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Como uma astrónoma cega encontrou uma forma de ouvir as estrelas

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    Era uma vez uma estrela.
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    Como tudo o resto, ela nasceu,
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    cresceu até ter cerca de 30 vezes
    a massa do nosso sol
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    e viveu durante muito tempo.
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    Exatamente durante quanto tempo,
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    não podemos dizer.
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    Como tudo na vida,
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    chegou ao fim dos seus dias,
    tal como uma estrela normal,
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    quando o seu coração, o âmago da sua vida,
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    esgotou todo o combustível.
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    Mas não foi propriamente um fim.
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    Transformou-se numa supernova
    e, durante esse processo,
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    libertou uma quantidade
    tremenda de energia,
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    ofuscando toda a galáxia
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    e emitindo, num segundo,
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    a mesma quantidade da energia
    que o nosso Sol liberta em 10 dias.
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    Evoluiu numa outra função na nossa galáxia.
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    As explosões das supernovas são enormes.
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    Mas aquelas que emitem raios gama
    ainda são maiores.
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    Durante o processo
    de se tornar numa supernova,
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    o interior da estrela desmorona-se
    sob o seu próprio peso
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    e começa a girar cada vez mais depressa,
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    como um patinador no gelo,
    quando aproxima os braços do corpo.
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    Desse modo, começa a girar muito depressa
  • 1:11 - 1:15
    e aumenta, fortemente,
    o seu campo magnético.
  • 1:15 - 1:18
    A matéria em volta da estrela
    é arrastada à volta dela
  • 1:18 - 1:22
    e parte da energia dessa rotação
    transfere-se para essa matéria
  • 1:22 - 1:25
    e o campo magnético
    aumenta ainda mais.
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    Assim, a nossa estrela teve energia extra
    para ofuscar toda a galáxia
  • 1:31 - 1:34
    com o seu brilho
    e a emissão de raios gama.
  • 1:34 - 1:37
    A minha estrela, a da minha história,
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    tornou-se naquilo
    a que chamamos um magnetar.
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    Para vossa informação,
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    o campo magnético de um magnetar
    é 1000 biliões de vezes
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    o campo magnético da Terra.
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    Os acontecimentos mais energéticos
    jamais medidos por astrónomos
  • 1:51 - 1:53
    têm o nome de erupções de raios gama
  • 1:53 - 1:57
    porque os observamos
    mais como erupções ou explosões,
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    medidas com mais rigor
    pela luz dos raios gama.
  • 2:00 - 2:01
    Detetamos a nossa estrela,
  • 2:01 - 2:04
    como a da nossa história
    que se tornou num magnetar,
  • 2:04 - 2:06
    como uma erupção de raios gama,
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    durante a parte mais energética
    da explosão.
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    Apesar de as erupções dos raios gama
    serem os acontecimentos mais fortes
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    jamais medidos por astrónomos,
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    não podemos vê-los a olho nu.
  • 2:20 - 2:25
    Dependemos de outros métodos
    para estudar esta luz dos raios gama.
  • 2:25 - 2:27
    Não podemos vê-los a olho nu.
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    Só podemos ver uma parte muito minúscula
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    do espetro eletromagnético
    a que chamamos luz visível.
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    Além disso, contamos com outros métodos.
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    Mas, enquanto astrónomos,
    estudamos uma gama mais ampla de luz
  • 2:42 - 2:44
    e dependemos de outros métodos para isso.
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    No ecrã, pode parecer assim.
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    Estamos a ver um gráfico.
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    Aquilo é uma curva de luz.
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    É um gráfico da intensidade
    da luz ao longo do tempo.
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    É uma curva de luz de raios gama.
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    Os astrónomos com visão
    dependem deste tipo de gráfico
  • 3:02 - 3:07
    para interpretar a mudança
    da intensidade de luz, com o tempo.
  • 3:07 - 3:13
    À esquerda, vemos
    a intensidade da luz sem erupção,
  • 3:13 - 3:17
    e à direita vemos
    a intensidade da luz com erupção.
  • 3:18 - 3:22
    No início da minha carreira
    eu também via este tipo de gráfico.
  • 3:23 - 3:25
    Mas depois perdi a visão.
  • 3:25 - 3:28
    Fiquei totalmente cega
    devido a uma doença prolongada
  • 3:28 - 3:32
    e, assim, perdi a possibilidade
    de ver este gráfico
  • 3:33 - 3:36
    e a possibilidade de fazer a minha física.
  • 3:36 - 3:40
    Foi uma transição muito profunda
    para mim, em vários aspetos.
  • 3:41 - 3:45
    Profissionalmente, deixou-me
    sem meios para exercer a minha ciência.
  • 3:46 - 3:50
    Eu ansiava por ter acesso e analisar
    esta luz energética
  • 3:50 - 3:53
    e descobrir a sua causa astrofísica.
  • 3:53 - 3:57
    Queria sentir a maravilha do espaço,
    a excitação,
  • 3:57 - 4:01
    a alegria provocada pela deteção
    de um acontecimento celeste tão titânico.
  • 4:01 - 4:05
    Pensei muito nisso,
  • 4:05 - 4:08
    quando subitamente percebi
    que uma curva de luz
  • 4:08 - 4:12
    é uma tabela de números
    transformados num gráfico visual.
  • 4:13 - 4:15
    Assim, em conjunto
    com os meus colaboradores,
  • 4:15 - 4:19
    trabalhámos muito e traduzimos
    os números em sons.
  • 4:20 - 4:22
    Consegui o acesso aos dados,
  • 4:22 - 4:27
    e hoje posso fazer a física
    ao nível dos melhores astrónomos,
  • 4:27 - 4:28
    usando o som.
  • 4:28 - 4:31
    O que as pessoas têm podido fazer,
  • 4:31 - 4:34
    principalmente de modo visual,
    durante centenas de anos,
  • 4:34 - 4:36
    eu faço agora, usando som.
  • 4:36 - 4:37
    (Aplausos)
  • 4:37 - 4:40
    Ao ouvir esta erupção de raios gama...
  • 4:40 - 4:41
    (Aplausos)
  • 4:41 - 4:42
    Obrigada.
  • 4:43 - 4:45
    ... que vocês estão a ver neste ecrã,
  • 4:45 - 4:48
    ouvi mais qualquer coisa
    para além da erupção óbvia.
  • 4:48 - 4:50
    Vou passar o som da erupção
    para vocês ouvirem.
  • 4:50 - 4:52
    Não é música, são só sons.
  • 4:53 - 4:56
    (Sons digitais)
  • 4:57 - 5:00
    Isto são dados científicos
    traduzidos em sons,
  • 5:00 - 5:02
    mapeados em frequências sonoras.
  • 5:02 - 5:04
    Chama-se a este processo "sonificação".
  • 5:07 - 5:10
    Ao ouvir isto, houve outro som
    que me chamou a atenção,
  • 5:10 - 5:11
    para além da erupção óbvia.
  • 5:11 - 5:15
    Quando examino as regiões
    muito fortes de baixa frequência,
  • 5:15 - 5:17
    a linha de baixo
  • 5:18 - 5:21
    — estou a ampliá-la —
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    reparámos em ressonâncias características
    de gases com carga elétrica,
  • 5:27 - 5:29
    como os ventos solares.
  • 5:29 - 5:31
    Queria que ouvissem o que eu ouvi.
  • 5:31 - 5:35
    Vão ouvi-lo como uma diminuição
    de volume muito rápida.
  • 5:35 - 5:38
    Como vocês têm visão,
    dou-vos uma linha vermelha
  • 5:38 - 5:42
    que indica qual a intensidade da luz
    que está a ser traduzida em som.
  • 5:44 - 5:46
    (Sons digitais e assobios)
  • 5:46 - 5:49
    Os assobios são rãs lá em casa,
    não lhes prestem atenção.
  • 5:50 - 5:51
    (Risos)
  • 5:51 - 5:54
    (Sons digitais e assobios)
  • 5:57 - 5:59
    Penso que ouviram, não foi?
  • 6:00 - 6:03
    Portanto, descobrimos que as erupções
    duraram tempo suficiente
  • 6:03 - 6:06
    para aguentar ressonâncias de ondas
  • 6:06 - 6:10
    que são coisas causadas por trocas
    de energia entre partículas
  • 6:10 - 6:12
    que podem ter sido excitadas,
  • 6:12 - 6:13
    consoante o volume.
  • 6:13 - 6:16
    Lembram-se de eu dizer
    que a matéria em volta da estrela
  • 6:16 - 6:18
    é arrastada à sua volta?
  • 6:18 - 6:22
    Transmite energia com distribuição
    de frequência e de campo,
  • 6:22 - 6:24
    determinado pelas dimensões.
  • 6:24 - 6:29
    Devem lembrar-se que falámos
    numa estrela supermaciça
  • 6:29 - 6:32
    que se transforma num magnetar
    com um campo magnético muito forte.
  • 6:32 - 6:37
    Se é esse o caso, então os
    escoamentos da estrela em explosão
  • 6:37 - 6:39
    podem estar associados
    a esta erupção de raios gama.
  • 6:39 - 6:41
    O que é que isso significa?
  • 6:41 - 6:44
    A formação dessa estrela
    pode ser uma parte muito importante
  • 6:44 - 6:46
    destas explosões das supernovas.
  • 6:46 - 6:50
    Ao ouvir esta erupção de raios gama,
    ficámos com a noção
  • 6:50 - 6:53
    de que o uso do som
    como auxiliar da visão,
  • 6:53 - 6:56
    também pode ajudar
    os astrónomos que veem,
  • 6:56 - 6:58
    na pesquisa de mais informações nos dados.
  • 6:59 - 7:04
    Em simultâneo, trabalhei na análise
    de medidas de outros telescópios
  • 7:04 - 7:06
    e as minhas experiências demonstraram
  • 7:06 - 7:10
    que, quando usamos o som
    como auxiliar da visão,
  • 7:10 - 7:14
    os astrónomos podem encontrar
    mais informações
  • 7:14 - 7:16
    neste conjunto de dados,
    agora mais acessível.
  • 7:17 - 7:21
    Esta possibilidade
    de transformar dados em sons
  • 7:21 - 7:24
    dá à astronomia um enorme poder
    de transformação.
  • 7:24 - 7:29
    O facto de um campo, que é tão visual,
    poder ser melhorado
  • 7:29 - 7:33
    para incluir quem estiver interessado
    em compreender o que existe nos céus
  • 7:33 - 7:35
    é muito animador.
  • 7:35 - 7:37
    Quando perdi a visão,
  • 7:37 - 7:39
    percebi que não tinha acesso
  • 7:39 - 7:42
    à mesma quantidade
    e qualidade de informações
  • 7:42 - 7:44
    que um astrónomo com visão tinha.
  • 7:44 - 7:48
    Só depois de inovarmos
    com este processo de sonificação
  • 7:48 - 7:52
    reconquistei a esperança
    de ser um membro produtivo
  • 7:52 - 7:55
    na área em que tinha entrado
    à custa de muito trabalho.
  • 7:55 - 8:00
    Contudo, o acesso às informações
    não é a única área da astronomia
  • 8:00 - 8:02
    em que isto é importante.
  • 8:03 - 8:05
    A situação é sistémica
  • 8:05 - 8:08
    e os campos científicos
    não estão a acompanhar.
  • 8:09 - 8:11
    O nosso corpo pode mudar,
  • 8:12 - 8:15
    qualquer um pode contrair
    uma deficiência, em qualquer altura.
  • 8:15 - 8:17
    Pensemos, por exemplo,
  • 8:17 - 8:20
    em cientistas que já estão
    no topo das suas carreiras.
  • 8:20 - 8:23
    O que lhes acontece
    se tiverem uma deficiência?
  • 8:23 - 8:26
    Sentir-se-ão excluídos como eu me senti?
  • 8:26 - 8:29
    O acesso às informações
    dá-nos o poder de florescer.
  • 8:29 - 8:33
    Dá-nos iguais oportunidades
    para mostrar o nosso talento
  • 8:33 - 8:36
    e escolher o que queremos fazer
    com a nossa vida,
  • 8:36 - 8:40
    com base no interesse,
    não em possíveis barreiras.
  • 8:40 - 8:45
    Quando damos oportunidade às pessoas
    para ter êxito sem limites,
  • 8:45 - 8:49
    isso conduzam à plena realização pessoal
    e a uma vida próspera.
  • 8:49 - 8:52
    Penso que o uso do som
    na astronomia
  • 8:52 - 8:55
    nos ajuda a conseguir isso
    e a contribuir para a ciência.
  • 8:56 - 9:01
    Enquanto outros países me disseram
    que o estudo de técnicas de perceção
  • 9:01 - 9:04
    para estudar dados de astronomia
    não era relevante para a astronomia,
  • 9:04 - 9:07
    porque não há astrónomos cegos
    nesta área,
  • 9:08 - 9:09
    a África do Sul disse:
  • 9:09 - 9:13
    "Queremos pessoas com deficiências
    a contribuir nessa área".
  • 9:13 - 9:14
    Neste momento, estou a trabalhar
  • 9:14 - 9:17
    no Observatório Astronómico
    da África do Sul,
  • 9:17 - 9:20
    no Gabinete de Astronomia
    para o Desenvolvimento.
  • 9:20 - 9:25
    Aí, trabalhamos em técnicas
    de sonificação e métodos de análise
  • 9:25 - 9:29
    para causar impacto nos estudantes
    da escola para cegos Athlone.
  • 9:30 - 9:32
    Estes estudantes vão aprender
    radioastronomia
  • 9:32 - 9:35
    e vão aprender os métodos
    de sonificação
  • 9:35 - 9:40
    para estudar acontecimentos astronómicos
    como enormes ejeções de energia do sol,
  • 9:40 - 9:43
    conhecidas por ejeções de massa coronal.
  • 9:43 - 9:45
    O que aprendemos com estes estudantes
  • 9:45 - 9:49
    — estes estudantes têm deficiências
    múltiplas e estratégias de êxito
  • 9:49 - 9:51
    que vão ser superadas —
  • 9:51 - 9:54
    O que aprendemos com estes estudantes
    vai ter um impacto direto
  • 9:54 - 9:57
    na forma como as coisas
    estão a ser feitas a nível profissional.
  • 9:57 - 9:59
    Chamo a isto desenvolvimento.
  • 9:59 - 10:01
    Está a acontecer neste momento.
  • 10:02 - 10:06
    Penso que a ciência é para todos.
  • 10:06 - 10:08
    Pertence a toda a gente,
  • 10:08 - 10:10
    e tem que estar acessível a toda a gente,
  • 10:10 - 10:13
    porque todos nós
    somos exploradores naturais.
  • 10:13 - 10:18
    Penso que, se impedirmos
    as pessoas com deficiências
  • 10:18 - 10:20
    de participarem na ciência,
  • 10:20 - 10:23
    cortaremos as nossas ligações
    com a história e com a sociedade.
  • 10:24 - 10:27
    Sonho com igualdade de condições
    a nível científico
  • 10:27 - 10:32
    em que as pessoas encorajem o respeito
    e se respeitem umas às outras,
  • 10:32 - 10:36
    em que as pessoas troquem estratégias
    e façam descobertas em conjunto.
  • 10:36 - 10:40
    Se as pessoas com deficiências
    puderem entrar no campo científico
  • 10:40 - 10:45
    ocorrerá uma enorme explosão titânica
    de conhecimento,
  • 10:45 - 10:47
    não tenho a menor dúvida.
  • 10:49 - 10:51
    (Sons digitais)
  • 10:51 - 10:53
    Esta é a explosão titânica.
  • 10:55 - 10:56
    Obrigada, obrigada.
  • 10:57 - 11:00
    (Aplausos)
Title:
Como uma astrónoma cega encontrou uma forma de ouvir as estrelas
Speaker:
Wanda Diaz Merced
Description:

Wanda Diaz Merced estuda a luz emitida pelas erupções de raios gama, os acontecimentos mais energéticos do universo. Quando perdeu a visão e ficou sem forma de exercer a sua ciência, teve uma inspiração reveladora; as curvas de luz que ela já não podia ver, podiam ser traduzidas em sons. Através da sonificação, reconquistou o domínio do seu trabalho, e agora defende uma comunidade científica mais inclusiva. "A ciência é para todos", afirma. "Tem que estar acessível a toda a gente, porque todos nós somos exploradores naturais".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:15

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