A orquestra "faça-você-mesmo" do futuro

Ge Wang faz música computacional, mas isto não é feito apenas de códigos. Em conjunto com a Stanford Laptop Orchestra, ele cria novos instrumentos a partir de materiais inusitados - como uma tigela da Ikea - que permitem músicos tocarem músicas que são belas e expressivas.

Eu quero falar com vocês sobre uma coisa

e apenas uma coisa,

que tem a ver com quando
as pessoas me perguntam

O que você faz?

E intuitivamente eu respondo:

eu faço música computacional

Agora, algumas pessoas

param de me dar atenção aí,

e o restante que sobrou geralmente tem

uma interrogação no olhar,

como se falassem, " o que isso significa?"

E eu sinto que, na verdade,
estou privando-os

de informação falando assim,

então geralmente entro em pânico

digo a primeira coisa
que me vem em mente, que é

eu não tenho ideia do que estou fazendo.

O que é verdade.

Isso geralmente é seguido
por um segundo pensamento

que é, seja lá o que eu estiver fazendo,

eu amo.

E hoje, eu quero, bem,

dividir com vocês uma coisa que eu amo,

e também por quê.

E acho que vamos
começar com esta pergunta:

O que é música computacional?

E eu vou tentar o meu melhor
para dar a definição.

Talvez contando uma históra

que mostra algumas das coisas

em que tenho trabalhado.

E a primeira coisa em nossa história

vai ser algo chamado ChucK.

ChucK é uma linguagem
de programação para música,

é open-source,
está disponível gratuitamente,

e gosto de pensar que ele trava muito bem

em todos os sistemas
operacionais modernos.

E em vez de falar mais sobre ele,

vou fazer uma demonstração.

Aliás, eu vou dar uma de nerd

por alguns minutos aqui,

então diria, não se apavorem.

Na verdade, eu os convidaria todos
a se juntarem a mim

nesta tarefa de nerd.

Se nunca escreveram uma
linha de código na vida,

não se preocupem.

Eu aposto que vão conseguir entender.

A primeira coisas é fazer

um oscilador de onda senoidal

e vamos chamar o oscilador
de onda senoidal

"Ge".

E então vamos conectar o Ge ao DAC.

Este é um tipo de abstração

do som que sai do meu computador.

Assim, eu me conectei ao microfone.

Em seguida, vamos dizer
que minha frequência

é 440 hertz,

e vou deixar dois segundos

adiantados nesta operação.

Então, se eu tocar isto...

(Som)

Vocês ouvem uma onda senoidal
de 440 hertz por dois segundos

Ok, ótimo. Agora eu copio e colo isto,

e aí mudo alguns destes números,

220,5; 440 vou deixar assim,

e 0,5 e 880.

Duplicando a frequência,

nós estamos subindo oitavas sucessivas

e então temos esta sequência...

(Som) de tons.

Ok, ótimo. Agora eu posso criar

todos tipos de pedaços de música horrível

de onda senoidal com isto,

mas vou fazer algo
em que computadores são muito bons,

que é repetição.

Vou colocar tudo isto em repetição,

e não precisamos indentar,

mas só por razões puramente estéticas.

É uma boa prática.

E quando fazemos isto...

(Sons)

Vai continuar por um tempo.

Na verdade, não vai parar

até que o computador desintegre.

E posso provar isso
empiricamente para vocês,

mas eu espero que acreditem em mim.

Próximo passo, eu vou mudar este 220

para math.random2f

Eu vou gerar um número aleatório

entre 30 e 1000 e enviá-lo

para a minha frequência.

E eu vou fazer isso a cada meio segundo

(Sons)

Vamos fazer isso
a cada 200 milissegundos.

(Sons)

Cem.

(Sons)

Certo.

Nesse ponto, nós alcançamos algo

que eu gosto de encarar como

música computacional canônica

Isto é, para mim, o som que os mainframes

deveriam fazer

quando eles estão pensando muito.

Este som é como,

a raíz quadrada de 5 milhões.

Então, será que isso
é música computacional?

Eu acho que sim pela definição,

é tipo música computacional.

Esse provavelmente não é
o tipo de música que você

ouviria dirigindo na estrada,

mas é a base da música
gerada em computador,

e usando ChucK

nós já criamos instrumentos

na Stanford Laptop Orchestra,

que fica aqui no Centro Stanford

para Pesquisa Computacional
em Música e Acústica.

A Laptop Orchestra
é um conjunto de laptops,

pessoas e uma série de auto-falantes
hemisféricos especiais.

A razão pela qual temos isso

é para que os instrumentos que nós criamos

dos laptops, nós queremos que o som

que sai em algum lugar
perto do instrumento

e do músico

muito mais como instrumento
acústico tradicional,

como se eu tocasse violino aqui,

o som não sairia naturalmente do

sistema PA mas do próprio instrumento.

Esses auto-falantes
são feitos para emular isso.

Na verdade, eu vou mostrar a vocês

como nós os construímos.

O primeiro passo foi ir para o IKEA

e comprar uma tigela para salada.

Esta é uma Blanda Matt de 28cm.

Este é o nome de verdade,

e eu uso mesmo uma dessas

para fazer salada em casa, de verdade.

E o primeiro passo é virá-la
de ponta-cabeça

e fazer buracos,

seis buracos por cada metade

e então faz um prato de base,

coloca auto-falantes de carro

com alguns amplificadores no fechamento,

e coloca tudo junto e temos

estas séries
de auto-falantes hemisféricos.

Adicione pessoas, adicione laptops,

e temos uma orquestra de laptops.

E como é o som
de uma orquestra de laptop?

Bem, deixem-me dar uma demonstração

dos aproximadamente 200 instrumentos

que nós criamos
até agora para a Laptop Orchestra.

E o que eu vou fazer é
caminhar até esta coisa.

Esta coisa que eu tenho aqui em frente

é usada como um commodity
de controle de videogame

chamado de Gametrak

Ele tem uma luva em que
dá para colocar as mãos

Fica preso à base,

e vai rastrear a posição de suas mãos

em tempo real.

Esta luva foi criada
para ser um controle de golfe

para detectar movimentos de balanço,

e acabou sendo um grande

fracasso comercial,

até um ponto em que baixaram
o preço para 10 dólares,

até o ponto em que pesquisadores
de música computacional

disseram: "Isso é maravilhoso!"

"Podemos fazer protótipos
de instrumentos com isso!"

Então, deixa eu mostrar um instrumento que

nós criamos, um de muitos,

que é chamado "Crepúsculo",

e isto significa usar uma metáfora

para extrair som do chão.

Então, vamos ver se funciona.

(Música)

De volta ao lugar.

Se for pra esquerda...

(Som)

Direita...

(Som)

Parece um elefante em dor.

Este é um som suavemente metálico.

Ajustando um pouquinho

(Som)

É como um carro flutuante.

Ok.

Este terceiro é como uma catraca, então

vou ajustar

(Som)

Uma interação levemente diferente.

O quarto é um drone.

(Música)

E finalmente,

esta é uma interação
totalmente diferente,

e acho que vocês têm
que imaginar que há

um tambor invisível gigante
bem aqui no palco

e eu vou tocá-lo

(Tambor)

(Risos)

E então aqui está um dos muitos

instrumentos na Laptop Orchestra

(Aplausos)

Obrigado.

E quando os juntamos,

temos algo que soa assim.

(Música)

Ok, eu acho que dessa experiência

de construir muitos instrumentos
para a Laptop Ochestra

e acho que da curiosidade de imaginar,

e se a nós pegássemos

esses instrumentos
possivelmente expressivos

e os levássemos a muitas pessoas

e então num ataque saudável de insanidade;

juntar as três coisas;

me levou a co-fundar uma empresa inovadora

em 2008, chamada Smule.

A missão da Smule é criar

coisas musicais expressivas móveis,

e um dos primeiros instrumentos musicais

que criamos é chamado de Ocarina.

E eu vou demonstrar rapidamente.

Então, a Ocarina...

(Som)

é baseada neste antigo instumento parecido

com a flauta, chamado ocarina.

e esta é o tubo inglês de quatro furos

e você literalmente sopra no microfone

pra fazer o som.

E existe um pouco de linguagem ChucK

rodando aqui que detecta

a força do seu sopro

e também produz o som

(Música)

E o vibrato é mapeado pelo acelerômetro

então há...

(Música)

Certo. Vou tocar
um pequena cantiga para vocês

Um pouco de Bach

E aqui, dá para ouvir
o acompanhamento com a melodia

O acompanhamento,
na verdade, segue a melodia,

e não o contrário.

(Música)

E isto foi desenhado

para deixar o tempo necessário

para descobrir onde é
seu espaço expressivo

e podem esperar aqui

por enquanto, para ter um efeito
realmente dramático, se quiserem

e quando estiverem prontos --

(Música)

E nestas notas longas

eu vou usar mais vibrato no fim das notas

pra dar um pouco mais
de qualidade expressiva.

(Música)

Uh, este é um bom acorde
para terminar esta parte.

(Aplausos)

Obrigado.

Acho que uma boa pergunta
sobre a Ocarina é

Isso é um brinquedo ou um instrumento?

Talvez os dois

mas pra mim, acho
que a pergunta mais importante é,

será que é expressivo?

E ao mesmo tempo eu penso

que criar estes tipos de intrumentos

levantam a questão
sobre o papel da tecnologia

e como fazemos música com ela.

Aparentemente, por exemplo,

não há muito tempo, há apenas cem anos;

nem tanto tempo assim na história humana,

as famílias daquele tempo

faziam música juntos

como forma comum de entretenimento

Não acho que isso acontece hoje em dia

tanto quanto antes.

Isso era antes do rádio, da gravação.

Nos últimos cem anos,
com toda esta tecnologia,

agora temos muito mais acesso à música

como ouvintes e consumidores

mas de algum jeito,
estamos criando menos música

do que nunca.

Não sei bem por quê.

Talvez porque é muito fácil
só apertar o play.

E enquanto ouvir música é maravilhoso

existe um prazer especial em fazer música,

que é todo dele mesmo.

E acho que essa é uma parte

do motivo pelo qual faço o que faço.

É um pouco como nos levar
para o passado, certo?

Agora, se esse é um objetivo, o outro é

olhar para o futuro e pensar sobre

que tipo de novas coisas
musicais podemos fazer

para as quais talvez
nem tenhamos nome ainda

que a tecnologia possibilita,
mas no fim das contas

pode mudar o modo
como criamos música.

E eu vou dar um exemplo aqui,

esta é uma outra
característica da Ocarina.

Este é um globo,

e aqui dá para escutar

outros usuários da Ocarina

soprarem seus iPhones
para tocar alguma coisa.

Este é "G.I.R." do Texas,

"R.I.K.", não sei porque estes nomes
com três letras, de Los Angeles.

Eles estão tocando bem,

de alguma forma
há um mínimo de música aqui.

(Sons)

E a ideia é que

tecnologia não deve ficar
em segundo plano aqui,

e... (Risos)

Nós fomos pioneiros.

A primeira ideia é que

tem alguém em algum lugar lá fora

tocando música

e é uma conexão humana pequena,

mas importante para fazer

que talvez a tecnologia permita.

Como um exemplo final,

e talvez o meu favorito,

após o terremoto de 2011

e o tsunami que atingiram o Japão

uma mulher acionou
um dos nossos aplicativos de canto

para tentar reunir pessoas
para cantar com ela

a versão de "Lean on Me".

Nesses aplicativos,
tem uma coisa que permite

qualquer usuário adicionar sua voz

em uma gravação feita
por qualquer outro usuário

ou grupo de usuários,

então de certa forma, ela criou

esse tipo de coral global
espontâneo de estranhos,

e em uma semana, milhares de pessoas

se conectaram,

e dá para ver pessoas de todo o mundo

e todas estas linhas
convergindo para a origem

onde a primeira versão
da música foi cantada,

em Tóquio.

É assim que soa
quando há mil pessoas.

Isto são mil vozes.

(Gravação)

♪ Às vezes na nossa vida ♪

♪ Todos nós sentimos dor,
todos sentimos tristeza ♪

♪ Mas se formos sábios ♪

♪ Nós sabemos que sempre há o amanhã ♪

♪ Apoie-se em mim ♪

♪ Quando você não tiver força ♪

♪ Eu serei seu amigo ♪

♪ Eu vou te ajudar a continuar ♪

♪ Porque não vai demorar muito ♪

♪ Até eu precisar ♪

♪ De alguém para me apoiar ♪

♪ Então apoie-se... ♪

Será que isso é música computacional?

(Aplausos)

Será que era música computacional?

Bem, eu acredito que sim,
é algo que jamais

faríamos sem computadores.

Mas, ao mesmo tempo é algo apenas humano,

e eu acho que o que respondi
até agora, essencialmente,

é talvez por que faço as coisas que faço.

Vamos voltar à primeira pergunta:

O que é "música computacional"?

E eu acho que a pegada aqui é,

pelo menos pra mim, música computacional

não se trata de computador.

E sim de pessoas.

Trata-se de como usamos tecnologia

para mudar o modo
como pensamos e fazemos,

e como fazemos música,

e talvez até mesmo
acrescentar como podemos

nos conectar através da música.

E com iso eu quero dizer

que isso é musica computacional

e obrigado por ouvirem.

(Aplausos)