Como aprendi a comunicar a minha vida interior, apesar do síndroma de Asperger

Alix Generous é uma jovem com mil e uma ideias — fez ciência que ganhou um prémio, ajudou a desenvolver uma nova tecnologia e diz muitas piadas (vão ver). Tem síndroma de Asperger, uma forma de transtorno do espetro autista que pode prejudicar as aptidões sociais básicas necessárias à comunicação. Trabalhou esforçadamente durante anos para aprender a partilhar os seus pensamentos com o mundo. Nesta palestra pessoal, divertida, conta-nos a sua história — e a sua visão para instrumentos que ajudem mais pessoas a comunicar as suas grandes ideias.

Hoje quero falar-vos de sonhos.

Toda a minha vida tive sonhos acordados,

e é mais divertido do que nos filmes.

(Risos)

Para além de voar, cuspir fogo,

e fazer com que homens giros
aparecessem espontaneamente...

(Risos)

... consigo fazer coisas
como ler e escrever música.

Um facto engraçado é que escrevi
a minha carta de motivação à universidade

durante um sonho.

E fui aceite.

Sou uma pensadora muito visual.

Penso através de imagens,
não de palavras.

Para mim, as palavras são mais
como instintos e linguagem.

Há muita gente como eu.

Nicola Tesla, por exemplo,

que conseguia visualizar, desenhar,
testar e solucionar todos os problemas

— todas as suas invenções —
no seu espírito, com exatidão.

Aliás, a linguagem é exclusiva
da nossa espécie.

Eu sou um pouco mais primitiva,

como uma versão beta do Google Translator.

(Risos)

O meu cérebro tem a capacidade de se
hiperfocar em coisas que me interessam.

Por exemplo, uma vez
tive uma ligação com o cálculo

que durou mais tempo do que
alguns casamentos de celebridades.

(Risos)

Há mais umas coisas estranhas em mim.

Devem ter reparado que a minha voz
é um pouco monocórdica.

Por isso, frequentemente,
confundem-me com um GPS.

(Risos)

Isto pode tornar problemática
a comunicação,

a não ser que precisem de orientação.

(Risos)

(Aplausos)

Obrigada.

(Aplausos)

Há uns anos, quando comecei
a fazer palestras,

fui tirar fotografias tipo passe,
pela primeira vez.

A fotógrafa disse-me para
olhar sedutoramente.

(Risos)

Eu não fazia ideia nenhuma
do que é que ela estava a falar.

(Risos)

Ela disse:
"Faz aquilo, tu sabes, com os olhos,

"como quando estás a namorar
com um rapaz"

"Aquilo o quê?", perguntei.

"Tu sabes, olha de esguelha."

Então eu tentei, de verdade.

Olhei mais ou menos assim.

(Risos)

Olhei como se estivesse
à procura do Waldo.

(Risos)

Há uma razão para isto,

tal como existe uma razão
para o Waldo estar escondido.

(Risos)

Eu tenho síndroma de Asperger,

uma forma de autismo
de alto funcionamento

que prejudica as aptidões sociais
básicas habituais.

Dificulta a vida de muitas formas.

Durante o meu crescimento,
lutei para me encaixar socialmente.

Os meus amigos diziam piadas,
mas eu não os compreendia.

Os meus heróis eram
o George Carlin e o Stephen Cobert

e eles ensinaram-me o humor.

A minha personalidade balançava
entre ser tímida e desajeitada

e ser desafiante e agressiva.

Desnecessário será dizer
que não tinha muito amigos.

Eu era, também, hipersensível a texturas.

A sensação da água na minha pele
era como alfinetes e agulhas,

por isso, durante anos,
recusei-me a tomar banho.

Asseguro-vos que, agora, a minha higiene
diária corresponde ao que é normal.

(Risos)

Esforcei-me muito para chegar aqui,
bem como os meus pais.

As coisas descontrolaram-se quando
fui agredida sexualmente por um colega

o que, acima de tudo, piorou
uma já difícil situação.

Tive de viajar 3200 km
através do país para ser tratada,

mas, poucos dias depois de
me receitarem um novo medicamento,

a minha vida transformou-se num
episódio da série Os Mortos Vivos.

Fiquei paranoica
e comecei a ter alucinações

com aqueles cadáveres
a caminhar na minha direção.

A minha família, finalmente, salvou-me

mas, nessa altura, já eu tinha perdido
mais de 8 kg, em três semanas,

bem como desenvolvido uma grave anemia,

e estava à beira do suicídio.

Fui transferida para um novo centro
que compreendeu as minhas aversões

os meus traumas e a
minha ansiedade social,

soube tratá-las e, finalmente,
recebi a ajuda de que precisava.

Depois de 18 meses de muito trabalho,

passei a fazer coisas incríveis.

Uma das coisas relacionadas com
o Asperger é que, por vezes,

essas pessoas têm
uma vida interior muito complexa.

Sei que tenho uma personalidade
muito colorida,

ideias férteis, e muitas coisas
a acontecer na minha cabeça.

Mas há um fosso entre essas informações

e a forma como as comunico
ao resto do mundo.

Isto pode transformar
a comunicação básica num problema.

Poucas empresas me contratariam,
devido à minha falta de aptidões sociais.

Foi por isso que me
candidatei à Wafle House.

(Risos)

Wafle House é um restaurante excecional
que está aberto 24 horas.

(Risos)

(Aplausos)

Obrigada.

Ali podemos encomendar
batatas fritas

de tantas maneiras como as que uma
pessoa pode eliminar um cadáver.

(Risos)

Fatiadas, em cubos, apimentadas,
picadas, em tiras e panadas.

(Risos)

Como mandam as normas sociais,

só devemos ir à Waffle House
a uma hora adiantada da noite.

Assim, uma vez, às 2 da manhã, à conversa
com a empregada perguntei-lhe:

"Qual foi a coisa mais ridícula
que te aconteceu durante o trabalho?"

Ela respondeu-me que, uma vez,
entrou um homem completamente nu.

(Risos)

Eu respondi: "Altamente!
"Regista-me no último turno da noite!"

(Risos)

Desnecessário dizer
que a Waffle House não me contratou.

Então, ter Asperger pode ser visto
como uma desvantagem,

e, por vezes,
é um verdadeiro pontapé no rabo,

mas também é o contrário.

É um dom e isso permite-me
pensar de forma inovadora.

Aos 19 anos, ganhei
um concurso de investigação

com a minha investigação
sobre recifes de coral

e acabei a discursar

na Convenção das Nações Unidas
sobre Diversidade Biológica,

a apresentar essa pesquisa.

(Aplausos)

Aos 22 anos, estou quase
a acabar a universidade,

sou cofundadora de uma empresa
de biotecnologia chamada AutismeSees.

(Aplausos)

Obrigada.

(Aplausos)

Mas considerem o que tive de fazer
para chegar até aqui:

Foram 25 terapias, 11 diagnósticos errados
e anos de sofrimento e traumas.

Passei muito tempo a pensar
se não haveria uma forma melhor

e penso que existe:
a técnica assistida ao autismo.

Esta tecnologia pode
desempenhar um papel essencial

ajudando pessoas com transtorno
do espetro do autismo,

ou TEA.

A aplicação Podium, lançada pela
minha empresa, a AutismSees

consegue avaliar e ajudar a desenvolver
capacidades de comunicação.

Além disso, monitoriza o
contacto visual através duma câmara,

e simula experiências de discursos públicos
e entrevistas de emprego.

Assim, talvez um dia,
a Waffle House me contrate,

depois de eu treinar um pouco mais.

(Risos)

Uma das coisas boas
é que eu utilizei o Podium

para me ajudar a preparar para hoje
e tem sido uma grande ajuda.

Mas é mais do que isso.

Há mais que pode ser feito

para as pessoas com TEA.

Tem-se especulado
que há muitos cientistas inovadores,

investigadores, artistas
e engenheiros que o têm.

Emily Dickson, Jane Austen,
Isac Newton e Bill Gates

são alguns exemplos.

Mas o problema que encontramos

é que estas ideias brilhantes
nem sempre podem ser transmitidas,

se houver bloqueios de comunicação.

Por isso, muitas pessoas com autismo
são ignoradas todos os dias

e não são aproveitadas.

Por isso, o meu sonho para as pessoas
com autismo, é alterar isso,

acabar com os bloqueios
que as impedem de ter êxito.

Uma das razões por que eu gosto
de sonhos lúcidos

é porque me permitem ser livre,

sem o julgamento
das consequências sociais e físicas.

Quando estou a voar nas cenas
que crio no meu espírito,

estou em paz.

Estou livre do julgamento,

por isso posso fazer o que quero.

Faço aquilo que, para o Brad Pitt
e a Angelina, é fixe.

(Risos)

Mas o objetivo da terapia assistida
no autismo é mais que isso,

e mais importante.

O meu objetivo é alterar a perspetiva
das pessoas sobre o autismo

e sobre as pessoas com Asperger
de alto funcionamento,

porque há muita coisa
que elas podem fazer.

Olhem para Temple Grandin, por exemplo.

Se fizermos isso, as pessoas podem
partilhar os seus talentos com este mundo

e façam avançar este mundo.

Para além disso, damos-lhes a coragem
de realizar os seus sonhos

no mundo real, em tempo real.

Obrigada.

(Aplausos)