Arte, criatividade, realidade e sentido da vida | Marcos Amaro | TEDxItaimBibi

Marcos Amaro é um empresário de sucesso, que agora se dedica à sua busca interior através da filosofia e arte, e que se expressa por meio de suas obras em exposições já realizadas.

Ele fala sobre o que pensa sobre a arte, a criatividade, o ócio criativo, a realidade e o sentido da vida.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Olá a todos.

O meu nome é Marcos Amaro
e eu sou artista.

Eu queria, antes de mais nada,

agradecer essa oportunidade
pra falar sobre a minha trajetória

e falar sobre arte
e sobre o tema que foi proposto,

que é o ócio criativo.

Queria começar por aí. Primeiro: arte.

Arte é um conceito muito amplo,
quase que inominável.

Então, quando eu me refiro
a mim mesmo como artista,

eu procuro me aproximar
de um conceito mais amplo,

menos estereotipado e menos rotular
a respeito de mim mesmo.

E o artista, o que ele faz,
na maioria das vezes,

é procurar a desconstrução das coisas,

de modo que ele consiga ressignificar
a sua própria história

e, consequentemente, o seu entorno.

Primeiro que eu não acho
que seja "ócio criativo".

E por que eu não acho
que seja ócio criativo?

Porque eu acho que existe
muito trabalho na criatividade.

Eu acho que quem vive da criatividade,
quem procura viver da criatividade

procura pensar bastante
sobre as suas próprias relações

e sobre as relações que as pessoas
e o próprio artista fazem sobre o mundo.

Então, a criatividade
é um fenômeno de muito trabalho

e de profunda compreensão
a respeito de si mesmo e sobre o mundo.

Eu, particularmente, nos últimos anos,

adotei uma postura
de desconstruir a minha história

pra poder ressignificá-la
de uma outra maneira.

Como? Procurando
mais sentido pra minha vida.

Eu penso que, acima da alegria,
da tristeza, ou até mesmo da felicidade,

existe o sentido,

e eu penso que o sentido,
pelo menos pra mim,

é mais importante do que
qualquer estado de espírito.

Eu creio que os chamados
"estados de espírito"

são decorrências de processos psíquicos

e nós podemos escolher
ou não vivenciá-los.

Esses processos são muito individuais,

de acordo com o nosso entendimento

e de acordo com a nossa
compreensão sobre o real.

Ou melhor, nós inventamos
o real o tempo inteiro.

Nós procuramos sentido através do real,

fazendo relações, como eu disse,
sobre a vida e sobre nós mesmos.

Isso é a criatividade.
A consequência disso é a arte.

A arte é quando a gente manifesta,
através da nossa expressão,

o que eu estou fazendo
exatamente neste momento,

sentimentos e pensamentos profundos
a respeito de nós mesmos,

o que vai me fazer,
logo depois de gravar esse vídeo,

reassistir a esse vídeo, de modo
a procurar entender, no meu inconsciente,

aquilo que eu estou dizendo agora.

Então, procurar sentido
no nosso inconsciente,

procurando remoer, no sentido de "rever",
de "revisitar", a nossa história,

com o objetivo de trazer
a nossa história para o presente

e, portanto, significá-la,
é um objetivo do artista.

No meu caso em particular,
é isso que eu procuro fazer

através de escombros,

escombros não só da minha memória,

mas através das sucatas
com que eu trabalho,

e procuro ressignificá-las
de um outro modo,

criando, como eu disse,
sentido pra minha vida.

Então, eu creio
que não existe ócio criativo.

Existe um profundo trabalho
sobre si mesmo, criativo,

que nos faz, quem sabe,
entender um pouco mais

a respeito da realidade,
a respeito do nosso entorno,

de modo que a gente consiga dilatar
esses conceitos em nós mesmos,

nos tornando, quiçá, mais generosos
a respeito não só da nossa condição,

mas do próximo.

Então, o desafio que eu procuro
hoje na minha vida

é procurar compreender o próximo

além, para além das projeções
e das imagens que eu faço desse próximo.

Esse é um exercício
profundo e muito difícil,

uma vez que nós necessariamente
estamos vinculados à nossa história,

e nós somos memória e sensação.

Então, como fazer isso?

Não recorrendo a um evento de fé
ou a um evento de crença,

o que é uma coisa muito comum;

não procurando se sustentar na ideologia,

ou não procurando se sustentar
na própria religião,

mas procurando se sustentar em si mesmo,

desfazendo quaisquer ilusões
a respeito do real.

Então, o que eu procuro hoje na minha vida
é desconstruir não só a mim mesmo,

mas todo o meu entorno, de modo
que eu consiga enxergar esse real.

E o real é muito claro:
o real é que nós vamos morrer,

e nós precisamos
nos preparar para a morte,

e nos preparar pra morte
tem a ver com criar sentido na nossa vida,

criar sentido no nosso entorno,
de modo que a gente consiga vivenciar

estados de espírito
complexos e sofisticados.

Esse é o meu conceito de inteligência:

é procurar viver estados de espírito
complexos, alterados e sofisticados,

sem necessariamente recorrer
ao uso de qualquer externalidade,

como, por exemplo, uma droga
ou outra coisa do gênero,

mas procurar dentro de si
mesmo esse potencial

pra viver com intenção e com intensidade
aquilo que nós queremos,

de acordo com a nossa intenção,
de acordo com nosso modo de ser,

que é o que eu chamo de ética.

Então, ser ético, na minha leitura,

é vivenciar de acordo
com o nosso entendimento sobre o real

e, claro, se responsabilizar
pelas coisas que nós fazemos no mundo.

Ninguém tem que se responsabilizar
pelas nossas coisas.

Somos nós mesmos que optamos e escolhemos

e, portanto, somos responsáveis
pelo nosso destino.

Isso é o que eu chamo de liberdade.

Eu queria deixar aqui esse depoimento,

não só pra vocês,
mas pra mim mesmo, sobretudo,

refletir sobre o que eu acabei de dizer.

Coloco tudo em constante
questão e desconstrução

a respeito não só de mim mesmo,

mas a respeito dessas palavras
que eu acabei de professar, de proferir.

Eu agradeço profundamente
o tempo de vocês

e me coloco aberto,
à disposição e disponível

para responder quaisquer perguntas,

ou quem se interessar também
pode entrar em contato com esse universo,

pra que a gente consiga
dialogar e construir,

com base nesses pressupostos.

Muito obrigado. Eu agradeço
profundamente o tempo de vocês.

Até logo.