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O perigo de escondermos quem somos

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    Quando era jovem,
    orgulhava-me de não ser conformista
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    no conservador estado americano
    em que vivo, o Kansas.
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    Não costumava seguir o rebanho.
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    Não tinha medo de experimentar
    roupas ou penteados estranhos.
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    Não tinha medo de dar a minha
    opinião e era extremamente social.
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    Até estas fotografias e postais do meu
    semestre em Londres há 16 anos
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    mostram que eu não me importava se os
    outros pensavam que era estranha.
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    (Risos)
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    Mas nesse mesmo ano em que
    eu estava em Londres, há 16 anos,
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    percebi algo sobre mim
    que era efetivamente algo único
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    e isso mudou tudo.
  • 0:49 - 0:53
    Tornei-me o oposto de
    quem eu achava que era.
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    Ficava no meu quarto em
    vez de socializar.
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    Deixei de participar nos clubes
    e em atividades de liderança.
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    Já não queria destacar-me da multidão.
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    Dizia a mim mesma que era porque
    estava a crescer e a amadurecer,
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    não porque estava, de repente,
    à procura de aceitação.
  • 1:12 - 1:15
    Assumi sempre que era imune
    à necessidade de aceitação.
  • 1:15 - 1:17
    Afinal, eu era pouco convencional.
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    Mas agora percebo
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    que o momento em que percebi
    que havia algo de diferente em mim
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    foi o exato momento em que
    me comecei a conformar e a esconder.
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    Esconder-se é um hábito progressivo,
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    uma vez que nos
    começamos a esconder,
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    torna-se cada vez mais difícil
    dar um passo em frente e falar.
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    De facto, mesmo agora,
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    quando contei a algumas pessoas
    qual o assunto desta palestra,
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    inventei uma história
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    e escondi a verdade
    sobre a minha TED Talk.
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    Portanto parece-me apropriado e assustador
  • 1:58 - 2:02
    voltar a esta cidade 16 anos mais tarde
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    e escolher este palco para, finalmente,
    deixar de me esconder.
  • 2:08 - 2:12
    O que é que eu andei a esconder
    durante 16 anos?
  • 2:15 - 2:18
    Sou lésbica.
  • 2:18 - 2:21
    (Aplausos)
  • 2:34 - 2:36
    Obrigada.
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    Tenho lutado para dizer estas palavras,
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    porque não queria ser
    definida por elas.
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    Cada vez que pensava
    em me assumir antes,
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    pensava com os meus botões:
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    "mas eu só quero
    ser conhecida como Morgana,
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    "apenas Morgana",
  • 2:52 - 2:57
    não como "a minha amiga lésbica Morgana,"
    ou "a minha colega lésbica Morgana."
  • 2:57 - 2:59
    Só Morgana.
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    Para vocês que são de grandes
    zonas metropolitanas,
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    isto pode não parecer importante.
  • 3:05 - 3:09
    Pode parecer estranho que
    eu tenha suprimido a verdade
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    e mantido isto escondido
    durante tanto tempo.
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    Mas o meu medo de não
    ser aceite paralisava-me.
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    E claro que não estou sozinha nisto.
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    Um estudo de 2013 da Deloitte descobriu
    que um número surpreendentemente
  • 3:24 - 3:27
    grande de pessoas escondem
    aspetos da sua identidade.
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    De todos os empregados que
    foram questionados,
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    61 % disseram ter mudado algo
    no seu comportamento ou aspeto físico
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    de forma a não destoarem no trabalho.
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    De todos os empregados "gays",
    lésbicas e bissexuais,
  • 3:43 - 3:48
    83 % admitiram ter mudado
    alguns aspectos pessoais
  • 3:48 - 3:52
    de forma a que não parecessem
    "muito gays" no trabalho.
  • 3:53 - 3:56
    O estudo descobriu que, até em empresas
  • 3:56 - 3:59
    com políticas de diversidade
    e programas de inclusão,
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    os empregados esforçam-se para
    serem eles próprios no trabalho
  • 4:02 - 4:05
    porque acreditam que
    a conformidade é algo crítico
  • 4:05 - 4:08
    para o seu avanço na carreira
    a longo prazo.
  • 4:10 - 4:13
    E apesar de ter ficado surpreendida
    que tanta gente como eu
  • 4:13 - 4:18
    gaste tanta energia para se esconder,
  • 4:18 - 4:21
    fiquei assustada ao perceber
    que o meu silêncio
  • 4:21 - 4:27
    tem consequências de vida ou morte,
    e repercussões sociais a longo prazo.
  • 4:29 - 4:31
    Doze anos:
  • 4:32 - 4:35
    o período em que
    a esperança de vida é diminuida
  • 4:35 - 4:41
    para "gays", lésbicas ou bissexuais
    que vivem em comunidades anti-"gay"
  • 4:41 - 4:44
    quando comparado com os que vivem
    em comunidades que os aceitam.
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    Doze anos de vida a menos.
  • 4:49 - 4:53
    Quando li isto na revista
    The Advocate. este ano,
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    percebi que não me podia
    dar ao luxo de ficar calada.
  • 4:58 - 5:03
    Os efeitos do "stress" pessoal e do
    estigma social são uma combinação mortal.
  • 5:05 - 5:08
    O estudo descobriu que os "gays"
    em comunidades anti-"gay"
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    tinham índices mais altos de doenças
    cardíacas, de violência e de suicídio.
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    O que eu antes achava que era
    apenas uma questão pessoal,
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    afinal tinha um efeito cascata
  • 5:19 - 5:22
    que entrava no local de trabalho
    e na comunidade
  • 5:22 - 5:25
    em cada história como a minha.
  • 5:25 - 5:29
    A minha escolha de esconder
    e de não partilhar quem eu sou realmente
  • 5:29 - 5:33
    pode ter inadvertidamente contribuído
    para este exato tipo de ambiente
  • 5:33 - 5:35
    e atmosfera de discriminação.
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    Sempre disse a mim mesma que não tinha
    nenhuma razão para dizer que era "gay",
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    mas a ideia de que o meu silêncio
    tinha consequências sociais
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    tocou-me mesmo profundamente, este ano,
    quando perdi uma oportunidade
  • 5:51 - 5:56
    para mudar a atmosfera de discriminação
    no Kansas, o meu estado natal.
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    Em fevereiro, a Câmara dos Representantes
    do Kansas pôs à votação um projeto-lei
  • 6:02 - 6:04
    que basicamente permitia aos comerciantes
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    usarem a liberdade religiosa como motivo
    para se negarem a atender "gays".
  • 6:13 - 6:16
    Uma antiga colega de trabalho
    e amiga minha
  • 6:16 - 6:21
    é filha de um senhor que faz parte da
    Câmara dos Representantes do Kansas.
  • 6:21 - 6:27
    Ele votou a favor do projeto-lei,
  • 6:27 - 6:33
    a favor de uma lei que permite
    aos comerciantes não me atenderem.
  • 6:35 - 6:37
    Como é que a minha amiga
    se sente relativamente
  • 6:37 - 6:42
    às pessoas lésbicas, "gays", bissexuais,
    transsexuais, "queer" e em dúvida?
  • 6:43 - 6:45
    Como é que se sente o pai dela?
  • 6:45 - 6:50
    Não sei, porque nunca fui honesta
    com eles sobre quem eu sou.
  • 6:51 - 6:54
    E isso afeta-me profundamente.
  • 6:54 - 6:57
    E se eu lhe tivesse contado
    a minha história há anos?
  • 6:57 - 7:00
    Teria ela contado ao pai
    a minha experiência?
  • 7:00 - 7:04
    Poderia eu ter ajudado
    a mudar o voto dele?
  • 7:05 - 7:07
    Nunca vou saber,
  • 7:07 - 7:12
    e isso fez-me perceber
    que eu não tinha feito nada
  • 7:12 - 7:14
    para tentar mudar as coisas.
  • 7:15 - 7:19
    É irónico que eu trabalhe
    em recursos humanos,
  • 7:19 - 7:22
    uma profissão que tenta acolher,
  • 7:22 - 7:25
    estabelecer ligações e encorajar
    o desenvolvimento dos empregados,
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    uma profissão que advoga
    que a diversidade social
  • 7:29 - 7:31
    deve ser refletida no local de trabalho,
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    e, no entanto, eu não tenha feito nada
    para defender a diversidade.
  • 7:37 - 7:40
    Quando me juntei a esta empresa
    no ano passado,
  • 7:40 - 7:45
    pensei para comigo, esta empresa
    tem políticas contra a discriminação
  • 7:45 - 7:49
    que protegem as pessoas "gays", lésbicas,
    bissexuais e transsexuais.
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    O seu compromisso com a diversidade é
    evidente pelos seus programas de inclusão.
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    Quando passar as portas desta
    empresa vou finalmente assumir.
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    Mas não o fiz.
  • 8:03 - 8:07
    Em vez de aproveitar a oportunidade,
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    não fiz nada.
  • 8:20 - 8:23
    (Aplausos)
  • 8:28 - 8:32
    Quando estava a ver
    o meu diário de Londres
  • 8:32 - 8:36
    do meu semestre em Londres
    e as fotos de há 16 anos,
  • 8:36 - 8:40
    encontrei esta citação modificada do
    livro "Paraíso" de Toni Morrison:
  • 8:42 - 8:46
    "Há mais coisas assustadoras
    cá dentro do que lá fora."
  • 8:47 - 8:49
    Depois tinha uma nota minha por baixo:
  • 8:49 - 8:51
    "Lembra-te disto."
  • 8:52 - 8:57
    Tenho a certeza de que eu estava a tentar
    encorajar-me a explorar Londres,
  • 8:57 - 8:59
    mas a mensagem que tinha perdido
  • 8:59 - 9:03
    era a necessidade de me explorar
    e aceitar a mim mesma.
  • 9:04 - 9:09
    O que eu não percebi
    senão tantos anos depois
  • 9:09 - 9:13
    é que os maiores obstáculos
    que alguma vez terei que ultrapassar
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    são os meus próprios medos e inseguranças.
  • 9:17 - 9:22
    Acredito que, se enfrentar
    o meu medo interior,
  • 9:22 - 9:24
    consigo mudar a minha realidade exterior.
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    Hoje fiz a escolha
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    de revelar uma parte minha
    que mantive escondida demasiado tempo.
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    Espero que isto queira dizer que
    nunca mais volto a esconder-me,
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    e espero que, ao assumir-me hoje,
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    possa fazer algo para mudar os dados
  • 9:46 - 9:49
    e ajudar outros que se sentem diferentes
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    a serem mais eles próprios
    e mais realizados
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    tanto nas suas vidas profissionais
    como nas pessoais.
  • 9:57 - 9:58
    Obrigada.
  • 9:59 - 10:02
    (Aplausos)
Title:
O perigo de escondermos quem somos
Speaker:
Morgana Bailey
Description:

Morgana Bailey tem vindo a esconder quem realmente é há 16 anos. Numa palestra corajosa, ela diz quatro palavras que podem não parecer grande coisa para alguns, mas que para ela são paralisantes. Porquê fazê-lo? Porque ela percebeu que o seu silêncio tem consequências pessoais, profissionais e sociais. Perante uma audiência de colegas de trabalho, ela reflete sobre o medo do julgamento dos outros, e como isso nos obriga a julgarmo-nos a nós mesmos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:22

Portuguese subtitles

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