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Um barco com 500 refugiados naufragou no mar. A história de duas sobreviventes | Melissa Fleming | TEDxThessaloniki

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    Todo dia escuto histórias trágicas
    de pessoas fugindo por suas vidas,
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    através de fronteiras perigosas
    e mares hostis.
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    Mas existe uma história
    que não me deixa dormir,
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    e é sobre Doaa,
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    uma refugiada síria de 19 anos.
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    Ela estava vivendo
    uma existência miserável no Egito.
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    Ela recebia por dia trabalhado.
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    Seu pai pensava constantemente
    no negócio promissor que tivera na Síria,
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    que fora reduzido a pedaços por uma bomba.
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    A guerra que os expulsara de lá
    seguia atroz em seu quarto ano.
  • 0:54 - 0:57
    A comunidade que os tinha recebido bem
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    já estava cansada deles.
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    Um dia, homens em motocicletas
    tentaram raptá-la.
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    Aquela que fora uma estudante dedicada,
    que pensava somente em seu futuro,
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    agora tinha medo o tempo todo.
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    Mas ela também estava cheia de esperança,
  • 1:15 - 1:21
    pois estava apaixonada
    por um refugiado sírio chamado Bassem.
  • 1:21 - 1:25
    Bassem também passava dificuldades
    no Egito, e disse a Doaa:
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    "Vamos para a Europa,
    buscar asilo e segurança.
  • 1:29 - 1:34
    Eu vou trabalhar, você pode estudar,
    é a promessa de uma nova vida".
  • 1:34 - 1:40
    E Bassen a pediu em casamento
    para o pai dela, e ele consentiu.
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    Mas eles sabiam que para chegar à Europa
    teriam que arriscar suas vidas,
  • 1:45 - 1:48
    atravessando o Mar Mediterrâneo,
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    colocando-se nas mãos de contrabandistas,
    conhecidos por sua crueldade.
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    E Doaa tinha horror à água.
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    Sempre tivera, nunca aprendera a nadar.
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    Era agosto e 2 mil pessoas
    já tinham morrido
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    tentando atravessar o Mediterrâneo,
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    mas Doaa tinha um amigo que conseguira
    ir até o norte da Europa, e pensou:
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    "Talvez nós também possamos".
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    Então ela pediu a seus pais
    se eles dois poderiam ir.
  • 2:21 - 2:24
    Depois de uma discussão
    dolorosa eles consentiram,
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    e Bassem entregou tudo
    que economizara a vida toda,
  • 2:28 - 2:32
    US$ 2,5 mil cada, para os contrabandistas.
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    Era um sábado de manhã
    quando foram chamados.
  • 2:36 - 2:41
    Foram levados de ônibus até uma praia,
    onde já havia centenas de pessoas.
  • 2:41 - 2:45
    Foram levados por pequenos botes
    até um velho navio pesqueiro,
  • 2:45 - 2:48
    500 deles apertados no barco,
  • 2:48 - 2:51
    300 embaixo, 200 em cima.
  • 2:51 - 2:56
    Havia sírios, palestinos, africanos,
    muçulmanos e cristãos.
  • 2:56 - 2:57
    Cem crianças.
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    Incluindo a pequena Sandra, de seis anos,
  • 3:04 - 3:07
    e Masa, 18 meses.
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    Havia famílias no barco, amontoadas
    ombro com ombro, pés com pés.
  • 3:12 - 3:18
    Doaa estava sentada com as pernas
    espremidas contra o peito,
  • 3:18 - 3:21
    Bassem segurando sua mão.
  • 3:22 - 3:23
    Segundo dia na água,
  • 3:23 - 3:28
    eles estavam muito ansiosos
    e enjoados por causa do mar agitado.
  • 3:29 - 3:33
    Terceiro dia, Doaa teve uma premonição
  • 3:33 - 3:37
    e disse a Bassem: "Receio
    que não vamos conseguir.
  • 3:37 - 3:40
    Receio que o barco naufrague".
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    E Bassem disse a ela:
    "Por favor, seja paciente.
  • 3:43 - 3:46
    Vamos chegar à Suécia,
    vamos nos casar
  • 3:46 - 3:49
    e teremos um futuro".
  • 3:50 - 3:54
    Quarto dia, os passageiros
    estavam ficando agitados.
  • 3:54 - 3:57
    Perguntaram ao capitão:
    "Quando vamos chegar?"
  • 3:57 - 4:01
    Ele mandou-os calar a boca e insultou-os.
  • 4:01 - 4:05
    Ele disse: "Em 16 horas
    chegaremos à costa da Itália".
  • 4:05 - 4:07
    Eles estavam fracos e esgotados.
  • 4:08 - 4:09
    Logo viram um barco se aproximando.
  • 4:09 - 4:12
    Um barco menor, com dez homens a bordo,
  • 4:12 - 4:15
    que começaram a gritar e lançar insultos,
  • 4:15 - 4:20
    atirando paus e mandando
    que todos desembarcassem
  • 4:20 - 4:23
    e entrassem naquele barco
    menor e mais precário.
  • 4:23 - 4:27
    Os pais ficaram apavorados por seus filhos.
  • 4:27 - 4:31
    E, em conjunto,
    recusaram-se a desembarcar.
  • 4:32 - 4:35
    O barco saiu em disparada
  • 4:35 - 4:39
    e meia hora depois voltou.
  • 4:39 - 4:45
    E começaram a fazer, deliberadamente,
    um buraco na lateral do barco de Doaa,
  • 4:45 - 4:49
    logo abaixo de onde ela
    e Bassem estavam sentados.
  • 4:50 - 4:54
    Ela ouvia-os gritando:
  • 4:54 - 4:57
    "Deixem que os peixes comam a sua carne!"
  • 4:58 - 5:04
    E começaram a rir enquanto
    o barco virava e afundava.
  • 5:04 - 5:08
    As 300 pessoas lá embaixo
    estavam condenadas.
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    Doaa se segurava na lateral
    do barco enquanto ele afundava,
  • 5:12 - 5:15
    e viu, horrorizada,
  • 5:15 - 5:21
    uma criança pequena ser cortada
    em pedaços pelas hélices.
  • 5:21 - 5:23
    Bassem disse a ela: "Por favor, solte-se,
  • 5:23 - 5:27
    ou você será arremessada
    e as hélices matarão você também".
  • 5:27 - 5:29
    E lembrem-se que ela não sabia nadar.
  • 5:29 - 5:35
    Mas ela se soltou e começou a mover
    braços e pernas, pensando: "Isso é nadar".
  • 5:35 - 5:39
    E milagrosamente Bassem
    encontrou uma boia.
  • 5:40 - 5:43
    Dessas boias de criança,
  • 5:43 - 5:47
    usadas para brincar
    em piscinas e mar calmo.
  • 5:47 - 5:49
    Doaa subiu na boia,
  • 5:49 - 5:52
    suas pernas e braços penduradas ao lado.
  • 5:53 - 5:55
    Bassem era um bom nadador,
  • 5:55 - 5:59
    então segurou a mão dela
    e avançou na água.
  • 6:01 - 6:03
    Ao redor deles haviam cadáveres.
  • 6:03 - 6:06
    Em torno de 100 pessoas
    sobreviveram inicialmente,
  • 6:06 - 6:10
    e começaram a juntar-se em grupos
    rezando por um resgate.
  • 6:10 - 6:14
    Mas quando se passou
    um dia e ninguém veio,
  • 6:14 - 6:16
    algumas pessoas perderam a esperança.
  • 6:16 - 6:23
    Doaa e Bassem viram como os homens,
    à distância, tiravam seus salva-vidas
  • 6:23 - 6:25
    e afundavam na água.
  • 6:26 - 6:29
    Um homem aproximou-se deles
  • 6:29 - 6:34
    com um bebê empoleirado
    nos ombros, Malek de nove meses.
  • 6:34 - 6:39
    Ele segurava em um bujão de gás
    para flutuar e disse a eles:
  • 6:39 - 6:41
    "Temo não sobreviver.
  • 6:41 - 6:44
    Estou muito fraco,
    não tenho mais coragem".
  • 6:44 - 6:49
    E entregou a pequena Malek
    para Bassem e Doaa,
  • 6:49 - 6:53
    e eles colocaram-na na boia.
  • 6:54 - 6:59
    Agora eles eram três, Doaa,
    Bassem e a pequena Malek.
  • 6:59 - 7:02
    Deixem-me fazer uma pausa na história
  • 7:02 - 7:04
    e fazer uma pergunta:
  • 7:04 - 7:10
    Por que refugiados como Doaa
    se arriscam dessa forma?
  • 7:11 - 7:16
    Milhões de refugiados
    vivem no exílio, no limbo.
  • 7:17 - 7:25
    Vivem em países, fugindo de uma guerra
    que os assola há quatro anos.
  • 7:26 - 7:29
    Mesmo que quisessem retornar não poderiam.
  • 7:29 - 7:35
    Suas casas, seus negócios, suas cidades
    foram completamente destruídas.
  • 7:35 - 7:37
    Vi isso por mim mesma,
  • 7:37 - 7:41
    em uma recente visita a Homs, na Síria.
  • 7:42 - 7:45
    Essa cidade é considerada pela UNESCO
    como Patrimônio Mundial,
  • 7:45 - 7:50
    e é assim que se parece agora
    esse lugar, antes cheio de vida.
  • 7:50 - 7:53
    As pessoas continuam a fugir,
  • 7:53 - 7:57
    através das fronteiras,
    para países vizinhos.
  • 7:57 - 8:00
    Construímos campos de refugiados
    para eles no deserto;
  • 8:00 - 8:04
    centenas de milhares de pessoas
    vivem em campos como esse,
  • 8:04 - 8:09
    e milhares e milhares mais,
    milhões, vivem em cidades.
  • 8:09 - 8:12
    As comunidades de países vizinhos
  • 8:12 - 8:15
    que um dia os receberam
    de braços e corações abertos,
  • 8:15 - 8:17
    estão sobrecarregadas.
  • 8:18 - 8:23
    Não existem escolas, sistemas de água,
    ou saneamento suficientes.
  • 8:23 - 8:27
    Nem os ricos países europeus conseguiriam
    lidar com esse afluxo de pessoas
  • 8:27 - 8:31
    sem maciços investimentos.
  • 8:33 - 8:37
    A guerra na Síria já expulsou quase
    4 milhões de pessoas pela fronteira,
  • 8:37 - 8:43
    mas mais de 7 milhões
    estão em fuga no interior do país.
  • 8:43 - 8:49
    Isso significa que mais da metade
    da população síria foi obrigada a fugir.
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    Voltando aos países vizinhos,
    que têm acolhido tantos...
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    Eles sentem que o mundo mais rico
    tem feito pouco para ajudar.
  • 9:01 - 9:06
    Os dias transformaram-se em meses.
    Os meses, em anos.
  • 9:07 - 9:10
    Supostamente a estadia de um refugiado
    deveria ser temporária.
  • 9:10 - 9:13
    Voltando para Doaa e Bassem na água,
  • 9:13 - 9:19
    era o segundo dia e Bassem
    estava ficando muito fraco.
  • 9:19 - 9:23
    E agora era a vez de Doaa dizer a Bassem:
  • 9:23 - 9:29
    "Meu amor, apegue-se à esperança,
    ao nosso futuro. Nós vamos conseguir".
  • 9:29 - 9:31
    E ele disse a ela:
  • 9:32 - 9:36
    "Sinto muito, meu amor,
    por ter colocado você nessa situação.
  • 9:36 - 9:41
    Nunca amei ninguém tanto quanto te amo".
  • 9:43 - 9:46
    E soltou-se na água.
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    Doaa viu o amor de sua vida
    afogar-se diante de seus olhos.
  • 9:56 - 10:00
    Mais tarde, naquele dia,
    uma mãe veio até Doaa
  • 10:00 - 10:04
    com sua filhinha de 18 meses, Masa.
  • 10:05 - 10:08
    Essa era a garotinha
    cuja foto mostrei antes,
  • 10:08 - 10:10
    com o colete salva-vidas.
  • 10:10 - 10:12
    Sua irmã mais velha, Sandra,
    tinha recém se afogado,
  • 10:12 - 10:16
    e sua mãe sabia que tinha que fazer
    tudo que estivesse ao seu alcance
  • 10:16 - 10:18
    para salvar sua filha.
  • 10:18 - 10:22
    E ela disse a Doaa: "Por favor,
    pegue esta criança.
  • 10:22 - 10:27
    Deixe que ela seja parte de você.
    Eu não vou sobreviver".
  • 10:27 - 10:31
    Então ela se foi e se afogou.
  • 10:32 - 10:36
    Assim Doaa, a refugiada de 19 anos
    que morria de medo de água,
  • 10:36 - 10:38
    que não sabia nadar,
  • 10:38 - 10:44
    se viu responsável
    por duas crianças pequenas.
  • 10:44 - 10:47
    Elas estavam com sede,
    com fome e agitadas,
  • 10:47 - 10:50
    e ela fez o seu melhor para entretê-las,
  • 10:50 - 10:54
    cantando, dizendo a elas
    palavras do Alcorão.
  • 10:56 - 11:00
    Ao redor delas, os corpos
    inchavam e escureciam.
  • 11:00 - 11:05
    O sol era escaldante durante o dia,
    à noite havia uma lua fria e nevoeiro.
  • 11:05 - 11:07
    Era muito assustador.
  • 11:09 - 11:15
    No quarto dia na água, outro homem veio.
  • 11:15 - 11:22
    Provavelmente era essa a aparência
    de Doaa na boia com suas duas crianças.
  • 11:22 - 11:26
    Uma mulher aproximou-se no quarto dia
  • 11:26 - 11:29
    e pediu que ela cuidasse de outra criança.
  • 11:29 - 11:33
    Um menininho de apenas quatro anos.
  • 11:33 - 11:39
    Quando Doaa pegou o menino e a mãe
    se afogou, ela disse à criança soluçante:
  • 11:39 - 11:43
    "Ela só foi buscar água
    e comida para você".
  • 11:45 - 11:47
    Mas o coração dele logo parou,
  • 11:47 - 11:51
    e Doaa teve que soltar
    o menininho na água.
  • 11:52 - 11:54
    Mais tarde naquele dia,
  • 11:54 - 11:57
    ela olhou para o céu com esperança,
  • 11:57 - 12:01
    pois viu dois aviões cruzando o céu.
  • 12:01 - 12:06
    Ela abanou os braços, esperando
    que eles pudessem vê-la,
  • 12:06 - 12:08
    mas eles logo foram embora.
  • 12:08 - 12:12
    Mas naquela tarde,
    à medida que o sol caía,
  • 12:12 - 12:15
    ela viu um barco, um navio mercante.
  • 12:16 - 12:19
    E ela disse: "Deus, por favor,
    faça com que eles me resgatem".
  • 12:19 - 12:24
    Ela sacudiu os braços e gritou
    por mais ou menos duas horas.
  • 12:24 - 12:28
    Escureceu, mas finalmente
    os holofotes encontraram-na.
  • 12:28 - 12:31
    Eles jogaram uma corda,
  • 12:31 - 12:36
    surpresos ao ver uma mulher
    agarrada a dois bebês.
  • 12:36 - 12:40
    Elas foram puxadas para o barco,
    receberam oxigênio e cobertores,
  • 12:40 - 12:45
    e um helicóptero grego veio
    para levá-las à ilha de Creta.
  • 12:46 - 12:50
    Mas Doaa olhou ao redor e perguntou:
    "O que houve com Malek?"
  • 12:50 - 12:53
    E eles contaram a ela que a pequena
    não tinha sobrevivido,
  • 12:53 - 12:58
    ela dera seu último suspiro
    na clínica do barco.
  • 12:58 - 13:04
    Mas Doaa tinha certeza de que quando foram
    puxadas para o barco de resgate,
  • 13:04 - 13:07
    a menininha estava sorrindo.
  • 13:09 - 13:16
    Apenas 11 pessoas sobreviveram
    àquele naufrágio, de um total de 500.
  • 13:16 - 13:21
    Nunca houve uma investigação
    internacional sobre o ocorrido.
  • 13:21 - 13:25
    Foram feitas algumas reportagens
    sobre o massacre no mar,
  • 13:25 - 13:26
    uma tragédia terrível,
  • 13:26 - 13:29
    mas isso durou apenas um dia.
  • 13:29 - 13:33
    E o ciclo de notícias seguiu seu curso.
  • 13:34 - 13:39
    Enquanto isso, em um hospital
    pediátrico em Creta,
  • 13:39 - 13:42
    a pequena Masa beirava a morte.
  • 13:44 - 13:47
    Ela estava muito desidratada.
    Seus rins estavam falindo.
  • 13:47 - 13:49
    Seu nível de glicose estava
    perigosamente baixo.
  • 13:49 - 13:53
    Os médicos fizeram tudo que estava
    a seu alcance para salvá-la,
  • 13:53 - 13:57
    e as enfermeiras gregas
    não saíam de seu lado,
  • 13:57 - 13:59
    segurando-a, abraçando-a,
    cantando para ela.
  • 13:59 - 14:04
    Meus colegas também a visitaram
    e lhe disseram palavras bonitas em árabe.
  • 14:04 - 14:09
    Surpreendentemente,
    a pequena Masa sobreviveu.
  • 14:09 - 14:14
    E logo a imprensa grega começou
    a noticiar sobre o bebê milagroso,
  • 14:14 - 14:21
    que tinha sobrevivido por quatro dias
    na água, sem comida ou água.
  • 14:22 - 14:27
    Ofertas de adoção vieram
    de todas as partes do país.
  • 14:28 - 14:31
    Enquanto isso, Doaa estava
    em outro hospital em Creta,
  • 14:31 - 14:33
    magra, desidratada.
  • 14:34 - 14:39
    Uma família egípcia ficou com ela
    durante todo o tempo
  • 14:39 - 14:44
    e levou-a para sua casa
    assim que ela teve alta.
  • 14:45 - 14:49
    Logo se espalhou a notícia
    de que Doaa tinha sobrevivido,
  • 14:49 - 14:53
    e um número de telefone
    foi postado no Facebook.
  • 14:53 - 14:56
    Mensagens começaram a chegar:
  • 14:57 - 15:03
    "Doaa, você sabe o que aconteceu
    com meu irmão? Com minha irmã?"
  • 15:04 - 15:09
    "Meus pais? Meus amigos?
    Sabe se eles sobreviveram?"
  • 15:09 - 15:12
    Uma dessas mensagens dizia:
  • 15:13 - 15:19
    "Doaa, acredito que você tenha salvado
    minha pequena sobrinha Masa".
  • 15:20 - 15:23
    E continha esta foto.
  • 15:24 - 15:26
    Era do tio de Masa,
  • 15:26 - 15:31
    um refugiado sírio que conseguira
    ir para a Suécia com sua família,
  • 15:31 - 15:34
    e também com a irmã mais velha de Masa.
  • 15:34 - 15:40
    Em breve, é o que esperamos,
    Masa poderá reunir-se a eles na Suécia,
  • 15:40 - 15:46
    e até lá ela está sob cuidados
    em um ótimo orfanato em Atenas.
  • 15:47 - 15:53
    E Doaa? Bem, as notícias de que tinha
    sobrevivido também circularam.
  • 15:53 - 15:57
    A mídia escreveu sobre essa pequena mulher
  • 15:57 - 16:01
    sem conseguir imaginar como ela tinha
    sobrevivido todo aquele tempo no mar,
  • 16:01 - 16:04
    sob aquelas condições,
  • 16:04 - 16:07
    e ainda tinha salvado outra vida.
  • 16:09 - 16:14
    A Academia de Atenas, uma das instituições
    mais prestigiadas na Grécia,
  • 16:14 - 16:18
    deu a ela um prêmio por sua bravura.
  • 16:18 - 16:21
    E ela merece todos esses louvores,
  • 16:21 - 16:24
    e merece uma segunda chance.
  • 16:25 - 16:28
    Mas ela ainda quer ir para a Suécia.
  • 16:28 - 16:31
    Ela quer reunir-se lá com sua família.
  • 16:31 - 16:35
    Quer trazer sua mãe, seu pai
    e seus irmãos mais novos
  • 16:35 - 16:37
    para fora do Egito,
  • 16:37 - 16:40
    e acredito que ela vai conseguir.
  • 16:40 - 16:43
    Ela quer ser advogada, ou política,
  • 16:43 - 16:48
    ou alguém que possa ajudar
    a combater a injustiça.
  • 16:48 - 16:52
    Ela é uma sobrevivente extraordinária.
  • 16:52 - 16:54
    Mas é preciso perguntar:
  • 16:54 - 16:57
    o que teria acontecido
    se ela não tivesse se arriscado?
  • 16:57 - 17:00
    Por que ela teve que passar por tudo isso?
  • 17:00 - 17:05
    Por que não existe um caminho legal
    para que ela possa estudar na Europa?
  • 17:05 - 17:09
    Por que Masa não pôde pegar
    um avião para a Suécia?
  • 17:09 - 17:13
    Por que Bassem não pôde
    encontrar trabalho?
  • 17:13 - 17:18
    Por que não existe um massivo programa
    de reassentamento para refugiados sírios,
  • 17:18 - 17:22
    as vítimas da pior guerra
    dos nossos tempos?
  • 17:23 - 17:28
    O mundo fez isso pelos vietnamitas
    na década de 70, por que não agora?
  • 17:29 - 17:34
    Por que existe tão pouco
    investimento nos países vizinhos
  • 17:34 - 17:37
    que recebem tantos refugiados?
  • 17:38 - 17:41
    E por que, e esta é a questão central,
  • 17:41 - 17:47
    tão pouco tem sido feito para acabar
    com as guerras, com a perseguição
  • 17:47 - 17:54
    e com a pobreza, que têm levado
    tanta gente para a costa da Europa?
  • 17:54 - 17:57
    Até essas questões serem resolvidas,
  • 17:57 - 18:01
    as pessoas continuarão se lançando ao mar,
  • 18:01 - 18:04
    em busca de segurança e asilo.
  • 18:05 - 18:07
    E o que acontece a seguir?
  • 18:07 - 18:10
    Bem, isso será em grande parte
    escolha da Europa.
  • 18:10 - 18:13
    E compreendo os medos das pessoas.
  • 18:14 - 18:20
    As pessoas se preocupam com sua segurança,
    suas economias, as mudanças de cultura.
  • 18:21 - 18:25
    Mas isso é mais importante
    do que salvar vidas humanas?
  • 18:25 - 18:28
    Porque tem algo fundamental aqui,
  • 18:28 - 18:31
    que acho que se sobrepõe ao resto,
  • 18:31 - 18:35
    e tem a ver com nossa humanidade.
  • 18:35 - 18:40
    Nenhuma pessoa fugindo
    da guerra ou da perseguição
  • 18:40 - 18:43
    deveria ter que morrer
  • 18:43 - 18:45
    atravessando um mar
    para conseguir segurança.
  • 18:45 - 18:48
    (Aplausos)
  • 19:02 - 19:06
    Uma coisa é certa, nenhum refugiado
    estaria em um daqueles barcos perigosos
  • 19:06 - 19:08
    se pudesse prosperar onde está.
  • 19:08 - 19:12
    E nenhum migrante faria
    essa perigosa jornada
  • 19:12 - 19:16
    se tivesse comida suficiente
    para ele próprio e seus filhos.
  • 19:16 - 19:18
    Ninguém arriscaria todas suas economias
  • 19:18 - 19:21
    nas mãos de notórios contrabandistas,
  • 19:21 - 19:24
    se houvesse uma forma legal de migrar.
  • 19:26 - 19:28
    Então, em nome da pequena Masa,
  • 19:29 - 19:32
    em nome de Doaa,
  • 19:32 - 19:33
    e de Bassem,
  • 19:33 - 19:38
    e dessas 500 pessoas
    que se afogaram com eles,
  • 19:38 - 19:42
    poderíamos garantir que eles
    não morreram em vão?
  • 19:43 - 19:46
    Poderíamos nos inspirar pelo que aconteceu
  • 19:46 - 19:52
    e nos posicionarmos por um mundo
    no qual toda vida tenha valor?
  • 19:53 - 19:54
    Obrigada.
  • 19:54 - 19:58
    (Aplausos)
  • 20:15 - 20:18
    Apresentadora: Obrigada,
    Melissa, muito obrigada.
  • 20:18 - 20:21
    Acho que você gostaria
    de continuar conosco.
  • 20:26 - 20:29
    É uma história inacreditável.
  • 20:30 - 20:34
    Não sei quantas histórias como essa
    você ficou sabendo nos últimos meses.
  • 20:35 - 20:38
    Mas é uma história feliz.
    Tem um final feliz.
  • 20:39 - 20:45
    E é uma história que se concentra
    no que você acabou de dizer:
  • 20:45 - 20:47
    O que importa é nossa própria humanidade.
  • 20:47 - 20:50
    MF: É, isso mesmo.
  • 20:53 - 20:56
    Nós ouvimos tantas histórias
    sobre os crescentes números,
  • 20:56 - 20:59
    400% mais refugiados vindo para a Grécia.
  • 21:00 - 21:03
    Milhões de refugiados
    fugindo por suas vidas.
  • 21:03 - 21:08
    Esses números são difíceis
    de serem compreendidos.
  • 21:08 - 21:10
    E penso que o que temos que fazer,
  • 21:10 - 21:13
    nossa responsabilidade é encontrar
    o lado humano da história,
  • 21:13 - 21:15
    a história individual.
  • 21:16 - 21:19
    E uma das coisas que sempre
    encontro nos refugiados
  • 21:19 - 21:23
    é que eles têm uma resiliência incrível.
  • 21:24 - 21:27
    Ouço histórias que não consigo
    nem imaginar acontecendo comigo
  • 21:27 - 21:30
    e sobrevivendo a elas,
    e eles conseguem emergir.
  • 21:30 - 21:34
    E só precisam de um pouco de humanidade
  • 21:34 - 21:35
    e um estímulo do mundo,
  • 21:35 - 21:39
    pois eles certamente não estão
    vindo para cá voluntariamente.
  • 21:39 - 21:42
    Eles prefeririam estar em suas casas.
  • 21:43 - 21:47
    Apresentadora: Muito obrigada, Melissa.
    MF: Obrigada por me convidar.
  • 21:47 - 21:49
    (Aplausos)
Title:
Um barco com 500 refugiados naufragou no mar. A história de duas sobreviventes | Melissa Fleming | TEDxThessaloniki
Description:

A bordo de um barco superlotado, carregando mais de 500 refugiados, uma jovem se transforma em uma improvável heroína. Esta única e poderosa história, contada por Melissa Fleming, da agência de refugiados da ONU, dá uma dimensão humana aos números de seres humanos que tentam fugir para ter uma vida melhor... enquanto barcos de refugiados continuam chegando...

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido
independentemente das Conferências TED.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
21:51
  • Ao traduzir fiquei em dúvida se a palavra, "smuggler", no original, deveria ser traduzida por traficante ou contrabandista de pessoas. Segue a justificativa de porque concluí que no contrexto da palestra a palavra adequada é "contrabandista":
    http://www.inpacto.org.br/2015/04/entenda-a-diferenca-entre-trafico-de-pessoas-e-contrabando-de-migrantes/

Portuguese, Brazilian subtitles

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