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As Cinquenta Sombras de Gay

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    Os seres humanos começam a atribuir
    rótulos uns aos outros
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    desde o momento em que se conhecem –
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    é uma pessoa perigosa? Atraente?
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    Um potencial companheiro?
    Uma oportunidade de fazer contactos?
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    Fazemo-nos estas pequenas perguntas,
    quando conhecemos alguém,
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    para fazermos um resumo mental da pessoa.
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    Como é que se chama? De onde é que é?
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    Quantos anos tem? O que faz?
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    Depois vai-se tornando mais pessoal.
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    Já teve alguma doença?
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    Alguma vez foi divorciado?
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    Tem mau hálito, enquanto responde
    às minhas perguntas neste momento?
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    Interessa-se pelo quê? Por quem?
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    Com que sexo é que gosta de dormir?
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    Já percebi.
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    Estamos neurologicamente programados
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    para procurar pessoas parecidas connosco.
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    Começamos a formar grupinhos
    assim que temos idade suficiente
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    para saber o que é ser-se aceite.
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    Ligamo-nos uns aos outros com base
    naquilo que conseguirmos –
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    gosto musical, raça, género, o bairro onde crescemos.
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    Procuramos ambientes que reforçam
    as nossas escolhas pessoais.
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    Contudo, às vezes, só a pergunta
    "O que é que faz?"
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    pode fazer parecer que alguém
    escolheu um rótulo
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    e que nos pediu para nos ajustarmos a ele.
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    Porque as categorias, na minha opinião,
    são demasiado limitativas.
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    Os rótulos são demasiado pequenos.
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    E isto pode tornar-se mesmo perigoso.
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    Mas aqui fica então uma explicação sobre mim,
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    antes de aprofundarmos isto.
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    Eu cresci num ambiente muito protegido.
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    Cresci no centro de Manhattan no início dos anos 80,
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    a dois quarteirões do epicentro da música punk.
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    Estava protegida das dores da intolerância
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    e das restrições sociais de
    uma educação baseada na religião.
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    De onde eu venho, se vocês não forem travestis
    ou pensadores radicais
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    ou artistas performativos de algum tipo,
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    vocês é que são estranhos.
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    (Risos)
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    Foi uma educação pouco ortodoxa
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    mas enquanto criança nas ruas de Nova Iorque,
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    aprende-se a confiar nos próprios instintos
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    aprende-se a viver com as próprias ideias.
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    Portanto, quando tinha seis anos,
    decidi que queria ser um rapaz.
  • 1:57 - 2:00
    Fui para a escola, um dia, e os miúdos
    não me deixavam jogar basquete com eles.
  • 2:00 - 2:02
    Diziam que não deixavam as raparigas jogar.
  • 2:02 - 2:03
    Portanto, fui para casa, rapei o cabelo,
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    voltei no dia seguinte e disse-lhes: "Sou um rapaz."
  • 2:06 - 2:07
    E quem é que sabia?
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    Quanto temos seis anos, se calhar podemos fazê-lo.
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    Não queria que ninguém soubesse que
    eu era uma rapariga e ninguém sabia.
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    Mantive a farsa durante oito anos.
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    Aqui estou eu quando tinha onze anos.
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    Estava a fazer de um miúdo chamado Walter
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    num filme chamado "Julian Po".
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    Era uma criança de rua durona, que
    seguia o Christian Slater e o importunava.
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    Vêem, eu era uma criança-actriz,
  • 2:30 - 2:33
    o que aumentava as camadas de representação
    da minha identidade,
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    porque ninguém sabia que, na verdade,
    eu era realmente uma rapariga a fazer de rapaz.
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    De facto, ninguém na minha vida
    sabia que eu era uma rapariga –
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    nem os meus professores, nem os meus amigos,
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    nem os realizadores com quem trabalhei.
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    Os miúdos vinham frequentemente
    ter comigo nas aulas
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    e agarrar-me pelo pescoço para
    procurarem pela maçã de Adão
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    ou apertar-me as virilhas para ver o que encontravam.
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    Quando eu ia à casa de banho, virava os sapatos
    ao contrário dentro das cabines
  • 2:56 - 2:59
    para que parecesse que estava a fazer xixi de pé.
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    Quando ia passar a noite fora,
    tinha ataques de pânico
  • 3:01 - 3:03
    a tentar convencer as raparigas
    de que não me queriam beijar
  • 3:03 - 3:05
    sem que parecesse que era gay.
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    Vale a pena mencionar, contudo,
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    que eu não odiava o meu corpo nem os meus genitais.
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    Não me sentia como se estivesse no corpo errado.
  • 3:13 - 3:15
    Sentia-me como se estivesse a representar
    uma peça muito elaborada.
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    Não me teria qualificado como transexual.
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    No entanto, tivesse a minha família sido daquelas
    que acreditam em terapia,
  • 3:21 - 3:23
    provavelmente ter-me-iam diagnosticado
  • 3:23 - 3:24
    como dismorfia sexual, ou algo do género,
  • 3:24 - 3:27
    e receitado hormonas para evitar a puberdade.
  • 3:27 - 3:28
    Mas, no meu caso em particular,
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    apenas acordei um dia quando tinha 14 anos
  • 3:29 - 3:32
    e decidi que queria ser novamente uma rapariga.
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    A puberdade tinha-me atingido e eu não fazia ideia
    do que é que significava ser uma rapariga.
  • 3:35 - 3:39
    Estava pronta para descobrir
    quem é que eu realmente era.
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    Quando uma criança se comporta
    como eu me comportei,
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    não precisam propriamente de se assumir, certo?
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    Ninguém ficará muito chocado.
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    (Risos)
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    Mas os meus pais não me pediram para me definir.
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    Quando eu tinha 15 e liguei ao meu pai
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    para lhe dizer que estava apaixonada,
  • 3:57 - 3:59
    a última coisa em que qualquer um pensou
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    foi em discutir quais eram as consequências
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    do facto de o meu primeiro amor ser uma rapariga.
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    Três anos depois, quando me apaixonei por um homem,
  • 4:05 - 4:08
    também nenhum dos meus pais
    bateu uma pestana que fosse.
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    Sabem, uma das maiores bênçãos da
    minha infância muito pouco ortodoxa
  • 4:11 - 4:13
    é que nunca me foi pedido que me definisse
  • 4:13 - 4:16
    como coisa nenhuma, em nenhum momento.
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    Foi-me apenas permitido que fosse eu própria,
    a crescer e a alterar-me o tempo todo.
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    Assim, há quatro, quase cinco anos,
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    a Proposta 8, o grande debate sobre
    a igualdade no casamento,
  • 4:26 - 4:28
    levantou muito pó neste país.
  • 4:28 - 4:31
    E, nessa altura, o casamento não era mesmo uma coisa
  • 4:31 - 4:32
    sobre a qual eu perdesse muito tempo a pensar.
  • 4:32 - 4:35
    Mas fiquei chocada pelo facto de a América,
  • 4:35 - 4:37
    um país com um historial dos
    direitos civis tão manchado,
  • 4:37 - 4:39
    pudesse estar a repetir os mesmos erros
    tão descaradamente.
  • 4:39 - 4:41
    E lembro-me de assistir ao debate na televisão
  • 4:41 - 4:43
    e pensar em como era tão interessante
  • 4:43 - 4:46
    que a separação entre a igreja e o estado
  • 4:46 - 4:50
    estivesse basicamente a traçar
    fronteiras geográficas por todo o país,
  • 4:50 - 4:51
    entre os lugares onde as pessoas acreditavam nela
  • 4:51 - 4:53
    e os lugares onde as pessoas não acreditavam.
  • 4:53 - 4:59
    E mais, que este debate estava a traçar
    fronteiras geográficas à minha volta.
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    Se esta era uma guerra com dois lados diferentes,
  • 5:02 - 5:05
    eu, por defeito, caía no lado gay,
  • 5:05 - 5:08
    porque eu não era definitivamente 100% hetero.
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    Nessa altura, eu estava apenas a emergir
  • 5:12 - 5:15
    daquela crise de identidade ziguezagueante
    que durou oito anos
  • 5:15 - 5:17
    e que me viu passar de um rapaz
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    para esta rapariga estranha que se parece com
    um rapaz a vestir roupa de rapariga
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    até ao oposto extremo desta rapariga super provocante,
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    a sobre-compensar, à caça de rapazes,
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    até, finalmente, a uma exploração hesitante
    do que é que realmente eu era,
  • 5:30 - 5:32
    uma maria-rapaz
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    que gostava de rapazes e raparigas,
    dependendo da pessoa.
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    Tinha passado um ano a fotografar esta nova geração
    de raparigas, muito parecidas comigo,
  • 5:41 - 5:42
    que se sentiam um bocadinho entre dois mundos –
  • 5:42 - 5:46
    raparigas que gostavam de andar de skate
    mas com roupa interior rendilhada,
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    raparigas que tinham cortes de cabelo arrapazados
    mas que usavam verniz nas unhas,
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    raparigas que usavam sombra nos olhos
    a condizer com os seus joelhos esfolados,
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    raparigas que gostavam de raparigas e rapazes,
    que gostavam de rapazes e raparigas,
  • 5:56 - 5:58
    que odiavam ser rotuladas de alguma coisa.
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    Eu amava estas pessoas e admirava a sua liberdade
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    mas via o mundo fora da nossa bolha utópica
  • 6:05 - 6:06
    explodir nestes debates ferozes
  • 6:06 - 6:12
    em que os eruditos começavam a comparar
    o nosso amor à bestialidade, na televisão nacional.
  • 6:12 - 6:14
    E esta consciência arrebatador
    de que eu era uma minoria,
  • 6:14 - 6:20
    no meu próprio país, com base
    num traço do meu carácter
  • 6:20 - 6:22
    começou a entranhar-se em mim.
  • 6:22 - 6:28
    Eu era legalmente e incontestavelmente
    uma cidadã de segunda.
  • 6:28 - 6:29
    Eu não era uma ativista.
  • 6:29 - 6:32
    Não acenava bandeiras sobre a minha vida.
  • 6:32 - 6:34
    Mas estava atormentada com esta questão:
  • 6:34 - 6:37
    como é que alguém consegue votar
    para retirar os direitos
  • 6:37 - 6:39
    à imensa variedade de pessoas que eu conhecia,
  • 6:39 - 6:43
    com base num só elemento do seu carácter?
  • 6:43 - 6:44
    Como é que podiam dizer que nós, como grupo,
  • 6:44 - 6:47
    não merecíamos os mesmos direitos que os outros?
  • 6:47 - 6:49
    E desde quando é que somos um grupo? Que grupo?
  • 6:49 - 6:53
    E será que estas pessoas alguma vez tinham conhecido
    uma vítima da sua discriminação?
  • 6:53 - 6:57
    Conheciam aqueles contra os quais votavam
    e qual seria o impacto disso?
  • 6:57 - 6:59
    E depois ocorreu-me que
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    se talvez conseguissem olhar nos olhos
  • 7:02 - 7:05
    as pessoas a quem estavam a atribuir
    uma cidadania de segunda,
  • 7:05 - 7:07
    talvez lhes fosse mais difícil fazê-lo.
  • 7:07 - 7:09
    Talvez os fizesse parar para pensar.
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    Obviamente que não conseguiria juntar
    20 milhões de pessoas no mesmo jantar,
  • 7:15 - 7:19
    portanto descobri uma maneira de as apresentar
    umas às outras fotograficamente,
  • 7:19 - 7:22
    sem qualquer artifício, sem qualquer realce,
  • 7:22 - 7:26
    sem manipulações de qualquer tipo da minha parte.
  • 7:26 - 7:28
    Porque, numa fotografia, podemos examinar
    os bigodes de um leão
  • 7:28 - 7:31
    sem ter medo que nos desfaça a cara.
  • 7:31 - 7:34
    Para mim, a fotografia não é só expor uma película,
  • 7:34 - 7:36
    é expor quem a vê
  • 7:36 - 7:38
    a algo novo, a um lugar em que nunca estiveram,
  • 7:38 - 7:42
    mas, mais importante, a pessoas
    de que possam ter medo.
  • 7:42 - 7:44
    Através de fotografias, a revista Life apresentou
  • 7:44 - 7:48
    culturas distantes, longínquas, a gerações de pessoas
    que nem sabiam que elas existiam.
  • 7:48 - 7:54
    Por isso decidi fazer uma sequência de
    retratos muito simples,
  • 7:54 - 7:56
    como os da prisão, se quiserem.
  • 7:56 - 7:59
    E basicamente decidi fotografar
    qualquer pessoa neste país
  • 7:59 - 8:02
    que não fosse 100% hetero,
  • 8:02 - 8:05
    que, não sei se sabem,
    é um número ilimitado de pessoas.
  • 8:05 - 8:07
    (Risos)
  • 8:07 - 8:10
    Portanto, isto foi um grande empreendimento,
  • 8:10 - 8:12
    e precisávamos de alguma ajuda para o fazer.
  • 8:12 - 8:14
    Assim, andei na rua com um frio gelado
  • 8:14 - 8:18
    e fotografei todas as pessoas
    a que eu sabia que podia chegar,
  • 8:18 - 8:22
    em fevereiro de há dois anos.
  • 8:22 - 8:26
    Tirei estas fotografias e fui à HRC (Campanha Pelos
    Direitos Humanos) pedir alguma ajuda.
  • 8:26 - 8:28
    E eles financiaram duas semanas
    de filmagens em Nova Iorque.
  • 8:28 - 8:31
    E assim fizemos isto.
  • 8:31 - 8:43
    (Música)
  • 8:43 - 8:48
    Víde: Chamo-me iO Tillett Wright e sou uma artista que
    nasceu e cresceu na cidade de Nova Iorque.
  • 8:48 - 9:01
    (Música)
  • 9:01 - 9:05
    "Verdades Que Falam Por Si"
    é um registo fotográfico da América LGBTQ de hoje.
  • 9:05 - 9:07
    O meu objetivo é tirar um simples retrato
  • 9:07 - 9:10
    a qualquer pessoa que seja tudo menos 100% hetero
  • 9:10 - 9:15
    ou que sinta que pertence ao espectro
    LGBTQ de alguma maneira.
  • 9:15 - 9:18
    A minha meta é mostrar a humanidade
    que existe em cada um de nós
  • 9:18 - 9:20
    através da simplicidade de um rosto.
  • 9:20 - 9:23
    (Música)
  • 9:23 - 9:26
    "Assumimos como verdades óbvias que
    todos os homens são criados iguais."
  • 9:26 - 9:28
    Está escrito na Declaração da Independência.
  • 9:28 - 9:30
    Estamos a falhar enquanto nação
  • 9:30 - 9:32
    na defesa da moral sobre a qual nos fundámos.
  • 9:32 - 9:34
    Não há igualdade nos Estados Unidos.
  • 9:34 - 9:36
    [O que é que igualdade significa para si?]
  • 9:36 - 9:38
    [Casamento] [Liberdade] [Direitos Civis]
  • 9:38 - 9:40
    [Tratar cada um como trataríamos a nós próprios]
  • 9:40 - 9:44
    É quando não temos de pensar nisso,
    é tão simples quanto isso.
  • 9:44 - 9:46
    A luta pela igualdade de direitos não tem
    só a ver com o casamento homossexual.
  • 9:46 - 9:51
    Hoje, em 29 estados, mais da metade deste país,
  • 9:51 - 9:55
    podemos ser legalmente despedidos
    com base na nossa sexualidade.
  • 9:55 - 9:58
    [Quem é responsável pela igualdade?]
  • 9:58 - 10:01
    Eu tenho ouvido centenas de pessoas
    a dar a mesma resposta:
  • 10:01 - 10:05
    "Todos nós somos responsáveis pela igualdade."
  • 10:05 - 10:07
    Até agora fotografámos 300 rostos
    na cidade de Nova Iorque.
  • 10:07 - 10:09
    E não teria sido possível fotografar nenhum deles
  • 10:09 - 10:12
    sem o generoso apoio da
    Campanha Pelos Direitos Humanos.
  • 10:12 - 10:14
    Quero levar o projeto a todo o país.
  • 10:14 - 10:18
    Quero visitar 25 cidades americanas
    e fotografar 4 a 5 mil pessoas.
  • 10:18 - 10:22
    Esta é a minha contribuição para
    a luta pelos direitos civis da minha geração.
  • 10:22 - 10:24
    Desafio-vos a olhar para os rostos destas pessoas
  • 10:24 - 10:27
    e a dizer-lhes que merecem menos
    do que qualquer outro ser humano.
  • 10:27 - 10:29
    (Música)
  • 10:29 - 10:31
    [Verdades Que Falam Por Si]
  • 10:31 - 10:33
    [4000 rostos pela América]
  • 10:33 - 10:37
    (Música)
  • 10:37 - 10:46
    (Aplausos)
  • 10:46 - 10:50
    iO Tillett Wright: Absolutamente nada nos podia ter preparado para o que aconteceu a seguir.
  • 10:50 - 10:53
    Quase 85 000 pessoas viram este vídeo,
  • 10:53 - 10:56
    e começaram a mandar-nos e-mails de todo o país,
  • 10:56 - 11:00
    a pedir que fôssemos às suas cidades
    e os ajudássemos a mostrar os seus rostos.
  • 11:00 - 11:05
    E muito mais pessoas do que eu antecipara
    queriam mostrar o seu rosto.
  • 11:05 - 11:08
    Portanto alterei a minha meta imediata para 10 mil rostos.
  • 11:08 - 11:12
    Este vídeo foi feito na primavera de 2011
  • 11:12 - 11:16
    e hoje já viajei até quase 20 cidades
  • 11:16 - 11:19
    e fotografei quase 2 000 pessoas.
  • 11:19 - 11:22
    Sei que isto é uma palestra
  • 11:22 - 11:25
    mas gostava de ter um minuto de silêncio, apenas,
  • 11:25 - 11:26
    para olharmos para estes rostos,
  • 11:26 - 11:30
    porque não há nada que eu possa dizer
    para lhes adicionar algo.
  • 11:30 - 11:32
    Porque, se uma imagem vale mil palavras,
  • 11:32 - 11:36
    então a fotografia de um rosto
    precisa de todo um novo vocabulário.
  • 11:57 - 12:01
    Assim, depois de viajar e falar com pessoas
  • 12:01 - 12:05
    em lugares como Oklahoma
    ou pequenas cidades do Texas,
  • 12:05 - 12:08
    encontrei provas de que
    a premissa inicial estava certíssima.
  • 12:08 - 12:10
    A visibilidade é mesmo importante.
  • 12:10 - 12:13
    A familiaridade é a porta de entrada para a empatia.
  • 12:13 - 12:17
    Assim que um assunto surge na nossa própria casa
    ou na nossa própria família
  • 12:17 - 12:20
    é muito mais provável que exploremos
    uma empatia por ele
  • 12:20 - 12:21
    ou que exploremos uma nova perspetiva sobre ele.
  • 12:21 - 12:24
    Claro que nas minhas viagens encontrei pessoas
  • 12:24 - 12:28
    que renegaram legalmente os seus filhos
    por não serem heterossexuais
  • 12:28 - 12:30
    mas também conheci pessoas que eram Batistas do Sul
  • 12:30 - 12:33
    e que mudaram de igreja porque a filha era lésbica.
  • 12:33 - 12:38
    A criação de uma empatia automática tinha-se tornado
    o esqueleto do Verdades Que Falam Por Si.
  • 12:38 - 12:41
    Mas aqui está o que eu aprendi
    e que é mesmo interessante:
  • 12:41 - 12:45
    o Verdades Que Falam Por Si
    não apaga as diferenças entre nós.
  • 12:45 - 12:49
    Na verdade, pelo contrário, realça-as.
  • 12:49 - 12:51
    Apresenta não apenas as complexidades
  • 12:51 - 12:53
    presentes numa sucessão de diferentes seres humanos
  • 12:53 - 12:57
    mas também as complexidades presentes
    em cada pessoa individualmente.
  • 12:57 - 13:01
    Não era que tivéssemos demasiados rótulos,
    não tínhamos era rótulos suficientes.
  • 13:08 - 13:14
    Houve um momento em que percebi que a minha missão
    de fotografar "homossexuais" tinha um erro inerente
  • 13:14 - 13:17
    porque havia milhões de diferentes sombras gay.
  • 13:17 - 13:20
    Aqui estava eu a tentar ajudar
  • 13:20 - 13:23
    e a perpetuar exatamente aquilo que tinha
    passado a minha vida a tentar evitar:
  • 13:23 - 13:26
    mais outro rótulo.
  • 13:26 - 13:29
    Houve um momento em que incluí uma pergunta
    no formulário de autorização
  • 13:29 - 13:31
    que pedia às pessoas para se atribuirem um valor
  • 13:31 - 13:34
    numa escala de 1 a 100% gay.
  • 13:34 - 13:38
    E assisti a tantas crises existenciais...
  • 13:38 - 13:41
    (Risos)
  • 13:41 - 13:42
    As pessoas não sabiam o que fazer
  • 13:42 - 13:44
    porque aquela opção nunca lhes tinha
    sido apresentada antes.
  • 13:44 - 13:46
    Conseguem quantificar a vossa abertura?
  • 13:46 - 13:48
    Contudo, uma vez ultrapassado o choque,
  • 13:48 - 13:52
    a grande maioria das pessoas optou
    por algo entre 75 e 95%
  • 13:52 - 13:55
    ou entre 3 e 20%.
  • 13:55 - 13:58
    Claro que houve muitas pessoas que optaram
    por 100% numa escala ou na outra
  • 13:58 - 14:00
    mas houve uma proporção muito maior de pessoas
  • 14:00 - 14:03
    que se identificavam como algo com nuances.
  • 14:03 - 14:09
    Descobri que a maioria das pessoas está num
    espectro do que eu passei a chamar "Cinzento".
  • 14:09 - 14:13
    Deixem-me ser clara sobre isto
    – e isto é muito importante –
  • 14:13 - 14:18
    não estou a dizer de maneira nenhuma
    que não existe uma preferência.
  • 14:18 - 14:23
    E nem sequer vou abordar o assunto de
    escolha versus imperativo biológico,
  • 14:23 - 14:25
    porque se há aqui alguém que acredita
  • 14:25 - 14:27
    que a orientação sexual é uma escolha,
  • 14:27 - 14:29
    convido-vos a tentar ser "cinzentos".
  • 14:29 - 14:31
    Tiro-vos uma fotografia só pela tentativa.
  • 14:31 - 14:33
    (Risos)
  • 14:33 - 14:37
    O que eu estou a dizer, contudo,
    é que os seres humanos não são unidimensionais.
  • 14:37 - 14:43
    O mais importante a retirar
    do sistema de percentagens é isto:
  • 14:43 - 14:45
    se tiverem as pessoas homossexuais aqui
  • 14:45 - 14:49
    e as pessoas heterossexuais aqui,
  • 14:49 - 14:52
    mesmo reconhecendo que a maioria das pessoas
  • 14:52 - 14:54
    se identifica como estando algures mais próximo
    de um extremo ou do outro,
  • 14:54 - 14:59
    há este vasto espectro de pessoas que existe pelo meio.
  • 14:59 - 15:02
    E a realidade que isto representa
    é uma realidade complicada.
  • 15:02 - 15:05
    Porque, por exemplo, se aprovarmos uma lei
  • 15:05 - 15:08
    que permite aos patrões despedirem empregados
    por comportamento homossexual,
  • 15:08 - 15:11
    onde é que vamos traçar o limite, exatamente?
  • 15:11 - 15:17
    Será aqui, junto das pessoas que até agora
    tiveram uma ou duas experiências heterossexuais?
  • 15:17 - 15:18
    Ou será antes aqui,
  • 15:18 - 15:22
    junto das pessoas que apenas tiveram uma ou duas
    experiências homossexuais até agora?
  • 15:22 - 15:27
    Onde, exatamente, é que alguém
    se torna um cidadão de segunda?
  • 15:27 - 15:32
    Outra coisa interessante que eu aprendi
    com o meu projeto e as minhas viagens
  • 15:32 - 15:36
    é quão fraca a orientação sexual é
    enquanto elemento de ligação.
  • 15:36 - 15:38
    Depois de tanto viajar e conhecer tantas pessoas,
  • 15:38 - 15:42
    deixem-me dizer-vos: há simplesmente
    tantos parvalhões e pessoas amorosas
  • 15:42 - 15:45
    e democratas e republicanos
    e desportistas e princesas
  • 15:45 - 15:48
    e qualquer outro estereótipo
    em que vocês possam pensar
  • 15:48 - 15:50
    dentro da comunidade LGBT
  • 15:50 - 15:53
    como há na raça humana.
  • 15:53 - 15:58
    Além do facto de que temos as mãos atadas
    em termos legais
  • 15:58 - 16:02
    e uma vezes ultrapassadas as histórias do preconceito,
  • 16:02 - 16:03
    sermos algo que não heterossexuais
  • 16:03 - 16:08
    não significa necessariamente
    que temos alguma coisa em comum.
  • 16:08 - 16:17
    Portanto, na ilimitada proliferação de rostos em que
    o Verdades Que Falam por Si se está a tornar,
  • 16:17 - 16:20
    e à medida que, esperemos,
    se espalha por mais e mais plataformas,
  • 16:20 - 16:25
    estações de autocarros, outdoors,
    páginas de Facebook, proteções de ecrã,
  • 16:25 - 16:28
    talvez ao assistir a esta procissão de humanidade
  • 16:28 - 16:31
    algo interessante e útil comece a acontecer.
  • 16:31 - 16:35
    Esperemos que estas categorias, estes binários,
  • 16:35 - 16:37
    estes rótulos excessivamente simplificados,
  • 16:37 - 16:42
    comecem a tornar-se inúteis e comecem a desaparecer.
  • 16:42 - 16:45
    Porque, a sério, não descrevem nada do que vemos
  • 16:45 - 16:49
    nem ninguém que conheçamos
    nem nada do que somos.
  • 16:49 - 16:54
    O que vemos são seres humanos
    em toda a sua multiplicidade.
  • 16:54 - 16:58
    E, ao vê-los, torna-se mais difícil negar a sua humanidade.
  • 16:58 - 17:02
    No mínimo, espero que se torne mais difícil
    negar-se-lhes os seus direitos humanos.
  • 17:02 - 17:06
    Portanto, é a mim, em particular,
  • 17:06 - 17:09
    que escolheriam negar o direito a uma casa,
  • 17:09 - 17:12
    o direito a adoptar uma criança, o direito ao casamento,
  • 17:12 - 17:16
    a liberdade de fazer compras aqui,
    de viver aqui, de comprar aqui?
  • 17:16 - 17:18
    É a mim que escolhem renegar
  • 17:18 - 17:22
    como vosso filho ou como vosso
    irmão, irmã, mãe ou pai,
  • 17:22 - 17:25
    como vosso vizinho, vosso primo,
    vosso tio, vosso presidente,
  • 17:25 - 17:28
    vosso polícia ou bombeiro?
  • 17:28 - 17:31
    É tarde de mais.
  • 17:31 - 17:34
    Porque eu já sou todas estas coisas.
  • 17:34 - 17:39
    Já somos todos estas coisas e sempre fomos.
  • 17:39 - 17:42
    Portanto, não nos cumprimentem como estranhos
  • 17:42 - 17:45
    mas cumprimentem-nos como vossos semelhantes,
    ponto final.
  • 17:45 - 17:46
    Obrigada.
  • 17:46 - 17:57
    (Aplausos)
Title:
As Cinquenta Sombras de Gay
Speaker:
iO Tillett Wright
Description:

A artista iO Tillett Wright fotografou 2 000 pessoas que se consideram algures no espectro LBGTQ e perguntou a muitas delas: consegue atribuir uma percentagem a quão homo ou hetero é? Na verdade, a maior parte das pessoas considera estar nas zonas cinzentas da sexualidade e não ser 100% homo ou hetero. O que se torna um problema concreto no que toca à discriminação: onde é que traçamos o limite? (Filmado no TEDxWomen)

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:18
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Rafael Galupa approved Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Sara Oliveira accepted Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
Sara Oliveira edited Portuguese subtitles for Fifty shades of gay
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