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Fundamentos da Comunicação Não-Violenta, com o Doutor Marshall B. Rosenberg.
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Esta apresentação foi filmada num workshop introdutório de um dia, que decorreu em Abril de 2000 em São Francisco, Califórnia.
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Parte 1: O Objectivo da Comunicação Não-Violenta e a Expressão de Observações e Sentimentos
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... mas primeiro, vamos começar por
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clarificar o objectivo da
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Comunicação Não-Violenta.
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A sua finalidade é ajudar-vos a fazer
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aquilo que vocês já sabem fazer.
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Porque é que precisamos de aprender hoje
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o que já sabemos fazer?
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Porque às vezes esquecemos-nos de o fazer.
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Esquecemos-nos porque fomos educados para esquecer.
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Agora, o que é que quero dizer com isto
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que já sabemos como fazer?
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A finalidade deste processo é ajudar-nos
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a relacionarmo-nos de uma forma que
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torna possível a generosidade autêntica.
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A generosidade autêntica possível.
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O que quero dizer com generosidade autêntica?
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Deixem-me mostrar-vos uma canção para esclarecer
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o que quero dizer por generosidade autêntica.
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"Eu nunca me sinto
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mais generoso
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do que quando recebes de mim.
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Quando compreendes a alegria que sinto
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por cuidar de ti.
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E sabes que a minha generosidade não pretende
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endividar-te para comigo,
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mas porque quero viver
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o amor
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que sinto por ti.
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Receber com bondade
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poderá ser a maior dádiva.
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Não me é possível
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distinguir um do outro.
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Quando me dás, eu dou-te a minha aceitação
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e quando recebes de mim
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sinto a tua generosidade.
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Todos vocês conhecem esta generosidade.
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Sabem como fazê-lo.
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E é nisto que estou interessado,
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recordarmo-nos de permanecer com essa capacidade de generosidade
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momento a momento, em qualquer ligação.
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Mas todos sabemos também que é fácil perdê-la.
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É fácil perder a ligação,
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então, em vez de
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desfrutarmos da capacidade de ser generosos,
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o que é possível em cada momento,
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em cada contacto que temos.
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Apesar da sua preciosidade, esquecemo-nos.
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E em vez de jogar o jogo desta canção
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que designo de "tornar a vida maravilhosa."
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É o jogo mais divertido que já conheci.
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Pelo contrário, na maior parte do tempo
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jogamos outro jogo
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chamado "quem tem razão?"
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Alguma vez jogaram a esse jogo?
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[risos]
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É um jogo em que todos perdem,
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então, não é incrível,
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que todos nós conheçamos esta capacidade de ser generoso
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de que tratava a canção?
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É possível a cada momento,
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nós... nós... descobrirmos que
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é a acção mais enriquecedora possível,
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e na maior parte das vezes acabamos a jogar ao "quem tem razão?"
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Agora, o jogo do "quem tem razão?"
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envolve duas das coisas
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mais tortuosas que os seres humanos
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já descobriram. Primeiro, o castigo.
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Porque, estão a ver, se estiverem errados
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no jogo do "quem tem razão?"
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então merecem sofrer.
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Conseguem imaginar uma noção mais diabólica
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de educação das pessoas?
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Então... se vocês ainda não se abstiveram do castigo,
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Estou certo de que acabará por
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deixar de fazer parte da vossa consciência.
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Acaba-se com o castigo.
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Não o farão nas vossas famílias,
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vamos deixar de o aplicar aos criminosos, apenas aumenta a violência,
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vamos encontrar outras maneiras de lidar com outras nações
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para além do castigo.
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Acabou-se o castigo.
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Acabou-se a recompensa.
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Faz parte do mesmo jogo.
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Faz parte do jogo do "quem tem razão?"
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Se tens razão, és recompensado.
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Se estiveres errado, és castigado.
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Nunca mais. Nunca mais.
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Já criou violência suficiente no planeta.
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Acaba-se com a sugestão de culpa. Vêem?
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Acaba-se com a vergonha.
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Acabará a noção de dever e de obrigação.
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Precisamente o tema desta canção, generosidade natural.
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Então, onde é que errámos?
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Onde errámos, de acordo com
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Walter Wink, um teólogo,
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que escreveu no seu livro "The Powers That Be" [Os Poderes que Existem],
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Errámos há cerca de 5000 anos.
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Nós... nós perdemos...
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Errámos, porque
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começamos a ter uns "palpites".
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O palpite de que
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os seres humanos são naturalmente maus.
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Quando se acredita que os seres humanos são naturalmente maus,
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então, se as coisas não acontecem como gostaríamos,
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qual é o processo de correcção?
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O processo de correcção é penitência. Estão a ver?
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Se as pessoas são más, crê-se que a forma de provocar a mudança
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quando as pessoas se comportam de uma maneira de que você não gosta
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é fazer com que as pessoas se odeiem
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por causa do que estão a fazer.
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Assim, por estas razões políticas
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e teológicas,
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começamos a desenvolver uma "Eu-linguagem",
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que chamo de Eu-linguagem do chacal. É uma...
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linguagem que nos arranca da vida
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e, hum,
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facilita muito ser-se violento.
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Facilita muito ser-se violento. Na verdade,
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nesse livro que mencionei,
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Wink diz que as culturas de domínio...
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uma das coisas que se tem que ensinar às pessoas
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é fazer da violência algo agradável. Percebem?
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E temos feito um bom trabalho nesse campo. Tornámos a violência agradável na nossa cultura.
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Duas horas por noite, entre as 7 e as 9, quando
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as crianças estão, na sua maioria, a ver televisão,
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em 75% dos programas que assistem,
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o herói ou mata alguém
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ou bate em alguém. Estão a ver?
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E quando é que isto acontece? No clímax do programa.
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Fomos educados já há algum tempo
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para tornar a violência agradável,
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Assim, mesmo que eu pense que esta canção seja sobre
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o que realmente está mais perto da nossa natureza,
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esta generosidade natural,
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fomos educados para tornar a violência em algo agradável,
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e fomos educados de forma a podermos
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ser violentos para com as nossas crianças.
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Então, como é a linguagem do chacal?
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Estão a ver? A linguagem do chacal, como já mencionei, é uma linguagem de
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julgamentos moralistas.
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Pensa-se em termos de quem está certo, quem está errado,
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quem é bom, quem é mau,
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e quando se fala de mudança,
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sim, às vezes queremos mudança,
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como é que se obtém mudança no sistema-chacal?
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Vejam um pai a tentar provocar a mudança numa criança.
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Este é um pai a ensinar uma criança pequena,
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que diz algumas das palavras mais importantes em "chacal":
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- "Pede desculpa."
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- "Desculpa..."
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- "Não estás realmente arrependido. Noto que não estás realmente arrependido."
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[choro]
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- "Desculpa"
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- "OK, eu perdoo-te."
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Conseguem imaginar um jogo destes?
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Conseguem imaginar um pai a responder a uma criança desta maneira?
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E se um pai faz isso com uma criança da própria família,
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o que farão
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a pessoas de outras culturas que se comportam
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de uma maneira que não lhes agrada?
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Então, é claro que vai haver violência sempre que houver este tipo de pensamento.
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Nas culturas que não têm este [tipo de] pensamento,
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Não se vê violência, percebem?
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Portanto... Foi esse o nosso erro.
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Mesmo que pudéssemos jogar ao
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"Tornar a vida maravilhosa" a cada momento,
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fomos educados durante bastante tempo
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para jogar outro jogo: "quem tem razão?"
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Então, quais são as partes deste jogo do "quem tem razão?"
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Acabei de falar de uma delas.
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Uma parte são os julgamentos moralistas são uma parte...
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Ansiando por nos subir à cabeça
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e que funcionam em termos básicos de certo e errado,
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bom e mau,
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normal/anormal.
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Eu aprendi muito bem a jogar este jogo.
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Falo vários dialectos de "chacal".
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[risos]
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Eu cresci a falar... Eu cresci em Detroit.
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Falávamos um dialecto bastante duro de "chacal".
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Podem chamá-lo "chacal de Detroit".
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Por exemplo, se estou a conduzir
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e alguém está a conduzir de uma maneira que não me agrada,
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mais uma vez quero instalar uma mudança, estão a ver?
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Abro o vidro e grito "Idiota!"
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[risos]
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Em teoria, a pessoa devia arrepender-se.
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Vêem? [Risos]
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"Confesso que estava errado, senhor.
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Vou mudar o meu comportamento erróneo."
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É uma bela teoria. E não funcionou.
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Tentei mais que uma vez. Não funciona.
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Então pensei que talvez fosse por causa
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desse dialecto particular de chacal.
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Então decidi começar a utilizar um chacal mais culto,
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então fui para a universidade e obtive o grau de doutor
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em chacal profissional.
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[risos]
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Agora, quando alguém conduz de uma maneira que não me agrada,
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Abro o vidro e grito "psicopata!"
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[risos]
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Ainda não funciona!
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Vêem?
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Há outra parte desta linguagem de chacal.
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"Amtssprache"
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"Amtssprache". Isso é muito importante. Estão a ver?
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Uma linguagem que nega a escolha,
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que nega a responsabilidade pelas nossas acções.
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Uso a palavra "amtssprache" para esta parte,
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depois de ler uma entrevista com o criminoso de guerra nazi
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Adolf Eichmann
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Durante o seu julgamento por crimes de guerra em Jerusalém.
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perguntaram a Eichmann: "foi difícil conduzir dezenas de
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milhares de pessoas à morte?"
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e Eichmann respondeu candidamente.
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Ele disse: "para dizer a verdade, foi fácil.
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A nossa linguagem facilitou."
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Essa entrevista foi chocante,
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a resposta chocou o entrevistador,
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e o entrevistador perguntou "que linguagem?"
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Eichmann disse "de facto, eu e os meus colegas oficiais nazis,
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tínhamos o nosso próprio nome para a nossa linguagem.
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chamámo-la Amtssprache"
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Amt em alemão significa "escritório", e Sprache significa "linguagem"
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Eu chamar-lhe-ia "linguagem burocrática".
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Pediram-lhe para dar alguns exemplos.
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Eichmann disse: "é uma linguagem
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pela qual se nega a responsabilidade pelas suas... suas próprias acções.
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Então, se alguém perguntar porquê, você diz "Tive que o fazer".
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assim não se sente tão mal. Se você tiver que fazê-lo,
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percebem, não são responsáveis.
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"Mas porque é que o teve de fazer, chacal?"
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"Ordens superiores".
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"Política da empresa".
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"Fui obrigado"
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"Não podia fazer de outra forma"
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Uma linguagem muito perigosa esta, Amtssprache.
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Muito perigosa.
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Temos "escolas-girafa".
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Eu uso a palavra "girafa", vejam, como um
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símbolo de não-violência.
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Vamos ver hoje que
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a linguagem que vamos estudar é a linguagem do coração.
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Então, uso a linguagem da girafa para isso,
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porque as girafas têm o maior coração
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de entre os animais terrestres, então...
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a girafa exige...
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estar sempre consciente de escolha. Estão a ver?
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Nunca fazemos nada que não escolhamos fazer.
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Mas eu estava a ensinar "girafa" a um grupo de pais
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e professores numa comunidade,
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e nós temos "escolas-girafa" em todo o mundo.
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Temos 5 em Israel, 4 na Palestina,
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algumas na Sérvia, e assim por diante.
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E nas "escolas-girafa", claro, queremos
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certificar-nos de que os professores e pais
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nunca usem Amtssprache.
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Uma das linguagens mais perigosas do mundo.
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Para ensinar uma criança tem que se fazer algo.
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Então, uma vez, eu estava a dizer isto em St. Louis, Missouri,
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a um grupo de pais e professores,
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e uma mãe ficou muito chateada. Ela disse
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"Mas há algumas coisas que você tem que fazer, quer goste de as fazer ou não.
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É o nosso dever como pais ensinar aos nossos filhos o que eles têm de fazer.
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Quero dizer, há coisas que eu faço todos os dias que odeio fazer,
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mas simplesmente há algumas coisas que você tem que fazer".
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"Bem", eu disse, "Pode dar-me um exemplo?"
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Ela disse: "Bem, é fácil, há muitos. Deixe-me pensar.
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Ok. Por exemplo quando eu for embora daqui hoje.
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Tenho que ir para casa e cozinhar.
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Odeio cozinhar.
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Odeio mesmo, mas tenho feito isso todos os dias durante 20 anos,
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mesmo quando estava doente".
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[risos]
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Bem, disse eu, "vou ficar muito contente hoje
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por lhe mostrar outra maneira de pensar,
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Outra linguagem que, espero , abra possibilidades mais felizes para si"
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Bem, tenho prazer em informar que ela era uma veloz estudante de 'girafa'.
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Nessa mesma noite, ela foi para casa
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e anunciou à sua família que não queria cozinhar mais.
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[risos]
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Recebi alguns comentários da família dela.
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[risos]
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As reacções chegaram duas semanas mais tarde, quando eu
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visitei outra vez essa cidade
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e estava a fazer um workshop ao fim da tarde,
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e quem é que aparece? Os dois filhos mais velhos dela. Ela tinha 4 filhos.
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Vieram no início para se apresentar, e
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eu disse: "Ei, ainda bem que vieram.
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Estou muito curioso sobre a vossa família
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A vossa mãe tem-me telefonado regularmente
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a contar tudo o que ela mudou na sua vida
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desde a formação.
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Por exemplo "o que é que aconteceu na primeira noite, quando chegou a casa
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e anunciou que não queria cozinhar mais?"
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O filho mais velho disse-me:
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"Marshall, eu disse a mim mesmo, graças a Deus"
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[risos]
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Pedi-lhe: "ajuda-me a perceber isso."
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Ele respondeu "eu disse a mim mesmo,
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talvez agora deixe de se queixar todas as refeições", está a ver?
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Estão a ver, a generosidade natural, quando comecei o dia com aquela canção,
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qualquer coisa que façamos na vida que não vem dessa energia,
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pagamos por isso, e todos os outros pagam também.
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Tudo que fazemos por medo de um castigo,
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é pago por todos.
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Tudo que fazemos por uma recompensa, é pago por todos.
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Tudo que fazemos para que as pessoas gostem de nós,
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é pago por todos.
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Tudo que fazemos por culpa, vergonha,
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dever, obrigação, é pago por todos.
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Não foi para isso que fomos criados.
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Mas sim para desfrutar do acto de dar.
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Dar a partir do coração.
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- Hã... Marshall?
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- Sim? - Estou aqui.
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O meu filho trouxe-me a um dos seus seminários,
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e conheci-o há uns 10 anos atrás, - Sim.
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- Em Oakland. - Sim.
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- Agora, estou a tentar trazer o meu filho de volta.
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Estou aqui, e ele
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disse ontem à noite, quando eu lhe disse que vinha aqui,
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"bem, porque não vais? Eu tenho alguns compromissos.
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Talvez possas ensinar-me alguma coisa".
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Então pensei que poderia vir para aprender algo.
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Talvez eu possa ensinar-lhe.
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Mas apesar de querer ensinar-lhe, não sei como fazê-lo.
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Gostaria de ensinar-lhe a,
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pelo menos, disponibilizar-me uma hora por dia
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para comunicar com ele. Ele não o faz de bom grado.
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E se tento exigir isso dele,
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torna-se pior. - Sim.
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- Como posso fazer isso?
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- Bem, essa seria uma boa situação para trabalharmos hoje,
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porque vou pedir a todos que
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pensem agora numa situação, em que
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alguém se está a comportar de uma maneira de que não vos agrada.
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Portanto, neste caso, é o seu filho que, quando
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você lhe pede para comunicar, ele diz que não.
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A primeira coisa que sugiro é que vocês não podem ensinar nada a ninguém.
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lsso mesmo.
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E ter isso como um objectivo, é criar problemas.
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Então, vamos mudar o objectivo.
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Vamos tentar nunca ensinar nada a alguém ou mudar alguém.
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Se esse for o objectivo,
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irão criar resistência.
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Então, essa é a minha primeira sugestão de hoje.
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Nunca tente ensinar seja o que for, ou mudar alguém.
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Está claro? - Sim.
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- OK.
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- O fazer, então? Desistir? - Oh, não, não, não,
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Vejam, este é... este é o pensamento que tem sido inculcado em nós pelos chacais, vêem?
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O jogo do "quem tem razão?", vitória-derrota.
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Então, se não podemos mudar
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e vencer, então a opção que consideramos
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é ser estúpido e perder. Estão a ver?
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Fomos educados para pensar dessas duas formas, vitória-derrota.
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certo-errado.
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Não, vou mostrar-vos uma maneira.
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Outra opção.
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OK. Vamos lá. Vamos dar-vos a oportunidade de praticar isto.
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Alguns de vocês já pensaram em situações,
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em que querem que alguém comunique convosco, mas diz que não.
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Então, pensem em alguém que agora se está a comportar
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de uma maneira que não torna a vossa vida maravilhosa,
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e vocês gostariam de chegar àquele lugar de que fala a canção,
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onde as necessidades de todos podem ser satisfeitas,
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e as pessoas dão umas às outras a partir do coração, de bom grado.
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Não por coerção. Percebem?
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Vamos ver se podemos mostrar um processo para chegar lá, nesta situação,
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Para satisfazermos as necessidades de todos,
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e onde as pessoas dão de bom grado, sem qualquer coerção.
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Então, talvez quando estiverem em casa,
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hoje, talvez escolham trabalhar com uma criança com quem vivam
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que diz coisas-de-chacal horríveis, como
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"não."
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[risos]
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Oh, vocês riem-se. Experimentem viver com uma durante algum tempo.
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"Escova os dentes, por favor", "não"
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Talvez estejam a viver com um parceiro que fala "chacal",
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que vos diz coisas-chacais horríveis, como
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"magoas-me quando dizes isso."
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Vamos ver hoje como é um acto violento
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dizer que os outros nos fazem sentir da forma como nos sentimos. Percebem?
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Dar a entender que os outros são capazes de nos fazer sentir magoados ou zangados.
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Talvez no trabalho alguém se esteja a comportar de uma maneira que não nos agrada. Chegam atrasados.
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Não estão a produzir tão bem como gostaríamos.
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Talvez o vosso vizinho tenha andado a molestar sexualmente crianças.
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Escolham quem quiserem, alguém que se comporta de uma maneira que não vos agrada,
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e vocês gostariam de ver como
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chegaríamos ao objectivo de criar a qualidade da ligação
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que irá satisfazer as necessidades de todos
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através da generosidade natural. Esse é o nosso objectivo.
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OK? Agora, abram as vossas fotocópias
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na última página.
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Na penúltima página. No topo está escrito
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"Expressar como somos e o que gostaríamos"
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e no ponto "a" diz para pensar em alguém
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que faz algo que torna a sua vida menos maravilhosa"
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então esta pessoa na qual peço que pensem
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a qual se comporta actualmente de uma forma que vos é pouco agradável,
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e gostaria que respondessem a esta pergunta.
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Escrevam aqui uma coisa que a pessoa faz de que vocês não gostem.
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Vamos trabalhar numa acção específica
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que a pessoa faz e de que vocês não gostam.
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Para que se familiarizem com o processo hoje.
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Talvez a pessoa faça várias coisas, mas vamos mostrar-vos como funciona o processo
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mostrando-vos como comunicar com a pessoa sobre algo específico que eles façam.
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Então escrevam em "a" uma coisa que esta pessoa faz que vocês não gostam.
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- Quando eu estava aqui em São Francisco
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a trabalhar com o sistema escolar nos anos 70,
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o superintendente das escolas pediu-me para ir a uma escola primária.
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Ele disse que os pais se estavam a queixar sobre a qualidade do relacionamento entre os professores
-
e o director. Disseram que a tensão dentro da escola
-
era tanta, que os pais queriam tirar os filhos de lá.
-
Então ele perguntou se eu podia ir lá, a ver se melhorava comunicação entre a equipa
-
e o director.
-
O plano era encontrar-me com os professores primeiro
-
e, em seguida, juntar os professores e o director.
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Então, na minha reunião com os professores, eu comecei com a questão
-
que acabei de vos perguntar. Perguntei aos professores
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"Podem dizer-me uma coisa que o director faz
-
que dificulta o vosso trabalho com ele?"
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Estava a pedir uma observação.
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Um comportamento concreto.
-
Uma coisa que ele faz?
-
O primeiro professor a responder disse isto:
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"Tem uma grande boca" [é um 'desbocado']
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Agora, podem ver a diferença entre a pergunta que fiz e a resposta que tive?
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Eu não perguntei "qual o tamanho da boca do director?"
-
[risos]
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Portanto, este professor estava a dar-me uma avaliação,
-
uma análise que assumia um erro. Percebem?
-
Temos sido tão treinados a pensar dessa forma
-
que às vezes não conseguimos separar facto e opinião.
-
Tudo o que vemos é a imagem do inimigo.
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Quer se trate de um indivíduo ou de uma nação,
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fomos treinados para pensar
-
em termos de imagens dos erros dos nossos inimigos.
-
Isso esconde a realidade. Não vemos o comportamento.
-
Vemos apenas a imagem do inimigo.
-
No seu livro "Out Of Weakness" [Por Causa da Fraqueza]
-
Andrew Schmookler diz que, quando as culturas são ensinadas a pensar desta forma,
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e não para olhar para a pessoa em si,
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mas para uma imagem, para uma opinião,
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as bombas nunca estão longe. Percebem?
-
Então, chamei a atenção do senhor para isto,
-
que aquilo não era uma resposta à minha pergunta,
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Eu queria saber uma coisa que o director tivesse feito.
-
O homem tinha emperrado. Simplesmente não conseguia perceber.
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A mulher sentada ao lado dele tentou ajudar. Ela disse:
-
"Bem, eu sei a que é que ele se refere"
-
Eu disse, "OK, ajude-o.
-
O que é que o director faz?"
-
"Ele fala demais."
-
Não, "demais" é um juízo de valor.
-
Pedi uma observação, não um julgamento.
-
Vêem, isto é como as pessoas que falam 'chacal' pensam.
-
Eles foram educados para pensar que existe realmente uma tal coisa,
-
uma "quantidade certa" para tudo.
-
E "demais", e "muito pouco",
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e que reconhecem cada uma das quantidades. Percebem?
-
Então pensam dessa forma.
-
Isto não facilita a resolução de conflitos entre eles, quando
-
as pessoas têm a ideia de que existe uma quantidade certa e
-
um "demais" e um "muito pouco" e que sabem reconhecê-las.
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Especialmente quando misturam isto com uma observação.
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Eu estava só a perguntar "o que é que a pessoa faz?"
-
e, novamente, pela segunda vez, essa pessoa não conseguia ver o comportamento
-
separado do juízo de valor.
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Uma terceira pessoa tentou ajudar.
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"Bem, eu sei do que estão a falar" "OK, o que é?"
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"Ele pensa que é o único que tem alguma coisa válida a dizer".
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Não. Dizerem-me o que vocês acham que ele pensa
-
é uma avaliação que estão a fazer baseada no que acham que ele está a pensar.
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Eu perguntei "o que é que ele faz?"
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Uma quarta mulher disse:
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"Ele quer ser sempre o centro das atenções."
-
Eu disse, "agora está a dar-me uma opinião ou um diagnóstico dos motivos dele."
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"Mesmo que seja correcto, é um diagnóstico dos motivos dele. Não é um comportamento observável."
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"A minha pergunta era 'o que é que ele faz?"
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Agora, todo o corpo docente fica calado.
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Ninguém consegue responder à pergunta.
-
E uma das mulheres disse para mim: "Caramba, Marshall, isto é difícil."
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Sim. De facto, o filósofo Krishnamurti diz que
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"Observar sem avaliar é a mais elevada forma de inteligência humana"
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Assim, aqueles de nós que foram ensinados a pensar nestas imagens do inimigo
-
Imediatamente a pensar em termos de certo-errado, bom-mau, normal-anormal, adequado-inadequado,
-
demasiado disto, demasiado daquilo...
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Não conseguimos ver a realidade. Tudo o que vemos são as nossas imagens do inimigo.
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Bem, com grande ajuda... com grande esforço da minha parte,
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finalmente consegui que se livrassem das imagens
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e respondessem a esta simples pergunta, "o que é que ele faz?"
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Eram várias coisas, mas havia algo em particular que queriam abordar
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para começar a trabalhar com ele, que era isto,
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durante as reuniões semanais de professores,
-
independentemente do que estava agendado,
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ele tornava a reunião numa experiência de guerra ou numa experiência da sua infância,
-
as as reuniões duravam em média mais 20 minutos do que o programado.
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OK. Isso respondeu à questão acerca do que ele fazia.
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Ele falava sobre as experiências de guerra, experiências da infância,
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em vez de seguir a ordem de trabalhos.
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Eu perguntei, "Chamaram-lhe a atenção para isso?"
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eles disseram, "Bem, agora vemos que, quando tentamos falar com ele sobre isso,
-
misturamos os outros juízos de valor, e ele torna-se defensivo."
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Então pensaram que seria uma boa ideia falar com ele sobre isto,
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mas pediram-me para ir à reunião, por precaução.
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Então assisti à reunião seguinte do pessoal docente,
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e vi muito rapidamente aquilo a que se referiam,
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porque assim que um problema fosse abordado, o director dizia,
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"Oh, isso lembra-me de uma vez que..."
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e começava a contar uma história.
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e eu estava à espera que alguém o confrontasse sobre isto, "em girafa",
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mas em vez disso, começou a haver imensas "chacalices" não-verbais.
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As pessoas estavam assim, a revirar os olhos,
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a dar cotoveladas na pessoa ao lado,
-
a bocejar,
-
a olhar para os relógios,
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a segurar os relógios ao lado das orelhas.
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[risos]
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E assisti a este cenário durante algum tempo, e disse: "hmhm. Desculpem, mas...
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ninguém vai dizer nada?"
-
Agora há um silêncio, e o homem que
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falou no nosso primeiro encontro, eu estava mesmo a vê-lo a ganhar coragem,
-
e ele olha para o director e diz: "Ed,
-
você tem uma grande boca."
-
[risos]
-
Então, vamos se o que escreveram responde à pergunta que fiz.
-
É um comportamento observável? Ou misturaram avaliações?
-
E estes meus dois amigos aqui vão-nos ajudar a fazer esta avaliação.
-
Este animal foi ensinado
-
mais ou menos como um cão-policia para farejar estupefacientes,
-
se houver alguma mistura de 'chacal', ele vai uivar,
-
Se responderam à pergunta, este animal vai dançar.
-
Então o que é que escreveu o senhor?
-
- O meu pai culpa a minha esposa...
-
- [uivos]
-
- pelas minhas escolhas.
-
- Ele faz o quê?
-
- O meu pai culpa a minha esposa pelas minhas escolhas.
-
- Sim. 'Culpa' é um juízo de valor. Estão a ver?
-
Já está a misturar uma avaliação.
-
Pai, achas que estás a culpá-la?
-
"Não. Acho que estou a chamar-lhe a atenção para os factos."
-
Estão a ver? O papá não vê isso como 'culpar'.
-
"Não, estou a educar." Obrigado, papá. Sim. OK.
-
Então, como dizemos isto? Precisamos de uma citação directa.
-
Precisamos de dar... para descrever um comportamento observável, temos de dizer
-
"O meu pai diz..." o quê?
-
- " Todos os problemas dele..."
-
- "És responsável por todos os problemas dele."
-
Ele diz isso à sua esposa: "és responsável por todos os problemas dele."
-
- É isso. - Sim. OK. Essa é uma citação directa. Isso é o que ele diz.
-
Isso é linguagem girafa. Você fez uma citação directa. OK?
-
Vêem? Assim que virem... tiverem a palavra "culpa" na vossa consciência,
-
isso mudará toda a energia com que
-
abordam a pessoa, porque no fundo estão
-
a criticá-los por estarem a culpar,
-
o que, como sabemos, é errado, percebem?
-
- Sim? - Sou eu que tenho o microfone...
-
Ultimamente, o meu filho não tem feito os trabalhos de casa de História.
-
- Hmhm. OK.
-
- O meu pai faz... julgamentos severos e comentários insultuosos.
-
- Oh, meu Deus. Você matou o meu pobre chacal.
-
[risos]
-
- Ele poderia ter lidado com "severos", que foi apenas um julgamento, mas
-
"insultuosos", severos e insultuosos...
-
como vêem, são dois julgamentos.
-
- Ele usa mesmo palavras insultuosas.
-
»Não, tal coisa não existe. Depois de hoje, na verdade,
-
a sério, às 4 e meia da tarde,
-
nunca mais ouvirão nenhum insulto. Deixarão de existir. Não existirão mais insultos.
-
Vou-vos mostrar a utilidade de uma das tecnologias de hoje
-
que remove os insultos e o criticismo das ondas... das ondas sonoras.
-
[risos]
-
De modo que não importa o que o seu pai diz,
-
nunca mais ouvirá declarações severas
-
ou insultos, porque hoje vamos mostrar-vos como utilizar esta tecnologia.
-
[risos]
-
E com esta tecnologia,
-
ser-vos-á impossível ouvir críticas,
-
comentários duros, insultos...
-
Com estas orelhas,
-
tudo que poderão ouvir é aquilo que os seres humanos estão sempre a dizer:
-
"Por favor" e "obrigado",
-
É só isso... vamos mostrar-vos hoje
-
que tudo o que costumava soar como críticas, julgamentos, culpa,
-
são simplesmente expressões trágicas e suicidas de "por favor".
-
- O meu irmão grita-me para que eu entre no carro para ir para escola,
-
e acaba por me fazer chegar tarde à escola.
-
- Quem grita?
-
- Este aqui.
-
»Mas, estão a ver? 'grita'... 'grita' é... hmmm... de certa forma uma avaliação.
-
Ele fala num tom de voz.
-
- Sim. - Ok. É o tom de voz.
-
Perguntaram-me em "Lincoln High School"... "Lincoln High School" fica em San Francisco?
-
Há muitos anos atrás, fui convidado para trabalhar lá com o corpo docente. Estava com uma série de
-
tensões entre eles, a nivel racial, étnico.
-
havia imensas tensões, e o director pediu-me para trabalhar lá, e
-
comecei o dia com a seguinte pergunta:
-
"digam-me alguma coisa que outro professor faça de que você não gostem."
-
Um homem vira-se para a mulher ao lado dele e diz:
-
"Eu não gosto quando gritas nas nossas reuniões de professores".
-
Ela pergunta: "quem é que grita?"
-
[risos]
-
Ela vinha de uma cultura diferente deste homem.
-
Gritar na cultura dela era muito diferente.
-
Cerca de 10 minutos depois, quando ela começou a gritar com ele segundo a definição dela,
-
eu vi a diferença, percebem?
-
Então ele levanta a voz quando te pede para preparares para ir para a escola. Sim.
-
- Ou, por exemplo, fica furioso comigo...
-
- Fica furioso... talvez seja exacto, mas é um diagnóstico.
-
Não sabemos se ele está furioso. Pode estar com medo que faltes à escola, percebes?
-
Pode soar como raiva. Talvez seja, talvez não. Mas
-
"Levanta a voz,"
-
"há fumo a sair dos ouvidos dele..."
-
Isso podem ver. Percebem? É observável.
-
Sim?
-
»O meu aluno do quinto ano, Jesse, recusa-se a fazer os seus exercícios.
-
- [uivos!] 'Recusa' é um diagnóstico.
-
Talvez um diagnóstico preciso, mas não explicita o que ele faz.
-
- Ele diz: "não, não quero fazê-lo." - Diz "não, não quero fazê-lo."
-
Esse é o comportamento.
-
- O meu marido não me diz coisas que me afectariam profundamente.
-
- OK. Esse é o primeiro marido 'chacal' de que já ouvi falar.
-
[risos]
-
- Esta é uma experiência nova para mim hoje.
-
- Um aluno meu fala alto incessantemente
-
e nunca se senta ou está sempre a mexer-se.
-
- Ouvi cerca de 3 juízos de valor aí.
-
Hmm... vamos devagar agora, porque ouvi 3 diagnósticos.
-
Repita lá, para ouvirmos os 3 diagnósticos.
-
- Fala alto incessantemente...
-
- Alto é uma interpretação. Mais alto do que você gostaria.
-
Se quiser dizê-lo, diga dessa forma. "Mais alto do que eu gostaria"
-
- Nunca se senta.
-
- 'Nunca' é um diagnóstico. "Não fica sentado no seu lugar depois de lhe ter mandado".
-
Poderá [ficar sentado] no futuro. Não sabemos, de modo que isso é um diagnóstico.
-
'Não' neste momento. 'Não' quando lhe peço para ficar sentado.
-
- E está sempre a mexer-se.
-
- "E está sempre a mexer-se." [Mm-hmm]
-
- OK. Desde que cheguei à apresentação introdutória, na terça à noite,
-
prestei muita atenção a avaliações auditivas.
-
- Sim. - Comigo, e especialmente com outras pessoas.
-
E então comecei a perguntar-me, sabem, se aquelas comunicações são todas violentas?
-
Ou haverá alguma maneira de que algumas sejam,
-
de acordo com este modelo, não-violentas?
-
- Eu diria que qualquer
-
avaliação dos outros que implique erro [alheio]
-
é uma expressão trágica de uma necessidade não satisfeita.
-
trágica no sentido... por 2 motivos. Em primeiro lugar,
-
diminui a probabilidade de conseguirmos o que queremos.
-
Mesmo que não se diga em voz alta, mesmo se pensarmos,
-
se pensarmos sequer que o que alguém faz é errado,
-
isso diminui as hipóteses de obtermos o que queremos.
-
E segundo, aumenta a probabilidade de violência.
-
O que poderá ser mais trágico que isso?
-
Do que expressarmo-nos de uma forma que torna difícil obtermos o que queremos,
-
e aumenta a violência?
-
Qualquer coisa que queiramos dizer que
-
implica erro por parte da outra pessoa, estou a sugerir, é
-
uma expressão suicida e trágica de uma necessidade não satisfeita.
-
Digam a necessidade.
-
Aprender a ter consciência das necessidades, que vamos abordar agora.
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É assim que avaliamos, na comunicação não-violenta.
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Avaliamos a partir do coração.
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Fazemos julgamentos, mas fazemos julgamentos que servem necessidades.
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Julgamos se as acções das pessoas estão a satisfazer necessidades ou não.
-
Não julgamos moralmente as pessoas pelo que fizeram.
-
Julgamos se estão a servir a vida ou não,
-
porque as necessidades são a nossa ligação directa com a vida.
-
São a vida que corre...
-
as necessidades são a nossa expressão interior de busca da vida.
-
Assim, podemos avaliar com esta referência,
-
e isso necessita de dois tipos de instrução,
-
sentimentos e necessidades.
-
Então, vamos certificar-nos de que todos falamos a mesma língua quando uso o termo
-
"sentimentos e necessidades".
-
Então, em "b" diz,
-
"Imaginem que falam directamente para alguém,
-
e expliquem como se sentem quando a pessoa age conforme descrito acima,
-
e use este formulário. "Mais uma vez, estamos a falar com a outra pessoa.
-
agora estamos a contar-lhes o que fizeram, e dizemos, "quando fazes isto,
-
sinto-me..." como? Como é que se sentem
-
quando a pessoa faz o que você escreveu em "a"?
-
Escrevam isso.
-
- Quando fazes isto, sinto-me furioso.
-
- OK. Raiva é um sentimento
-
criado pelo pensamento não natural. Falaremos disso depois.
-
[risos]
-
- Quando não estás pronto para sair à hora combinada, sinto-me ansiosa e impaciente.
-
- Quando falas assim tão alto, sinto-me intimidada.
-
- [uivos]
-
- 'Intimidada' é um diagnóstico. Tenham cuidado com palavras que são
-
mais parecidas com descrições de outros... com o que pensam que outros vos fazem, como intimidar-vos.
-
Por isso, tomem nota das seguintes palavras que não se relacionam com sentimentos.
-
Não confundam estas palavras com sentimentos.
-
Sinto-me incompreendido. Sinto-me usado.
-
Sinto-me manipulado. Sinto-me julgado.
-
Sinto-me criticado. Sinto-me ignorado.
-
Por exemplo, não há momentos em que acham que alguém vos está a ignorar?
-
Não se sentem aliviados?
-
[risos]
-
E outras vezes, não sentem raiva? Vêem?
-
Então, palavras como essas dizem muito pouco sobre o que está vivo em vocês.
-
Dizem muito mais sobre como estão a interpretar
-
o comportamento da outra pessoa,
-
e acima de tudo, nunca confundam a palavra "rejeitado" como um sentimento.
-
Sinto-me rejeitado. Não.
-
Isso não é um sentimento. Isso é uma interpretação suicida.
-
Ok, quem tem o microfone? Aqui está.
-
- Magoado, decepcionado, desmoralizado.
-
- sim.
-
- Sinto-me irritado e traído.
-
- Irritado, sim. [Uivo]... para traído.
-
'traído' é uma daquelas palavras do género de intimidado, ignorado, incompreendido,
-
usado, manipulado.
-
É mais um diagnóstico do outro do que um sentimento [nosso].
-
- E que tal contraído?
-
- Contraído?
-
Se quer dizer tenso ou algo assim. OK. Se for isso.
-
- Quando me ligas e me dizes em voz alta que vais cortar no financiamento,
-
Sinto-me com furiosa e assustada.
-
- Mmhmm.
-
- Quando deixas os pratos na pia, sinto-me
-
impotente em relação ao meu ambiente e ao meu tempo, o que é frustrante e assustador.
-
- Quando começas a falar alto enquanto estou a falar,
-
sinto-me magoado porque acho que não me estás a escutar.
-
- Sim, a parte do sentimento é formidável, mas
-
falha quando utiliza o "acho que" depois de "sinto"
-
Sempre que pensam, as vossas hipóteses de obterem o que querem diminuem imenso.
-
[risos]
-
Especialmente quando utilizam a palavra 'tu' depois de 'penso',
-
Assim, penso que não só não vos escutarão, como prevejo também uma reacção defensiva-agressiva.
-
Assim, será difícil as pessoas preocuparem-se com os vossos sentimentos
-
se, depois disso, fizerem um diagnóstico que assume erro [da sua parte].
-
Falaremos disso mais tarde, porque a seguir vamos ver que nós... nós...
-
Depois dos sentimentos, há dois sítios onde não vamos.
-
E um é a nossa cabeça.
-
Percebem? Ficamos no coração com os sentimentos. Não vamos à cabeça.
-
Ficamos no coração e ligamo-nos às necessidades.
-
Mais tarde, porém.
-
Se quisermos utilizar a comunicação não-violenta,
-
queremos ter a certeza de que não usamos o sentimento
-
de forma violenta.
-
Porque os sentimentos podem ligar-nos ao nível do coração
-
ou podem contribuir
-
para mais divisão e violência.
-
Certamente nunca queremos expressar os nossos sentimentos desta forma,
-
"Sinto-me assim porque tu..."
-
OK? Nunca queremos expressar os nossos sentimentos dessa forma.
-
"Fazes-me sentir..."
-
No entanto, vai ser um hábito difícil de perder, porque
-
numa cultura 'chacal',
-
os sentimentos são instrumentalizados para manipular as pessoas através da culpa.
-
A maneira de as manipular é convencer as pessoas
-
de que vos fazem sentir-se assim, e que por isso devem sentir-se culpadas e mudar.
-
Vêem? É um formato diferente deste jogo violento.
-
Portanto, se por exemplo forem pais e quiserem usar os sentimentos de forma violenta
-
e não para favorecer a conexão, então expressar-se-iam assim.
-
"Quando não limpas o teu quarto, magoas-me a sério".
-
[risos]
-
OK?
-
Ou, "Irritas-me quando dizes isso."
-
No intervalo, estava a falar de um dos meus dias mais felizes como pai
-
quando meu filho mais velho foi para uma escola de chacal, pela primeira vez.
-
ele tinha frequentado durante 6 anos uma escola de girafa que eu tinha ajudado a criar,
-
e, hmm... mas então, eu queria que ele aprendesse a desfrutar de 'chacais' também, então,
-
hmm... e nas "escolas girafa", também queremos estar cientes
-
de que as crianças não estarão sempre neste ambiente,
-
por isso queremos que eles aprendam a manter os seus próprios valores
-
independentemente da estrutura em que se encontrem. Percebem?
-
No primeiro dia chega da escola, e não parecia estar muito contente. Eu disse,
-
"Que tal a nova escola, Rick?"
-
E ele respondeu: "tudo bem, papá, mas... ufa! caramba... alguns desses professores, papá..."
-
Perguntei, "o que aconteceu?"
-
Ele respondeu: "Papá, eu nem tinha chegado à porta da entrada,
-
estava a caminho da porta de entrada,
-
e um professor vem a correr e diz:
-
"não acredito, olhem para esta menininha."
-
Adivinham a que é que o professor estava a reagir?
-
Sim, o meu filho tinha o cabelo ao nível dos ombros.
-
Estão a ver, numa escola de chacal, como todos sabemos, a autoridade sabe o que está certo.
-
Percebem? Há uma maneira certa e uma maneira errada de usar o cabelo, como um menino.
-
Uma maneira correcta para tudo. E quem é que a sabe? O professor.
-
E o que fazem se alguém não faz isto? Usam a vergonha, a culpa, e assim por diante.
-
Usa a palavra "menina" como se fosse um insulto. Bem-vindo à terra do chacal.
-
Então começo a irritar-me, pronto para praticar um pouco de terapia da pancada com este professor,
-
[risos]
-
esquecendo todos os meus ensinamentos,
-
e perguntei ao meu filho: "como lidaste com isso?"
-
e ele disse: "Lembrei-me, papá, do que disseste, que quando estás nesse
-
tipo de ambiente, nunca deves dar-lhes o poder de te fazerem submeter ou rebelar. "
-
uma das coisas que queremos ensinar às crianças desde muito cedo,
-
não importa em que estrutura se encontrem,
-
nunca percam a noção de que são livres de escolher o que fazem.
-
Não permitam que as instituições determinem as vossas acções.
-
Eu disse, "ena, se te lembraste disso, isso é uma grande dádiva
-
Adorei teres-te lembrado disso nessas circunstâncias.
-
o que fizeste a seguir?"
-
"Coloquei as minhas orelhas de girafa, papá, tentei ouvir o que ele estava a sentir e a precisar"
-
Perguntei, "lembraste-te de fazer isso? O que é que ouviste?"
-
"Óbvio, papá. Ele parecia bastante irritado e queria que eu cortasse o meu cabelo".
-
"Uau, estou mesmo contente que te tenhas lembrado disso. Como é que te fez sentir?"
-
Ele disse: "Pai, senti-me triste pelo homem. Era careca e parecia ter problemas com o cabelo."
-
[risos]
-
Então, queremos para as crianças a mesma coisa que queremos ensinar aos adultos.
-
As instituições não vos podem forçar a nada. Hmm...
-
As outras pessoas não vos podem forçar a nada.
-
Jamais algum ser humano fez algo coisa que não tenha escolhido fazer.
-
Uma vez, um palestiniano na aldeia de Hebron discordou de mim.
-
Ele disse: "Não concordo consigo, Marshall, que só nós escolhamos o que fazer.
-
Onde estava a minha escolha há dois dias?
-
Um soldado aponta uma arma à minha cabeça e diz: tira a roupa ou disparo.
-
Onde estava a minha escolha?"
-
Eu disse, "parece-me bastante óbvio.
-
Você teve a escolha de tirar a roupa ou não."
-
Ele riu. Ele disse: "OK, eu percebo isso.
-
Escolhi não tirar a minha roupa.
-
Escolhi... aquele soldado sabia que eu não tinha armas. Fazia aquilo para me desonrar.
-
Escolhi arriscar a minha vida para proteger a minha honra. "OK, então...
-
Não digo que gostemos sempre das escolhas que fazemos, mas
-
ninguém nos pode obrigar a fazer algo que não escolhamos fazer.
-
Então eu disse, "aparentemente, o soldado também optou por não disparar.
-
Ou então é fraco atirador."
-
[risos]
-
Foram os meus filhos que me ensinaram isto, de que ninguém faz nada que não escolha fazer.
-
Desde os seus 2 anos que me foram ensinando
-
que não consiguia obrigá-los a fazer nada.
-
Só tinha o poder de fazê-los arrepender-se de não o fazer.
-
[risos]
-
E depois ensinaram-me outra lição. Que sempre que eu fazia isso,
-
eles faziam com que eu desejasse não tê-los feito arrepender-se.
-
Ensinaram-me que a violência gera violência. Percebem?