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O animal mais legal que você não conhece... e como podemos salvá-lo

  • 0:01 - 0:07
    Este é um dos animais mais fascinantes
    na face da Terra.
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    Está é uma anta.
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    Agora esta aqui, é uma anta bebê,
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    o mais lindo filhote
    do reino animal.
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    (Risos)
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    De longe.
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    Não existe competição aqui.
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    Dediquei os últimos 20 anos da minha vida
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    para pesquisa e conservação
    de antas no Brasil,
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    e tem sido fascinante.
  • 0:33 - 0:37
    Mas no momento,
    estou pensando muito
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    sobre o impacto do meu trabalho.
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    Venho me perguntando
    sobre as contribuições reais que fiz
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    para a conservação
    desses animais que tanto amo.
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    Estou sendo eficaz
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    ao garantir sua sobrevivência?
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    Estou fazendo o suficiente?
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    Acho que o grande ponto aqui é:
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    estou estudando antas e
    contribuindo para sua conservação,
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    ou apenas documentando sua extinção?
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    O mundo está enfrentando tantas
    crises de conservação diferentes.
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    Todos sabemos disso.
    Está nas notícias todos os dias.
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    Florestas tropicais e outros ecossistemas
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    estão sendo destruídos,
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    mudanças climáticas, muitas espécies
    próximas de serem extintas:
  • 1:22 - 1:27
    tigres, leões, elefantes,
    rinocerontes, antas.
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    Essa é a anta-brasileira,
    a espécie com que trabalho,
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    o maior mamífero terrestre
    da América do Sul.
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    Elas são gigantes. Elas são poderosas.
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    Adultos podem pesar até 300 kilos.
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    Isso é a metade do tamanho de um cavalo.
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    Elas são lindas.
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    Antas são encontradas principalmente
    em florestas tropicais como a Amazônia,
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    e elas precisam de grandes habitats
  • 1:54 - 1:59
    para encontrar os recursos necessários
    para se reproduzirem e sobreviverem.
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    Mas seu habitat está sendo destruído,
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    elas foram caçadas ao ponto de extermínio
    em partes da sua distribuição geográfica.
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    E vejam, isso é algo muito infeliz
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    porque as antas são muito importantes
    para os habitats onde se encontram.
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    Elas são herbívoras.
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    Cinquenta por cento
    da sua dieta consiste em frutas,
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    e quando comem a fruta,
    elas engolem as sementes,
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    que distribuem pelo habitat
    com as suas fezes.
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    Elas tem um papel importante,
    modelando e mantendo
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    a estrutura e diversidade da floresta,
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    e por essa razão, antas são conhecidas
    com as jardineiras da floresta.
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    Isso não é fascinante?
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    Se pensarem sobre,
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    a extinção das antas
    afetaria seriamente
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    a biodiversidade como um todo.
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    Comecei meu trabalho com antas em 1996,
    ainda jovem, recém saída da universidade,
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    num programa pioneiro
    de pesquisa e conservação
  • 3:00 - 3:04
    Naquela época, tínhamos praticamente
    zero de informação sobre as antas,
  • 3:04 - 3:07
    principalmente pelo fato de que elas
    são muito difíceis de estudar.
  • 3:07 - 3:11
    Elas são noturnas, solitárias,
    animais muito evasivos,
  • 3:11 - 3:17
    e começamos coletando dados
    muito básicos desse animais.
  • 3:17 - 3:20
    Mas o que um conservacionista faz?
  • 3:20 - 3:23
    Bem, em primeiro lugar
    precisamos de dados.
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    Precisamos de pesquisa de campo.
  • 3:24 - 3:27
    Precisamos de conjuntos
    de dados de longo prazo
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    para dar suporte às ações de conservação,
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    e eu lhes disse que as antas
    são muito difíceis de estudar,
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    então precisamos nos basear
    em métodos indiretos de estudo.
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    Precisamos capturá-las e anestesiá-las,
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    para instalar colares com GPS
    em seus pescoços,
  • 3:42 - 3:44
    e seguir seus movimentos,
  • 3:44 - 3:48
    essa técnica é bastante utilizada
    por outros conservacionistas no mundo.
  • 3:48 - 3:52
    Então coletamos informação
    sobre como elas usam espaço,
  • 3:52 - 3:54
    como elas se movem pelo seu ambiente,
  • 3:54 - 3:56
    quais são seus habitats prioritários,
  • 3:56 - 3:58
    e muito mais.
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    Depois precisamos divulgar
    o que aprendemos.
  • 4:02 - 4:05
    Precisamos educar as pessoas sobre antas,
  • 4:05 - 4:08
    e sobre o quanto elas são importantes.
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    É fascinante o número de pessoas no mundo
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    que não sabe o que é uma anta.
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    De fato, muitas pessoas pensam
    que isso é uma anta.
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    E lhes digo, isso não é uma anta.
  • 4:21 - 4:23
    (Risos)
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    Isso é um tamanduá-bandeira.
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    Antas não comem formigas. Nunca. Jamais.
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    Temos que prover treinamento, capacitação.
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    É nossa responsabilidade preparar
    os conservacionistas do futuro.
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    Estamos perdendo várias batalhas,
  • 4:42 - 4:43
    pela conservação,
  • 4:43 - 4:45
    e precisamos de mais pessoas
    fazendo o que nós fazemos,
  • 4:45 - 4:50
    e elas precisam de habilidades,
    e precisam de paixão para fazer isso.
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    Por fim, nós conservacionistas,
  • 4:52 - 4:55
    precisamos da capacidade
    de aplicar nossos dados,
  • 4:55 - 4:57
    de aplicar nosso conhecimento acumulado
  • 4:57 - 5:01
    para dar suporte real para a conservação.
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    Nosso primeiro programa de antas
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    aconteceu na Mata Atlântica
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    no leste do Brasil,
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    um dos mais ameaçados
    biomas no mundo.
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    A destruição da Mata Atlântica
  • 5:13 - 5:15
    começou aproximadamente em 1500,
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    quando os portugueses
    chegaram no Brasil,
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    iniciando a colonização européia
    do leste da América do Sul.
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    Essa floresta foi quase
    completamente removida
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    pela madeira, agricultura, criação de gado
    e pela construção de cidades,
  • 5:31 - 5:35
    hoje apenas sete por cento
    da Mata Atlântica
  • 5:35 - 5:37
    permanece de pé.
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    E as antas são encontradas em populações
    pequena, isoladas e desconectadas.
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    Na Mata Atlântica, descobrimos que antas
    se movem por áreas abertas
  • 5:48 - 5:50
    de pasto e agricultura,
  • 5:50 - 5:54
    indo de um trecho de floresta para outro.
  • 5:54 - 5:57
    Nossa abordagem principal nessa área
  • 5:57 - 6:01
    era usar dados das antas
    para identificar locais em potencial
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    para estabelecer corredores
    de vida selvagem,
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    entre esses trechos de floresta,
  • 6:07 - 6:09
    reconectando o habitat
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    para que antas e outros animais
    pudessem cruzar a área em segurança.
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    Depois de 12 anos na Mata Atlântica,
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    em 2008, expandimos a conservação
    das antas para o Pantanal,
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    na parte oeste do Brasil,
  • 6:24 - 6:27
    próximo a fronteira
    com Bolívia e Paraguai.
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    Esta é a maior planície de inundação
    contínua de água doce do mundo,
  • 6:33 - 6:34
    um lugar incrível
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    e um dos redutos mais importantes
    para a anta-brasileira na América do Sul.
  • 6:39 - 6:43
    Trabalhar no Pantanal
    está sendo revigorante
  • 6:43 - 6:47
    porque encontramos grandes e saudáveis
    populações de antas na área,
  • 6:47 - 6:49
    e podemos estudar as antas
  • 6:49 - 6:53
    nas condições mais naturais
    que iremos encontrar,
  • 6:53 - 6:56
    praticamente livre de ameaças.
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    No Pantanal, além de coleiras de GPS,
    estamos usando outra técnica:
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    armadilhas fotográficas.
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    Essa câmera é equipada
    com sensor de movimento
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    e ela fotografa animais
    quando passam na sua frente.
  • 7:08 - 7:11
    Graças a esses maravilhosos dispositivos,
  • 7:11 - 7:14
    podemos coletar informações preciosas
  • 7:14 - 7:17
    sobre a reprodução das antas
    e da sua organização social,
  • 7:17 - 7:19
    essas informações são muito importantes
  • 7:19 - 7:24
    para o desenvolvimento
    de estratégias de conservação.
  • 7:24 - 7:28
    E agora, em 2015, estamos expandindo
    nosso trabalho mais uma vez,
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    para o Cerrado Brasileiro,
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    as pradarias e florestas arbustivas
    na parte central do Brasil.
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    Nessa região hoje se encontra o epicentro
    do desenvolvimento econômico no meu país,
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    aonde habitats naturais
    e populações selvagens
  • 7:44 - 7:48
    estão sendo erradicadas rapidamente
    por várias ameaças diferentes,
  • 7:48 - 7:51
    incluindo mais uma vez a pecuária,
  • 7:51 - 7:53
    grandes plantações de cana e soja,
  • 7:53 - 7:57
    caça, atropelamentos,
    apenas para nomear alguns.
  • 7:57 - 8:01
    E de alguma forma,
    as antas ainda estão lá,
  • 8:01 - 8:03
    e isso me dá esperanças.
  • 8:03 - 8:08
    Começar esse novo programa no Cerrado
  • 8:08 - 8:10
    foi um tapa na cara.
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    Quando se dirige por lá
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    e encontra antas mortas
    ao longo das rodovias,
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    e sinais de antas andando
    no meio de plantações de cana,
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    aonde elas não deveriam estar,
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    conversando com crianças, elas lhes dirão
    como é o gosto de carne de anta
  • 8:27 - 8:30
    porque suas famílias as caçam e comem,
  • 8:30 - 8:33
    é de partir o coração.
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    A situação no cerrado
    me fez perceber...
  • 8:37 - 8:40
    me deu um senso de urgência.
  • 8:40 - 8:43
    Estou nadando contra a correnteza.
  • 8:43 - 8:46
    Me fez perceber que apesar de
    duas décadas de trabalho duro
  • 8:46 - 8:50
    tentando salvar esses animais,
    e ainda existe tanto trabalho a ser feito
  • 8:50 - 8:53
    se vamos impedir seu desaparecimento.
  • 8:53 - 8:57
    Precisamos encontrar formas
    de resolver esses problemas.
  • 8:57 - 8:59
    Realmente precisamos,
    e sabem o que mais?
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    Chegamos num ponto
    no mundo da conservação
  • 9:02 - 9:05
    em que precisamos
    encontrar soluções alternativas.
  • 9:05 - 9:09
    Teremos que ser muito mais criativos
    do que estamos sendo agora.
  • 9:09 - 9:13
    Atropelamentos são um grande problema
    para as antas no Cerrado,
  • 9:13 - 9:16
    então tivemos a ideia de usar
    adesivos refletivos
  • 9:16 - 9:19
    nos colares GPS que colocamos nas antas.
  • 9:19 - 9:21
    São os mesmos adesivos
    usados em caminhões grandes
  • 9:21 - 9:23
    para evitar colisões.
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    Antas cruzam as rodovias de noite,
  • 9:26 - 9:31
    esperamos que esses adesivos
    ajudem os motoristas a verem as antas
  • 9:31 - 9:33
    cruzando a rodovia,
  • 9:33 - 9:36
    e talvez eles diminuam a velocidade.
  • 9:36 - 9:39
    No momento, é apenas uma ideia.
  • 9:39 - 9:44
    Não sabemos. Veremos se irá
    reduzir o número de antas atropeladas.
  • 9:44 - 9:48
    Meu ponto é: talvez esse seja
    o tipo de coisa que precisa ser feito.
  • 9:49 - 9:53
    Embora eu esteja lutando
    com todas essas questões
  • 9:53 - 9:55
    na minha mente agora,
  • 9:55 - 9:58
    eu tenho um pacto com as antas.
  • 9:58 - 10:00
    Sei no meu coração
  • 10:00 - 10:03
    que a conservação das antas
    é a minha causa.
  • 10:03 - 10:05
    Essa é a minha paixão.
  • 10:05 - 10:06
    Eu não estou sozinha.
  • 10:06 - 10:10
    Tenho uma grande rede
    de apoiadores comigo,
  • 10:10 - 10:13
    e de forma alguma
    eu irei parar.
  • 10:13 - 10:18
    Continuarei fazendo isso, provavelmente,
    pelo resto da minha vida.
  • 10:18 - 10:22
    Continuarei fazendo isso
    pela Patrícia, minha xará,
  • 10:22 - 10:26
    uma das primeiras antas que capturamos
    e monitoramos na Mata Atlântica
  • 10:26 - 10:28
    muitos anos atrás;
  • 10:28 - 10:32
    pela Rita e seu bebê Vincent no Pantanal.
  • 10:32 - 10:37
    E continuarei fazendo isso pelo Ted,
    um filhote de anta que capturamos
  • 10:37 - 10:40
    em dezembro do ano passado
    também no Pantanal.
  • 10:40 - 10:42
    E continuarei fazendo isso
  • 10:42 - 10:46
    pelas centenas de antas
    que tive o prazer de conhecer
  • 10:46 - 10:47
    ao longo dos anos
  • 10:47 - 10:51
    e pelas outras que sei
    que irei encontrar no futuro.
  • 10:51 - 10:54
    Esses animais merecem ser cuidados.
  • 10:54 - 10:57
    Eles precisam de mim. Precisam de nós.
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    E sabem? Nós humanos
    merecemos viver em um mundo
  • 11:02 - 11:06
    aonde podemos sair,
    ver e nos beneficiar,
  • 11:06 - 11:08
    não apenas das antas,
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    mas de todas as maravilhosas espécies,
  • 11:10 - 11:13
    agora e no futuro.
  • 11:13 - 11:15
    Muito obrigado.
  • 11:15 - 11:20
    (Aplausos)
Title:
O animal mais legal que você não conhece... e como podemos salvá-lo
Speaker:
Patrícia Medici
Description:

Mesmo a anta sendo um dos maiores mamíferos terrestres do mundo, as vidas desses criaturas solitárias e noturnas, permanece um segredo. Conhecida como "fóssil vivo", a mesma anta que anda pelas florestas e pradarias da América do Sul hoje, apareceu no cenário evolutivo a mais de cinco milhões de anos atrás. Mas ameaças de caçadores, desmatamentos e poluição, especialmente no Brasil, em processo de rápida industrialização, trazem um perigo para sua longevidade. Nesta palestra esclarecedora, a bióloga conservacionista, especialista em antas e TED Fellow Patrícia Medici, compartilha seu trabalho com esses fascinantes animais e nos desafia com uma pergunta: Queremos ser responsáveis pela sua extinção?

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:32

Portuguese, Brazilian subtitles

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