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Como olhar para o interior do cérebro

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    Este é um desenho do cérebro com mil anos.
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    É um diagrama do sistema visual.
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    E algumas coisas parecem-nos
    hoje muito familiares.
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    Dois olhos na base, o nervo ótico fluindo
    a partir da zona posterior.
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    Há um nariz muito largo
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    que parece não estar ligado
    a nada em particular.
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    Se compararmos isto
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    com representações mais recentes
    do sistema visual
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    verão que as coisas se tornaram
    substancialmente mais complicadas
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    durante esses mil anos.
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    E isso porque hoje podemos ver
    o que está no interior do cérebro
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    em vez de olharmos apenas
    para a sua forma geral.
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    Imaginem que queriam compreender
    como funciona um computador
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    e só podiam ver um teclado,
    um rato, um ecrã.
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    Vocês não teriam sorte nenhuma.
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    Vocês querem poder abri-lo, escancará-lo,
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    olhar para as ligações internas.
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    Até há pouco mais de um século
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    ninguém conseguia
    fazer isso com o cérebro.
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    Ninguém tinha um vislumbre
    das ligações cerebrais,
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    porque, se retirarem um cérebro do crânio
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    e lhe cortarem uma fatia fina,
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    mesmo que a vejam
    a um microscópio muito potente,
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    não há nada ali.
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    É cinzento, sem forma.
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    Não tem estrutura. Não vos dirá nada.
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    Tudo isto mudou no final do séc. XIX.
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    De repente, foram desenvolvidos
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    novos corantes químicos
    para o tecido cerebral
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    o que nos proporcionou o primeiro
    vislumbre das ligações cerebrais.
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    O computador foi escancarado.
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    Portanto, o que lançou
    a neurociência moderna
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    foi uma coloração
    chamada "coloração de Golgi".
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    Funciona de uma forma muito particular.
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    Em vez de tingir todas as células
    no interior de um tecido,
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    tinge apenas cerca de 1% das mesmas.
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    Limpa a floresta,
    revela as árvores no seu interior.
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    Se tudo tivesse ficado marcado,
    nada teria ficado visível.
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    Portanto, de certa forma,
    revela-nos o que lá existe.
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    O neuroanatomista espanhol
    Santiago Ramon y Cajal,
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    que é geralmente considerado o pai
    da neurociência moderna,
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    aplicou esta coloração de Golgi,
    e produziu dados com este aspeto,
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    e ao fazê-lo deu-nos a noção atual
    da célula nervosa, o neurónio.
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    Se estiverem a pensar no cérebro
    como um computador,
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    isto é o transístor.
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    Muito rapidamente, Cajal percebeu
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    que os neurónios não operam sozinhos,
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    mas, antes, estabelecem
    ligações com outros
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    que formam circuitos,
    tal como num computador.
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    Um século mais tarde, quando
    os investigadores querem ver os neurónios,
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    iluminam-nos a partir do interior,
    em vez de os escurecer.
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    Há várias maneiras de fazer isto.
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    Uma das mais populares
    envolve proteína verde fluorescente.
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    A proteína verde fluorescente,
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    que, curiosamente,
    vem de uma alforreca bioluminescente,
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    é muito útil.
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    Porque, obtendo o gene
    da proteína verde fluorescente
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    e introduzindo-o numa célula,
    essa célula ficará verde brilhante
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    ou, com as muitas atuais variantes
    da proteína verde fluorescente,
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    obteremos células a brilhar
    em muitas cores diferentes.
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    Assim, voltando ao cérebro,
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    este é de um rato geneticamente
    modificado, chamado "Brainbow".
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    Chama-se assim, obviamente,
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    porque todos estes neurónios
    brilham em cores diferentes.
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    Por vezes os neurocientistas
    precisam de identificar
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    componentes moleculares individuais
    dos neurónios, moléculas,
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    em vez de células inteiras.
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    Há várias maneiras de fazer isso,
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    mas uma das mais populares
    envolve o uso de anticorpos.
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    Claro, vocês estão familiarizados
    com os anticorpos,
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    como guarda-costas do sistema imunitário.
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    Acontece que eles são
    muito úteis ao sistema imunitário
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    porque reconhecem moléculas específicas,
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    como, por exemplo, a proteína código
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    de um vírus que esteja a invadir o corpo.
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    Os investigadores aproveitaram este facto
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    para reconhecerem moléculas específicas
    no interior do cérebro,
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    reconhecer estruturas
    específicas da célula
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    e identificá-las individualmente.
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    Muitas das imagens que vos tenho
    estado a mostrar aqui
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    são muito belas,
    mas também muito poderosas.
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    Têm um grande poder explicativo.
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    Esta, por exemplo,
    é a coloração de um anticorpo
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    contra os transportadores de serotonina
    numa fatia de cérebro de rato.
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    Já ouviram falar da serotonina
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    no contexto de doenças
    como a depressão e a ansiedade.
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    Ouviram falar de ISRSs,
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    que são fármacos usados
    para tratar estas doenças.
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    Para se compreender
    como a serotonina funciona,
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    é fundamental compreender onde está
    o mecanismo de funcionamento da serotonina.
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    Podem usar-se colorações
    de anticorpos como esta
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    para compreender esse tipo de questões.
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    Gostava de vos deixar
    o seguinte pensamento:
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    Tanto as proteínas como os anticorpos
    verde fluorescente
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    são, à partida, produtos
    inteiramente naturais.
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    Evoluíram naturalmente
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    para conferir à alforreca um brilho verde,
    seja qual for a razão,
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    ou para detetar a proteína código
    de um vírus invasor, por exemplo.
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    E só muito mais tarde
    é que os cientistas entraram em cena
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    e disseram: "Espera, isto são ferramentas,
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    "isto são funções que podíamos usar
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    "na nossa paleta
    de ferramentas de pesquisa."
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    Em vez de porem pobres mentes humanas
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    a conceber estas ferramentas
    a partir do nada,
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    serviram-se destas soluções
    prontas a usar ali mesmo, na Natureza,
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    desenvolvidas e aperfeiçoadas
    durante milhões de anos
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    pelo melhor engenheiro existente.
  • 4:34 - 4:35
    Obrigado.
  • 4:35 - 4:39
    (Aplausos)
Title:
Como olhar para o interior do cérebro
Speaker:
Carl Schoonover
Description:

Têm ocorrido avanços notáveis na compreensão do cérebro, mas como é que se estudam realmente os neurónios no seu interior? Usando magníficas imagens, o neurocientista e Companheiro TED Carl Schoonover mostra as ferramentas que nos permitem ver o interior dos nossos cérebros.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:17

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