O poder do "quando" | Darnell Washington | TEDxSanQuentin

A fé de um tio levou Darnell Washington à faculdade mesmo crescendo num ambiente de gangues. Ouça como Darnel mesmo preso usa o pensamento positivo e o poder do "quando" para transformar vidas.

Quando Darnell entrou na prisão, decidiu mudar sua vida. Escolheu se afastar do estilo de vida destrutivo e cheio de mágoa, dor e perdas. Para resolver suas questões internas, Darnell se envolveu com todos os grupos de autoajuda que pode.

Já estando em San Quentin, ele foi atraído pela Mesa Redonda da Justiça Restaurativa, em grande parte porque lidava com a cura das vítimas, dos infratores e de suas respectivas comunidades. Ele também se interessou pelo programa de justiça social The San Quentin Alliance por C.H.A.N.G.E. (Aliança San Quentin para a Mudança), que ensina aos participantes como diferentes formas de justiça podem ser aplicadas na construção de uma comunidade saudável e autossustentável. Darnell se tornou um líder e facilitador em ambos os grupos.

O objetivo dele é usar seu conhecimento recém-adquirido para se tornar um ativista comunitário e palestrante motivacional que educa e traz cura para a comunidade.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Philip Meléndez: A seguir vem
um homem que lidera pelo exemplo.

Ele é apaixonado por educação

e pelo bem-estar
de todos os seres humanos.

Senhoras e senhores, o meu amigo,
Darnell "Moe" Washington.

(Aplausos)

Darnell Washington: Quero falar hoje
sobre o que é ser um líder.

Para ser um bom líder,
você tem que ser um bom motivador.

E que melhor maneira de motivar alguém
do que comunicar que acredita nele?

Meu tio Dornese me disse
que acreditava em mim quando disse:

"Quando você se formar",
e não "Se" ou "Faça o seu melhor",

mas "Quando você se formar,
vou comprar o que você quiser".

E isso me motivou a valorizar
minha educação, bem como a dos outros.

Cresci em uma família muito unida

e passávamos muito tempo
de qualidade juntos.

Eu era especialmente próximo
de meus primos, Dwight e Damon,

porque eu não tinha irmãos
e eles eram mais jovens que eu.

Eu sempre os encorajei a ficar na escola
e fazer o bem, assim como meu tio ensinou.

Sempre lembrarei do dia em que meu tio
me levou para a escola de moto,

porque eu havia perdido o ônibus.

Antes de sairmos foi que ele me disse:

"Quando você se formar,
vou comprar o que você quiser."

Naquela época eu estava no 10º ano
na Canoga Park High School.

Mas antes de eu concluir o 10º ano,
meu tio Dornese foi assassinado.

Apesar do assassinato de Dornese,
ainda fui capaz de focar nos estudos,

porque ainda queria
que ele se orgulhasse de mim.

Na Canoga Park High, joguei basquete,
o que realmente gostei.

Devido ao nosso esforço e dedicação
aos treinos, trilhamos todo o caminho

até o campeonato colegial
na Los Angeles Sports Arena.

Foi uma experiência incrível
que nunca esquecerei.

Fui eleito o melhor jogador
defensivo no meu time,

bem como príncipe do baile e melhor
dançarino pelos meus colegas de classe.

(Vivas) (Aplausos)

Tenho certeza de que Dornese ficaria
orgulhoso de mim por essas conquistas.

Depois de me formar no colegial,

continuei meus estudos
na West Los Angeles City College.

Tragicamente, em meu primeiro semestre,

meu primo Dwight, de 15 anos,
também foi assassinado.

Ele estava andando pela rua
com seus amigos quando um carro parou.

Dwight se inclinou para olhar
dentro do carro e ver quem era,

e um dos membros de gangue no carro

sacou uma espingarda
e atirou na testa dele.

Depois de ver seu corpo
e ver como ele foi baleado,

fiquei tão magoado, zangado,
furioso por alguém poder atirar

no rosto de meu primo
de 15 anos daquela maneira

que não pude mais manter o foco
nas minhas aulas da faculdade.

Eu só queria vingança.

Saí da faculdade e me envolvi com gangues.

Depois de anos nas gangues,

sem me importar se estava destruindo minha
comunidade, minha família, a mim mesmo,

fui preso, acusado, condenado
por homicídio em primeiro grau

e sentenciado de 35 anos à perpétua.

No primeiro dia na prisão, disse a mim
mesmo que precisava mudar minha vida.

Comecei a ir à igreja,
porque fui criado na igreja.

E, estando na ala de segurança máxima
da Corcoran State Prison,

não havia muito mais o que fazer.

Meus pontos de segurança diminuíram
trabalhando e ficando longe de problemas,

e então fiquei apto a ir
para uma prisão de segurança média.

Primeiro, para a California Men's Colony,
em San Luis Obispo, California,

e depois aqui na San Quentin State Prison.

Nessas prisões de segurança média
existem muitos grupos de autoajuda

e me envolvi em todos os grupos que pude
para lidar com as minhas questões,

como o "Criminals
and Gang Members Anonymous".

Lá no CGA, lembro de assistir
a um vídeo de um jovem falando

sobre como a mãe da vítima dele
dizia que o filho dela era um bom rapaz.

E o jovem estava chateado, porque o filho
dela era membro de uma gangue rival.

Na época, ele não entendia
o impacto do seu crime.

Até que um dia, quando estava em sua cela,
ele olhou pela janela de trás.

Havia um cemitério lá.

Ele então percebeu
que o rapaz que ele assassinou

estava enterrado bem ali do lado
da janela, porque ele podia ver

a mãe do rapaz ir visitar
aquele túmulo todos os domingos.

Naquele instante, meu coração abriu

e percebi que o estilo de vida
destrutivo que eu tinha vivido

teria um efeito duradouro
nas pessoas que eu prejudiquei,

em suas famílias e comunidades.

Também frequento a Justiça Restaurativa,
onde ganhei tanto conhecimento

sobre o impacto do crime ouvindo
os depoimentos dos sobreviventes

sobre a jornada de cura deles.

Quando estava na California Men's Colony,
encontrei um dos meus jovens manos,

que tinha 13 anos quando saí das ruas.

Agora ele estava com 21, na prisão,
com uma sentença de 15 anos a perpétua.

Ele passaria pela Comissão
de Condicional em breve,

e perguntei se tinha diploma
do colegial ou do EJA.

Ele disse que não, mas que estava
fazendo aulas no EJA.

Então, eu disse ao Robert
que, quando ele passasse no teste do EJA,

eu lhe daria o meu pagamento

por ser um porteiro no prédio,
que era de US$ 20.

Robert passou no teste do EJA,

fui à cantina e trouxe
para ele US$ 20 em comida

e disse que estava orgulhoso dele.

Percebi que essa era
uma boa maneira de retribuir

e de ser boa influência para os outros.

Alguns dias depois, fui até a academia

e disse a todos os jovens que estavam lá:

"Se vocês não tem diploma
do colegial ou do EJA

e vocês se matricularem,
eu também darei meus US$ 20".

Eles disseram: "Ah, Moe, é sério?"
E eu disse: "Sim, muito sério".

Tantos deles se matricularam

e foram passando no teste ao mesmo tempo

que tivemos que mudar o acordo,
já que eu só ganho US$ 20 por mês.

(Risos)

Em vez disso, concordamos que eu pagaria
uma refeição para cada um

e também compraria uma taça de sorvete.

(Risos)

Realmente gostei de vê-los
comerem e comemorarem juntos,

e me contarem como seus pais
e avós estavam orgulhosos deles.

E vendo a empolgação em seus rostos

por terem conseguido algo tão positivo.

E isso me mostrou que não é preciso muito
para fazer a diferença na vida de alguém.

Não importa onde você esteja.

Antes de me transferir da California Men's
Colony para a San Quentin State Prison,

15 daqueles jovens haviam
passado no teste do EJA.

(Aplausos) (Vivas)

Sei que alguns podem dizer:

"Uau, aqueles US$ 20 realmente
motivaram os rapazes", e concordo.

Mas acredito que a verdadeira motivação
foi mesmo a palavra "quando",

que me fez lembrar do meu tio
me dizendo: "Quando eu me formar".

Não "Se" ou "Faça o melhor", mas "Quando".

Pois aquilo me mostrou
que ele acreditava em mim,

e estou certo que os rapazes
sentiram o mesmo,

que apesar das más escolhas que fizeram,
alguém acreditava neles.

Isso valia mais para eles do que US$ 20,

porque eles não reclamaram
de mudar o acordo,

o que mostrou a generosidade deles
para com alguém que acreditou neles.

Quando você sair daqui hoje,
peço que reserve algum tempo

e sente cara a cara, não por email
ou mensagem de texto.

Sente-se cara a cara com alguém
com quem se importe,

diga o quanto você acredita nele,

e veja a alegria e a empolgação
que você trará ao rosto dele.

Quero deixá-lo com uma frase
de Nelson Mandela que diz:

"O que realmente conta na vida
não é apenas o fato de termos vivido;

é a diferença que fizemos nas vidas
dos outros que determina

a importância da nossa própria vida".

Obrigado

(Aplausos)