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Como falamos na internet sobre abuso sexual

  • 0:01 - 0:03
    Foi em abril do ano passado.
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    Eu tinha saído uma noite com amigos
    para celebrar o aniversário de um deles
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    Nós já não saíamos juntos
    havia algumas semanas;
  • 0:10 - 0:12
    então era a noite perfeita,
    com todos reunidos.
  • 0:13 - 0:14
    No fim da noite,
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    peguei o último metrô de volta
    para o outro lado de Londres.
  • 0:19 - 0:20
    A viagem foi tranquila.
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    De volta à estação do meu bairro,
    caminhei dez minutos até minha casa.
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    Quando virei a esquina da minha rua,
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    já vendo minha casa adiante,
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    ouvi passos atrás de mim
  • 0:31 - 0:34
    que pareciam ter vindo do nada,
    cada vez mais rápidos.
  • 0:36 - 0:38
    Antes de ter tempo de notar
    o que estava acontecendo
  • 0:38 - 0:41
    uma mão fechou a minha boca
    para que eu não respirasse,
  • 0:41 - 0:44
    o jovem atrás de mim me puxou para baixo,
  • 0:44 - 0:48
    bateu minha cabeça no chão várias vezes
    até meu rosto começar a sangrar,
  • 0:48 - 0:51
    chutando minhas costas e meu pescoço
  • 0:51 - 0:52
    enquanto começava a me violentar,
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    rasgando minhas roupas
    e mandando eu "calar a boca",
  • 0:55 - 0:57
    enquanto eu tentava gritar por socorro.
  • 0:57 - 0:59
    Com cada cabeçada no chão de concreto,
  • 0:59 - 1:03
    uma pergunta, que ainda me persegue,
    ecoava na minha mente:
  • 1:03 - 1:05
    "É assim que tudo vai terminar?"
  • 1:07 - 1:09
    Mal percebi que tinha sido seguida
    por todo o caminho
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    desde o momento que saí da estação.
  • 1:12 - 1:13
    E horas depois,
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    estava de pé, sem blusa e sem calças,
    em frente a um policial,
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    que fotografava os cortes
    e feridas no meu corpo nu
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    para prova pericial.
  • 1:22 - 1:25
    Não há muitas palavras
    para descrever a sensação devastadora
  • 1:25 - 1:28
    de vulnerabilidade, vergonha, frustração
    e injustiça que me oprimia
  • 1:28 - 1:31
    naquele momento e nas semanas seguintes.
  • 1:32 - 1:34
    Mas querendo achar uma forma
    de reduzir essa sensação
  • 1:35 - 1:37
    a algo mais organizado
    que eu pudesse resolver,
  • 1:37 - 1:39
    decidi fazer o que parecia, para mim,
  • 1:39 - 1:41
    o mais natural: escrever.
  • 1:41 - 1:44
    Começou como um exercício de catarse.
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    Escrevi uma carta para o meu agressor,
  • 1:47 - 1:49
    chamando-lhe de "você",
  • 1:49 - 1:52
    para humanizá-lo como parte
    da mesma comunidade
  • 1:52 - 1:54
    que ele agrediu
    com tanta fúria naquela noite.
  • 1:55 - 1:58
    Enfatizando o efeito devastador
    das ações dele, escrevi:
  • 1:59 - 2:01
    "Já pensou nas pessoas da sua vida?
  • 2:02 - 2:04
    Não sei quem são essas pessoas.
  • 2:04 - 2:06
    Não sei nada sobre você.
  • 2:06 - 2:08
    Mas realmente sei que:
  • 2:08 - 2:10
    você não atacou somente
    a mim naquela noite.
  • 2:10 - 2:12
    Eu sou uma filha, uma amiga,
  • 2:12 - 2:14
    uma irmã, uma aluna,
  • 2:14 - 2:15
    uma prima, uma sobrinha,
  • 2:15 - 2:16
    uma vizinha,
  • 2:16 - 2:20
    sou a empregada que servia café a todos
    no café debaixo da ferrovia.
  • 2:20 - 2:23
    E todos aqueles que formam
    essas relações comigo
  • 2:23 - 2:25
    são parte da minha comunidade.
  • 2:25 - 2:27
    E você atacou cada um deles.
  • 2:27 - 2:30
    Você violou a verdade
    pela qual jamais deixarei de lutar,
  • 2:30 - 2:32
    e que todas essas pessoas representam:
  • 2:32 - 2:36
    neste mundo, há infinitamente
    mais pessoas boas do que más."
  • 2:37 - 2:40
    Mas, determinada a não deixar
    esse incidente roubar a minha fé
  • 2:40 - 2:43
    na solidariedade da minha comunidade
    ou até da humanidade,
  • 2:43 - 2:47
    lembrei do ataque terrorista aos meios
    de transporte londrinos em julho de 2005,
  • 2:47 - 2:50
    e como o prefeito de Londres na época,
    e até meus próprios pais,
  • 2:50 - 2:53
    insistiram que voltássemos a pegar
    o metrô no dia seguinte,
  • 2:53 - 2:56
    não sendo definidos ou transformados
    por aqueles que nos tornaram inseguros.
  • 2:57 - 2:59
    Disse ao meu agressor:
  • 3:00 - 3:03
    "Você me atacou, mas agora
    vou pegar o meu metrô de novo.
  • 3:04 - 3:07
    Minha comunidade não vai se sentir
    insegura vindo para casa à noite.
  • 3:07 - 3:11
    Viremos no último metrô de volta
    e subiremos a rua sozinhos,
  • 3:11 - 3:13
    pois não vamos engolir
    e nem nos submeter à ideia
  • 3:13 - 3:16
    de que nos colocamos
    em perigo ao fazer isso.
  • 3:16 - 3:19
    Continuaremos unidos como um exército,
  • 3:19 - 3:22
    quando qualquer pessoa
    da comunidade for ameaçada.
  • 3:22 - 3:24
    E essa luta você não vai vencer."
  • 3:26 - 3:27
    Quando escrevi esta carta...
  • 3:27 - 3:29
    (Aplausos)
  • 3:29 - 3:30
    Obrigada.
  • 3:30 - 3:32
    (Aplausos)
  • 3:33 - 3:36
    Quando escrevi esta carta,
    estava estudando para provas em Oxford,
  • 3:36 - 3:38
    e trabalhava no jornal estudantil de lá.
  • 3:38 - 3:42
    Apesar da sorte de ter amigos e familiares
    me apoiando, foi um período solitário.
  • 3:43 - 3:46
    Não conhecia ninguém que tivesse vivido
    isso antes; pelo menos achava que não.
  • 3:46 - 3:50
    Tinha lido notícias, estatísticas, e sabia
    como o abuso sexual era comum,
  • 3:50 - 3:52
    mas, de fato, não podia
    citar uma só pessoa
  • 3:52 - 3:55
    que tivesse ouvido denunciar
    uma experiência como essa antes.
  • 3:55 - 3:58
    Então, numa decisão um tanto espontânea,
  • 3:58 - 4:01
    decidi que publicaria
    minha carta no jornal estudantil,
  • 4:01 - 4:03
    esperando alcançar outros em Oxford
  • 4:03 - 4:06
    que talvez tivessem passado
    por algo assim e se sentissem como eu.
  • 4:06 - 4:07
    No final da carta,
  • 4:07 - 4:11
    pedi que outros contassem, com a "hashtag"
    "#NotGuilty", suas experiências,
  • 4:11 - 4:14
    para enfatizar que sobreviventes
    de abuso poderiam se expressar
  • 4:14 - 4:17
    sem sentirem vergonha ou culpa
    pelo que aconteceu a eles,
  • 4:17 - 4:20
    e mostrar que todos podíamos
    enfrentar o abuso sexual.
  • 4:20 - 4:23
    O que nunca imaginei foi que,
    quase do dia para a noite,
  • 4:23 - 4:25
    essa publicação se tornaria viral.
  • 4:26 - 4:28
    Logo, começamos a receber
    centenas de histórias
  • 4:28 - 4:30
    de homens e mulheres de todo o mundo,
  • 4:30 - 4:33
    que começamos a publicar
    em um site que eu criei.
  • 4:33 - 4:35
    E a "hashtag" virou uma campanha.
  • 4:35 - 4:39
    Teve uma mãe australiana, na casa dos 40,
    que contou como, numa saída à noite,
  • 4:39 - 4:43
    foi seguida até o banheiro por um homem
    que agarrou sua genitália várias vezes.
  • 4:43 - 4:47
    Teve um homem na Holanda que contou
    um abuso sofrido de um paquera em Londres,
  • 4:47 - 4:50
    e ninguém levou a sério o seu relato.
  • 4:51 - 4:54
    Recebi mensagens de indianos
    e sul-americanos no Facebook,
  • 4:54 - 4:57
    dizendo: "Como trazemos a mensagem
    da campanha até aqui?"
  • 4:57 - 5:00
    Uma das primeira contribuições veio
    de uma mulher chamada Nikki,
  • 5:00 - 5:02
    que contou que cresceu
    sofrendo abuso do próprio pai.
  • 5:03 - 5:04
    E amigos que se abriram comigo
  • 5:04 - 5:07
    sobre experiências que aconteceram
    na semana anterior
  • 5:07 - 5:11
    até as que aconteceram anos atrás,
    das quais eu não fazia ideia.
  • 5:11 - 5:14
    E quanto mais recebíamos mensagens,
  • 5:14 - 5:16
    mais chegavam mensagens de esperança.
  • 5:16 - 5:19
    Pessoas se sentindo
    fortalecidas por tantas vozes
  • 5:19 - 5:21
    enfrentando o abuso
    e a culpabilização da vítima.
  • 5:21 - 5:24
    Uma mulher chamada Olivia,
    após descrever como foi atacada
  • 5:24 - 5:27
    por alguém de sua confiança
    e por quem se importava, disse:
  • 5:27 - 5:30
    "Li várias histórias postadas aqui,
  • 5:30 - 5:33
    e tenho esperança de que, se tantos
    conseguem seguir em frente, eu também.
  • 5:33 - 5:37
    Fui inspirada por muitas, e espero
    ser tão forte quanto eles um dia.
  • 5:37 - 5:38
    Com certeza, serei."
  • 5:39 - 5:41
    Todo mundo começou a tuitar
    usando essa hashtag,
  • 5:41 - 5:45
    a carta foi republicada e ganhou
    cobertura da imprensa nacional,
  • 5:45 - 5:48
    assim como foi traduzida em diversas
    outras línguas no mundo todo.
  • 5:48 - 5:52
    Mas algo me surpreendeu com a atenção
    da mídia que essa carta estava atraindo.
  • 5:53 - 5:55
    Para estampar a capa do noticiário,
  • 5:55 - 5:58
    sendo a palavra "notícia"
    relacionada a novidades,
  • 5:58 - 6:01
    podemos supor que deve ser algo
    novo ou algo surpreendente.
  • 6:01 - 6:03
    Entretanto, abuso sexual não é algo novo.
  • 6:04 - 6:07
    Junto com outras formas de injustiça,
  • 6:07 - 6:09
    ele é noticiado todo o tempo.
  • 6:09 - 6:10
    Mas através da campanha,
  • 6:10 - 6:13
    essas injustiças não foram
    expressas só como notícias,
  • 6:13 - 6:16
    eram experiências de primeira mão
    que afetaram pessoas reais,
  • 6:16 - 6:19
    que criavam, com a solidariedade alheia,
  • 6:19 - 6:21
    o que precisavam e antes não tinham:
  • 6:21 - 6:22
    uma plataforma de protesto,
  • 6:22 - 6:26
    o conforto de não estarem sozinhas
    ou sendo culpadas pelo que aconteceu
  • 6:26 - 6:29
    e debates abertos que ajudariam
    a reduzir o estigma sobre a questão.
  • 6:29 - 6:33
    As vozes dos diretamente atingidos
    estavam à frente das histórias,
  • 6:33 - 6:36
    e não as vozes de jornalistas
    ou comentadores nas mídias sociais.
  • 6:37 - 6:39
    Por isso a história virou notícia.
  • 6:40 - 6:44
    Em um mundo incrivelmente interconectado,
    a proliferação das mídias sociais,
  • 6:44 - 6:48
    claro, é um recurso fantástico
    para instigar a mudança social.
  • 6:48 - 6:51
    Mas isto também nos tornou
    cada vez mais reativos,
  • 6:51 - 6:54
    dos menores aborrecimentos
    como: "Ah, meu trem atrasou",
  • 6:54 - 6:58
    às maiores injustiças de guerras,
    genocídios e ataques terroristas.
  • 6:59 - 7:02
    A resposta padrão tem sido reagir
    a qualquer tipo de reclamação
  • 7:02 - 7:04
    com tuítes, hashtags,
    postagens no Facebook;
  • 7:04 - 7:07
    qualquer coisa para mostrar
    que nós reagimos também.
  • 7:08 - 7:10
    O problema de reagir dessa forma em massa
  • 7:10 - 7:13
    é que, às vezes, significa
    que não reagimos de modo algum,
  • 7:13 - 7:15
    no sentido de fazermos algo de fato.
  • 7:15 - 7:17
    Pode nos fazer sentir melhor,
  • 7:17 - 7:20
    é um apoio para um luto
    ou uma revolta grupal,
  • 7:20 - 7:22
    mas nada muda de fato.
  • 7:22 - 7:23
    E mais,
  • 7:23 - 7:25
    às vezes pode abafar as vozes
  • 7:25 - 7:27
    daqueles diretamente afetados,
  • 7:27 - 7:29
    cuja carência precisa ser ouvida.
  • 7:30 - 7:34
    Também preocupa a tendência
    de algumas reações à injustiça
  • 7:34 - 7:35
    levantarem ainda mais muros,
  • 7:35 - 7:38
    rápidas em apontar dedos,
    na esperança de soluções fáceis
  • 7:38 - 7:40
    para problemas complexos.
  • 7:40 - 7:44
    A manchete de um tabloide britânico
    disse sobre a minha carta:
  • 7:44 - 7:48
    "Estudante de Oxford lança campanha
    on-line para envergonhar agressor".
  • 7:50 - 7:52
    Mas a campanha nunca
    foi para envergonhar ninguém.
  • 7:52 - 7:55
    Era para deixar pessoas falarem
    e fazer outras ouvirem.
  • 7:56 - 8:00
    Provocações no Twitter se apressaram
    em causar mais injustiça,
  • 8:00 - 8:03
    comentando a etnia
    ou a classe do meu agressor,
  • 8:03 - 8:05
    reforçando os seus próprios preconceitos.
  • 8:05 - 8:09
    Alguns me acusaram de fingir a coisa toda
  • 8:09 - 8:11
    para forçar, abre aspas,
  • 8:11 - 8:14
    minha "agenda feminista
    de ódio aos homens".
  • 8:15 - 8:16
    (Risos)
  • 8:16 - 8:17
    Eu sei, né?
  • 8:17 - 8:20
    Como se eu fosse dizer:
    "Ei, pessoal! Desculpa, não posso ir,
  • 8:20 - 8:23
    estou ocupada tentando odiar
    todos os homens antes de chegar aos 30."
  • 8:23 - 8:25
    (Risos)
  • 8:25 - 8:27
    Agora, tenho quase certeza
  • 8:27 - 8:30
    de que eles não diriam
    pessoalmente o que disseram.
  • 8:30 - 8:33
    Mas, como estão atrás de uma tela,
  • 8:33 - 8:36
    confortavelmente na própria casa
    usando as redes sociais,
  • 8:36 - 8:38
    se esquecem de que estão
    praticando um ato público
  • 8:38 - 8:40
    que outros lerão e serão afetados.
  • 8:41 - 8:44
    Retomando a minha analogia
    de voltar a pegar nossos trens,
  • 8:45 - 8:47
    outra preocupação que tenho
    com o barulho que aumenta
  • 8:47 - 8:49
    de nossas respostas on-line à injustiça
  • 8:49 - 8:53
    é que podem nos transformar
    facilmente na parte atingida,
  • 8:53 - 8:55
    podendo causar uma sensação de derrotismo,
  • 8:55 - 8:59
    um tipo de barreira mental para não ver
    chances de positividade ou mudança
  • 8:59 - 9:00
    após uma situação negativa.
  • 9:01 - 9:05
    Alguns meses antes de a campanha
    começar, ou antes de tudo acontecer,
  • 9:05 - 9:07
    fui a um evento do TEDx em Oxford
  • 9:07 - 9:09
    e vi Zelda la Grange discursar,
  • 9:09 - 9:11
    a ex-secretária particular
    de Nelson Mandela.
  • 9:11 - 9:13
    Uma das histórias que contou
    me impressionou.
  • 9:13 - 9:17
    Falou de quando ele foi levado ao tribunal
    pela South African Rugby Union
  • 9:17 - 9:20
    após requerer uma investigação
    de assuntos esportivos.
  • 9:20 - 9:23
    No tribunal, ele foi
    até os advogados da outra parte
  • 9:24 - 9:25
    apertou suas mãos
  • 9:25 - 9:28
    e conversou com eles,
    cada um em sua própria língua.
  • 9:28 - 9:31
    E Zelda queria protestar,
    dizendo que não mereciam o respeito dele
  • 9:31 - 9:33
    depois da injustiça que haviam cometido.
  • 9:34 - 9:36
    Ele se virou para ela e disse:
  • 9:36 - 9:40
    "Nunca deixe o inimigo determinar
    as bases da batalha".
  • 9:42 - 9:45
    Quando ouvi essas palavras,
    não sabia por que eram tão importantes,
  • 9:45 - 9:49
    mas sentia que eram, e as escrevi
    no caderno que tinha comigo.
  • 9:49 - 9:52
    Mas tenho pensado muito nelas desde então.
  • 9:52 - 9:54
    Vingança, ou a expressão do ódio
  • 9:55 - 9:57
    na direção dos que nos injustiçaram
  • 9:57 - 10:00
    pode parecer um instinto humano
    em face de injustiças,
  • 10:00 - 10:02
    mas precisamos sair desses ciclos
  • 10:02 - 10:05
    se pretendemos transformar
    eventos negativos de injustiça
  • 10:05 - 10:07
    em mudança social positiva.
  • 10:07 - 10:08
    Fazer o oposto,
  • 10:08 - 10:11
    além de continuar a deixar o inimigo
    determinar as bases da batalha,
  • 10:11 - 10:13
    cria um binário,
  • 10:13 - 10:15
    onde nós que sofremos
    nos tornamos os atingidos,
  • 10:15 - 10:18
    os coitados, contra eles, os criminosos.
  • 10:18 - 10:20
    E assim como voltamos ao nosso metrô,
  • 10:20 - 10:23
    não vamos deixar nossas bases
    de interconectividade e comunidade
  • 10:23 - 10:25
    serem onde nos contentamos com a derrota.
  • 10:27 - 10:31
    Mas não quero desencorajar
    a reação nas mídias sociais,
  • 10:31 - 10:34
    pois devo o avanço da campanha
    #NotGuilty quase totalmente a elas.
  • 10:35 - 10:37
    O que quero encorajar
    é uma abordagem mais bem pensada
  • 10:37 - 10:40
    de como usá-las para reagir à injustiça.
  • 10:40 - 10:42
    Para começar, devemos
    nos fazer duas perguntas.
  • 10:42 - 10:44
    Primeiro: por que sinto essa injustiça?
  • 10:45 - 10:47
    No meu caso, havia diversas respostas.
  • 10:47 - 10:49
    Alguém feriu a mim e àqueles que amo,
  • 10:49 - 10:53
    achando que não seria responsabilizado
    ou teria de admitir o dano que causou.
  • 10:54 - 10:57
    Não só isso, mas milhares de homens
    e mulheres sofrem abuso sexual
  • 10:57 - 10:59
    todo dia, geralmente em silêncio,
  • 10:59 - 11:02
    mas ainda é um problema sem
    a mesma cobertura que outras questões.
  • 11:02 - 11:04
    Muitas pessoas ainda culpam as vítimas.
  • 11:05 - 11:08
    Segundo: como, ao reconhecer essas razões,
  • 11:08 - 11:10
    eu poderia revertê-las?
  • 11:10 - 11:14
    Conosco, isso significava responsabilizar
    o meu agressor, e muitos outros.
  • 11:14 - 11:16
    Convocá-los para verem
    o mal que haviam causado.
  • 11:16 - 11:19
    Fazer cobertura na mídia
    sobre a questão do abuso sexual,
  • 11:19 - 11:22
    abrindo um debate entre amigos
    e famílias na mídia
  • 11:22 - 11:24
    que estava encerrado há tempos,
  • 11:24 - 11:28
    enfatizando que as vítimas não deviam
    sentir culpa pelo que lhes aconteceu.
  • 11:28 - 11:31
    Ainda temos um longo caminho
    para resolver o problema totalmente.
  • 11:31 - 11:35
    Mas, assim, começamos a usar as mídias
    sociais como ferramenta ativa por justiça,
  • 11:35 - 11:37
    para educar, para estimular o diálogo,
  • 11:37 - 11:41
    para conscientizar as autoridades
    sobre alguma questão,
  • 11:41 - 11:43
    ouvindo aqueles diretamente afetados.
  • 11:44 - 11:48
    Porque, às vezes, esses problemas
    não têm soluções fáceis.
  • 11:48 - 11:50
    Na verdade, raramente têm.
  • 11:51 - 11:54
    Mas isso não significa que não podemos
    dar uma resposta bem pensada.
  • 11:54 - 11:58
    Quando não conseguimos pensar
    como reverter essa sensação de injustiça,
  • 11:58 - 12:01
    talvez ainda possamos
    pensar não o que fazer,
  • 12:01 - 12:03
    mas o que não fazer.
  • 12:04 - 12:07
    Não podemos construir mais barreiras,
    combatendo injustiça com mais preconceito
  • 12:07 - 12:09
    e mais ódio.
  • 12:09 - 12:13
    Não podemos levantar a voz acima
    dos diretamente afetados pela injustiça.
  • 12:13 - 12:17
    E não podemos reagir à injustiça,
    e esquecê-la no dia seguinte,
  • 12:17 - 12:19
    só porque o resto do Twitter
    seguiu em frente.
  • 12:20 - 12:24
    Ironicamente, às vezes, não reagir logo
  • 12:24 - 12:27
    é a melhor estratégia imediata
    que podemos seguir,
  • 12:28 - 12:32
    pois podemos estar com raiva, irritados
    e motivados por causa da injustiça,
  • 12:32 - 12:35
    mas vamos considerar nossas respostas.
  • 12:35 - 12:39
    Vamos responsabilizar as pessoas,
    sem rebaixar a nós mesmos
  • 12:39 - 12:42
    a uma cultura que prospera
    com a vergonha e a injustiça.
  • 12:42 - 12:46
    Vamos nos lembrar da diferença,
    tão ignorada por usuários da internet,
  • 12:46 - 12:49
    entre crítica e insulto.
  • 12:49 - 12:53
    Não esqueçamos de pensar antes de falar,
    só porque temos uma tela a nossa frente.
  • 12:53 - 12:58
    E ao fazermos barulho nas redes sociais,
    não vamos abafar a carência dos atingidos,
  • 12:58 - 13:01
    mas vamos fazê-lo ampliar as vozes deles,
  • 13:01 - 13:03
    para a internet se tornar um lugar
    onde você não é a exceção
  • 13:03 - 13:06
    se denunciar algo que realmente
    aconteceu com você.
  • 13:06 - 13:09
    Tais abordagens pensadas
    contra a injustiça
  • 13:09 - 13:12
    suscitam o próprio pilar
    no qual a internet foi criada:
  • 13:12 - 13:15
    para fazer network, transmitir, conectar.
  • 13:15 - 13:19
    Todos termos que sugerem a aproximação
    das pessoas, e não o distanciamento.
  • 13:19 - 13:23
    Porque se você procurar pela palavra
    "justiça" no dicionário,
  • 13:24 - 13:25
    antes de punição,
  • 13:25 - 13:29
    antes de aplicação da lei
    ou de autoridade judicial,
  • 13:30 - 13:31
    temos:
  • 13:31 - 13:33
    "A manutenção do que é justo".
  • 13:34 - 13:38
    E acho que há poucas coisas
    mais "justas" neste mundo
  • 13:38 - 13:39
    do que aproximar as pessoas,
  • 13:39 - 13:41
    do que a união.
  • 13:41 - 13:44
    E se permitirmos
    que as mídias sociais façam isso,
  • 13:44 - 13:48
    então elas, de fato, farão
    um tipo de justiça muito poderoso.
  • 13:48 - 13:49
    Muito obrigada.
  • 13:50 - 13:53
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Como falamos na internet sobre abuso sexual
Speaker:
Ione Wells
Description:

Precisamos de uma abordagem mais bem pensada quando usamos as mídias sociais com o objetivo de fazer justiça, diz a escritora e ativista Ione Wells. Após ser vítima de abuso sexual em Londres, Wells publicou, em um jornal de estudantes, uma carta para o seu agressor que se tornou viral e deflagrou a campanha #NotGuilty contra a violência sexual e a culpabilização da vítima. Nesta palestra emocionante, ela descreve como o fato de compartilhar sua história pessoal trouxe esperança para outras pessoas e apresenta uma mensagem poderosa contra a cultura dos insultos on-line.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
13:56

Portuguese, Brazilian subtitles

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