Histórias verdadeiras do Mediterrâneo | Francois Beaune | TEDxLyon
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0:10 - 0:14O Mediterrâneo é uma boca ressequida
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0:15 - 0:18cujo lábio superior se exprime em latim
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0:18 - 0:21e o lábio inferior em árabe.
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0:21 - 0:23Quando tenta engolir,
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0:23 - 0:25quando os lábios se aproximam.
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0:25 - 0:27ele sente-se mal, pica.
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0:27 - 0:31Sofre porque há todas aquelas fronteiras,
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0:31 - 0:33todo o arame farpado, todas as guaritas,
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0:33 - 0:36todos os postos de controlo
à volta do Mediterrâneo -
0:36 - 0:39que o impedem de se exprimir.
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0:39 - 0:42Em 2011, eu estava em Marselha,
quando ocorreram as primaveras árabes -
0:42 - 0:45e senti que havia indivíduos livres,
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0:45 - 0:47que retomavam a palavra,
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0:47 - 0:54que se recusavam a ficar presos
nos rolos de arame farpado -
0:54 - 0:59que retomavam o direito de existir
e de dizer o que tinham vontade de dizer. -
1:00 - 1:02Nesse momento, pensei
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1:02 - 1:06que o que era preciso fazer
era ir lá escutá-los, simplesmente. -
1:06 - 1:07Ou seja,
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1:08 - 1:12deixar de considerar o Mediterrâneo
como um conjunto de estados-nações -
1:12 - 1:14que não falam uns com os outros,
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1:14 - 1:21mas como uma comunidade de habitantes
que não se conhecem muito bem -
1:21 - 1:27e ir escutá-los
e criar uma grande biblioteca, -
1:27 - 1:30uma base de dados comum.
livre de direitos, -
1:30 - 1:34uma biblioteca de histórias verdadeiras
dos habitantes do Mediterrâneo -
1:35 - 1:37em toda as línguas do Mediterrâneo.
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1:37 - 1:40Propus isso, em Marseille 2013,
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1:40 - 1:42que, na altura, era a capital da cultura.
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1:42 - 1:44Assim, a partir de dezembro de 2011,
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1:44 - 1:47parti para fazer uma viagem,
de microfone na mão. -
1:47 - 1:49Comecei por Barcelona.
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1:49 - 1:51A princípio, não sabia bem
como fazer isso, -
1:51 - 1:54portanto, ia ter com as pessoas
sentadas nos bancos. -
1:54 - 1:55Pouco a pouco,
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1:55 - 1:59arranjámos um determinado número
de possibilidades de recolha. -
2:00 - 2:02Podemos recolher histórias verdadeiras
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2:02 - 2:05em "tête-à-tête" com alguém
que encontramos. -
2:05 - 2:07Podemos fazer isso, aqui, em conjunto,
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2:07 - 2:10vocês aparecem todos juntos
e contam uma história verdadeira. -
2:10 - 2:12Podemos fazer vigílias à luz de velas.
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2:12 - 2:15podemos fazer mesas redondas, etc.
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2:15 - 2:17Há 36 maneiras de recolher.
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2:17 - 2:20Do mesmo modo, há 36 maneiras
de reproduzir as histórias. -
2:20 - 2:25Há todas as formas possíveis
de voltar a contar essas histórias. -
2:25 - 2:28Portanto, comecei assim.
Isto foi em Espanha. -
2:28 - 2:31Depois, estive em Marrocos,
em janeiro de 2012. -
2:31 - 2:34Depois, na Argélia e aí o projeto arrancou
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2:34 - 2:37porque chegaram
imensas histórias argelinas, -
2:37 - 2:41sob a forma de textos, na Internet,
onde eram reunidas. -
2:41 - 2:44Depois, encontrei imensas pessoas.
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2:44 - 2:48Esta recolha arrancou realmente
em fevereiro de 2012. -
2:48 - 2:50Depois, estive na Tunísia
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2:50 - 2:53e aí também tive ótimos encontros.
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2:53 - 2:56Depois, não pude ir à Líbia,
com o que lá se passava -
2:57 - 2:58e fui ao Egito.
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2:58 - 3:02Cheguei ao Líbano
e continuei a recolha. -
3:02 - 3:04Estive muito tempo em Beirute
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3:04 - 3:07e, a certa altura, fui convidado
para Hammana -
3:07 - 3:11que é uma aldeiazinha
no alto do Monte Líbano, -
3:11 - 3:15uma aldeiazinha de maioria cristã,
a uns três quartos de hora de Beirute. -
3:15 - 3:19Cheguei lá, as pessoas estavam
à minha espera, -
3:19 - 3:21estavam todas na biblioteca.
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3:21 - 3:24Parecia uma vigília à luz de velas
mas no meio dos livros. -
3:24 - 3:27Todos nós pedimos a palavra.
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3:27 - 3:28Eu contei uma história,
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3:28 - 3:31e as pessoas, os mais velhos,
os mais novos, -
3:31 - 3:33em francês, em árabe,
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3:33 - 3:34contaram as delas.
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3:34 - 3:38Escolheram — era sempre
o que eu pedia às pessoas — -
3:38 - 3:42entre o relato da sua vida,
de zero ao tempo presente: -
3:42 - 3:45"Qual será a história
que gostaria de partilhar -
3:45 - 3:47"com o mundo inteiro?"
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3:47 - 3:51"Qual será a história marcante
que lhe é cara, -
3:51 - 3:57"que têm vontade de pôr em comum
numa grande biblioteca?" -
3:58 - 4:00E, pronto, obtive imensas histórias.
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4:00 - 4:03Depois, voltámos a encontrar-nos
para beber um copo. -
4:03 - 4:06Samira Fakhouri, a diretora
da biblioteca, disse-me: -
4:07 - 4:09"Há uma história que eu não contei".
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4:09 - 4:13Passa-se em 1976.
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4:14 - 4:18Foi no primeiro ano
da guerra civil no Líbano -
4:19 - 4:22e foi também o ano
em que o exército sírio -
4:22 - 4:24foi ocupar o Líbano.
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4:24 - 4:27Instalaram, em especial,
em Hammana, -
4:28 - 4:32canhões para bombardear Beirute
e esperavam as réplicas. -
4:32 - 4:35Quando Samira e o marido viram aquilo.
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4:35 - 4:38decidiram pôr os filhos em segurança
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4:38 - 4:40no Vale de Becaa, ao pé de Zahlé
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4:40 - 4:43mas eles ficaram em Hammana
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4:43 - 4:47para se ocuparem das casas de família
para não serem saqueadas. -
4:47 - 4:50Havia três casas e eles ficaram.
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4:50 - 4:53Havia a avó numa das outras casas
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4:53 - 4:56e uma das casas tinha sido requisitada
pelos oficiais sírios, -
4:56 - 4:59portanto, eles moravam
numa das suas casas. -
4:59 - 5:00Eram vizinhos.
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5:00 - 5:06Na primavera, como todos os anos,
Samira e o marido discutem. -
5:06 - 5:09E discutem, sempre pela mesma razão,
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5:09 - 5:11por causa dos choupos.
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5:11 - 5:14Têm quatro choupos ao lado do jardim.
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5:14 - 5:16Não sei se estão a ver,
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5:16 - 5:19mas os choupos produzem
bolinhas de algodão, são os rebentos -
5:19 - 5:23que depois, fazem aquelas bolas
que sujam todos os jardins. -
5:23 - 5:25Na primavera, é sempre a mesma coisa.
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5:25 - 5:28O marido de Samira diz-lhe:
"É o último ano. -
5:29 - 5:32" 'khalass', vou livrar-me
daqueles choupos, -
5:32 - 5:34"vou cortar os choupos".
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5:34 - 5:36E Samira diz:
"Não podes fazer isso! -
5:36 - 5:39"Temos de viver com as árvores,
dão-nos sombra no verão". -
5:39 - 5:42A certa altura, o oficial sírio
passa por ali, -
5:43 - 5:46ouve a conversa, é a primeira vez
que os ouve discutir e diz: -
5:46 - 5:48"O que é que se passa, senhora Fakhouri,
há algum problema?" -
5:48 - 5:50Ela está tão enervada com o marido
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5:50 - 5:55e talvez também pela tensão
ligada à ocupação, à guerra, -
5:55 - 5:57olha para o oficial e diz:
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5:57 - 6:00"É o meu marido, quer divorciar-se.
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6:00 - 6:02"Quer divorciar-se, pronto".
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6:02 - 6:06O oficial sírio ouve aquilo
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6:06 - 6:10e não se percebe o que é que ele tem,
mas ele está emocionado. -
6:10 - 6:14Talvez não veja a mulher dele há meses.
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6:16 - 6:18Está ali e diz:
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6:18 - 6:21"Mas porquê? Ele não pode fazer isso...
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6:22 - 6:26"Não pode tomar essa decisão.
Tem de refletir mais tempo! -
6:26 - 6:29"O casamento é sagrado!
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6:29 - 6:31"Ele não pode divorciar-se assim,
senhora Fakhouri. -
6:31 - 6:34"A senhora é uma mulher de bem", etc.
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6:34 - 6:36Samira diz-lhe: "Ele quer divorciar-se
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6:36 - 6:40"e, senhor oficial sírio,
vou dizer-lhe porquê". -
6:40 - 6:43O oficial sírio diz: "Não, não.
Não quero saber nada. -
6:43 - 6:45"Oiça, são histórias pessoais.
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6:45 - 6:48"É a vossa vida privada,
não quero saber nada". -
6:48 - 6:51Ela diz: "Sim, sim,
eu quero dizer-lhe porquê. -
6:51 - 6:54"Está a ver aqueles choupos,
senhor oficial sírio? -
6:54 - 6:55"Está a ver aqueles quatro choupos?
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6:55 - 6:58"Produzem bolinha de algodão como estas.
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6:58 - 7:00"Caem e sujam o jardim todo.
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7:00 - 7:02"Ele quer cortar os choupos,
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7:02 - 7:04"mas eu não quero que ele corte
os meus choupos, -
7:04 - 7:06"por isso quer divorciar-se".
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7:06 - 7:09O oficial sírio olha para ela e diz:
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7:10 - 7:12"O vosso problema é esse,
senhora Fakhouri? -
7:12 - 7:14"É esse o vosso problema?"
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7:15 - 7:20Então, vira-se e chama os soldados,
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7:21 - 7:23chama-os como se eles fossem animais.
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7:23 - 7:26"Hayawan! Soldados, venham cá.
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7:26 - 7:29"Juntem-se em volta do jardim
da senhora Fakhouri". -
7:30 - 7:32Os soldados juntam-se todos.
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7:33 - 7:37O oficial diz: "Veem ali
aqueles quatro choupos?" -
7:37 - 7:40Os soldados:
"Sim, vemos os quatro choupos". -
7:40 - 7:42"Pois bem, soldados,
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7:42 - 7:48"Vão apanhar todos os rebentos
dos choupos". -
7:49 - 7:51Então, Samira disse-me:
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7:51 - 7:56"Vi o exército sírio a subir,
aos três, a cada choupo -
7:56 - 7:59"— queria fazer uma foto,
mas não me atrevi — -
7:59 - 8:02"e a colher delicadamente
os rebentos dos choupos, -
8:03 - 8:05"depois, desceram
puseram-nos em sacos. -
8:05 - 8:09"Eu pensei: 'Apesar de tudo,
este oficial sírio tem coração! -
8:10 - 8:12" 'Teve receio pelo meu casamento'."
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8:14 - 8:18Ela contou-me isto e acabámos a noite.
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8:18 - 8:21Depois, continuei o meu périplo.
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8:21 - 8:25De seguida, vou à Turquia,
muito tempo em Izmir. -
8:25 - 8:28Na Grécia, em Atenas,
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8:30 - 8:32Na Sicília, em Itália só fiz a Sicília.
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8:32 - 8:35Acabei em Israel,
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8:35 - 8:38onde passei bastante tempo
em Telavive, nos "kibbutz", -
8:39 - 8:41em Haifa, em Nazaré.
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8:41 - 8:42E, depois, na Palestina,
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8:42 - 8:46onde comecei por Hébron,
o que foi um grande choque, -
8:46 - 8:50depois Ramallah,
depois Naplusa, depois Belém. -
8:50 - 8:53De seguida, passei tempo a escrever
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8:53 - 8:57a partir de todas aquelas histórias
que tinha recolhido -
8:57 - 8:59sob duas formas diferentes:
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8:59 - 9:02Devolver as histórias,
voltar a contá-las às pessoas, -
9:02 - 9:04sob a forma de um livro
"La lune dans le puits" -
9:04 - 9:07que é a recolha de Histórias Verdadeiras
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9:07 - 9:09onde dou o exemplo
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9:09 - 9:12e é o que gostaria que fizéssemos todos,
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9:12 - 9:15sempre que alguém nos conte
uma história verdadeira. -
9:15 - 9:16Não sei isso aconteceu convosco
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9:16 - 9:19quando contei esta história
dos choupos em flor, -
9:19 - 9:24mas acabamos por pensar
em nós mesmos, como num espelho, -
9:24 - 9:26nas nossas histórias verdadeiras.
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9:26 - 9:28Portanto, neste livro
"La lune dans le puits", -
9:28 - 9:32eu também conto
as minhas histórias verdadeiras -
9:32 - 9:34desde o meu nascimento até agora.
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9:35 - 9:36Fiz isso.
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9:36 - 9:39Fiz criações sonoras
para a Rádio ARTE. -
9:39 - 9:42Depois, aqui há uns meses,
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9:42 - 9:46com um grupo de pessoas
de diferentes competências, -
9:46 - 9:50criámos uma associação que se chama
Histoire Vraie de la Méditerranée -
9:50 - 9:53e iniciei isso.
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9:53 - 9:55Neste momento,
há 1500 histórias verdadeiras -
9:55 - 9:59que estão nesta biblioteca,
nesta base de dados. -
9:59 - 10:02A ideia é que haja milhares
e milhares e continuar, -
10:02 - 10:06portanto, vamos enviar
aos quatro cantos do Mediterrâneo, -
10:06 - 10:11autores, artistas de todo o tipo,
investigadores -
10:11 - 10:14para eles irem o mais perto possível,
a casa de cada habitante, -
10:14 - 10:16escutar as pessoas.
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10:16 - 10:18É realmente isso de que precisamos hoje,
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10:18 - 10:20é a partir do indivíduo.
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10:20 - 10:23Acho que o Mediterrâneo
é uma boa escala, -
10:24 - 10:27desde que não o consideremos
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10:27 - 10:29ao nível dos seus estados-nações
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10:29 - 10:33nem para aquém ou para além
das suas fronteiras. -
10:35 - 10:37Penso que é ao nível do indivíduo
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10:37 - 10:39que podemos reconstruir qualquer coisa.
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10:39 - 10:43É por isso que me parece
muito importante fazer este gesto -
10:43 - 10:47de ir escutar as pessoas,
quaisquer que elas sejam, -
10:47 - 10:52de pôr em comum estas palavras,
estes relatos, estas histórias reais -
10:52 - 10:56e, depois, talvez, possamos
finalmente fazer o Mediterrâneo. -
10:56 - 10:59(Aplausos)
- Title:
- Histórias verdadeiras do Mediterrâneo | Francois Beaune | TEDxLyon
- Description:
-
Nesta palestra, François recorda-nos a importância de recolher as histórias tal como as pessoas as viveram, para enriquecer e construir a nossa memória coletiva. Essas histórias devem depois viajar e a informática permite essa viagem.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 11:04
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