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Lições das antigas redes sociais | Tom Standage | TEDxOxbridge

  • 0:05 - 0:07
    Vou falar-vos das redes sociais.
  • 0:08 - 0:11
    Talvez digam: "Mais uma pessoa
    a desbobinar sobre as redes sociais?"
  • 0:11 - 0:14
    Mas vou dar-vos uma forma diferente
    de olhar para as redes sociais
  • 0:14 - 0:17
    uma forma de que, certamente,
    nunca ouviram falar.
  • 0:17 - 0:19
    Quero dar-vos uma perspetiva
    histórica das redes sociais.
  • 0:19 - 0:23
    Mas, para isso, temos de definir primeiro
    o que são as redes sociais.
  • 0:23 - 0:24
    A minha definição é esta:
  • 0:24 - 0:28
    São informações que recebemos,
    fundamentalmente, de outras pessoas,
  • 0:28 - 0:30
    que são partilhadas
    pelas nossas relações sociais
  • 0:30 - 0:32
    e criam um debate
    ou uma comunidade distribuída,
  • 0:32 - 0:35
    para além das pessoas
    com quem estamos fisicamente.
  • 0:35 - 0:38
    Assim, é muito diferente de ouvir
    uma voz impessoal a sair da rádio.
  • 0:38 - 0:39
    É esta a minha definição.
  • 0:40 - 0:42
    Se a definirmos desta forma,
    torna-se evidente.
  • 0:42 - 0:44
    É assim que funciona.
  • 0:44 - 0:47
    Temos um grupo de pessoas
    que publicam "tweets" entre si.
  • 0:47 - 0:50
    Uma, no meio, está ligada
    a este grupo aqui.
  • 0:50 - 0:51
    E assim, eles propagam-se.
  • 0:51 - 0:55
    Percebemos como isto funciona hoje
    nas redes sociais baseadas na Internet,
  • 0:55 - 0:57
    no Twitter, no Facebook, no Instagram
    e em todas elas.
  • 0:57 - 0:59
    Mas, na verdade, este modelo,
  • 0:59 - 1:01
    esta transmissão horizontal,
    pessoa a pessoa,
  • 1:01 - 1:04
    não exige uma rede digital,
    para funcionar.
  • 1:04 - 1:08
    Passei os últimos anos a procurar
    exemplos que ocorrem na história.
  • 1:09 - 1:13
    Porque penso que os ambientes
    de redes sociais já existiam há séculos.
  • 1:13 - 1:16
    Então, quais são as condições necessárias
    para um ambiente de uma rede social?
  • 1:16 - 1:18
    Precisamos de várias coisas:
  • 1:18 - 1:21
    literacia, porque, para enviar
    mensagens a pessoas distantes,
  • 1:21 - 1:24
    é preciso saber escrever,
    e elas precisam de saber ler.
  • 1:24 - 1:29
    Também é preciso que o custo de partilhar,
    de copiar e de enviar essas informações
  • 1:29 - 1:30
    seja relativamente baixo.
  • 1:31 - 1:35
    Hoje, é praticamente gratuito porque
    temos os "smartphones" e a banda larga.
  • 1:36 - 1:39
    Mas acontece que estas condições
    já existiam anteriormente na história.
  • 1:39 - 1:44
    Tanto quanto posso afirmar, a primeira vez
    foi no final da república romana.
  • 1:44 - 1:46
    Este é Terêncio Neo e a sua mulher.
  • 1:46 - 1:49
    Era padeiro em Pompeia.
  • 1:49 - 1:52
    Exibem sinais de literacia.
  • 1:52 - 1:55
    Ele tem um pergaminho
    e ela uma tabuinha de cera.
  • 1:55 - 1:58
    Era uma espécie de bloco-notas
    para os romanos.
  • 1:58 - 2:01
    Estão a dizer: "Reparem em nós,
    nós sabemos ler e escrever".
  • 2:01 - 2:03
    Sentem-se orgulhosos da sua literacia.
  • 2:03 - 2:05
    Os romanos eram uma sociedade
    relativamente letrada.
  • 2:06 - 2:08
    Os romanos escreviam bastante
    uns aos outros.
  • 2:08 - 2:11
    Tanto quanto sei, o primeiro
    ecossistema de rede social
  • 2:11 - 2:12
    surgiu na elite romana.
  • 2:13 - 2:15
    Todos escrevem cartas uns aos outros,
    trocando notícias.
  • 2:15 - 2:18
    A elite romana era um grupo de famílias
    que se casavam entre si.
  • 2:18 - 2:22
    Portanto, as notícias políticas
    eram as notícias sociais.
  • 2:22 - 2:26
    Fulano e sicrano andam zangados,
    fulana divorciou-se de sicrana, etc.
  • 2:26 - 2:30
    Se olharmos para as cartas do estadista
    e orador Cícero, por exemplo,
  • 2:30 - 2:31
    vemos isso muito claramente.
  • 2:32 - 2:34
    Este é um excerto de uma das suas cartas:
  • 2:34 - 2:37
    "Enviei-te a 24 de março uma cópia
    da carta de Balbus para mim...
  • 2:37 - 2:39
    "e da carta de César para ele".
  • 2:39 - 2:42
    Vemos cartas que passam
    por duas e três mãos.
  • 2:42 - 2:44
    Isto parece ter sido muito utilizado.
  • 2:44 - 2:47
    As cartas eram essencialmente
    documentos semipúblicos.
  • 2:47 - 2:50
    Esta é outra, em que Cícero
    escreveu uma carta
  • 2:50 - 2:52
    indicando a sua opinião
    sobre qualquer coisa.
  • 2:52 - 2:55
    É uma carta aberta, ou seja,
    envia-a ao destinatário
  • 2:55 - 2:57
    e também dá cópias dela
    aos amigos que lhe pedem:
  • 2:57 - 3:00
    "Ouvi dizer que escreveste
    uma boa carta", etc.
  • 3:00 - 3:02
    Ele guardava todo o correio que recebia.
  • 3:02 - 3:05
    Temos as cartas que Cícero
    envia e as que recebe.
  • 3:05 - 3:07
    Podemos ver o que ele fazia.
  • 3:07 - 3:09
    É o que ele está a fazer aqui. Diz:
  • 3:09 - 3:12
    "Ouvi dizer que a minha carta
    foi amplamente publicada".
  • 3:12 - 3:13
    Era o que ele queria.
  • 3:13 - 3:16
    Era assim que se publicavam
    os livros no mundo romano.
  • 3:16 - 3:17
    Não havia imprensas.
  • 3:17 - 3:20
    Primeiro, era preciso escrever um livro.
    Seriam imensos pergaminhos.
  • 3:20 - 3:24
    Dava-se o livro à pessoa mais rica,
    e mais influente que se conhecia
  • 3:24 - 3:26
    que tinha muitos visitantes
    na sua biblioteca.
  • 3:26 - 3:29
    Depois, os eruditos iam
    à biblioteca, liam-no e diziam:
  • 3:29 - 3:31
    "Este livro é bom. Posso levar uma cópia?"
  • 3:31 - 3:34
    O patrono abastado punha
    os seus escribas a fazer uma cópia
  • 3:34 - 3:37
    que ele levava para a sua biblioteca,
    multiplicando-o.
  • 3:37 - 3:39
    Só quando os livros se propagavam
    e as pessoas falavam neles
  • 3:39 - 3:42
    e pediam cópias, é que os livreiros
    começavam a produzi-los.
  • 3:43 - 3:44
    Os autores romanos queriam
  • 3:44 - 3:46
    que os seus livros
    fossem pirateados ao máximo.
  • 3:46 - 3:48
    Era um sistema de autor-para-autor.
  • 3:48 - 3:52
    Outra coisa que era distribuída
    entre iguais era o jornal romano.
  • 3:52 - 3:56
    Chamava-se a Acta Diurna,
    fundada em 59 a.C. por Júlio César.
  • 3:56 - 3:59
    Era publicado diariamente.
    Sabem quantos exemplares se produziam?
  • 4:00 - 4:03
    Espetador: Um.
    Tom Standage: Um. Certo. Um exemplar.
  • 4:03 - 4:04
    Estava no fórum.
  • 4:04 - 4:06
    Quem quisesse lê-lo, tinha de lá ir.
  • 4:07 - 4:09
    Se quisesse lê-lo noutro local qualquer,
  • 4:09 - 4:12
    era o público que tinha
    de fazer a distribuição.
  • 4:12 - 4:14
    Assim, mandavam o seu escriba e diziam:
  • 4:15 - 4:18
    "Vai lá, toma nota dos cabeçalhos
    que me podem interessar.
  • 4:18 - 4:20
    "Porque quero ler as notícias
    ao pequeno almoço".
  • 4:20 - 4:23
    O escriba fazia isso
    e levava-lhe as notícias.
  • 4:23 - 4:26
    Era nisto que leríamos as notícias.
    Tem um aspeto familiar.
  • 4:26 - 4:28
    É um iPad romano.
  • 4:28 - 4:30
    (Risos)
  • 4:30 - 4:35
    É uma tabuinha de cera, mas o aspeto
    é exatamente o mesmo.
  • 4:35 - 4:37
    O tamanho é idêntico.
  • 4:38 - 4:40
    Se voltarmos àquela mulher de há bocado,
  • 4:40 - 4:43
    ela tem um Galaxy S4 romano.
  • 4:43 - 4:45
    (Risos)
  • 4:45 - 4:49
    Os botões estavam no meio
    do lado comprido, o que é interessante.
  • 4:49 - 4:51
    Esta era a forma
    como as notícias circulavam.
  • 4:51 - 4:55
    Quem saísse da cidade e quisesse
    manter-se informado das notícias
  • 4:55 - 4:57
    os amigos copiavam bocados
    da Acta Diurna
  • 4:57 - 5:00
    e extratos das cartas
    que tinham recebido.
  • 5:00 - 5:03
    Recebiam as notícias pelos amigos.
    era um sistema de rede social.
  • 5:04 - 5:06
    Avancemos um pouco.
    Este é outro exemplo.
  • 5:06 - 5:09
    Passa-se 1500 anos depois,
    este é Martinho Lutero.
  • 5:09 - 5:12
    Martinho Lutero entra numa guerra
    com a Igreja Católica
  • 5:12 - 5:14
    sobre a doutrina das indulgências
  • 5:14 - 5:18
    ou seja, a venda de bulas
    para "livrar-se do purgatório".
  • 5:18 - 5:22
    Acha que é uma ideia estúpida
    e escreve 95 teses,
  • 5:22 - 5:27
    essencialmente questões que quer debater,
    perguntas que quer que o Papa responda.
  • 5:27 - 5:29
    Hoje seria uma lista
    no BuzzFeed e seria intitulada:
  • 5:29 - 5:32
    "95 razões por que o Papa
    está errado quanto às indulgências",
  • 5:32 - 5:34
    ou qualquer coisa assim.
  • 5:34 - 5:36
    Se aparecesse no BuzzFeed,
    chamar-lhe-iam:
  • 5:36 - 5:38
    "95 razões idiotas
    por que o Papa está errado..."
  • 5:39 - 5:42
    Mas ele escreve essa longa lista
  • 5:42 - 5:45
    e espeta-a na porta da igreja
    em Wittenberg, para dizer:
  • 5:45 - 5:47
    "Quero discutir isto".
    Foi isso que fizeram.
  • 5:47 - 5:49
    As pessoas começaram
    a copiá-la e a difundi-la.
  • 5:49 - 5:51
    Depois, chegou aos impressores.
  • 5:51 - 5:53
    Estava em latim. Imprimiram cópias.
  • 5:53 - 5:55
    Chegou aos impressores
    das cidades vizinhas.
  • 5:55 - 5:58
    Provocou tamanho alvoroço
    que voltaram a imprimi-la.
  • 5:58 - 6:00
    Espalhou-se a outras cidades.
  • 6:00 - 6:01
    Lutero não fez nada.
  • 6:01 - 6:04
    Alguns dos impressores
    traduziram-na para alemão,
  • 6:04 - 6:06
    e ela atingiu as pessoas
    que não sabem latim.
  • 6:07 - 6:09
    Espalhou-se muito depressa.
    Este é um contemporâneo de Lutero:
  • 6:09 - 6:12
    "Demorou duas semanas
    a espalhar-se pela Alemanha
  • 6:12 - 6:14
    "e um mês a espalhar-se
    por toda a Europa".
  • 6:14 - 6:16
    Isto foi uma surpresa total para Lutero.
  • 6:16 - 6:20
    Ele diz que não acredita que as suas teses
    "sejam impressas e circulem"
  • 6:20 - 6:22
    "muito para além das minhas expetativas".
  • 6:22 - 6:24
    Então, ocorre-lhe uma ideia e continua:
  • 6:24 - 6:27
    "Espera... esta é a forma de espalhar
    a minha opinião sobre as indulgências".
  • 6:27 - 6:30
    Então, escreve outro panfleto, em alemão,
  • 6:30 - 6:32
    dá-o ao impressor
    em Wittenberg, onde vive.
  • 6:33 - 6:35
    Imprime mil cópias que são
    enviadas para as cidades vizinhas
  • 6:35 - 6:39
    onde outros impressores imprimem
    mais cópias, e vai-se espalhando.
  • 6:39 - 6:41
    É assim que ele difunde a sua mensagem.
  • 6:41 - 6:45
    Como é que sabemos que isso foi eficaz?
    Como podemos medir isso?
  • 6:45 - 6:48
    Hoje medimos a eficácia
    duma campanha nas redes sociais
  • 6:48 - 6:52
    contando os "retweets",
    os "likes", os "reblogs", etc.
  • 6:52 - 6:55
    Acontece que podemos fazer
    o mesmo para Martinho Lutero
  • 6:55 - 6:59
    porque podemos contar o número de vezes
    que os seus panfletos foram reimpressos
  • 6:59 - 7:01
    — o número de novas edições.
  • 7:01 - 7:04
    Se olharmos para a estatística
    do tráfego de Lutero,
  • 7:04 - 7:05
    têm este aspeto.
  • 7:05 - 7:06
    (Risos)
  • 7:07 - 7:10
    Quem tem um blogue WordPress,
    está habituado a ver coisas como esta.
  • 7:10 - 7:12
    Lutero ficaria muito satisfeito
    ao ver isto.
  • 7:12 - 7:14
    Estão a ver, este enorme pico são 1523.
  • 7:14 - 7:19
    Os vermelhos são os panfletos em alemão,
    os azuis são os panfletos em latim.
  • 7:19 - 7:22
    A cor mais clara são as reimpressões,
  • 7:22 - 7:24
    a cor mais escura são os panfletos
    originais de Lutero.
  • 7:24 - 7:27
    Vemos picos enormes na reimpressão.
  • 7:27 - 7:30
    Cada um deles são mais mil cópias.
  • 7:30 - 7:35
    É isto que faz com que a mensagem
    se espalhe pela Alemanha e para além dela.
  • 7:36 - 7:39
    O resultado é o cisma na Igreja
    entre católicos e protestantes.
  • 7:39 - 7:41
    A Reforma nasce a partir daqui.
  • 7:41 - 7:44
    Esta é outra plataforma de redes sociais.
    Esta está ligada a Oxford.
  • 7:44 - 7:48
    Este é o primeiro café
    em Inglaterra, aqui em Oxford.
  • 7:48 - 7:51
    Os cafés eram uma fantástica
    plataforma de partilhar informações.
  • 7:51 - 7:53
    Era onde apareciam os panfletos
  • 7:54 - 7:56
    e os novos livros, que eram
    antecessores dos jornais.
  • 7:56 - 7:59
    As pessoas reuniam-se, liam-nos
    e comentavam-nos
  • 7:59 - 8:01
    e depois enviavam-nos pelo correio
    para outros cafés.
  • 8:01 - 8:04
    Participavam em discussões enormes
  • 8:04 - 8:06
    que ocorriam nos cafés.
  • 8:06 - 8:10
    O notável nestes cafés
    era que não eram só para beber café
  • 8:10 - 8:15
    também eram convidadas
    pessoas de diversas classes sociais.
  • 8:15 - 8:18
    Assim, havia os nobres, os mecânicos,
    os senhores e a canalha,
  • 8:18 - 8:20
    todos a falar uns com os outros.
  • 8:20 - 8:21
    As ideias entrecruzavam-se
  • 8:22 - 8:24
    entre diferentes grupos
    e círculos sociais,
  • 8:24 - 8:26
    de uma forma que anteriormente
    não era possível.
  • 8:26 - 8:30
    Isso acabou por ter
    impactos de longo alcance.
  • 8:30 - 8:32
    Mas o principal efeito
  • 8:32 - 8:35
    era permitir que as pessoas
    ficassem expostas a ideias novas
  • 8:35 - 8:39
    e participassem numa discussão
    mais amplas das coisas que ocorriam.
  • 8:39 - 8:41
    Chamavam aos cafés
    "universidades do cêntimo".
  • 8:41 - 8:43
    Pagava-se um cêntimo pelo café
  • 8:43 - 8:46
    e podia-se participar num ambiente
    de partilha de informações
  • 8:46 - 8:48
    extraordinariamente fascinante e aditivo.
  • 8:48 - 8:51
    Há muitos mais exemplos.
    Já ando a colecioná-los há uns tempos.
  • 8:52 - 8:56
    Este é um livro vulgar
    onde escrevemos coisas interessantes,
  • 8:56 - 8:59
    como no Tumblr ou no Pinterest:
    "Oh, que interessante!"
  • 8:59 - 9:03
    Raramente são coisas nossas. Por isso digo
    que é como o Tumblr ou o Pinterest.
  • 9:03 - 9:05
    80% das coisas no Tumblr
    ou no Pinterest são partilhadas.
  • 9:05 - 9:10
    Acontece o mesmo com estes livros comuns.
  • 9:10 - 9:13
    Quase tudo são poemas, listas
    e aforismos de outras pessoas.
  • 9:13 - 9:15
    Partilha-se o livro e os amigos
    copiam aquilo de que gostam.
  • 9:15 - 9:19
    O que optamos por partilhar com eles
    e o que escolhemos para pôr no livro
  • 9:19 - 9:21
    é uma forma de nos definirmos
    e exprimirmos.
  • 9:21 - 9:24
    Outros exemplos: os poemas
    antes da Revolução Francesa,
  • 9:24 - 9:28
    os panfletos na Guerra Civil Inglesa,
    os panfletos antes da Revolução Americana.
  • 9:28 - 9:30
    Tenho imensos exemplos.
  • 9:31 - 9:34
    A pergunta é: se as redes sociais
    são vulgares em toda a história
  • 9:34 - 9:36
    o que se passou? Porque é
    que nunca reparámos nisso?
  • 9:36 - 9:39
    A resposta é que passámos
    deste tipo de ambiente
  • 9:39 - 9:42
    em que as pessoas partilham coisas
    nas redes sociais
  • 9:42 - 9:44
    e no século XIX, mudámos
    para este tipo de modelo,
  • 9:45 - 9:47
    em que um pequeno número de pessoas
  • 9:47 - 9:49
    difunde uma mensagem muito eficazmente
  • 9:49 - 9:52
    para uma audiência enorme
    mas de modo impessoal.
  • 9:52 - 9:55
    Isto começa com a imprensa a vapor
    e com os jornais de grande circulação,
  • 9:55 - 9:59
    depois continua com a rádio e a TV
    e esse tipo de coisas.
  • 9:59 - 10:03
    Permite que um pequeno grupo seletivo
    de pessoas — chamemos-lhes jornalistas —
  • 10:03 - 10:05
    atinjam um grande número de pessoas.
  • 10:05 - 10:08
    Nem sempre são jornalistas,
    porque este é o exemplo mais conhecido
  • 10:08 - 10:13
    da eficácia com que podemos
    propagar uma mensagem: a propaganda.
  • 10:13 - 10:15
    Este é o Volksempfänger nazi.
  • 10:15 - 10:18
    Conhecemos o Volkswagen,
    o automóvel do povo.
  • 10:18 - 10:21
    Esta é a rádio do povo
    mas era a rádio do povo
  • 10:21 - 10:24
    porque foi criada para só poder
    difundir notícias da Alemanha.
  • 10:24 - 10:27
    Não era podia ouvir
    notícias do estrangeiro.
  • 10:27 - 10:30
    Era-se obrigado a ouvir Hitler
    sempre a fazer os seus discursos.
  • 10:30 - 10:32
    Este tipo de controlo centralizado
  • 10:32 - 10:34
    é o oposto total das redes sociais.
  • 10:34 - 10:38
    Isto foi o que aconteceu no século XIX
    e na maior parte do século XX.
  • 10:38 - 10:41
    Penso que nos dá uma nova forma
    de olhar para os "media"
  • 10:41 - 10:44
    porque agora "as redes sociais
    voltaram, graças à Internet".
  • 10:44 - 10:47
    A Internet torna mais barato
    atingir uma grande audiência de pessoas.
  • 10:47 - 10:51
    Já não é preciso uma enorme imprensa
    dispendiosa ou um transmissor de rádio.
  • 10:51 - 10:54
    Basta ir à plataforma social
    da nossa escolha
  • 10:54 - 10:58
    e o que escrevemos ou publicamos,
    talvez atinja uma audiência de milhões.
  • 10:59 - 11:02
    Penso que, em vez de olhar
    para esta história dos "media"
  • 11:02 - 11:04
    como uma divisão entre "media"
    antigos e novos,
  • 11:04 - 11:08
    — "antigo" como analógico,
    impresso, difundido,
  • 11:08 - 11:11
    e "novo" como digital, Internet
    e mais social —
  • 11:11 - 11:13
    penso que não é a história completa.
  • 11:13 - 11:15
    Precisamos de pensar mais deste modo.
  • 11:15 - 11:18
    Havia os "media" realmente antigos
  • 11:18 - 11:20
    que eram muito semelhantes
    aos "media" novos.
  • 11:21 - 11:23
    O corte dá-se em 1833,
  • 11:23 - 11:26
    quando foi lançado
    o primeiro jornal em Nova Iorque.
  • 11:26 - 11:29
    Para mim, é o início dos "media" antigos,
    desta centralização.
  • 11:29 - 11:36
    Penso que este período dos "media"
    pré-antigos nos podem dizer muita coisa.
  • 11:36 - 11:39
    Isso significa que os antigos sistemas
    de redes sociais
  • 11:39 - 11:41
    têm muitas lições a ensinar-nos.
  • 11:41 - 11:44
    Vou falar rapidamente apenas de três.
    Esta é a primeira:
  • 11:44 - 11:48
    "As redes sociais são uma distração
    perigosa, uma perda de tempo?"
  • 11:48 - 11:51
    De certeza que já ouviram isto,
    é uma queixa muito vulga:
  • 11:51 - 11:54
    "Não devíamos chamar-lhes
    redes sociais,
  • 11:54 - 11:56
    "devíamos chamar-lhes
    redes antissociais".
  • 11:56 - 11:57
    (Risos)
  • 11:58 - 12:00
    É uma queixa muito antiga.
  • 12:00 - 12:03
    Este é alguém que faz exatamente
    a mesma queixa em Oxford
  • 12:03 - 12:05
    na década de 1670.
  • 12:05 - 12:08
    Anthony Wood diz: "Porque é que
    os estudantes já não fazem os trabalhos?
  • 12:08 - 12:10
    "Porque estão todos no café,
  • 12:10 - 12:13
    "a partilhar informações com os amigos".
    (Risos)
  • 12:13 - 12:15
    Acontece que isso também acontecia
    em Cambridge.
  • 12:16 - 12:17
    (Risos)
  • 12:17 - 12:19
    Oportunidades iguais, não é?
    Oxbridge!
  • 12:19 - 12:22
    Exatamente as mesmas queixas
    em Cambridge:
  • 12:22 - 12:25
    os estudantes já não fazem os trabalhos
    porque estão no café.
  • 12:25 - 12:29
    Este é um panfleto
    que se queixa da mesma coisa:
  • 12:29 - 12:32
    "...os cafés são os inimigos
    da diligência e do trabalho
  • 12:32 - 12:34
    "e a ruína dos jovens sérios..."
  • 12:34 - 12:37
    porque as pessoas só andam
    a perder tempo.
  • 12:37 - 12:41
    Mas será verdade? Vejam o que aconteceu
    no final do século XVII.
  • 12:41 - 12:45
    Verão que, em vez de serem inimigos
    da diligência e do trabalho
  • 12:45 - 12:47
    os cafés eram cadinhos da inovação.
  • 12:47 - 12:50
    Permitiam que as pessoas e as ideias
    se misturassem de novas formas.
  • 12:50 - 12:52
    Daí saíram coisas incríveis.
  • 12:52 - 12:55
    A revolução científica, por exemplo.
  • 12:55 - 12:58
    Temos cientistas a reunirem-se nos cafés.
  • 12:58 - 13:00
    A Sociedade Real surge das pessoas
    que se encontram nos cafés
  • 13:00 - 13:02
    aqui em Oxford e em Londres.
  • 13:03 - 13:05
    Por vezes, até fazem experiências
    e palestras nos cafés.
  • 13:05 - 13:10
    O meu exemplo preferido é que Isaac Newton
    escreve Principia Mathematica,
  • 13:10 - 13:13
    a base da ciência moderna,
    para dirimir uma discussão num café
  • 13:13 - 13:15
    entre Wren, Hooke e Halley.
  • 13:15 - 13:17
    Deitem as culpas para o café.
  • 13:17 - 13:20
    Do mesmo modo, os cafés levaram
    à inovação comercial.
  • 13:20 - 13:23
    O Lloyd's de Londres começa
    como um café chamado Lloyd's.
  • 13:23 - 13:26
    Outro café na outra esquina
    chamado Jonathan's
  • 13:26 - 13:28
    acaba como a Bolsa de Valores de Londres.
  • 13:29 - 13:31
    Surge uma inovação fantástica
    desta colisão de ideias.
  • 13:31 - 13:33
    O mesmo é possível
    nas redes sociais atuais.
  • 13:33 - 13:37
    Algumas empresas estão a perceber isso,
    e usam as redes sociais, internamente,
  • 13:37 - 13:39
    para fomentar a colaboração e a inovação.
  • 13:40 - 13:42
    "Qual é o papel das redes sociais
    nas revoluções?"
  • 13:42 - 13:45
    Ouvimos falar muito nisto
    depois da Primavera Árabe.
  • 13:45 - 13:47
    Qual foi o papel do Facebook e do Twitter
  • 13:47 - 13:49
    no que aconteceu na Tunísia e no Egito?
  • 13:49 - 13:51
    Podemos chamar-lhes revoluções Twitter?
  • 13:51 - 13:54
    Acontece que podemos descobri-lo
    perguntando à História.
  • 13:54 - 13:56
    Podemos perguntar a Martinho Lutero:
  • 13:56 - 13:58
    "A partir da rápida difusão das teses,
  • 13:58 - 14:01
    "percebi o que a maior parte da nação
    pensa sobre as indulgências".
  • 14:01 - 14:04
    Ou seja, a popularidade dos panfletos
    foi um mecanismo indicador
  • 14:04 - 14:07
    para ele e para os leitores dos panfletos,
  • 14:07 - 14:09
    de que todos sentiam o mesmo
    quanto às indulgências.
  • 14:09 - 14:13
    Os especialistas dos "media" modernos
    chamam-lhe o sincronismo de opiniões.
  • 14:13 - 14:18
    Significa que quem não tem a certeza
    de partilhar a mesma opinião dos outros,
  • 14:18 - 14:20
    pode descobrir que partilha.
  • 14:20 - 14:23
    Hoje podemos saber se 80 000 pessoas
    gostam duma página do Facebook que diz:
  • 14:23 - 14:26
    "Vamos fazer uma manifestação no sábado".
  • 14:26 - 14:30
    Naquela época, podiam sabê-lo, quando iam
    ao vendedor dos panfletos e ele dizia;
  • 14:30 - 14:32
    "Lamento, mas o Lutero está esgotado".
  • 14:32 - 14:35
    Ficavam a saber que outras pessoas
    estavam a tentar comprar
  • 14:35 - 14:37
    e estavam interessadas
    no que ele tinha a dizer.
  • 14:37 - 14:40
    Isso diz-nos que as redes sociais
    não causam a revolução
  • 14:40 - 14:42
    como um efeito subjacente,
    obviamente,
  • 14:42 - 14:47
    mas ajudam-na a espalhar-se
    mais rapidamente.
  • 14:47 - 14:51
    Jared Cohen exprimiu isto no Google,
    dizendo que são um acelerador.
  • 14:51 - 14:54
    Não iniciam um incêndio,
    mas ajudam-no a lavrar.
  • 14:54 - 14:56
    Acho que é uma boa forma
    de pensar nelas.
  • 14:56 - 14:58
    Por fim, "as redes sociais são uma moda?"
  • 14:58 - 15:02
    Espero ter-vos convencido
    de que elas existem há muito tempo.
  • 15:02 - 15:07
    Não são uma moda. Se houve alguma moda
    foi a época dos velhos "media" de massas.
  • 15:07 - 15:10
    Essa foi uma anomalia histórica,
    se a quiserem ver nestes termos.
  • 15:11 - 15:14
    Agora voltámos a um modelo mais social
  • 15:14 - 15:16
    como o que tivemos
    em meados do século XIX.
  • 15:16 - 15:19
    Desta vez está super carregado
    pela Internet.
  • 15:19 - 15:21
    "As redes sociais não são uma moda,
  • 15:21 - 15:23
    "a era dos 'media' sociais
    é que foram uma anomalia".
  • 15:23 - 15:26
    As redes sociais vieram para ficar.
  • 15:26 - 15:30
    Espero ter-vos convencido de que
    os utilizadores das redes sociais modernas
  • 15:30 - 15:32
    — espero que estejam todos no Twitter —
  • 15:32 - 15:34
    são os herdeiros
    duma tradição com séculos.
  • 15:34 - 15:37
    Espero que isto mude a forma
    como olham para as redes sociais,
  • 15:37 - 15:42
    que tenham percebido que estas atividades
    modernas têm antepassados históricos.
  • 15:43 - 15:46
    Espero ter-vos convencido
    que as redes sociais
  • 15:46 - 15:48
    não só nos interligam
    uns aos outros, no presente,
  • 15:48 - 15:51
    como nos interligam ao passado.
  • 15:51 - 15:52
    Obrigado.
  • 15:52 - 15:54
    (Aplausos)
Title:
Lições das antigas redes sociais | Tom Standage | TEDxOxbridge
Description:

As redes sociais não são uma tendência moderna, mas também uma tendência antiga, conforme explica Tom Standage. Em TEDxOxbridge, leva-nos numa visita guiada à história de como as notícias e as ideias se espalhavam e se debatiam — das cartas de Cícero aos cafés da Inglaterra isabelina — e mostra que as redes sociais afinal não são assim tão novas.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
16:00

Portuguese subtitles

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