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O que pensam e sentem os animais?

  • 0:01 - 0:05
    Já se perguntaram
    o que os animais pensam e sentem?
  • 0:05 - 0:07
    Comecemos com uma pergunta:
  • 0:08 - 0:12
    O meu cão gosta mesmo de mim
    ou só quer um biscoito?
  • 0:13 - 0:18
    É fácil de ver
    que o nosso cão gosta mesmo de nós,
  • 0:18 - 0:20
    é fácil de ver, não é?
  • 0:20 - 0:24
    O que se passa
    naquela cabecinha felpuda.
  • 0:25 - 0:27
    O que se passa?
  • 0:27 - 0:29
    Alguma coisa se passa.
  • 0:30 - 0:34
    Mas porque perguntamos sempre
    se eles nos amam?
  • 0:34 - 0:37
    Porque só nos preocupamos connosco?
  • 0:37 - 0:40
    Porque somos tão narcisistas?
  • 0:41 - 0:44
    Eu descobri uma pergunta diferente
    para fazer aos animais.
  • 0:46 - 0:48
    Quem são vocês?
  • 0:50 - 0:53
    A mente humana tem capacidades
  • 0:53 - 0:58
    que cremos serem apenas dos seres humanos.
  • 0:58 - 1:00
    Mas será verdade?
  • 1:00 - 1:05
    O que fazem os outros seres
    com os seus cérebros?
  • 1:05 - 1:08
    Em que pensam e o que sentem?
  • 1:08 - 1:09
    Há maneira de saber?
  • 1:09 - 1:13
    Eu acho que há.
    Acho que há muitas maneiras.
  • 1:13 - 1:17
    Podemos olhar para a evolução,
    podemos olhar para o cérebro deles
  • 1:17 - 1:20
    e podemos observar o seu comportamento.
  • 1:21 - 1:26
    A primeira coisa a ter em conta é:
    o cérebro é hereditário.
  • 1:26 - 1:30
    Os primeiros neurónios
    vieram das alforrecas.
  • 1:30 - 1:33
    As alforrecas deram origem
    aos primeiros cordados.
  • 1:33 - 1:37
    Os primeiros cordados
    deram origem aos primeiros vertebrados.
  • 1:37 - 1:41
    Os vertebrados vieram do mar
    e aqui estamos nós.
  • 1:43 - 1:47
    Mas é verdade que um neurónio,
    uma célula nervosa,
  • 1:47 - 1:52
    é semelhante num lagostim,
    num pássaro ou em nós.
  • 1:52 - 1:56
    O que diz isso
    sobre o cérebro do lagostim?
  • 1:57 - 1:59
    Podemos dizer alguma coisa
    a esse respeito?
  • 1:59 - 2:02
    Ao que parece,
    se dermos a um lagostim
  • 2:02 - 2:07
    pequenos choques elétricos
    sempre que ele tenta sair da toca,
  • 2:07 - 2:10
    o lagostim desenvolve
    sintomas de ansiedade.
  • 2:11 - 2:15
    Se dermos ao lagostim
    o mesmo medicamento
  • 2:15 - 2:18
    usado para tratar
    o transtorno de ansiedade em humanos,
  • 2:18 - 2:21
    ele relaxa, sai da toca e explora.
  • 2:22 - 2:26
    Como nos mostramos preocupados
    com a ansiedade do lagostim?
  • 2:26 - 2:28
    A maior parte das vezes,
    cozemo-lo.
  • 2:28 - 2:30
    (Risos)
  • 2:31 - 2:36
    Os polvos utilizam ferramentas,
    tal como a maior parte dos macacos,
  • 2:36 - 2:39
    e reconhecem rostos humanos.
  • 2:39 - 2:44
    Como celebramos a inteligência
    simiesca deste invertebrado?
  • 2:44 - 2:46
    Na maior parte das vezes,
    cozida.
  • 2:47 - 2:51
    Se uma garoupa persegue um peixe
    para dentro de uma fenda, num coral,
  • 2:51 - 2:56
    normalmente, ele irá para onde sabe
    que está uma moreia a dormir,
  • 2:56 - 2:59
    fará sinal à moreia
    para que o siga
  • 2:59 - 3:03
    e a moreia compreenderá esse sinal.
  • 3:03 - 3:06
    Talvez a moreia entre na fenda
    e apanhe o peixe,
  • 3:06 - 3:09
    mas talvez o peixe se desvie
    e a garoupa o apanhe.
  • 3:09 - 3:15
    Falamos de uma antiga parceria
    que descobrimos há pouco tempo.
  • 3:15 - 3:18
    Como celebramos
    essa velha parceria?
  • 3:18 - 3:20
    Na maior parte das vezes, frita.
  • 3:21 - 3:25
    Começa a emergir um padrão,
    que diz muito mais sobre nós
  • 3:25 - 3:27
    do que sobre eles.
  • 3:28 - 3:30
    As lontras marinhas
    usam ferramentas
  • 3:30 - 3:33
    e retiram tempo às suas tarefas
  • 3:33 - 3:37
    para mostrar às crias o que fazer
    e isto chama-se "ensinar".
  • 3:37 - 3:40
    Os chimpanzés não ensinam.
  • 3:41 - 3:45
    As orcas ensinam e partilham a comida.
  • 3:47 - 3:49
    Quando a evolução
    faz alguma coisa de novo,
  • 3:49 - 3:53
    utiliza as partes que tem guardadas,
    prontas a usar,
  • 3:53 - 3:56
    antes de originar uma nova reviravolta.
  • 3:56 - 3:58
    E o nosso cérebro chegou-nos
  • 3:58 - 4:02
    através do extenso
    e profundo curso do tempo.
  • 4:02 - 4:06
    Se olharmos para o cérebro humano
    comparado com o cérebro de um chimpanzé,
  • 4:06 - 4:10
    o que verificamos é que
    o cérebro do chimpanzé é enorme.
  • 4:10 - 4:14
    Ainda bem que o nosso é maior,
    porque também somos muito inseguros.
  • 4:14 - 4:16
    (Risos)
  • 4:16 - 4:19
    Mas... falta o golfinho,
  • 4:19 - 4:22
    um cérebro maior
    com mais convoluções.
  • 4:23 - 4:25
    Talvez pensem:
    "Sim, são cérebros,
  • 4:25 - 4:28
    mas o que nos diz isso
    em relação às mentes?"
  • 4:28 - 4:32
    Podemos ver
    o funcionamento da mente
  • 4:32 - 4:35
    na lógica do comportamento.
  • 4:35 - 4:38
    Então, estes elefantes,
    como podem ver,
  • 4:38 - 4:41
    estão claramente a descansar.
  • 4:41 - 4:46
    Encontraram uma sombra
    por debaixo das palmeiras,
  • 4:46 - 4:48
    onde deixam as crias a dormir,
  • 4:48 - 4:51
    enquanto eles passam pelas brasas,
    mas continuam alerta.
  • 4:51 - 4:54
    Esta imagem faz-nos todo o sentido,
  • 4:54 - 4:58
    tal como o seu comportamento
    lhes faz todo o sentido,
  • 4:58 - 5:02
    porque sob o mesmo sol,
    nas mesmas planícies,
  • 5:02 - 5:05
    a escutar os uivos
    dos mesmos perigos,
  • 5:05 - 5:10
    eles tornaram-se quem são
    e nós tornámo-nos quem somos.
  • 5:11 - 5:13
    Somos vizinhos há muito tempo.
  • 5:13 - 5:16
    Ninguém descreveria estes elefantes
    como estando relaxados.
  • 5:16 - 5:19
    É óbvio que estão muito preocupados
    com alguma coisa.
  • 5:19 - 5:21
    O que os preocupa?
  • 5:22 - 5:25
    Acontece que, se gravarmos
    as vozes dos turistas
  • 5:25 - 5:29
    e reproduzirmos essa gravação
    numa coluna escondida nos arbustos,
  • 5:30 - 5:34
    os elefantes vão ignorá-la,
    porque os turistas nunca os incomodam.
  • 5:34 - 5:39
    Mas se gravarmos as vozes de pastores,
  • 5:39 - 5:44
    que trazem lanças e muitas vezes magoam
    os elefantes em confrontos em lagoas,
  • 5:44 - 5:49
    os elefantes vão reunir-se
    e fugir da coluna escondida.
  • 5:49 - 5:52
    Não só os elefantes sabem
    que estão ali humanos,
  • 5:52 - 5:55
    como sabem que existem
    diferentes tipos de humanos
  • 5:55 - 5:58
    e que alguns são simpáticos
    e outros são perigosos.
  • 5:58 - 6:03
    Eles observam-nos há mais tempo
    do que nós os observamos a eles.
  • 6:03 - 6:06
    Conhecem-nos melhor do que nós a eles.
  • 6:06 - 6:09
    Temos os mesmos imperativos:
  • 6:09 - 6:14
    tomar conta dos nossos bebés,
    encontrar comida, tentar sobreviver.
  • 6:14 - 6:18
    Quer estejamos equipados
    para subir as montanhas de África
  • 6:18 - 6:23
    ou para mergulhar no mar,
    somos fundamentalmente iguais.
  • 6:23 - 6:25
    Somos os mesmos,
    por debaixo da pele.
  • 6:25 - 6:27
    O elefante tem o mesmo esqueleto,
  • 6:27 - 6:31
    a orca tem o mesmo esqueleto que nós.
  • 6:34 - 6:37
    Vemos ajuda
    onde a ajuda é necessária.
  • 6:37 - 6:40
    Vemos curiosidade nos mais novos.
  • 6:41 - 6:44
    Vemos os laços familiares.
  • 6:46 - 6:48
    Reconhecemos o afeto.
  • 6:49 - 6:51
    Sedução é sedução.
  • 6:52 - 6:55
    E depois perguntamos,
    "Eles têm consciência?"
  • 6:55 - 6:58
    Quando levamos uma anestesia geral,
    ficamos inconscientes,
  • 6:58 - 7:01
    o que significa que não sentimos nada.
  • 7:01 - 7:05
    A consciência é simplesmente
    aquilo que nos parece alguma coisa.
  • 7:05 - 7:09
    Se vemos, se ouvimos, se sentimos,
    se estamos cientes de tudo,
  • 7:09 - 7:13
    estamos conscientes,
    e eles são conscientes.
  • 7:15 - 7:18
    Há quem diga que há certas coisas
    que tornam humanos os seres humanos
  • 7:18 - 7:21
    e uma dessas coisas é a empatia.
  • 7:21 - 7:27
    A empatia é a capacidade da mente
    de combinar emoções com os nossos pares.
  • 7:27 - 7:29
    É muito útil.
  • 7:29 - 7:31
    Se os nossos companheiros
    apressam o passo,
  • 7:31 - 7:34
    sentimos que temos de nos despachar.
  • 7:34 - 7:36
    Estamos todos apressados.
  • 7:36 - 7:39
    A forma mais antiga de empatia
    é o medo contagioso.
  • 7:39 - 7:42
    Se o nosso companheiro
    se assusta e começa a voar,
  • 7:42 - 7:44
    não resulta muito bem dizermos:
  • 7:44 - 7:47
    "Céus, porque se foram todos embora?"
  • 7:47 - 7:49
    (Risos)
  • 7:51 - 7:55
    A empatia é antiga,
    mas tal como tudo na vida,
  • 7:55 - 7:59
    é representada numa escala móvel
    e tem a sua complexidade.
  • 7:59 - 8:03
    Existe a empatia básica:
    se te sentes triste, eu fico triste.
  • 8:03 - 8:05
    Se te vejo contente, fico contente.
  • 8:05 - 8:08
    E, depois,
    há algo a que chamo simpatia,
  • 8:08 - 8:10
    um pouco mais distanciada:
  • 8:10 - 8:14
    "Lamento saber que a tua avó faleceu.
  • 8:14 - 8:18
    "Não sinto a mesma dor,
    mas percebo, sei o que sentes
  • 8:18 - 8:19
    "e preocupo-me."
  • 8:19 - 8:22
    E se estivermos motivados
    para agir com simpatia,
  • 8:22 - 8:24
    chamo a isso compaixão.
  • 8:24 - 8:27
    Longe de ser
    aquilo que nos torna humanos,
  • 8:27 - 8:31
    a empatia humana
    está longe de ser perfeita.
  • 8:31 - 8:36
    Reunimos criatura empáticas,
    matamo-las e comemo-las.
  • 8:36 - 8:39
    Agora, talvez digam,
    "Sim, mas são espécies diferentes.
  • 8:39 - 8:43
    "É apenas predação
    e os humanos são predadores."
  • 8:43 - 8:49
    Mas nós também não tratamos
    a nossa espécie lá muito bem.
  • 8:49 - 8:52
    Até quem não percebe nada
    de comportamento animal
  • 8:52 - 8:56
    sabe que não devemos atribuir
    emoções e pensamentos humanos
  • 8:56 - 8:59
    a outras espécies.
  • 8:59 - 9:01
    Eu acho que isso é uma parvoíce,
  • 9:01 - 9:05
    porque atribuir pensamentos e emoções
    humanos a outras espécies
  • 9:05 - 9:09
    é a melhor maneira de descobrir
    o que estão a fazer e a sentir,
  • 9:09 - 9:12
    porque os cérebros deles
    são basicamente como os nossos.
  • 9:12 - 9:14
    Têm a mesma estrutura,
  • 9:14 - 9:19
    as mesmas hormonas que originam
    as emoções e a motivação em nós
  • 9:19 - 9:22
    também estão naqueles cérebros.
  • 9:23 - 9:28
    Não é científico dizer
    que eles têm fome quando caçam
  • 9:28 - 9:31
    e que estão cansados
    quando põem a língua de fora
  • 9:31 - 9:36
    e depois dizer que,
    quando brincam com as crias alegremente,
  • 9:36 - 9:41
    não fazemos ideia
    se estão a sentir alguma coisa.
  • 9:41 - 9:43
    Isso não é científico.
  • 9:44 - 9:46
    Muito bem,
    um repórter disse-me:
  • 9:46 - 9:51
    "Talvez, mas como sabemos
    que os outros animais pensam e sentem?"
  • 9:51 - 9:54
    E eu comecei a percorrer as centenas
  • 9:54 - 9:56
    de referências científicas
    que coloquei no meu livro
  • 9:56 - 9:59
    e apercebi-me de que a resposta
    estava à minha frente.
  • 9:59 - 10:03
    Quando o meu cão
    se levanta do tapete e vem ter comigo
  • 10:03 - 10:05
    — não vai para o sofá,
    vem ter comigo —
  • 10:05 - 10:10
    e rebola mostrando a barriga,
    pensou:
  • 10:10 - 10:13
    "Gostava que me fizessem
    festas na barriga.
  • 10:15 - 10:17
    "Eu sei que posso dirigir-me ao Carl
  • 10:17 - 10:20
    "e que ele vai perceber
    o que estou a perguntar.
  • 10:20 - 10:23
    "Sei que posso confiar nele,
    porque somos família.
  • 10:23 - 10:26
    "Ele vai fazer o trabalho dele
    e vai saber bem."
  • 10:26 - 10:28
    (Risos)
  • 10:28 - 10:31
    Ele pensou e sentiu
  • 10:31 - 10:34
    e não é mais complicado do que isso.
  • 10:34 - 10:37
    Mas olhamos para os outros animais
    e dizemos:
  • 10:37 - 10:41
    "Vejam, orcas, lobos, elefantes."
  • 10:41 - 10:44
    Não é assim que eles o veem.
  • 10:44 - 10:48
    Aquele macho da barbatana alta é o L41.
  • 10:48 - 10:50
    Tem 38 anos.
  • 10:50 - 10:55
    A fêmea à sua direita é a L22.
    Tem 44 anos.
  • 10:56 - 11:01
    Conhecem-se há décadas.
    Sabem exatamente quem são.
  • 11:01 - 11:04
    Sabem quem são os seus amigos.
    Sabem quem são os seus rivais.
  • 11:04 - 11:07
    As suas vidas seguem uma carreira.
  • 11:07 - 11:10
    Eles sabem sempre onde estão.
  • 11:11 - 11:15
    Este elefante chama-se Philo.
    É um jovem macho.
  • 11:16 - 11:18
    Este é ele, quatro dias depois.
  • 11:19 - 11:25
    Os humanos não só sentem dor,
    como também geram muita.
  • 11:27 - 11:30
    Queremos esculpir os dentes deles.
  • 11:30 - 11:34
    Porque não podemos esperar
    até que morram?
  • 11:36 - 11:40
    Outrora, havia elefantes
    desde a costa do Oceano Mediterrâneo
  • 11:40 - 11:42
    até ao Cabo da Boa Esperança.
  • 11:42 - 11:45
    Em 1980,
    havia uma grande variedade de elefantes
  • 11:45 - 11:47
    na África Central e Oriental.
  • 11:47 - 11:52
    E agora a sua distribuição
    reduz-se a pequenos fragmentos.
  • 11:52 - 11:56
    Esta é a geografia de um animal
    que estamos a conduzir à extinção,
  • 11:56 - 12:01
    um ser semelhante,
    a criatura mais incrível do mundo.
  • 12:01 - 12:06
    Claro que somos muito mais preocupados
    com a vida selvagem, nos EUA.
  • 12:06 - 12:10
    No Yellowstone National Park,
    matámos os lobos todos.
  • 12:10 - 12:14
    Aliás, matámos os lobos todos
    a sul da fronteira com o Canadá.
  • 12:14 - 12:18
    Mas os guardas florestais
    fizeram-no nos anos 20
  • 12:18 - 12:20
    e 60 anos depois,
    tiveram de trazê-los de volta,
  • 12:20 - 12:24
    porque o número de alces disparara.
  • 12:25 - 12:30
    Depois vieram milhares de pessoas
    para ver os lobos,
  • 12:30 - 12:33
    os lobos mais fáceis de ver do mundo.
  • 12:33 - 12:37
    Eu fui lá e observei
    uma família de lobos fantástica.
  • 12:37 - 12:39
    Uma alcateia é uma família.
  • 12:39 - 12:43
    Tem os adultos reprodutores
    e os mais novos de muitas gerações.
  • 12:43 - 12:48
    E vi a mais famosa e mais estável
    alcateia do Yellowstone National Park.
  • 12:48 - 12:52
    Um dia, quando passeavam
    perto da fronteira,
  • 12:52 - 12:57
    dois dos adultos foram mortos,
    incluindo a mãe,
  • 12:57 - 12:59
    a que costumamos
    chamar de fêmea alfa.
  • 12:59 - 13:04
    O resto da família sucumbiu
    à rivalidade entre irmãos.
  • 13:05 - 13:08
    Umas irmãs expulsaram as outras.
  • 13:08 - 13:11
    Aquela da esquerda tentou,
    durante dias, voltar à família.
  • 13:11 - 13:14
    Não a deixavam,
    porque tinham ciúmes dela.
  • 13:14 - 13:17
    Estava a receber muita atenção
    de dois novos machos
  • 13:17 - 13:19
    e era a mais precoce.
  • 13:19 - 13:20
    Era demasiado para elas.
  • 13:20 - 13:24
    Ela acabou por se afastar do parque
    e foi alvejada.
  • 13:24 - 13:28
    O macho alfa acabou
    por ser expulso da família.
  • 13:28 - 13:30
    Com a chegada do inverno,
  • 13:30 - 13:34
    perdeu o seu território,
    o seu sustento,
  • 13:34 - 13:38
    os membros da família
    e a sua companheira.
  • 13:39 - 13:43
    Causámos-lhe imensa dor.
  • 13:44 - 13:49
    O mistério é, porque não nos
    magoam eles mais do que é costume?
  • 13:50 - 13:53
    Esta baleia acabara de comer
    parte de uma baleia-cinzenta
  • 13:53 - 13:56
    com os companheiros,
    que a tinham matado.
  • 13:56 - 13:59
    As pessoas do barco
    não tinham nada a temer.
  • 14:00 - 14:03
    Esta baleia é a T20.
  • 14:03 - 14:07
    Acabara de despedaçar uma foca
    em três partes com dois companheiros.
  • 14:07 - 14:10
    A foca pesava tanto
    como as pessoas no barco.
  • 14:10 - 14:14
    Elas não tinham nada a temer.
    As baleias comem focas.
  • 14:15 - 14:17
    Porque não nos comem a nós?
  • 14:19 - 14:24
    Porque deixamos as nossas crianças
    chegarem-se perto delas?
  • 14:25 - 14:28
    Porque é que as orcas voltaram
    para os investigadores,
  • 14:28 - 14:30
    perdidos num espesso nevoeiro,
  • 14:30 - 14:34
    e os acompanharam durante quilómetros,
    até o nevoeiro se dissipar
  • 14:34 - 14:37
    e a sua casa estar à vista,
    na costa?
  • 14:37 - 14:40
    E isso aconteceu
    mais do que uma vez.
  • 14:41 - 14:44
    Nas Bahamas, há uma senhora
    chamada Denise Herzing,
  • 14:44 - 14:47
    que estuda golfinhos pintados,
    e eles conhecem-na.
  • 14:47 - 14:50
    Ela conhece-os muito bem.
    Conhece-os a todos.
  • 14:50 - 14:52
    Eles conhecem-na.
    Reconhecem o barco.
  • 14:52 - 14:54
    Quando ela aparece,
    é uma grande alegria.
  • 14:54 - 14:58
    Mas, uma vez, ela apareceu e eles
    não quiseram aproximar-se do barco.
  • 14:58 - 15:00
    Foi muito estranho.
  • 15:00 - 15:03
    Não percebiam qual era o problema,
    até que alguém saiu do convés
  • 15:03 - 15:06
    e comunicou
    que uma das pessoas a bordo morrera,
  • 15:06 - 15:08
    enquanto dormia no seu beliche.
  • 15:09 - 15:13
    Como podiam os golfinhos saber
    que um dos corações humanos
  • 15:13 - 15:15
    parara de bater?
  • 15:15 - 15:20
    Porque se importariam?
    E porque ficariam assustados?
  • 15:21 - 15:26
    Estas coisas misteriosas
    são apenas uma pista do que se passa
  • 15:26 - 15:29
    nos cérebros
    que residem connosco na Terra,
  • 15:29 - 15:34
    nos quais quase nunca pensamos.
  • 15:34 - 15:36
    Num aquário, na África do Sul,
  • 15:36 - 15:40
    havia uma cria de golfinho-roaz
    chamada Dolly.
  • 15:40 - 15:46
    Estava a mamar e, um dia,
    um dos zeladores fez uma pausa
  • 15:46 - 15:50
    e estava a olhar pela janela,
    para a piscina, a fumar.
  • 15:51 - 15:53
    A Dolly aproximou-se e olhou para ele,
  • 15:53 - 15:57
    voltou para a mãe,
    mamou um ou dois minutos,
  • 15:57 - 15:59
    e voltou para a janela,
  • 15:59 - 16:04
    libertando uma nuvem de leite
    que a envolveu como fumo.
  • 16:04 - 16:07
    De alguma forma,
    esta cria de golfinho-roaz
  • 16:07 - 16:12
    teve a ideia de usar o leite
    para representar fumo.
  • 16:12 - 16:16
    Quando os seres humanos
    usam uma coisa para representar outra,
  • 16:16 - 16:18
    chamamos-lhe arte.
  • 16:18 - 16:20
    (Risos)
  • 16:20 - 16:23
    As coisas que nos tornam humanos
    não são as coisas que achamos
  • 16:23 - 16:25
    que nos tornam humanos.
  • 16:25 - 16:27
    O que nos torna humanos é que,
  • 16:27 - 16:30
    de todas estas coisas
    que as nossas mentes e as deles têm,
  • 16:30 - 16:33
    nós somos os mais extremos.
  • 16:34 - 16:37
    Somos o animal mais bondoso,
  • 16:37 - 16:40
    mais violento, mais criativo
  • 16:40 - 16:44
    e mais destrutivo
    que alguma vez existiu.
  • 16:45 - 16:48
    Somos um aglomerado
    de todas essas coisas.
  • 16:49 - 16:54
    Mas o amor não é aquilo
    que nos torna humanos.
  • 16:54 - 16:57
    Não é um exclusivo nosso.
  • 16:58 - 17:02
    Não somos os únicos que cuidamos
    dos nossos companheiros.
  • 17:02 - 17:05
    Não somos os únicos
    que cuidamos dos nossos filhos.
  • 17:07 - 17:12
    Os albatrozes voam 8 km
    por vezes, 1600 km,
  • 17:12 - 17:16
    durante várias semanas,
    para darem uma refeição grande
  • 17:16 - 17:19
    à cria que têm à sua espera.
  • 17:19 - 17:23
    Fazem ninho nas ilhas mais remotas
    dos oceanos mundiais
  • 17:23 - 17:26
    e este é o aspeto delas.
  • 17:27 - 17:32
    Passar a vida de geração em geração
    é o curso da história.
  • 17:32 - 17:35
    Se isso para, é o fim de tudo.
  • 17:35 - 17:38
    Se há alguma coisa sagrada, é isto.
  • 17:38 - 17:42
    E é para essa relação sagrada
    que vai o nosso lixo plástico.
  • 17:42 - 17:45
    Todos estes pássaros
    ingeriram plástico.
  • 17:46 - 17:51
    Este é um albatroz com seis meses,
    preparado para voar.
  • 17:51 - 17:55
    Morreu, cheio de isqueiros vermelhos.
  • 17:55 - 18:00
    Não é esta a relação que devemos ter
    com o resto do mundo.
  • 18:00 - 18:04
    Mas nós,
    que nos intitulámos de cérebros,
  • 18:04 - 18:08
    nunca pensamos nas consequências.
  • 18:09 - 18:12
    Quando acolhemos
    novas vidas humanas no mundo,
  • 18:12 - 18:17
    recebemos os nossos bebés
    na companhia de outras criaturas.
  • 18:17 - 18:19
    Pintamos animais nas paredes.
  • 18:19 - 18:23
    Não pintamos telemóveis.
    Não pintamos escritórios apertados.
  • 18:23 - 18:27
    Pintamos animais para lhes mostrar
    que não estamos sozinhos.
  • 18:27 - 18:30
    Temos companhia.
  • 18:30 - 18:35
    E todos aqueles animais,
    nos quadros da arca de Noé,
  • 18:35 - 18:40
    dignos de salvação,
    estão agora em perigo
  • 18:40 - 18:43
    e a cheia deles somos nós.
  • 18:44 - 18:46
    Por isso,
    começámos com uma pergunta:
  • 18:46 - 18:48
    Eles gostam de nós?
  • 18:50 - 18:52
    Vamos fazer outra pergunta.
  • 18:53 - 18:57
    Conseguimos usar o que temos
  • 18:58 - 19:03
    e preocupar-nos o suficiente
    para os deixar continuar?
  • 19:05 - 19:06
    Muito obrigado.
  • 19:07 - 19:10
    (Aplausos)
Title:
O que pensam e sentem os animais?
Speaker:
Carl Safina
Description:

O que se passa no cérebro dos animais? Podemos saber em que pensam, se é que pensam e sentem? Carl Safina acredita que sim. Servindo-se de descobertas e episódios curiosos que passam pela biologia e pela ciência comportamental, mistura histórias de baleias, de lobos, de elefantes e de albatrozes para mostrar que, tal como nós pensamos, sentimos, usamos utensílios e exprimimos emoções, as outras criaturas — e cérebros — que partilham a Terra connosco também o fazem.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:26

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