Não sou humano? Uma chamada para a reforma da Justiça
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0:01 - 0:02Ela escreveu:
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0:03 - 0:04"Quando for famosa
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0:04 - 0:08"direi a toda a gente que conheço
um herói chamado Marlon Peterson". -
0:08 - 0:10Os heróis raras vezes são como eu.
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0:11 - 0:12Na verdade,
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0:12 - 0:14eu pareço-me mais com o lixo.
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0:14 - 0:17Não, não é a forma mais cativante
de começar uma palestra -
0:17 - 0:19ou de começar uma conversa,
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0:19 - 0:22e talvez estejam a pensar
nalgumas perguntas. -
0:22 - 0:25Porque é que eu digo
uma coisa destas sobre mim mesmo? -
0:25 - 0:26O que é que ele quer dizer?
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0:27 - 0:31Como é que uma pessoa o considera um herói
quando ele se considera lixo? -
0:31 - 0:34Acho que aprendemos mais com perguntas
do que com respostas. -
0:34 - 0:37Porque, quando questionamos uma coisa,
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0:37 - 0:40estamos a investir
para obtermos informações. -
0:40 - 0:44ou para lutar com uma ignorância
que nos faz sentir inquietos. -
0:44 - 0:46É por isso que eu estou aqui,
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0:46 - 0:48para obrigar-vos a questionar,
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0:48 - 0:50mesmo que isso vos deixe inquietos.
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0:50 - 0:53Os meus pais são
de Trindade e Tobago, -
0:53 - 0:55a ilha mais ao sul das Caraíbas.
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0:56 - 0:58A Trindade também é a região
do único instrumento acústico -
0:59 - 1:00inventado no século XX,
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1:00 - 1:02o tambor de aço
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1:02 - 1:05que deriva dos tambores africanos
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1:05 - 1:08e evoluiu com o génio
de um dos guetos da Trindade, -
1:08 - 1:10uma cidade chamada Laventille,
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1:10 - 1:13e com o desrespeito dos militares
norte-americanos... -
1:14 - 1:15É preciso dizer-vos,
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1:15 - 1:18os EUA, durante a I Guerra Mundial,
tinham bases militares em Trindade -
1:18 - 1:20e, quando a guerra acabou,
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1:20 - 1:23deixaram a ilha juncada
de tambores de petróleo vazios, -
1:23 - 1:25— o lixo deles.
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1:25 - 1:29Então, as pessoas de Laventille
aproveitaram os tambores abandonados -
1:29 - 1:32com uma escala cromática completa,
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1:32 - 1:33o tambor de aço.
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1:33 - 1:37Agora tocam música, de Beethoven
a Bob Marley, aos 50 Cent, -
1:38 - 1:42aquela gente faz música
literalmente a partir do lixo. -
1:43 - 1:45Doze dias antes de eu fazer 20 anos,
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1:45 - 1:49fui detido pelo meu papel
numa tentativa violenta de roubo -
1:49 - 1:51na baixa de Manhattan.
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1:51 - 1:53As pessoas estavam num café
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1:54 - 1:56e quatro pessoas foram atingidas a tiro.
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1:57 - 1:59Duas delas morreram.
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2:00 - 2:01Fomos presos cinco.
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2:02 - 2:05Éramos todos produto
de Trindade e Tobago. -
2:05 - 2:07Éramos os "imigrantes maus",
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2:07 - 2:11ou os "bebés pendura" que Trump
e milhões de norte-americanos caluniam. -
2:12 - 2:15Fui posto de lado, como desperdício
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2:15 - 2:17— com toda a razão,
de acordo com muita gente. -
2:17 - 2:21Acabei por pagar com 10 anos,
dois meses e sete dias de prisão. -
2:22 - 2:27Fui condenado a uma década de punição
numa instituição de correção. -
2:28 - 2:31Fui condenado à irrelevância
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2:31 - 2:32— o oposto de humanidade.
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2:33 - 2:35Curiosamente,
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2:35 - 2:39foi durante esses anos na prisão
que uma série de cartas me redimiram, -
2:39 - 2:43me ajudaram a sair
da escuridão e da culpa -
2:43 - 2:46associadas ao pior momento
da minha vida de jovem. -
2:46 - 2:49Deram-me a sensação
de que eu era útil. -
2:49 - 2:51Ela tinha 13 anos.
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2:51 - 2:54Escrevera que me via como um herói.
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2:54 - 2:56Lembro-me de ter lido isso
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2:56 - 2:59e lembro-me de ter chorado
quando li aquelas palavras. -
2:59 - 3:02Ela era uma de mais de 50 estudantes
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3:02 - 3:06e de 150 cartas que eu escrevi
num programa de correspondência -
3:06 - 3:08que eu concebi juntamente
com um amigo -
3:08 - 3:11que era professor numa escola secundária
em Brooklyn, a minha cidade natal. -
3:11 - 3:14Chamávamos-lhe o Programa
dos Jovens Estudantes. -
3:14 - 3:18Sempre que aqueles jovens
partilhavam comigo as suas histórias, -
3:18 - 3:19as suas lutas,
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3:19 - 3:23sempre que eles desenhavam um retrato
da sua personagem de cartune preferida -
3:23 - 3:25e mo mandavam,
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3:25 - 3:27sempre que diziam
que dependiam das minhas cartas -
3:27 - 3:29ou das minhas palavras de conselhos,
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3:29 - 3:31reforçavam o meu sentimento de mérito.
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3:32 - 3:35Dava-me a sensação do que eu
podia contribuir para este planeta. -
3:36 - 3:37Transformou a minha vida.
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3:38 - 3:40Porque aquelas cartas
e aquilo que partilhavam comigo, -
3:40 - 3:43as histórias das suas vidas
de adolescentes, -
3:43 - 3:44davam-me a permissão,
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3:45 - 3:47davam-me a coragem
para reconhecer -
3:47 - 3:50que havia razões — não eram desculpas —
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3:50 - 3:54que havia razões para aquele
dia fatídico de outubro de1999, -
3:55 - 3:57que o trauma associado
a viver numa comunidade -
3:57 - 4:01— em que era mais fácil
obter armas do que ténis — -
4:01 - 4:07o trauma associado a ter sido violado
aos 14 anos, sob ameaça de arma, -
4:08 - 4:10essas coisas, para mim, são razões
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4:10 - 4:12para que aquela decisão que tomei,
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4:12 - 4:13aquela decisão fatal,
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4:13 - 4:16não tivesse sido uma proposta improvável.
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4:16 - 4:19Como aquelas cartas
foram tão importantes para mim, -
4:19 - 4:22como escrevê-las e recebê-las
e comunicar com aquela malta -
4:22 - 4:24teve um enorme impacto na minha vida,
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4:24 - 4:27decidi partilhar a oportunidade
com alguns amigos meus -
4:27 - 4:28que também estavam lá dentro.
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4:28 - 4:31Os meus amigos Bill e Cory e Arocks,
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4:31 - 4:33todos eles na prisão por crimes violentos,
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4:33 - 4:35partilharam as suas palavras sábias
com aqueles jovens -
4:35 - 4:38e receberam, por sua vez,
a sensação de relevância. -
4:38 - 4:42Hoje somos escritores, com obra publicada,
inovadores de programas juvenis, -
4:42 - 4:43especialistas em traumas,
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4:43 - 4:46defensores da prevenção
contra a violência armada -
4:46 - 4:48e palestrantes da TED e bons pais.
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4:48 - 4:49(Risos)
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4:49 - 4:52É a isto que eu chamo
um retorno positivo do investimento. -
4:53 - 4:54Mas, acima de tudo,
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4:54 - 4:58criar este programa ensinou-me,
que, quando semeamos, -
4:58 - 5:02quando investimos na humanidade
das pessoas, estejam onde estiverem, -
5:02 - 5:04podemos recolher recompensas fantásticas.
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5:05 - 5:07Nesta última era de reforma
da justiça criminal, -
5:07 - 5:10muitas vezes questiono e interrogo-me:
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5:10 - 5:12Porque é que tanta gente pensa
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5:12 - 5:16que só aqueles que foram condenados
por crimes de droga não violentos -
5:16 - 5:20merecem empatia
e uma humanidade reconhecida? -
5:21 - 5:24A reforma da justiça criminal
é a justiça humana. -
5:24 - 5:26Eu não sou humano?
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5:27 - 5:31Quando investimos em recursos
que amplificam a relevância das pessoas, -
5:31 - 5:33em comunidades como Laventille,
-
5:33 - 5:35ou em partes de Brooklyn,
ou num gueto perto de nós. -
5:35 - 5:38podemos criar as comunidades
que quisermos. -
5:38 - 5:40Podemos fazer melhor.
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5:40 - 5:43Podemos fazer melhor do que investir
apenas na imposição da lei como recurso, -
5:43 - 5:46porque isso não nos dá
a sensação de relevância -
5:46 - 5:50que é o cerne das razões por que
fazemos tantas coisas prejudiciais -
5:50 - 5:53na procura do que é importante.
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5:53 - 5:57A violência armada é apenas uma exibição
visível de muitos traumas subjacentes. -
5:58 - 6:02Quando investimos no valor redentor
da relevância, -
6:02 - 6:06podemos obter um retorno
de responsabilidade pessoal e de redenção. -
6:06 - 6:09Eu preocupo-me com o trabalho das pessoas,
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6:09 - 6:11porque as pessoas trabalham.
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6:11 - 6:15Famílias, peço-vos que façam
o trabalho pesado, -
6:15 - 6:17o trabalho mais difícil,
-
6:17 - 6:20o trabalho cansativo
de oferecer uma gentileza imerecida -
6:20 - 6:22àqueles que podemos
desdenhar como lixo -
6:22 - 6:25que podemos ignorar
e pôr de lado, facilmente. -
6:25 - 6:27Peço o mesmo a mim próprio.
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6:28 - 6:29Nos últimos dois meses,
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6:29 - 6:32perdi dois amigos
devido à violência armada, -
6:32 - 6:34ambos vítimas inocentes.
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6:35 - 6:38Um deles foi apanhado num "autostop"
quando ia para casa, a pé. -
6:39 - 6:42O outro estava sentado num café
a tomar o pequeno-almoço, -
6:42 - 6:45quando estava de férias em Miami.
-
6:46 - 6:49Faço os possíveis para ver
o valor redentor da relevância -
6:49 - 6:52nas pessoas que os assassinaram,
-
6:52 - 6:54por causa do trabalho difícil
de ver esse valor em mim. -
6:55 - 6:59Incito-vos a desafiar
as vossas capacidades -
6:59 - 7:01para viver plenamente
a vossa humanidade -
7:01 - 7:04compreendendo a biografia total
-
7:04 - 7:07das pessoas que, facilmente,
podemos optar por não ver, -
7:08 - 7:11porque os heróis estão à espera
de serem reconhecidos -
7:11 - 7:13e a música está à espera
de ser feita. -
7:14 - 7:15Obrigado.
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7:15 - 7:18(Aplausos)
- Title:
- Não sou humano? Uma chamada para a reforma da Justiça
- Speaker:
- Marlon Peterson
- Description:
-
Por um crime cometido aos vinte e poucos anos, os tribunais sentenciaram Marlon Peterson a 10 anos de prisão — e, como ele diz, a uma vida inteira de irrelevância. Enquanto estava atrás das grades, Peterson encontrou a redenção através de um amigo por correspondência de um programa de correspondência com estudantes de Brooklin. Nesta breve palestra, ele lembra-nos da razão por que devemos investir na humanidade daqueles que a sociedade desejaria desconsiderar e descartar.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 07:32
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