiramos da gaveta,
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    e propusemos que talvez pudéssemos fazer
    um ser humano que é paralítico
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    usar a interface cérebro-máquina
    para readquirir mobilidade.
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    A ideia era que se vocês sofressem...
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    e isso pode acontecer
    com qualquer um de nós.
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    Deixe-me contar-lhes, é muito repentino.
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    É um milissegundo em uma colisão,
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    um acidente de automóvel
    que transforma sua vida completamente.
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    Se vocês sofrerem uma lesão total
    da medula espinhal,
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    não poderão se mover
    porque as descargas elétricas
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    não chegarão aos seus músculos.
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    Porém, as descargas elétricas
    continuam a ser geradas pela mente.
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    Pacientes quadriplégicos, tetraplégicos
    sempre sonham que estão se movendo.
  • 5:57 - 5:59
    Eles têm isso em suas mentes.
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    O problema é como captar esse código
  • 6:01 - 6:05
    e criar o movimento novamente.
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    O que nós propusemos foi:
    vamos criar um novo corpo.
  • 6:08 - 6:10
    Vamos criar uma vestimenta robótica.
  • 6:10 - 6:13
    Exatamente graças a isso,
    é que o Juliano pôde chutar aquela bola
  • 6:13 - 6:16
    usando apenas o pensamento,
    porque trajava
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    a primeira vestimenta robótica
    controlada pelo cérebro
  • 6:19 - 6:21
    que pode ser usada por
    paraplégicos e tetraplégicos
  • 6:21 - 6:24
    para que possam se mover
    e recuperar o feedback.
  • 6:24 - 6:27
    Essa era a ideia original, há 15 anos.
  • 6:27 - 6:32
    O que vou mostrar a vocês é como
    156 pessoas de 25 países
  • 6:32 - 6:35
    dos cinco continentes desta linda Terra,
  • 6:35 - 6:38
    mudaram suas vidas,
    deixaram suas patentes,
  • 6:38 - 6:42
    deixaram os cães, esposas,
    filhos, escola, empregos,
  • 6:42 - 6:48
    e se juntaram para vir ao Brasil
    por 18 meses para realmente realizar isto.
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    Poucos anos depois de o Brasil
    ter sido escolhido
  • 6:51 - 6:54
    para realizar a Copa do Mundo,
    soubemos que o governo brasileiro
  • 6:54 - 6:56
    queria promover algo marcante
  • 6:56 - 6:59
    na cerimônia de abertura
    no país que reinventou
  • 6:59 - 7:03
    e aperfeiçoou o futebol,
    até enfrentarmos os alemães, claro.
  • 7:03 - 7:04
    (Risos)
  • 7:04 - 7:06
    Mas isso é outra palestra,
  • 7:06 - 7:10

    com outro neurocientista.
  • 7:10 - 7:12
    O que o Brasil desejava era mostrar
  • 7:12 - 7:14
    um país completamente diferente,
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    um país que valoriza a ciência
    e a tecnologia,
  • 7:17 - 7:21
    e pode presentear milhões,
    25 milhões de pessoas em todo o mundo
  • 7:21 - 7:24
    que não podem mais se mover
    devido a uma lesão na medula espinhal.
  • 7:24 - 7:27
    Bem, dirigimo-nos ao governo brasileiro
    e à FIFA e propusemos,
  • 7:27 - 7:30
    que o chute inicial
    da Copa do Mundo de 2014
  • 7:30 - 7:33
    fosse dado por um paraplégico brasileiro
  • 7:33 - 7:36
    usando um exoesqueleto
    controlado pelo cérebro
  • 7:36 - 7:38
    que o possibilitaria chutar a bola
  • 7:38 - 7:40
    e sentir o contato com ela.
  • 7:40 - 7:43
    Eles nos olharam
    como se fôssemos completamente loucos,
  • 7:43 - 7:45
    e disseram: “Tudo bem, vamos tentar.”
  • 7:45 - 7:50
    Tínhamos 18 meses para fazer tudo,
    a partir do nada.
  • 7:50 - 7:53
    Não tínhamos o exoesqueleto,
    não tínhamos pacientes,
  • 7:53 - 7:54
    e nada havia sido feito.
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    Essas pessoas se uniram
  • 7:57 - 8:01
    e em 18 meses, conseguimos oito pacientes
    em uma rotina de treinamento
  • 8:01 - 8:05
    e basicamente, a partir do nada,
    construímos este cara,
  • 8:05 - 8:08
    a quem chamamos de Brasil-Santos Dumont 1.
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    O primeiro exoesqueleto
    controlado pelo cérebro
  • 8:13 - 8:17
    foi batizado em homenagem
    ao mais famoso cientista brasileiro,
  • 8:17 - 8:19
    Alberto Santos Dumont,
  • 8:19 - 8:25
    quem, em 19 de outubro de 1901,
    construiu e ele mesmo pilotou,
  • 8:25 - 8:32
    em Paris, a primeira aeronave controlada,
    vista por milhões de pessoas,
  • 8:32 - 8:34
    Desculpem, meus amigos americanos,
  • 8:34 - 8:36
    Eu vivo na Carolina do Norte,
  • 8:36 - 8:40
    mas isso aconteceu dois anos antes
    do voo dos Irmãos Wright
  • 8:40 - 8:42
    na costa da Carolina do Norte.
  • 8:42 - 8:45
    (Aplausos)
  • 8:45 - 8:50
    O controle de voo é brasileiro.
    (Risos)
  • 8:50 - 8:53
    Então junto com esse pessoal
  • 8:53 - 8:56
    basicamente montamos este exoesqueleto,
  • 8:56 - 9:00
    com 15 graus de liberdade,
    uma máquina hidráulica,
  • 9:00 - 9:03
    que pode ser comandada
    por sinais do cérebro
  • 9:03 - 9:05
    registrados por uma tecnologia
    não invasiva,
  • 9:05 - 9:07
    chamada eletroencefalografia,
  • 9:07 - 9:10
    que em síntese permite ao paciente
    imaginar seus movimentos
  • 9:10 - 9:14
    e mandar seus comandos
    para os controles, os motores,
  • 9:14 - 9:16
    e consegue realizá-los.
  • 9:16 - 9:19
    O exoesqueleto foi recoberto
    com uma pele artificial
  • 9:19 - 9:23
    inventada por Gordon Cheng,
    um dos meus melhores amigos, em Munique,
  • 9:23 - 9:28
    para que as sensações do movimento
    das articulações e do pé ao tocar o chão
  • 9:28 - 9:32
    pudessem ser enviadas de volta ao paciente
    por meio da vestimenta, uma camisa.
  • 9:32 - 9:35
    É uma camisa inteligente
    dotada de elementos microvibrantes
  • 9:35 - 9:40
    que basicamente levam o feedback
    e enganam o cérebro do paciente
  • 9:40 - 9:43
    ao criar uma sensação de que
    não é a máquina que o carrega,
  • 9:43 - 9:46
    mas é ele que está andando novamente.
  • 9:46 - 9:49
    Então conseguimos fazer isto funcionar
    e o que veem aqui
  • 9:49 - 9:54
    é um dos nossos pacientes,
    Bruno, andando pela primeira vez.
  • 9:54 - 9:57
    Ele demora alguns segundos
    porque estamos ajustando tudo,
  • 9:57 - 10:00
    e vocês verão uma luz azul
    na frente do capacete
  • 10:00 - 10:04
    porque Bruno vai imaginar
    o movimento que deve ser executado,
  • 10:04 - 10:07
    o computador irá analisá-lo
    Bruno vai autorizá-lo,
  • 10:07 - 10:09
    e quando autorizado,
  • 10:09 - 10:13
    o dispositivo começa a movimentar-se
    sob o comando do cérebro do Bruno.
  • 10:13 - 10:17
    O dispositivo entendeu bem,
    e agora ele começa a andar.
  • 10:17 - 10:20
    Depois de nove anos
    sem ser capaz de se mover,
  • 10:20 - 10:23
    ele está andando sozinho.
  • 10:23 - 10:24
    E mais do que isso...
  • 10:24 - 10:28
    (Aplausos)
  • 10:28 - 10:29
    mais do que simplesmente andar,
  • 10:29 - 10:32
    ele está sentindo o chão,
  • 10:32 - 10:34
    e se a velocidade
    do exoesqueleto aumentar,
  • 10:34 - 10:38
    ele nos diz que está andando novamente
    nas areias de Santos,
  • 10:38 - 10:42
    a praia que ele frequentava
    antes do acidente que sofreu.
  • 10:42 - 10:46
    Isso é porque o cérebro cria
    uma nova sensação na mente do Bruno.
  • 10:46 - 10:49
    Então ele anda, e ao fim da caminhada…
    Eu já estou esgotando meu tempo...
  • 10:49 - 10:52
    ele diz: “Sabe, pessoal,
  • 10:52 - 10:55
    preciso pedir isso emprestado a vocês
    quando me casar,
  • 10:55 - 10:57
    porque eu queria andar até o padre
  • 10:57 - 11:01
    e ver minha noiva e estar ali
    por meus próprios meios.”
  • 11:01 - 11:04
    É claro que ele o terá
    a hora que ele quiser.
  • 11:04 - 11:09
    Isso é o que queríamos ter mostrado
    durante a Copa do Mundo e não conseguimos,
  • 11:09 - 11:13
    porque, por alguma razão misteriosa,
    a FIFA cortou sua transmissão na metade.
  • 11:14 - 11:16
    O que vocês verão muito rapidamente
  • 11:16 - 11:21
    é Juliano Pinto,
    no exoesqueleto, dar o chute
  • 11:21 - 11:24
    poucos minutos antes do início da partida
  • 11:24 - 11:26
    e o fez ao vivo,
    diante de toda a multidão,
  • 11:26 - 11:30
    e as luzes que vocês verão
    descrevem a operação.
  • 11:30 - 11:35
    Basicamente, as luzes azuis que pulsam
    indicam que o exoesqueleto está pronto,
  • 11:35 - 11:38
    que ele pode receber pensamentos
    e enviar feedback,
  • 11:38 - 11:41
    e quando Juliano tomar a decisão
    de chutar a bola,
  • 11:41 - 11:44
    vocês vão ver duas linhas
    de luz verde e amarela
  • 11:44 - 11:47
    que descem do capacete
    e vão até às pernas,
  • 11:47 - 11:51
    que representam os comandos mentais
    recebidos pelo exoesqueleto
  • 11:51 - 11:53
    para fazer aquilo acontecer.
  • 11:53 - 11:55
    E basicamente em 13 segundos,
  • 11:55 - 11:57
    Juliano realmente o fez.
  • 11:57 - 11:59
    Vocês podem ver os comandos.
  • 11:59 - 12:03
    Ele se prepara,
    a bola é colocada e ele chuta.
  • 12:03 - 12:05
    A coisa mais surpreendente é:
  • 12:05 - 12:09
    10 segundos depois que o fez,
    olhou-nos do local de apresentação,
  • 12:09 - 12:11
    e nos disse, comemorando como viram,
  • 12:11 - 12:13
    “Eu senti a bola.”
  • 12:14 - 12:16
    E isso não tem preço.
  • 12:16 - 12:18
    (Aplausos)
  • 12:18 - 12:19
    Então, aonde isto vai dar?
  • 12:19 - 12:21
    Eu tenho dois minutos para lhes contar
  • 12:21 - 12:24
    que vai nos levar aos limites
    da nossa imaginação.
  • 12:24 - 12:26
    A tecnologia por ação do cérebro chegou.
  • 12:26 - 12:29
    Esta é a mais recente: Nós
    a publicamos há um ano,
  • 12:29 - 12:31
    a primeira interface cérebro-cérebro
  • 12:31 - 12:35
    que permite que dois animais
    troquem mensagens mentais
  • 12:35 - 12:38
    de modo que um animal que vê algo
    vindo do meio ambiente
  • 12:38 - 12:44
    possa enviar um SMS mental, um torpedo,
    um torpedo neurofisiológico,
  • 12:44 - 12:46
    para o segundo animal,
  • 12:46 - 12:50
    e o segundo animal executa
    o ato que ele precisava realizar
  • 12:50 - 12:54
    sem nunca saber qual era a mensagem
    enviada pelo meio ambiente,
  • 12:54 - 12:57
    porque a mensagem vinha
    do cérebro do primeiro animal.
  • 12:57 - 13:00
    Este é o primeiro demo.
  • 13:00 - 13:04
    Serei bem rápido,
    pois desejo mostrar-lhes o mais recente.
  • 13:04 - 13:09
    O que veem aqui é
    o primeiro rato receber a informação
  • 13:09 - 13:12
    por uma luz que aparecerá
    à esquerda da gaiola
  • 13:12 - 13:15
    que ele tem que pressionar
    o lado esquerdo da gaiola
  • 13:15 - 13:16
    para receber a recompensa.
  • 13:16 - 13:18
    Ele vai até lá e o faz.
  • 13:18 - 13:20
    Ao mesmo tempo,
    ele manda uma mensagem mental
  • 13:20 - 13:23
    para o segundo rato
    que não viu qualquer luz,
  • 13:23 - 13:25
    e o segundo rato, em 70% das vezes
  • 13:25 - 13:30
    irá pressionar a alavanca esquerda
    e receber a recompensa
  • 13:30 - 13:34
    sem nunca ter experimentado
    a luz na retina.
  • 13:34 - 13:38
    Bem, isso foi levado
    a um limite mais elevado
  • 13:38 - 13:43
    fazendo macacos colaborarem
    por meio de uma rede mental,
  • 13:43 - 13:45
    basicamente para doar
    as atividades cerebrais
  • 13:45 - 13:48
    e combiná-las para mover
    o braço virtual que lhes mostrei antes,
  • 13:48 - 13:53
    e o que vocês veem aqui é a primeira vez
    que dois macacos combinam seus cérebros,
  • 13:53 - 13:57
    sincronizam perfeitamente seus cérebros
    para conseguir mover o braço virtual.
  • 13:57 - 14:00
    Um macaco controla a dimensão x,
  • 14:00 - 14:03
    o outro macaco controla a dimensão y.
  • 14:03 - 14:07
    Mas fica mais interessante
    quando três macacos são colocados ali
  • 14:07 - 14:11
    e pede-se que um macaco controle x e y,
  • 14:11 - 14:14
    o outro macaco controle y e z,
  • 14:14 - 14:17
    e o terceiro controle x e z,
  • 14:17 - 14:19
    e faz-se que todos juntos
    participem do jogo,
  • 14:19 - 14:22
    movendo o braço em 3D até um alvo
  • 14:22 - 14:25
    para receber o famoso
    suco de laranja brasileiro.
  • 14:25 - 14:27
    E eles realmente o fazem.
  • 14:27 - 14:31
    O ponto preto é a média
    de todos esse trabalho mental
  • 14:31 - 14:34
    em paralelo, em tempo real.
  • 14:34 - 14:37
    Essa é a definição
    de um computador biológico,
  • 14:37 - 14:42
    que interage pela atividade cerebral
    e atinge um alvo motor.
  • 14:42 - 14:44
    Aonde isso vai dar?
  • 14:44 - 14:46
    Não faço ideia.
  • 14:46 - 14:48
    Somos apenas cientistas.
  • 14:48 - 14:49
    (Risos)
  • 14:49 - 14:52
    Somos pagos para sermos crianças,
  • 14:52 - 14:56
    para essencialmente irmos ao limite
    e descobrir o que está ali.
  • 14:56 - 14:57
    Mas sei de uma coisa:
  • 14:57 - 15:00
    Um dia, dentro de poucas décadas,
  • 15:00 - 15:03
    quando nossos netos surfarem
    a internet apenas com o pensamento,
  • 15:03 - 15:07
    ou quando uma mãe doar sua visão
    a um filho autista que não pode enxergar,
  • 15:07 - 15:10
    ou alguém falar devido a
    um atalho cérebro-cérebro,
  • 15:10 - 15:17
    alguns de vocês lembrarão
    que tudo começou numa tarde de inverno
  • 15:17 - 15:21
    num campo de futebol brasileiro
    com um chute impossível.
  • 15:21 - 15:22
    Obrigado.
  • 15:22 - 15:26
    (Aplausos)
  • 15:47 - 15:51
    Bruno Giussani: Miguel,
    obrigado por não ultrapassar o seu tempo.
  • 15:51 - 15:53
    Na verdade eu lhe daria
    mais alguns minutos,
  • 15:53 - 15:56
    porque há alguns pontos
    que eu gostaria de detalhar,
  • 15:56 - 15:58
    parece claro que os cérebros
    devem ser conectados
  • 15:58 - 16:00
    para saber aonde vamos.
  • 16:00 - 16:03
    Então vamos todos nos conectar.
  • 16:03 - 16:04
    Se eu entendi corretamente,
  • 16:04 - 16:07
    um dos macacos recebe um sinal
  • 16:07 - 16:09
    e o outro macaco reage àquele sinal
  • 16:09 - 16:13
    porque o primeiro o recebe
    e transmite o impulso neurológico.
  • 16:13 - 16:15
    Miguel Nicolelis:
    Não, é um pouco diferente.
  • 16:15 - 16:19
    Nenhum macaco sabe da existência
    dos outros dois.
  • 16:19 - 16:22
    Eles recebem um feedback visual em 2D,
  • 16:22 - 16:24
    mas eles devem realizar a tarefa em 3D.
  • 16:24 - 16:27
    Eles têm que movimentar um braço
    em três dimensões.
  • 16:27 - 16:30
    Mas cada macaco recebe apenas
    as duas dimensões na tela do vídeo
  • 16:30 - 16:32
    que os macacos controlam.
  • 16:32 - 16:35
    E para que isso seja feito,
  • 16:35 - 16:38
    deve ter pelo menos dois macacos
    que sincronizem seus cérebros,
  • 16:38 - 16:40
    mas o ideal é três.
  • 16:40 - 16:43
    Descobrimos que quando um macaco
    começa a fazer corpo mole,
  • 16:43 - 16:46
    os outros dois melhoram seus desempenhos
  • 16:46 - 16:48
    para fazer o cara voltar a cooperar,
  • 16:48 - 16:50
    de modo que há um ajuste dinâmico,
  • 16:50 - 16:54
    mas a sintonia global continua a mesma.
  • 16:54 - 16:57
    Agora, se não se informar aos macacos
  • 16:57 - 16:59
    a dimensão que cada cérebro
    deve controlar,
  • 16:59 - 17:02
    como este cara que controla x e y,
  • 17:02 - 17:04
    mas que deveria estar controlando y e z,
  • 17:04 - 17:09
    imediatamente, o cérebro do animal
    esquece as dimensões antigas
  • 17:09 - 17:11
    e passa a se concentrar
    nas novas dimensões.
  • 17:11 - 17:15
    Preciso dizer que não existe
    uma máquina de Turing,
  • 17:15 - 17:19
    nenhum computador pode prever
    o que uma rede cerebral fará.
  • 17:19 - 17:21
    Logo, absorveremos tecnologias
    como parte de nós.
  • 17:21 - 17:24
    As tecnologias nunca irão nos absorver.
  • 17:24 - 17:26
    É simplesmente impossível.
  • 17:26 - 17:30
    BG: Quantas vezes isso foi testado?
  • 17:30 - 17:32
    E quantas vezes houve sucesso?
    Quantas vezes houve fracasso?
  • 17:32 - 17:34
    MN: Oh, dezenas de vezes.
  • 17:34 - 17:37
    Com os três macacos? Oh, várias vezes.
  • 17:37 - 17:39
    Eu não falaria disso aqui
  • 17:39 - 17:41
    a menos que eu o tivesse feito
    algumas vezes.
  • 17:41 - 17:44
    E esqueci de mencionar, devido ao tempo,
  • 17:44 - 17:49
    que há apenas três semanas
    um grupo europeu demonstrou
  • 17:49 - 17:53
    a primeira conexão
    cérebro humano-cérebro humano.
  • 17:53 - 17:54
    BG: E como é isso?
  • 17:54 - 17:56
    MN: Era só um bit de informação,
  • 17:56 - 17:59
    mas as grandes ideias
    começam de modo tímido...
  • 17:59 - 18:05
    basicamente, a atividade cerebral
    de um indivíduo
  • 18:05 - 18:09
    foi transmitida a um segundo indivíduo,
    tudo por tecnologias não invasivas.
  • 18:09 - 18:14
    O primeiro sujeito recebeu uma mensagem,
    como os ratos, uma mensagem visual,
  • 18:14 - 18:16
    e a transmitiu ao segundo indivíduo.
  • 18:16 - 18:21
    O segundo indivíduo recebeu
    um pulso magnético em seu córtex visual,
  • 18:21 - 18:24
    ou um pulso diferente,
    dois pulsos diferentes.
  • 18:24 - 18:27
    Em um pulso, o indivíduo via algo.
  • 18:27 - 18:29
    No outro pulso, ele via algo diferente.
  • 18:29 - 18:31
    E ele era capaz de indicar verbalmente
  • 18:31 - 18:34
    qual era a mensagem que
    o primeiro sujeito mandara
  • 18:34 - 18:37
    pela internet, entre continentes.
  • 18:37 - 18:39
    Moderador: Uau.
    Certo, é para onde estamos indo.
  • 18:39 - 18:42
    Essa é a próxima Palestra TED
    na próxima conferência.
  • 18:42 - 18:45
    Miguel Nicolelis, obrigado.
    MN: Obrigado, Bruno. Obrigado.
Title:
A comunicação entre cérebros já chegou. Como conseguimos.
Speaker:
Miguel Nicolelis
Description:

Vocês devem se lembrar do neurocientista Miguel Nicolelis — ele construiu o exoesqueleto controlado pela mente que permitiu a um homem com paralisia dar o chute inicial da Copa do Mundo de 2014. Em que ele trabalha atualmente? Na construção de meios para que duas mentes (de ratos e macacos, por enquanto) enviem mensagens de um cérebro para o outro. Assistam até o final para verem um experimento que ele diz ir “ao limite de sua imaginação”.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:57

Portuguese, Brazilian subtitles

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