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Podemos fazer desviar as trajetórias suicidas? | Monique Seguin no TEDxGatineau

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    Creio poder dizer que provavelmente
    todos conhecemos alguém
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    que, no decurso da sua vida,
    pensou no suicídio,
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    talvez tenha feito
    uma tentativa de suicídio
  • 0:41 - 0:42
    ou se tenha suicidado.
  • 0:43 - 0:45
    Ou então, talvez conheçam pessoas
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    que ajudaram um parente suicida.
  • 0:48 - 0:52
    Ou ainda, conheçam pessoas
    que estão enlutadas
  • 0:52 - 0:54
    na sequência de um suicídio.
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    A Organização Mundial da Saúde
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    informa-nos que, no decurso de um ano,
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    há mais mortes por suicídio, no mundo,
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    do que mortes associadas
    a atos terroristas, a homicídios,
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    e a todas as guerras juntas.
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    É incrível, não é?
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    Todas essas estatísticas
    escondem dramas humanos,
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    e a atualidade confronta-nos regularmente
    com esses dramas humanos.
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    Seja o suicídio de adolescentes,
    rapazes ou raparigas,
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    depois de terem sido
    vítimas de intimidação,
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    seja o suicídio de pessoas idosas
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    que morrem sozinhas na solidão,
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    seja o suicídio de militares
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    esgotados por reações
    de tensão pós-traumática.
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    Aliás, o exército norte-americano,
    nos últimos anos,
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    recordou que teve mais militares
    que se suicidaram
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    do que militares mortos em combate.
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    Estas realidades são difíceis de ouvir.
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    No Quebeque,
    o Instituto Nacional de Saúde Pública
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    publicou recentemente os dados de 2011.
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    Em 2011, no Quebeque,
    houve 28 000 tentativas de suicídio
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    de homens e mulheres do Quebeque.
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    E 1105 homens e mulheres do Quebeque
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    puseram fim à vida.
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    São 1105 dramas humanos.
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    Três por dia!
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    A maior parte das pessoas
    que se suicidam são homens
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    - 80% são homens -
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    a maior parte são adultos,
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    que deixam atrás de si
    outros dramas humanos:
  • 2:34 - 2:38
    maridos, mulheres, filhos, pais,
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    irmãos, irmãs, amigos, colegas,
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    que tentam compreender porquê.
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    Calculo que vocês estejam a pensar:
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    "Sim, mas porquê?"
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    Efetivamente, a resposta a essa pergunta
  • 2:51 - 2:52
    é extremamente complexa.
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    Porque não há uma razão,
  • 2:54 - 2:56
    não há uma causa,
  • 2:56 - 2:58
    não há um modo.
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    O suicídio é determinado por muitas coisas
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    mas, em contrapartida,
    parece haver uma coisa em comum
  • 3:04 - 3:07
    que existe em todos os suicidas.
  • 3:07 - 3:10
    É que estes indivíduos
    não procuram a morte,
  • 3:10 - 3:11
    de modo nenhum,
  • 3:12 - 3:14
    procuram uma forma
    de acabar com o sofrimento.
  • 3:16 - 3:18
    Chegam a um ponto da sua vida
  • 3:19 - 3:21
    em que o sofrimento se torna intolerável.
  • 3:21 - 3:25
    Um sofrimento que os acompanha
    há semanas, há meses,
  • 3:25 - 3:27
    há anos, por vezes durante toda a vida.
  • 3:27 - 3:30
    Essas pessoas chegam a um ponto
  • 3:30 - 3:32
    em que o sofrimento é intolerável
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    e todas elas procuram uma forma
    de acabar com esse sofrimento.
  • 3:37 - 3:40
    Acabam por acreditar
  • 3:40 - 3:43
    que nunca poderão mudar a sua existência.
  • 3:44 - 3:46
    Com efeito, uma existência
    que é muito diferente
  • 3:46 - 3:48
    de um indivíduo para outro.
  • 3:48 - 3:52
    Como é que esses indivíduos,
  • 3:52 - 3:56
    que, a certa altura,
    chegam todos a um mesmo ponto,
  • 3:56 - 3:59
    têm trajetórias variadas?
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    Podemos ver trajetórias de indivíduos
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    para quem a vida
    começa mal desde o início.
  • 4:10 - 4:13
    Pessoas que, desde muito cedo,
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    sofrem muitas adversidades, separações,
  • 4:17 - 4:19
    perdas, deslocações,
  • 4:19 - 4:20
    violência, negligência,
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    e por aí fora.
  • 4:22 - 4:25
    Ficamos com a impressão
    de que essas pessoas
  • 4:25 - 4:27
    estão colocadas
    numa espécie de trajetórias
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    que vão de mal a pior.
  • 4:29 - 4:33
    Estes indivíduos acabam por desenvolver
  • 4:33 - 4:35
    perturbações de saúde mental,
  • 4:35 - 4:39
    que são essencialmente a expressão
    do sofrimento em que vivem,
  • 4:39 - 4:41
    e muitas vezes suicidam-se.
  • 4:41 - 4:45
    As pessoas que se caracterizam
    um pouco por esta trajetória,
  • 4:45 - 4:47
    são os que se suicidam mais cedo,
  • 4:47 - 4:50
    portanto são muitas vezes adultos jovens,
  • 4:50 - 4:53
    esgotados pelo sofrimento, pelos fracassos
  • 4:53 - 4:55
    e pela adversidade.
  • 4:56 - 4:58
    Uma outra forma de trajetória
  • 4:58 - 5:02
    é a de indivíduos para os quais
    a vida começa relativamente bem,
  • 5:03 - 5:05
    em famílias acolhedoras e protetoras,
  • 5:06 - 5:09
    mas para quem a adversidade
    chega mais tarde na vida,
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    muitas vezes sob a forma de acontecimentos
  • 5:13 - 5:15
    que se multiplicam em pouco tempo,
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    que chegam uns atrás dos outros
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    e que arrastam o indivíduo numa espiral
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    em que o indivíduo se sente desanimado
  • 5:24 - 5:29
    e deixa de acreditar que
    a sua vida pode mudar um dia.
  • 5:29 - 5:32
    Os indivíduos nesta trajetória
  • 5:32 - 5:35
    suicidam-se muitas vezes
    num momento de rotura,
  • 5:35 - 5:37
    talvez com uma das últimas pessoas
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    com quem ainda têm uma ligação.
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    Uma outra trajetória é a dos indivíduos
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    que apresentam uma certa vulnerabilidade,
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    um certo mal-estar,
  • 5:50 - 5:56
    uma dificuldade em viver a vida
    e em sentir-se bem com a vida.
  • 5:56 - 6:00
    Por momentos, os indivíduos
    que vivem este mal-estar,
  • 6:00 - 6:02
    vão vivê-lo de modo secreto,
  • 6:03 - 6:06
    vão vivê-lo sem nunca
    falar disso com ninguém.
  • 6:07 - 6:10
    Pior ainda, por vezes
    vão mostrar-se muito divertidos
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    para fingir que tudo corre bem
  • 6:12 - 6:15
    e para tentar fazer crer
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    que as coisas correm bem.
  • 6:17 - 6:19
    Estes indivíduos esperam
  • 6:19 - 6:23
    que um dia as suas dificuldades
    vão desaparecer.
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    Quando estes indivíduos
    se suicidam, esgotados,
  • 6:29 - 6:34
    quando toda a sua energia
    se foi desgastando gradualmente,
  • 6:34 - 6:36
    quando eles se suicidam,
  • 6:36 - 6:39
    deixam à sua volta um círculo estupefacto,
  • 6:39 - 6:43
    que não compreende
    como é possível que essas pessoas
  • 6:43 - 6:45
    se tenham suicidado.
  • 6:46 - 6:50
    Imagino que, quando relato as trajetórias,
  • 6:50 - 6:51
    como acabo de o fazer,
  • 6:51 - 6:54
    talvez vocês estejam a pensar?
  • 6:54 - 6:56
    "Mas, meu Deus!
    Essas trajetórias são inevitáveis?
  • 6:56 - 6:58
    "Não se pode fazer nada?"
  • 6:58 - 7:01
    De modo algum, nada disso.
  • 7:02 - 7:03
    Muito pelo contrário.
  • 7:03 - 7:06
    É possível modificar
    as trajetórias suicidas.
  • 7:07 - 7:10
    Aliás, no Quebeque, a partir
    do início da década de 2000,
  • 7:12 - 7:16
    a taxa de mortes por suicídio
    diminuiu entre 25% a 30%.
  • 7:16 - 7:18
    Como é que isso aconteceu?
  • 7:18 - 7:22
    O ministério instituiu,
    no início da década de 2000,
  • 7:22 - 7:24
    uma estratégia nacional
    de prevenção do suicídio.
  • 7:24 - 7:27
    O que é uma estratégia nacional?
  • 7:27 - 7:30
    É formada por um conjunto de ações,
  • 7:30 - 7:32
    e fizeram-se muitas ações,
  • 7:32 - 7:38
    como por exemplo, a sensibilização
    para as dificuldades da saúde mental.
  • 7:38 - 7:41
    Portanto, campanhas populacionais
  • 7:41 - 7:43
    que sensibilizam as pessoas
  • 7:43 - 7:46
    para os sinais e sintomas de depressão.
  • 7:46 - 7:50
    Porque há uma diferença
    entre a melancolia do domingo à noite,
  • 7:50 - 7:53
    um desânimo passageiro,
  • 7:53 - 7:56
    e um estado que perdura, que se mantém,
  • 7:56 - 7:59
    e que talvez não vá modificar-se sozinho
  • 7:59 - 8:02
    e para o qual é necessário
    uma consulta médica.
  • 8:02 - 8:06
    Muitas vezes as pessoas
    não distinguem uma coisa da outra
  • 8:06 - 8:09
    e continuam a acreditar
    que essas dificuldades
  • 8:09 - 8:12
    vão acabar por desaparecer sozinhas.
  • 8:12 - 8:15
    Portanto, a partir do momento
    em que se identifica
  • 8:15 - 8:16
    que existem essas dificuldades,
  • 8:16 - 8:19
    ou que uma pessoa próxima
    tem esse tipo de dificuldades,
  • 8:19 - 8:22
    também é preciso uma consulta médica.
  • 8:22 - 8:24
    Segunda dificuldade populacional.
  • 8:25 - 8:29
    Possivelmente conhecem pessoas
    que não querem consultar um médico,
  • 8:29 - 8:32
    e provavelmente não ficarão surpreendidos
  • 8:32 - 8:34
    se eu disser que muitos homens
  • 8:34 - 8:37
    não querem consultar um médico.
  • 8:37 - 8:41
    Nunca irão a uma consulta
    para dificuldades psicológicas.
  • 8:42 - 8:44
    Com efeito, é frequentemente a barreira.
  • 8:44 - 8:49
    Porque a barreira nem sempre
    é o acesso à consulta,
  • 8:49 - 8:52
    mas a aceitação da consulta.
  • 8:53 - 8:56
    Se conseguirmos modificar essa dimensão,
  • 8:56 - 8:59
    essa atitude contra a consulta,
  • 9:00 - 9:02
    possivelmente vamos ajudar
    mais algumas pessoas.
  • 9:02 - 9:04
    Uma outra ação
  • 9:04 - 9:08
    foi formar os intervenientes
    de primeira linha,
  • 9:08 - 9:11
    médicos, enfermeiros, psicólogos,
    trabalhadores sociais, etc.,
  • 9:11 - 9:15
    para identificar rápida e precocemente
    as perturbações de saúde mental,
  • 9:15 - 9:17
    as perturbações de dependência.
  • 9:17 - 9:20
    Sabemos que, associadas ao suicídio,
  • 9:20 - 9:24
    há duas perturbações extremamente
    frequentes e importantes,
  • 9:24 - 9:27
    perturbações depressivas
    e perturbações de dependência.
  • 9:27 - 9:31
    Sabemos muito bem
    como tratar essas dificuldades.
  • 9:32 - 9:38
    Uma outra ação foi tornar mais seguros
  • 9:38 - 9:40
    os cenários suicidas.
  • 9:40 - 9:42
    Entre outros, tornar mais seguras as pontes
  • 9:42 - 9:45
    para evitar que haja saltos
    de sítios altos.
  • 9:45 - 9:48
    Tornar mais seguro, por exemplo,
  • 9:48 - 9:52
    o depósito obrigatório das armas de fogo,
  • 9:52 - 9:56
    porque sabemos que
    uma arma de fogo dentro de casa,
  • 9:56 - 10:00
    em especial num domicílio
    onde há pessoas vulneráveis,
  • 10:01 - 10:02
    aumenta os riscos.
  • 10:03 - 10:09
    Teremos feito tudo a nível
    dos meios e dos cenários suicidas,
  • 10:09 - 10:10
    do controlo dos cenários?
  • 10:10 - 10:12
    Claro que não.
  • 10:12 - 10:13
    Ainda podemos fazer mais coisas.
  • 10:13 - 10:16
    Podemos encorajar as empresas farmacêuticas
  • 10:16 - 10:18
    quando elas põem produtos à venda,
  • 10:18 - 10:20
    especialmente os produtos de venda livre,
  • 10:20 - 10:23
    a pô-los à venda em formatos mais pequenos,
  • 10:23 - 10:26
    como fez a Inglaterra
    no início da década de 2000.
  • 10:26 - 10:30
    Podemos também encorajar
    os fabricantes de automóveis
  • 10:30 - 10:35
    a colocar um aparelho no motor,
    que faça parar o motor
  • 10:35 - 10:38
    quando haja uma taxa
    de monóxido de carbono
  • 10:38 - 10:40
    no interior do carro.
  • 10:41 - 10:45
    No que se refere a ações
    na estratégia nacional,
  • 10:45 - 10:49
    também podemos sensibilizar
    os "media" para a mensagem social.
  • 10:50 - 10:54
    Muitas experiências e estudos mostraram,
  • 10:54 - 10:57
    na sequência da morte duma pessoa famosa,
  • 10:57 - 11:01
    ou na sequência duma morte espetacular,
    uma morte por suicídio,
  • 11:01 - 11:05
    e que a mensagem social não está atenta,
  • 11:05 - 11:11
    observa-se um aumento nas semanas seguintes
  • 11:11 - 11:13
    e nos meses seguintes,
  • 11:13 - 11:15
    de tentativas de suicídio.
  • 11:15 - 11:18
    Portanto, por imitação,
    as pessoas vão fazer a mesma coisa
  • 11:18 - 11:19
    que essa pessoa célebre.
  • 11:19 - 11:23
    Portanto, é importante
    que os "media" sejam sensibilizados
  • 11:23 - 11:26
    para a mensagem social e
    para a importância da mensagem social
  • 11:26 - 11:28
    quando falam de suicídio.
  • 11:29 - 11:32
    Também tentámos acompanhar
  • 11:32 - 11:35
    as pessoas que fizeram
    tentativas de suicídio,
  • 11:35 - 11:37
    porque as pessoas que fizeram
    uma tentativa de suicídio
  • 11:37 - 11:40
    correm mais riscos
    de fazê-la uma segunda vez.
  • 11:41 - 11:43
    Fizemos tudo? Tudo até ao fim?
  • 11:43 - 11:44
    Claro que não.
  • 11:44 - 11:47
    Mas penso que, se queremos ir mais longe,
  • 11:47 - 11:50
    se queremos diminuir
    ainda mais a taxa de suicídio,
  • 11:50 - 11:54
    terá que envolver
    o concurso de toda a gente.
  • 11:54 - 11:57
    Não apenas de um ministério,
    não apenas de alguns intervenientes,
  • 11:57 - 11:59
    mas de todos vocês,
    de todos nós.
  • 12:00 - 12:03
    Porque é preciso que o suicida
    se torne num problema de toda a gente.
  • 12:03 - 12:05
    Por exemplo, aqui na sala,
  • 12:05 - 12:09
    há aqui alguém que seja
    diretor de uma empresa?
  • 12:10 - 12:12
    Se há alguém diretor duma empresa,
  • 12:12 - 12:14
    o que pode fazer anualmente,
  • 12:14 - 12:18
    é realizar na empresa
    campanhas de sensibilização
  • 12:18 - 12:21
    para certas dificuldades de saúde mental.
  • 12:21 - 12:23
    Podem instituir nas vossas empresas
  • 12:23 - 12:25
    programas de sentinelas.
  • 12:25 - 12:29
    Se têm empregados que
    têm boas aptidões sociais,
  • 12:29 - 12:32
    proporcionem formação
    para que esses empregados
  • 12:32 - 12:35
    possam contactar pessoas na empresa
  • 12:35 - 12:38
    que não estão bem,
    para lhes oferecer ajuda.
  • 12:38 - 12:41
    Se vocês são interventores psicossociais,
  • 12:41 - 12:44
    para além dos conhecimentos que já têm,
  • 12:44 - 12:47
    quando encontram alguém que sofre,
  • 12:47 - 12:52
    alguém que tem uma trajetória de vida
    que o leva a pensar no suicídio,
  • 12:53 - 12:56
    também podem não ver
    apenas a dificuldade atual
  • 12:56 - 12:59
    mas ser tocados por
    esta trajetória de dificuldades
  • 12:59 - 13:01
    que a pessoa teve,
  • 13:01 - 13:05
    e levá-la a entrever como ficámos
    preocupados pela sua resistência,
  • 13:05 - 13:09
    e como somos capazes
    de lhe transmitir o sentimento
  • 13:10 - 13:13
    de confiança e que ela poderá mudar.
  • 13:13 - 13:16
    Através desta ligação com o outro,
  • 13:16 - 13:20
    tornamos a dor do outro,
    o sofrimento do outro,
  • 13:20 - 13:22
    humanamente suportáveis.
  • 13:22 - 13:25
    Se vocês trabalham com crianças,
  • 13:25 - 13:28
    por vezes pensa-se que
    a infância é um período idílico,
  • 13:28 - 13:33
    quando sabemos que
    as crianças podem viver dramas,
  • 13:33 - 13:35
    podem viver tristezas,
    podem viver fracassos.
  • 13:35 - 13:37
    Portanto, é possível desde muito cedo
  • 13:37 - 13:40
    levar as crianças a encararem-se
    de modo diferente,
  • 13:40 - 13:43
    e podemos levar as crianças a compreender
  • 13:43 - 13:48
    que, na vida, não há apenas
    momentos de felicidade,
  • 13:48 - 13:52
    haverá também, ao longo da vida,
    momentos de tristeza,
  • 13:52 - 13:58
    e como fazer para ultrapassar
    os momentos de tristeza.
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    Nas nossas vidas pessoais,
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    também pode haver todo o tipo de ações.
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    Por vezes, ações que podem
    parecer-nos simples,
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    podem ter um impacto importante
    na vida dos outros.
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    Por exemplo, o meu colega, Yao Assogna,
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    que era professor na universidade
    do Quebeque, em Otava,
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    perdeu um filho, há uns anos,
    na sequência de um suicídio.
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    Ele e a mulher, Andrée,
    sofreram uma prova terrível,
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    e decidiram criar uma fundação,
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    a Fundação Lani, o nome do filho.
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    Essa fundação ajuda jovens vulneráveis,
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    jovens em dificuldade.
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    oferecendo bolsas para que
    certos jovens possam realizar
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    os seus sonhos.
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    Com a sua ação,
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    Yao, Andrée,
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    e os amigos de Yao e Andrée,
    que angariam fundos para eles,
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    criam contextos para modificar
    trajetórias suicidas.
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    Uma colega, Mélanie,
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    uma colega suíça,
    que veio para o Quebeque
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    trabalhar connosco durante algum tempo,
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    fez uma formação de prevenção de suicídio
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    quando estava no Quebeque.
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    Quando voltou para o seu país,
    uma noite, ao regressar do trabalho,
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    estava num viaduto,
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    e ao atravessar o viaduto
    para ir para casa,
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    viu uma mulher no viaduto
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    com um comportamento um pouco estranho.
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    Atrasou o passo
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    avançou calmamente para a mulher,
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    e começou a falar com ela.
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    A mulher avançou
    de modo ainda mais perigoso
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    para o parapeito.
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    Mélanie aproximou-se dela,
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    e viu que a mulher estava a chorar.
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    Quando viu que a mulher estava a chorar,
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    Mélanie também começou a chorar,
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    comovida com o sofrimento daquela mulher.
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    E a mulher, ao ver que uma estranha
    estava a chorar ao lado dela,
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    não sabendo se ela chorava
    por ela ou com ela,
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    abraçou-se a Mélanie.
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    Mélanie chamou um táxi,
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    foi levar a mulher à urgência.
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    Quando chegou à urgência,
    chamou a família.
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    Talvez que, naquela noite,
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    Mélanie, com a sua ação,
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    tenha contribuído para dar
    um ponto de viragem àquela mulher.
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    Caroline, antes de estudar psicologia,
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    soube que a sua mãe,
    que tinha problemas de saúde,
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    problemas crónicos,
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    pensava no suicídio,
    porque o tinha dito a alguém.
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    Reunindo toda a coragem,
    Carolina, uma noite,
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    abordou a questão do suicídio com a mãe
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    que lhe confirmou que pensava no suicídio,
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    que queria suicidar-se,
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    e que não queria que a filha a impedisse.
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    Não queria que a filha
    a levasse ao hospital.
  • 16:39 - 16:43
    A mãe disse-lhe:
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    "Se me levares ao hospital,
    nunca mais te falo".
  • 16:46 - 16:47
    Caroline disse-lhe:
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    "Prefiro que nunca mais me fales,
  • 16:50 - 16:52
    "porque podes sempre mudar de ideias,
  • 16:52 - 16:55
    "mas se te suicidares, nunca mais
    poderás mudar de ideias".
  • 16:56 - 16:59
    Jean-François, que participou num estudo,
  • 16:59 - 17:00
    - vou chamar-lhe Jean-François -
  • 17:00 - 17:03
    participou num estudo
    que eu estava a fazer,
  • 17:03 - 17:05
    contou-nos que,
    num certo período da sua vida,
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    vivia um período difícil,
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    um divórcio litigioso com a sua mulher.
  • 17:10 - 17:12
    Via poucas vezes os filhos,
  • 17:12 - 17:15
    tinha a impressão que
    a vida dele era um fracasso.
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    Estava zangado, encolerizado,
    deprimido, suicida.
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    Um dia, numa manhã
    em que estava a trabalhar,
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    o contramestre
    aproximou-se dele e disse-lhe:
  • 17:25 - 17:28
    "Ouve. Sei que as coisas não vão bem.
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    "Para de fazer o que estás a fazer.
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    "Quero que vás à urgência,
    consultar um médico.
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    "Toma! liga para tal sítio".
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    E deu-lhe o folheto
    duma organização comunitária,
  • 17:38 - 17:39
    que ajuda homens
  • 17:39 - 17:42
    que vivem dificuldades com separações.
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    Jean-François contou-nos
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    que a ação do seu contramestre
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    e as ações das pessoas
    da organização comunitária
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    o ajudaram a chegar a um ponto de viragem
  • 17:54 - 17:56
    e também lhe salvaram a vida.
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    Se vocês não tiverem este tipo
    de ocasião na vossa vida,
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    podem mesmo assim escrever,
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    podem assinar petições,
  • 18:05 - 18:07
    podem escrever aos vossos deputados,
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    podem escrever
    aos vossos ministros da saúde,
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    podem escrever ao primeiro-ministro
    do Quebeque e do Canadá,
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    e dizer que respeitamos a vida,
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    porque a vida é importante,
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    e queremos que os nossos governos adotem
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    uma estratégia nacional
    de prevenção do suicídio.
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    Mesmo que todas as nossas ações concertadas
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    só sirvam para ajudar uma pessoa,
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    se todas as nossas ações contribuírem
    para ajudar uma só pessoa
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    para modificar
    a trajetória suicida duma pessoa
  • 18:37 - 18:40
    todas as nossas ações terão valido a pena.
  • 18:41 - 18:42
    Obrigada.
  • 18:42 - 18:45
    (Aplausos)
Title:
Podemos fazer desviar as trajetórias suicidas? | Monique Seguin no TEDxGatineau
Description:

Doutora em psicologia, Monique Séguin interpela-nos nesta conferência sobre a importância de sensibilizar a população para o facto de o suicídio ser um problema social. Acrescenta que prevenir este flagelo é um problema que diz respeito a todos nós.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
French
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:50

Portuguese subtitles

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