A minha vida em famílias tipográficas
-
0:01 - 0:04Consumimos os caracteres tipográficos
em grandes quantidades. -
0:05 - 0:07Na maior parte do planeta,
é totalmente inevitável. -
0:07 - 0:10Mas são poucos
os que se preocupam em saber -
0:10 - 0:13de onde surgiu
um determinado tipo de letra, -
0:13 - 0:16ou quando, ou quem a inventou,
-
0:16 - 0:20se, de facto, houve alguma
intervenção humana na sua criação, -
0:20 - 0:24se apenas não se materializou
a partir do éter do "software". -
0:25 - 0:29Mas eu tenho de me preocupar
com estas coisas. -
0:29 - 0:30É o meu trabalho.
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0:30 - 0:33Eu sou uma das poucas pessoas
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0:33 - 0:35que fica mesmo irritada
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0:35 - 0:37pelo mau espaçamento do T e do E
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0:37 - 0:39que podem ver ali.
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0:39 - 0:41Tenho de tirar este slide daqui.
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0:41 - 0:44Não consigo suportá-lo.
Nem eu nem o Chris. -
0:44 - 0:45Pronto. Óptimo.
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0:45 - 0:46A minha palestra é sobre a ligação
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0:46 - 0:49entre a tecnologia
e o desenho de caracteres. -
0:50 - 0:54A tecnologia mudou várias vezes
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0:54 - 0:55desde que comecei a trabalhar:
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0:55 - 0:59fotos, digital, computador, ecrã, web.
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1:00 - 1:01Tive de sobreviver a essas mudanças
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1:01 - 1:04e tentar compreender
as suas implicações -
1:04 - 1:06no meu trabalho de conceção.
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1:06 - 1:10Este slide é sobre os efeitos
das ferramentas na forma. -
1:11 - 1:14As duas letras, os dois K,
-
1:14 - 1:17aquele à vossa esquerda,
— à minha direita — é moderno, -
1:17 - 1:18criado num computador.
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1:18 - 1:21As linhas rectas são
completamente direitas -
1:21 - 1:23As curvas têm aquela suavidade matemática
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1:23 - 1:27imposta pela fórmula Bézier.
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1:27 - 1:29À direita, o gótico antigo,
-
1:29 - 1:33recortado à mão, no material resistente
que é o aço. -
1:33 - 1:36Nenhuma das linhas rectas
são realmente direitas. -
1:36 - 1:38As curvas são ténues.
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1:38 - 1:42Tem aquela faísca de vida,
proveniente da mão humana, -
1:42 - 1:45que uma máquina ou um programa
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1:45 - 1:46nunca conseguem capturar.
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1:46 - 1:48Que contraste!
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1:48 - 1:51Bom, eu disse uma mentira.
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1:51 - 1:54Uma mentira no TED.
Peço imensa desculpa. -
1:54 - 1:56Ambas foram feitas num computador,
-
1:56 - 1:58pelo mesmo programa,
pelas mesmas curvas Bézier, -
1:58 - 2:00com o mesmo formato.
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2:00 - 2:02Aquela à vossa esquerda
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2:02 - 2:04foi criada por Zuzana Licko, da Emigre,
-
2:04 - 2:06e a outra fui eu que fiz.
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2:06 - 2:09A ferramenta é a mesma,
mas as letras são diferentes. -
2:09 - 2:12As letras são diferentes
porque os criadores são diferentes. -
2:12 - 2:15Só isso. A Zuzana queria que o dela
tivesse aquele aspecto. -
2:15 - 2:18Eu queria que o meu tivesse aquele aspecto.
Fim da história. -
2:18 - 2:21As fontes são muito adaptáveis.
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2:21 - 2:24Ao contrário das belas-artes,
como a escultura ou a arquitectura, -
2:24 - 2:27as fontes escondem os seus métodos.
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2:27 - 2:30Eu considero-me um desenhador industrial.
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2:30 - 2:33O que eu desenho é fabricado,
e tem uma função: -
2:34 - 2:35ser lido, transmitir um significado.
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2:35 - 2:37Mas há mais do que isso.
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2:37 - 2:39Há uma espécie de elemento estético.
-
2:39 - 2:41O que é que torna
estas duas letras diferentes, -
2:41 - 2:45a partir de diferentes interpretações
de desenhadores diferentes? -
2:45 - 2:47O que é que dá ao trabalho
de alguns desenhadores -
2:47 - 2:49uma espécie de estilo
pessoal característico, -
2:49 - 2:52tal como se encontra no trabalho
de um estilista, -
2:52 - 2:55um desenhador de carros, etc.?
-
2:55 - 2:57Admito que já existiram alguns casos
-
2:57 - 3:01em que eu, como desenhador,
senti a influência da tecnologia. -
3:01 - 3:04Isto é de meados dos anos 60.
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3:04 - 3:07A mudança dos tipos de metal para a foto,
-
3:07 - 3:08de quente para frio.
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3:08 - 3:12Isto trouxe alguns benefícios
mas também um inconveniente: -
3:13 - 3:15um sistema de espaçamento
que apenas fornecia -
3:15 - 3:2118 unidades discretas
para acomodar as letras. -
3:22 - 3:24Nessa altura, foi-me pedido que desenhasse
-
3:24 - 3:27uma séria de fontes
sem serifa, condensadas, -
3:27 - 3:30com o máximo de variantes possível
-
3:30 - 3:32dentro de uma caixa de 18 unidades.
-
3:33 - 3:35Olhando rapidamente para a aritmética,
-
3:35 - 3:41apercebi-me que só poderia fazer três
com um desenho da mesma família. -
3:41 - 3:42Aqui estão elas.
-
3:42 - 3:46Na Helvetica Comprimida, Extra Comprimida
e Ultra Comprimida, -
3:46 - 3:48este sistema rígido de 18 unidades
-
3:48 - 3:50tirou-me alguma liberdade.
-
3:50 - 3:53De certa forma, determinou
as proporções do desenho. -
3:54 - 3:57Aqui estão os caracteres,
pelo menos os minúsculos. -
3:59 - 4:01Olham para elas e dizem:
-
4:01 - 4:04"Pobre Matthew. Ele teve
de ultrapassar um problema, -
4:04 - 4:07e isso nota-se no resultado obtido."
-
4:07 - 4:09Espero que não.
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4:09 - 4:11Se estivesse a fazer este trabalho hoje,
-
4:11 - 4:14em vez de ter 18 unidades de espaçamento,
-
4:14 - 4:17teria 1000.
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4:17 - 4:20Obviamente,
podia ter criado mais variantes, -
4:20 - 4:24mas seriam melhores
estes três membros da família de fontes? -
4:24 - 4:26É difícil saber sem experimentar,
-
4:26 - 4:28mas não ficariam melhor numa proporção
-
4:28 - 4:31de 1000 para 18, isso posso garantir.
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4:31 - 4:34O meu instinto diz que
qualquer melhoria seria ligeira, -
4:34 - 4:36porque elas foram desenhadas
-
4:36 - 4:39em função do sistema
para que foram desenhadas -
4:39 - 4:41e, tal como disse,
as fontes são muito adaptáveis. -
4:41 - 4:44Elas escondem os seus métodos.
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4:44 - 4:47Todos os desenhadores industriais
trabalham sob restrições. -
4:47 - 4:49Não se trata de belas-artes.
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4:49 - 4:53A questão é, será que uma restrição
força um compromisso? -
4:54 - 4:55Ao aceitar uma restrição,
-
4:55 - 4:58estamos a trabalhar
para padrões mais baixos? -
4:58 - 5:00Não acredito nisso,
e fui sempre encorajado -
5:00 - 5:02por uma coisa que Charles Eames disse.
-
5:02 - 5:05Disse que estava ciente
de trabalhar com restrições, -
5:05 - 5:08mas não fazia compromissos.
-
5:08 - 5:10A distinção entre uma restrição
-
5:10 - 5:13e um compromisso,
é obviamente muito subtil, -
5:13 - 5:16mas é central à minha atitude
perante o trabalho. -
5:18 - 5:21Lembram-se desta experiência de leitura?
-
5:21 - 5:22A lista telefónica.
-
5:22 - 5:25Vou manter este slide
para que possam apreciar a nostalgia. -
5:25 - 5:27(Risos)
-
5:27 - 5:30Isto é uma das primeiras experiências,
feitas na década de 70, -
5:30 - 5:32da fonte Bell Centennial, que eu desenhei,
-
5:32 - 5:35para as listas telefónicas
dos Estados Unidos. -
5:35 - 5:38Foi a minha primeira experiência
com fontes digitais, -
5:38 - 5:40e que baptismo que foi!
-
5:42 - 5:44Foi desenhado para listas telefónicas,
-
5:44 - 5:47para serem impressas
em tamanho pequeno, em papel-jornal, -
5:47 - 5:49em prensas rotativas de alta velocidade
-
5:49 - 5:52com tinta que era querosene e fuligem.
-
5:52 - 5:55Não é um ambiente hospitaleiro
-
5:55 - 5:59para um desenhador tipográfico.
-
5:59 - 6:01Portanto, o desafio para mim foi
desenhar uma fonte -
6:01 - 6:03com o melhor desempenho possível
-
6:03 - 6:07nestas condições
de produção muito adversas. -
6:07 - 6:10Tal como disse, estávamos
nos primórdios das fontes digitais. -
6:10 - 6:13Tive de desenhar cada carácter à mão
-
6:13 - 6:14em papel milimétrico
-
6:14 - 6:17— havia quatro estilos
para a Bell Centennial — -
6:17 - 6:20pixel a pixel, e depois codificá-los
linha raster a linha raster -
6:20 - 6:21para o teclado.
-
6:21 - 6:24Demorei dois anos, mas aprendi imenso.
-
6:25 - 6:28Estas letras parecem ter sido mordidas
por um cão ou coisa parecida, -
6:28 - 6:31mas os píxeis em falta
nas intersecções das diagonais -
6:31 - 6:33ou nos ângulos internos
por elas formados -
6:33 - 6:35são o resultado de ter estudado os efeitos
-
6:35 - 6:38de borrões de tinta em papel barato,
-
6:38 - 6:41e de ter reagido,
revendo a fonte de forma apropriada. -
6:41 - 6:45Estes artefactos estranhos
foram desenhados para compensar -
6:45 - 6:47os efeitos não desejáveis da escala
-
6:47 - 6:50e do processo de produção.
-
6:50 - 6:52Inicialmente, a AT&T queria
-
6:52 - 6:55que o tipo de fonte fosse o Helvetica
-
6:55 - 6:59mas, como o meu amigo Erik Spiekermann
disse no filme Helvetica, -
6:59 - 7:00— não sei se já o viram —
-
7:00 - 7:02as letras em Helvetica foram desenhadas
-
7:02 - 7:05para serem o mais parecidas possível
umas com as outras. -
7:05 - 7:08Isto não é uma boa receita
para boa leitura em tamanho pequeno. -
7:08 - 7:10Parece muito elegante num slide.
-
7:11 - 7:14Tive de fazer as formas das figuras
-
7:14 - 7:16o menos ambíguas possível,
em Bell Centennial, -
7:16 - 7:18abrindo-as um pouco, tal como podem ver
-
7:18 - 7:21na parte inferior do slide.
-
7:22 - 7:24Passamos agora para a década de 80,
-
7:24 - 7:27o começo das fontes de contorno digital,
-
7:27 - 7:28tecnologia vectorial.
-
7:28 - 7:31Havia um problema na altura
-
7:31 - 7:33com o tamanho das fontes,
-
7:33 - 7:36a quantidade de dados
necessária para pesquisar -
7:36 - 7:40e armazenar uma fonte
na memória do computador. -
7:40 - 7:43Limitava o número de fontes
que era possível ter -
7:43 - 7:45no sistema tipográfico ao mesmo tempo.
-
7:45 - 7:49Fiz uma análise dos dados
-
7:49 - 7:52e descobri que a típica fonte com serifa,
-
7:52 - 7:53que se vê à esquerda,
-
7:53 - 7:56precisava de quase o dobro dos dados
-
7:56 - 7:58do que a fonte sem serifa no meio,
-
7:58 - 8:00devido a todos os pontos que precisava
-
8:00 - 8:04para definir de forma elegante
as curvas das serifas. -
8:04 - 8:07A propósito, os números
na parte inferior do slide, -
8:07 - 8:10representam a quantidade de dados
-
8:10 - 8:12necessária para armazenar cada fonte.
-
8:13 - 8:15Portanto, a fonte sem serifa, no meio,
-
8:15 - 8:18era muito mais poupada,
-
8:18 - 8:20de 81 para 151.
-
8:20 - 8:24Pensei: "Aha!
"Os engenheiros têm um problema. -
8:24 - 8:26O desenhador vai salvar o dia."
-
8:26 - 8:29Criei uma fonte com serifa,
que podem ver à direita, -
8:29 - 8:31sem serifas curvas.
-
8:31 - 8:33Criei-as como polígonos,
com segmentos de rectas -
8:33 - 8:35e ângulos chanfrados.
-
8:35 - 8:39E vejam, tão económica em termos de dados
como a fonte sem serifa. -
8:39 - 8:42Chamamos-lhe Charter, à direita.
-
8:42 - 8:44Dirigi-me ao chefe de engenharia
-
8:44 - 8:46com os meus números, e disse orgulhoso:
-
8:46 - 8:48"Resolvi o vosso problema."
-
8:48 - 8:52Ele respondeu: "Que problema?"
-
8:52 - 8:54E eu disse: "Bom, tu sabes, o problema
-
8:54 - 8:57da grande quantidade de dados necessária
para fontes com serifa." -
8:57 - 9:01Ele respondeu: "Oh. Nós resolvemos esse
problema a semana passada. -
9:01 - 9:03Escrevemos uma rotina
de compressão que reduz -
9:03 - 9:05o tamanho de todas as fontes
em uma ordem de grandeza -
9:05 - 9:08Podemos ter tantas fontes no sistema
quantas queiramos". -
9:09 - 9:11Respondi: "Bem, obrigado por me avisarem."
-
9:12 - 9:13Ultrapassado novamente.
-
9:13 - 9:16Fiquei com um desenho que era solução
-
9:16 - 9:19para um problema técnico não existente.
-
9:19 - 9:22Mas é aqui que a história começa a ficar
interessante para mim. -
9:22 - 9:26Eu não deitei fora o desenho
num ataque de birra. -
9:26 - 9:28Guardei-o.
-
9:28 - 9:31O que começou como um exercício técnico,
-
9:31 - 9:33tornou-se um exercício estético.
-
9:33 - 9:36Por outras palavras,
comecei a gostar desta fonte. -
9:36 - 9:40Esqueça-se a sua origem. Que se lixe isso.
-
9:40 - 9:42Eu gostei do desenho por si mesmo.
-
9:42 - 9:44As formas simplificadas da Charter
-
9:44 - 9:46deram-lhe uma espécie de qualidade sincera
-
9:46 - 9:48e uma poupança descomplicada
-
9:48 - 9:50que de certa forma me agradou.
-
9:50 - 9:52Sabem, em tempos de inovação técnica,
-
9:52 - 9:56os desenhadores querem ser influenciados
pelo que há no ar. -
9:56 - 9:57Queremos responder.
-
9:57 - 10:00Queremos ser empurrados
a explorar algo novo. -
10:01 - 10:04Portanto, para mim, a Charter
é uma espécie de parábola . -
10:04 - 10:08No final, não houve nenhuma ligação causal
-
10:08 - 10:12entre a tecnologia
e o "design" da Charter. -
10:12 - 10:15Eu não tinha compreendido
totalmente a tecnologia. -
10:15 - 10:18A tecnologia sugeriu-me algo,
-
10:18 - 10:21mas não me pressionou
a seguir um caminho -
10:21 - 10:23e penso que isto acontece muitas vezes.
-
10:23 - 10:25Os engenheiros são muito inteligentes
-
10:25 - 10:27e, apesar das frustrações ocasionais,
-
10:27 - 10:29por eu ser menos inteligente,
-
10:29 - 10:31sempre gostei de trabalhar com eles
-
10:31 - 10:33e de aprender com eles.
-
10:33 - 10:36A propósito, na década de 90,
-
10:36 - 10:37comecei a falar com a Microsoft
-
10:37 - 10:40sobre fontes em ecrãs.
-
10:40 - 10:43Até essa altura, todas as fontes no ecrã
-
10:43 - 10:45tinham sido adaptadas
-
10:45 - 10:48a partir das fontes
para impressão já existentes. -
10:48 - 10:50Mas a Microsoft previu correctamente
-
10:50 - 10:54o movimento, a corrida
para a comunicação electrónica, -
10:55 - 10:57para a leitura e a escrita em ecrãs
-
10:57 - 11:00relegando a impressão
para segundo plano, -
11:00 - 11:02em termos de importância.
-
11:02 - 11:05As prioridades estavam
a mudar nessa altura. -
11:06 - 11:08Eles queriam um
pequeno conjunto nuclear de fontes -
11:08 - 11:11que não eram adaptadas,
mas sim desenhadas para ecrãs, -
11:11 - 11:14para resolver os problemas dos ecrãs,
-
11:14 - 11:18que se deviam à sua resolução pouco fina.
-
11:18 - 11:21Eu disse à Microsoft,
que um tipo de fonte desenhado, -
11:21 - 11:23para uma tecnologia em particular
-
11:23 - 11:26era um tipo de fonte que viria a ser
obsoleto, de forma autónoma. -
11:26 - 11:28Eu desenhei várias fontes no passado
-
11:28 - 11:32cujo intuito era mitigar
problemas técnicos. -
11:32 - 11:35Graças aos engenheiros,
os problemas técnicos desapareciam -
11:35 - 11:37e o mesmo acontecia à minha fonte.
-
11:37 - 11:40Era apenas uma solução temporária.
-
11:40 - 11:42A Microsoft respondeu dizendo
-
11:42 - 11:45que os monitores de computador acessíveis
com melhores resoluções -
11:45 - 11:47estavam pelo menos
a uma década de distância. -
11:47 - 11:50Então eu pensei, bom,
uma década, não é assim tão mau, -
11:50 - 11:52é mais do que uma solução temporária.
-
11:52 - 11:54Então fui persuadido, convencido,
-
11:54 - 11:56e fomos trabalhar no que veio a ser
-
11:56 - 11:59a Verdana e a Georgia,
-
11:59 - 12:01pela primeira vez a trabalhar,
não no papel, -
12:01 - 12:04mas directamente no ecrã,
a partir dos píxeis. -
12:05 - 12:08Nessa altura, os ecrãs eram binários.
-
12:09 - 12:12O píxel estava ligado ou desligado.
-
12:12 - 12:14Aqui podem ver o perfil de uma letra,
-
12:14 - 12:16o H maiúsculo,
-
12:16 - 12:19que é a fina linha preta, o contorno,
-
12:19 - 12:21que é como se armazena na memória,
-
12:21 - 12:23sobreposto no mapa de bits,
-
12:23 - 12:25que é a zona cinzenta,
-
12:25 - 12:27que é como aparece no ecrã.
-
12:27 - 12:30O mapa de bits é rasterizado
a partir do perfil. -
12:30 - 12:33Aqui, num H maiúsculo,
que é composto por linhas direitas, -
12:33 - 12:35os dois estão em sincronia quase perfeita
-
12:35 - 12:37na grelha cartesiana.
-
12:39 - 12:42O mesmo não se passa com um O.
-
12:42 - 12:44Isto parece mais
uma colocação de tijolos -
12:44 - 12:46do que com desenho de fontes,
-
12:46 - 12:48mas acreditem, este é um bom mapa
de bits de um O, -
12:48 - 12:50pelas simples razão de que é simétrico,
-
12:50 - 12:52tanto no eixo do x como do y.
-
12:52 - 12:54Num mapa de bits binário,
-
12:54 - 12:57não se pode pedir mais do que isso.
-
12:58 - 12:59Por vezes eu fazia, nem sei bem,
-
12:59 - 13:02três ou quatro versões
de uma letra difícil, -
13:02 - 13:03como o A minúsculo,
-
13:03 - 13:06e depois escolhia qual o melhor.
-
13:06 - 13:09Bom, não havia nenhum melhor,
-
13:09 - 13:11pelo que entra em acção
o julgamento do desenhador -
13:11 - 13:15ao tentar decidir
qual é o menos mau. -
13:16 - 13:18Isso é um compromisso?
-
13:18 - 13:20Para mim não, se estivermos a trabalhar
-
13:20 - 13:23com o padrão mais elevado
que a tecnologia permitirá, -
13:23 - 13:27apesar desse padrão poder ser
bem abaixo do ideal. -
13:27 - 13:29Poderão ver neste slide
-
13:29 - 13:31duas fontes de mapa de bits diferentes.
-
13:31 - 13:33Acho que o "a" na de cima
-
13:33 - 13:35é melhor do que o "a" na de baixo,
-
13:35 - 13:37mas também não é muito bom.
-
13:37 - 13:39Possivelmente podem ver melhor o efeito
-
13:39 - 13:41se estiver reduzido.
-
13:41 - 13:43Bom, se calhar não.
-
13:43 - 13:46Portanto, eu sou pragmático,
não um idealista -
13:46 - 13:47porque tem de ser.
-
13:47 - 13:49Para certos tipos de temperamento,
-
13:49 - 13:51existe um certo tipo de satisfação
-
13:51 - 13:54em fazer algo que não pode ser perfeito,
-
13:54 - 13:57mas que continua
dentro das nossas capacidades. -
13:58 - 14:02Este é o H minúsculo
da Georgia em itálico. -
14:03 - 14:05O mapa de bits parece
pontiagudo e grosseiro. -
14:05 - 14:07E está pontiagudo e grosseiro.
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14:07 - 14:09Mas descobri, por experiência,
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14:09 - 14:12que existe uma inclinação óptima
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14:12 - 14:14para uma fonte em itálico num ecrã,
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14:14 - 14:16de forma a que as diagonais se dividam bem
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14:16 - 14:18nas fronteiras dos píxeis.
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14:19 - 14:22Vejam neste exemplo, grosseiro como está,
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14:22 - 14:24como as pernas da esquerda e da direita
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14:24 - 14:26se dividem ao mesmo nível.
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14:26 - 14:29Isso é uma vitória. Aquilo é bom.
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14:29 - 14:32E claro, a menores profundidades de píxeis,
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14:32 - 14:34não se tem grande escolha.
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14:34 - 14:38Isto é um S, caso queiram saber.
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14:39 - 14:41Bom, já passaram 18 anos
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14:41 - 14:44desde o lançamento
da Verdana e da Georgia. -
14:44 - 14:46A Microsoft estava certa,
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14:46 - 14:48demorou uns bons 10 anos,
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14:48 - 14:53mas os ecrãs agora têm
uma resolução espacial melhorada, -
14:53 - 14:57e uma resolução fotométrica muito melhor
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14:57 - 15:00devido ao "anti-aliasing"
e por aí adiante. -
15:00 - 15:03Agora que eles atingiram o seu objectivo,
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15:03 - 15:05será que estamos perante a extinção
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15:05 - 15:07das fontes para ecrã que desenhei
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15:07 - 15:10para ecrãs com menor resolução?
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15:10 - 15:13Será que vão durar mais
que os ecrãs obsoletos -
15:13 - 15:15e sobreviver à enchente
de novas fontes "web" -
15:15 - 15:18que estão a entrar no mercado?
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15:18 - 15:21Ou será que estabeleceram o seu
nicho evolutivo, -
15:21 - 15:24que é independente da tecnologia?
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15:25 - 15:27Por outras palavras, terão sido absorvidas
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15:27 - 15:30na corrente principal da tipografia?
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15:30 - 15:33Não sei, mas tiveram
um bom momento até agora. -
15:33 - 15:36Dezoito é uma boa idade para tudo
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15:36 - 15:38com as taxas de decrescimento actuais,
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15:38 - 15:40pelo que não me estou a queixar.
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15:40 - 15:41Obrigado.
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15:42 - 15:45(Aplausos)
- Title:
- A minha vida em famílias tipográficas
- Speaker:
- Matthew Carter
- Description:
-
Peguem num livro, numa revista ou num ecrã, e o mais provável é encontrarem qualquer fonte tipográfica desenhada por Matthew Carter. Nesta simpática palestra, o homem por detrás de famílias tipográficas como a Verdana, a Georgia e a Bell Centennial (desenhada apenas para listas telefónicas — lembram-se delas?), leva-nos a dar uma volta por uma carreira focada nos píxeis de cada letra de uma fonte.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:01
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