Como perceber o poder — Eric Liu

Todos os dias, movimentamo-nos e funcionamos no interior de sistemas de poder que outras pessoas criaram. Mas não nos sentimos muito à vontade de falar no poder. Porquê? Eric Liu escreve as seis origens do poder e explica como compreendê-las é fundamental para ser um cidadão eficaz.

Lição de Eric Liu, animação de KAPWA Studioworks

Todos os dias da nossa vida

movemo-nos no meio de sistemas
de poder, criados por outras pessoas.

Não dão por eles?

Compreendem o poder?

Têm noção porque é que é importante?

O poder é uma coisa de que
não gostamos muito de falar.

Isso acontece,
especialmente na vida cívica,

porque vivemos em comunidade.

Numa democracia, o poder reside
supostamente no povo, ponto final.

Qualquer outra conversa sobre o poder
e quem realmente o detém

parece uma coisa obscena,
talvez mesmo maligna.

Mas o poder não é intrinsecamente
pior ou melhor do que o fogo ou a física.

É apenas o poder.

Governa o funcionamento
de qualquer forma de governo.

Determina quem vai determinar
as regras do jogo.

Portanto, perceber como funciona
o poder é fundamental para ser eficaz,

para se ser levado a sério
e para não se aproveitarem de nós.

Nesta lição, vamos ver
de onde surge o poder,

como é exercido e o que é possível fazer
para termos mais poder na vida pública.

Comecemos por uma definição básica.

O poder é a capacidade de fazer
que os outros façam o que queremos.

Claro que isto acontece
em todas as áreas da vida,

desde a família

ao local do trabalho,

até às nossas relações.

Vamos concentrar-nos na área cívica,

em que o poder significa conseguir
que uma comunidade tome decisões

e atue da forma que queremos.

Há seis principais origens
do poder cívico.

Primeiro, há a força física
e a capacidade para a violência.

O controlo dos meios da força,
seja pela polícia ou por milícias,

é o poder na sua forma mais primária.

Uma segunda origem principal
do poder é a riqueza.

O dinheiro cria a capacidade
de comprar resultados

e comprar qualquer outro tipo de poder.

A terceira forma de poder
é a ação do estado, o governo.

É o uso da lei e da burocracia
para obrigar as pessoas

a fazer ou a não fazer
determinadas coisas.

Numa democracia, por exemplo,
nós, o povo, teoricamente,

damos esse poder ao governo,
através das eleições.

Numa ditadura, o poder do estado
surge da ameaça da força,

e não do consentimento dos governados.

O quarto tipo são as normas sociais
ou o que os outros consideram correto.

As normas não têm o maquinismo
centralizado do governo.

Funcionam de um modo mais suave,
de igual para igual.

Mas podem alterar o comportamento
das pessoas e até alterar as leis.

Pensem como têm evoluído as normas
quanto a igualdade no casamento.

A quinta forma de poder são as ideias.

Uma ideia — as liberdades individuais
ou a igualdade racial —

podem gerar quantidades
ilimitadas de poder

se motivarem bastante as pessoas
para alterarem mentalidades e ações.

E a sexta origem do poder
é o número, muitas pessoas.

Uma massa vocal de pessoas cria poder,

ao exprimirem interesses
coletivos com intensidade

e ao afirmarem a legitimidade.

Pensem na Primavera Árabe,
na ascensão do Tea Party.

As multidões contam.

Estas são as seis principais
origens de poder, o que é o poder.

Então, pensemos em como
funciona o poder.

Há três leis do poder
que vale a pena examinar.

Lei número um:
o poder nunca é estático.

Está sempre a acumular-se
ou a reduzir-se, numa área cívica.

Se não participarmos na ação,
alguém o fará contra nós.

Lei número dois:
o poder é como a água.

Flui como uma corrente
pela nossa vida quotidiana.

A política é a tarefa de encaminhar
esse fluxo na direção que preferimos.

A política é um esforço para paralisar
e perpetuar um determinado fluxo de poder.

A política é o poder paralisado.

Lei número três:
o poder vai-se formando.

O poder torna-se mais poderoso
e o mesmo acontece à falta de poder.

A única coisa que impede
que a lei número três leve a uma situação

em que só uma pessoa tem todo o poder

é como aplicamos as leis
número um e dois.

Que regras devemos instituir

para que algumas pessoas
não acumulem demasiado poder

e para que elas não consagrem
os seus privilégios na política?

É este o problema da democracia.

Podemos ver cada uma destas leis
em funcionamento em quaisquer notícias.

Os trabalhadores organizam-se
para obter melhores salários.

As empresas petrolíferas pressionam
a aprovação de um oleoduto.

Os casais homossexuais defendem
o direito legal ao casamento.

Os pais citadinos exigem vales escolares.

Podemos apoiar estes esforços ou não.

Obter o que desejamos depende
do grau de adesão que temos com o poder,

o que nos leva ao que podemos fazer
para termos mais poder na vida pública.

Aqui é útil pensar
em termos de literacia.

O nosso desafio é aprender
a ler o poder e a escrever o poder.

Ler o poder significa prestar atenção
a todos os textos de poder que possível.

Não me refiro apenas a livros.

Refiro-me a olhar para a sociedade
como um conjunto de textos.

Não gostam da forma como estão as coisas
no campus, na cidade ou no país?

Analisem quem tem o tipo de poder
atribuído em que sistema.

Percebam porque é que funciona
dessa maneira,

quem é que o instituiu
e quem quer mantê-lo desse modo.

Estudem as estratégias que
os outros usam nas mesmas situações:

ataque frontal ou indireto,

coligações ou autoridade carismática.

Leiam para poderem escrever.

Escrever o poder exige
primeiro que acreditem

que têm o direito de escrever,

para serem autores de mudança.

Façam isso.

Como qualquer tipo de escrita,
aprendam a exprimir-se,

exprimam-se com uma voz autêntica.

Organizem as ideias,
depois organizem outras pessoas.

Pratiquem a criação de consensos.

Pratiquem conflitos.

Tal como com a escrita,
é tudo uma questão de prática.

Todos os dias temos hipóteses de praticar
no nosso bairro e não só.

Definam objetivos, depois os principais.

Observem os padrões,
vejam o que funciona.

Adaptem, repitam.

Isto é cidadania.

Nesta pequena lição, exploramos
de onde surge o poder cívico,

como funciona e o que podemos
fazer para o exercer.

Falta a importante pergunta.
é o "porquê" do poder.

Querem o poder para beneficiar
toda a gente ou só a vocês?

As vossas propostas
são pró-sociais ou antissociais?

Esta pergunta não se refere à estratégia.

Refere-se ao carácter
e isso é uma outra lição.

Mas lembrem-se:

O poder mais o carácter
é igual a um grande cidadão

e vocês têm o poder de o ser.