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Reconsiderar o museu de arte no século XXI | Dana Kletchka | TEDxPSU

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    Olá, vou pedir-vos que,
    durante uns instantes,
  • 0:22 - 0:25
    fechem os olhos e descontraiam-se
  • 0:25 - 0:27
    recostem-se nos vossos assentos
  • 0:27 - 0:31
    e pensem nas recordações mais antigas
    que têm de um museu de arte.
  • 0:32 - 0:34
    Quais são as coisas
    que vos vêm à memória?
  • 0:34 - 0:36
    É o edifício?
  • 0:36 - 0:38
    É a arquitetura?
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    São as pessoas com quem estavam?
  • 0:40 - 0:42
    São os objetos?
  • 0:42 - 0:45
    Guardem essas recordações
    na vossa cabeça, enquanto falo
  • 0:45 - 0:48
    porque voltaremos a elas.
  • 0:48 - 0:50
    Por agora, podem abrir os olhos.
  • 0:51 - 0:55
    Eu apaixonei-me pelos museus de arte
    quando era rapariguinha.
  • 0:55 - 0:57
    O meu pai levava-nos,
    ao meu irmão gémeo e a mim
  • 0:57 - 1:00
    ao Museu de Arte Nelson-Atkins
    em Kansas City, no Missouri,
  • 1:00 - 1:03
    nos dias de folga da família.
  • 1:03 - 1:07
    Lembro-me de atravessar a praça,
    sentada no banco traseiro do carro.
  • 1:07 - 1:10
    O meu pai conduzia através do jardim
  • 1:10 - 1:12
    e eu via as esculturas no jardim.
  • 1:12 - 1:16
    Ficava muito entusiasmada
    porque sabia o que ia acontecer.
  • 1:16 - 1:19
    Enquanto ele procurava
    um local para estacionar,
  • 1:19 - 1:22
    o meu entusiasmo ia aumentando.
  • 1:22 - 1:26
    Eu via "O Pensador" de Rodin,
    sentado no exterior do museu
  • 1:26 - 1:29
    com a mão por baixo do queixo,
  • 1:29 - 1:33
    o corpo tenso de concentração,
    o cotovelo apoiado no joelho.
  • 1:33 - 1:35
    Passávamos por ele
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    e por baixo daquelas belas colunas
  • 1:37 - 1:40
    e das portas da frente
    que me acenavam para eu entrar.
  • 1:41 - 1:43
    Devemos ter lá ido bastantes vezes
  • 1:43 - 1:45
    e passado lá bastante tempo,
  • 1:45 - 1:47
    porque aquele local tornou-se-me familiar
  • 1:47 - 1:50
    e encontrei ali uma ligação
    com coisas muito belas
  • 1:50 - 1:53
    como uma natureza morta
    de flores de Jan van Huysum.
  • 1:53 - 1:56
    É um "memento mori"
    chamado "Jarra de flores".
  • 1:56 - 1:59
    Lembro-me de pensar que,
    se pudesse ficar ali tempo suficiente,
  • 1:59 - 2:01
    ouviria o zumbir das abelhas
  • 2:01 - 2:04
    ou poderia tocar na suavidade das pétalas
  • 2:04 - 2:09
    ou ainda poder aspirar o aroma das flores.
  • 2:10 - 2:14
    Também recordo a beleza requintada
    dum quadro de Caravaggio,
  • 2:14 - 2:16
    de São João Batista.
  • 2:16 - 2:20
    Recordo a pele macia dele,
    o seu cabelo e a capa vermelha.
  • 2:20 - 2:23
    E recordo a sujidade das unhas dos pés.
  • 2:23 - 2:26
    São estas as coisas de que me lembro.
  • 2:26 - 2:29
    Penso nisso e nem posso acreditar
  • 2:29 - 2:33
    que eu julgava que tinham posto ali
    aquelas coisas todas só para mim.
  • 2:33 - 2:34
    Eu era uma miúda de seis anos
  • 2:34 - 2:37
    e tinham-nas posto ali só para mim.
  • 2:37 - 2:41
    Agora, já há 20 anos
    que trabalho em museus de arte,
  • 2:41 - 2:44
    criando oportunidades para as pessoas
    se relacionarem umas com as outras,
  • 2:44 - 2:47
    com a arte e com a cultura.
  • 2:47 - 2:49
    Tenho pensado muito nas razões
  • 2:49 - 2:51
    por que as pessoas gostam
    de ir a museus de arte.
  • 2:51 - 2:55
    E também penso nas razões
    por que as pessoas não gostam de ir.
  • 2:55 - 2:57
    Estou muito interessada
    para ver o que vai acontecer
  • 2:57 - 3:00
    com os museus de arte, no século XXI.
  • 3:00 - 3:03
    Ora bem, tenho uma pergunta para vocês.
  • 3:03 - 3:05
    Nos EUA, os museus são comparados
    com frequência
  • 3:05 - 3:07
    a duas outras instituições.
  • 3:07 - 3:09
    Alguém sabe quais são?
  • 3:09 - 3:11
    Podem dizer em voz alta.
  • 3:12 - 3:14
    Audiência: Bancos.
  • 3:14 - 3:17
    Dana Kletchka: Bancos, ok.
    Faz sentido, mais alguma?
  • 3:18 - 3:19
    Audiência: Bibliotecas.
  • 3:19 - 3:22
    DK: Bibliotecas.
    Ok, temos igrejas e bibliotecas.
  • 3:24 - 3:25
    Isso faz todo o sentido.
  • 3:25 - 3:29
    Todas as três são repositórios de cultura.
  • 3:29 - 3:31
    Todas têm locais muito específicos.
  • 3:32 - 3:36
    Todas têm a inspiração
    e os conhecimentos que procuramos.
  • 3:36 - 3:39
    Representam a riqueza da nossa cultura,
  • 3:39 - 3:42
    intelectual, espiritual e criativamente.
  • 3:42 - 3:46
    Mas, para muitas pessoas,
    são locais de tédio,
  • 3:46 - 3:50
    de imobilidade e de silêncio, não é?
  • 3:50 - 3:51
    Todos conhecemos as regras.
  • 3:52 - 3:53
    Proibido falar.
  • 3:53 - 3:54
    Proibido tocar.
  • 3:54 - 3:56
    Proibido comer ou beber.
  • 3:56 - 3:57
    Proibido tirar fotografias.
  • 3:57 - 4:00
    Podia continuar, mas não vou.
  • 4:00 - 4:03
    Estas regras existem por uma razão.
  • 4:03 - 4:07
    Para manter as coisas protegidas,
    temos de assegurar um ambiente seguro,
  • 4:07 - 4:11
    mas também contribuem
    para afastar as pessoas
  • 4:12 - 4:13
    e isso também faz sentido.
  • 4:13 - 4:16
    Mesmo nos EUA, os museus de arte
  • 4:16 - 4:20
    são os repositórios da cultura
    que provém de reis e rainhas.
  • 4:21 - 4:24
    Estão guardados
    nestes espaços intelectuais
  • 4:24 - 4:27
    e nestes incríveis edifícios
    arquitetónicos.
  • 4:27 - 4:31
    Representam experiências
    com que muitos de nós só podemos sonhar.
  • 4:31 - 4:36
    São representativos do poder da comunidade
  • 4:36 - 4:38
    e mesmo dos países.
  • 4:38 - 4:41
    Não admira haver muitas pessoas
    que achem os museus
  • 4:41 - 4:45
    aborrecidos e elitistas,
    talvez mesmo desnecessários.
  • 4:46 - 4:50
    Mas eu defendo que os museus de arte
    não podem existir sem vocês
  • 4:50 - 4:51
    na sua versão atual.
  • 4:51 - 4:54
    Diria que, como vivemos num mundo
  • 4:54 - 4:57
    em que as pessoas são motivadas
    a procurar novas experiências
  • 4:57 - 5:01
    a descobrir novas informações,
    e a relacionarem-se umas com as outras,
  • 5:01 - 5:05
    não podemos existir sem os museus de arte.
  • 5:05 - 5:09
    O Fundo Nacional para as Artes
    realizou um estudo, há uns anos.
  • 5:09 - 5:13
    Dizia, basicamente,
    que a participação nas artes
  • 5:13 - 5:16
    tem baixado drasticamente
    nos últimos 20 anos,
  • 5:16 - 5:20
    tanto no bailado, como nos concertos,
    como em exposições.
  • 5:20 - 5:23
    As pessoas não se deslocam
    até às salas de teatro e concertos
  • 5:24 - 5:25
    e não percorrem as galerias.
  • 5:25 - 5:28
    Por um lado, isso é muito preocupante.
  • 5:28 - 5:30
    Mas, por outro lado, sabemos bem porquê.
  • 5:30 - 5:32
    Algumas pessoas disseram
  • 5:32 - 5:35
    que não vão a esse tipo
    de eventos culturais,
  • 5:35 - 5:37
    embora gostassem de ir,
  • 5:37 - 5:39
    e dão três razões principais.
  • 5:39 - 5:41
    A primeira é o tempo.
  • 5:41 - 5:44
    Não temos tempo que chegue
    para fazermos o que precisamos de fazer
  • 5:44 - 5:47
    quanto mais para as coisas
    que queremos fazer.
  • 5:47 - 5:50
    Para algumas pessoas ainda é mais difícil
  • 5:50 - 5:52
    arranjar transporte para lá chegar
  • 5:52 - 5:54
    ou arranjar uma forma de lá chegar.
  • 5:54 - 5:55
    Uma segunda coisa
  • 5:55 - 5:58
    — se têm filhos pequenos,
    sabem bem do que estou a falar —
  • 5:58 - 6:00
    se têm filhos com menos de seis anos,
  • 6:00 - 6:05
    é muito difícil arranjar tempo
    para ir preparar as crianças,
  • 6:05 - 6:07
    metê-las no carro, arrastá-las até lá
  • 6:07 - 6:11
    e, quando lá chegam,
    não há nada para elas fazerem.
  • 6:11 - 6:14
    Eu sei que, enquanto mãe,
    não vou passar por isso,
  • 6:14 - 6:17
    porque não quero ouvi-las
    choramingar quando lá chegar.
  • 6:17 - 6:20
    A terceira razão por que as pessoas
  • 6:20 - 6:23
    que gostariam de participar
    na cultura não o fazem
  • 6:23 - 6:27
    é o aspeto social,
    ou melhor, a sua ausência.
  • 6:27 - 6:29
    Para mim, esta é a razão mais pungente.
  • 6:29 - 6:32
    Não querem ir sozinhas a essas coisas.
  • 6:33 - 6:36
    Mesmo em situações financeiras difíceis,
  • 6:36 - 6:39
    é uma coisa que pode ser ultrapassada.
  • 6:39 - 6:42
    Mas a parte social
    de não estar com ninguém
  • 6:42 - 6:44
    não é uma coisa que as pessoas
    queiram ultrapassar.
  • 6:44 - 6:47
    Assim... não vou tratar disso, por agora.
  • 6:47 - 6:50
    O Fundo Nacional para as Artes
  • 6:50 - 6:54
    também publicou outro estudo
    que é um verdadeiro paradoxo.
  • 6:55 - 6:57
    Dizia que as pessoas
    participam na cultura
  • 6:57 - 6:59
    tal como faziam no passado.
  • 6:59 - 7:01
    Sei que provavelmente estão a pensar:
  • 7:01 - 7:02
    "Dana, acabaste de dizer
  • 7:02 - 7:05
    "que as pessoas não vão
    aos museus de arte — como é?"
  • 7:05 - 7:07
    O que acontece é a tecnologia.
  • 7:07 - 7:09
    As pessoas utilizam
    a interface da tecnologia.
  • 7:09 - 7:11
    Estão a descarregar "podcasts",
  • 7:11 - 7:14
    estão a ver vídeos de concertos,
  • 7:14 - 7:16
    passeiam pelo Google Art,
  • 7:16 - 7:18
    veem exposições "online".
  • 7:18 - 7:20
    E participam na cultura
  • 7:20 - 7:23
    da forma lógica para elas
    em termos de tempo,
  • 7:23 - 7:26
    em termos de espaço, em termos
    de segurança e em termos de custos.
  • 7:29 - 7:31
    Penso que o problema com isto
  • 7:31 - 7:35
    é que não oferece às pessoas
    o tipo de experiências
  • 7:35 - 7:40
    que podemos obter quando vamos
    a um local rico, social, interessante.
  • 7:41 - 7:46
    Nada pode substituir
    o facto de ir a um espaço,
  • 7:46 - 7:50
    estar com outras pessoas
    e ter uma relação com elas
  • 7:50 - 7:52
    e as discussões que podem ocorrer.
  • 7:53 - 7:56
    Os museus de arte ocupam
    um espaço rico na nossa cultura
  • 7:56 - 7:58
    e há uma razão para isso.
  • 7:58 - 8:02
    Podemos lá ir e ver coisas
    que nunca vimos.
  • 8:02 - 8:05
    Podemos aprender coisas
    sobre épocas, locais e outras gentes
  • 8:05 - 8:07
    que, de outro modo,
    nunca imaginaríamos.
  • 8:07 - 8:09
    Os museus inspiram-nos.
  • 8:09 - 8:10
    Ajudam-nos a pensar
  • 8:10 - 8:13
    e ajudam-nos a refletir
    sobre o nosso lugar no mundo,
  • 8:13 - 8:16
    num mundo que, segundo penso,
    neste momento, precisa muito disso.
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    Mas é preciso lá ir.
  • 8:20 - 8:24
    É preciso lá ir para ter essa experiência.
  • 8:25 - 8:28
    O estudo do FNA
    de que falei inicialmente,
  • 8:28 - 8:31
    dizia que a principal razão
    para as pessoas irem a museus
  • 8:31 - 8:34
    é porque querem passar tempo
    com os amigos e a família
  • 8:34 - 8:36
    e querem aprender coisas novas.
  • 8:36 - 8:39
    Mas não podemos fazer isso
    se lá não formos.
  • 8:40 - 8:43
    Neste momento, podemos procurar
    tudo o que quisermos "online".
  • 8:43 - 8:45
    Não há falta de informações
  • 8:45 - 8:50
    sobre artistas e pinturas,
    esculturas e exposições.
  • 8:51 - 8:54
    Mas não podemos experimentar
    a não ser que estejamos lá
  • 8:54 - 8:56
    fisicamente, em pessoa.
  • 8:56 - 8:59
    Quero garantir que todos saibam
    que não sou retrógrada.
  • 8:59 - 9:02
    Sou tão viciada no meu iPhone
    como toda a gente nesta sala
  • 9:02 - 9:05
    e conheço alguns de vocês aqui,
    por isso sei do que estou a falar.
  • 9:06 - 9:08
    Mas penso realmente
    que há coisas espantosas
  • 9:08 - 9:11
    que os museus estão hoje a fazer
    com a tecnologia
  • 9:11 - 9:13
    em termos de envolvimento educativo.
  • 9:13 - 9:15
    Está a funcionar.
  • 9:15 - 9:19
    Mas voltemos aos vossos
    pensamentos originais
  • 9:20 - 9:23
    sobre estarem num museu,
    conforme vos pedi
  • 9:23 - 9:25
    para recordarem, no início.
  • 9:25 - 9:31
    Posso apostar que esse pensamento
    não inclui nenhuma interface, nenhum ecrã.
  • 9:33 - 9:35
    Neste momento, os museus de arte
  • 9:35 - 9:37
    estão a fazer um milhão
    de coisas diferentes
  • 9:37 - 9:41
    para atrair o público,
    sejam visitas para estudantes
  • 9:42 - 9:44
    ou experiências para universitários,
  • 9:44 - 9:48
    sejam atuações musicais
    ou leitura de poesia.
  • 9:48 - 9:52
    Por vezes, temos miúdos do pré-escolar,
  • 9:52 - 9:54
    e grupos de leitura e visitas guiadas.
  • 9:54 - 9:57
    Tudo isso exige a vossa presença.
  • 9:58 - 10:02
    Os vossos pensamentos, as vossas ideias,
    a vossa compreensão do mundo,
  • 10:02 - 10:07
    os vossos amigos e a vossa família,
    todos pertencem a um museu de arte.
  • 10:08 - 10:14
    Se uma menina de seis anos, do Kansas,
    pode ser tão inspirada
  • 10:14 - 10:17
    quando vai a este magnífico museu
  • 10:18 - 10:19
    e as coisas que vi me inspiraram
  • 10:19 - 10:23
    a querer trabalhar num museu de arte
    durante o resto da minha vida,
  • 10:23 - 10:25
    pensem nas experiências
  • 10:25 - 10:28
    que podem ter num museu de arte.
  • 10:28 - 10:30
    Obrigada.
  • 10:30 - 10:32
    (Aplausos)
Title:
Reconsiderar o museu de arte no século XXI | Dana Kletchka | TEDxPSU
Description:

As perceções e práticas dos museus de arte norte-americanos evoluíram durante o século passado, mas o que é que isso significa para os visitantes de um museu de arte? Dana Carlisle Kletchka, educadora num museu de arte, analisa as formas como os visitantes contemporâneos se envolvem na cultura, assim como os obstáculos mais comuns para tal, mas defende que os ricos aspetos sociais, emocionais, físicos e intelectuais das experiências pessoais num museu de arte são mais ricas e não podem ser substituídas pelas tecnologias digitais.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:33

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