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A matemática é eterna | Eduardo Sáenz de Cabezón | TEDxRíodelaPlata

  • 0:21 - 0:24
    Imagine que você está em um bar...
  • 0:24 - 0:26
    ou em uma boate...
  • 0:26 - 0:29
    Você começa a conversar com uma garota
  • 0:29 - 0:34
    e logo surge esta pergunta:
    "Com o que você trabalha?"
  • 0:34 - 0:37
    Como você acha seu trabalho interessante,
  • 0:37 - 0:39
    responde: "Sou matemático".
  • 0:39 - 0:42
    (Risos)
  • 0:42 - 0:45
    Nessa hora, 33,51% das garotas
  • 0:45 - 0:46
    (Risos)
  • 0:46 - 0:50
    simulam uma ligação urgente e se vão.
  • 0:50 - 0:52
    (Risos)
  • 0:52 - 0:56
    Outros 64,69% das garotas
  • 0:56 - 0:59
    tentam, desesperadamente,
    mudar de assunto e se vão.
  • 0:59 - 1:00
    (Risos)
  • 1:00 - 1:05
    Há algo como 0,8% que são sua prima,
    sua namorada e sua mãe, (Risos)
  • 1:05 - 1:08
    que sabem que você trabalha em algo
    incomum, mas não se lembram em quê,
  • 1:08 - 1:09
    (Risos)
  • 1:09 - 1:12
    e há 1% que continua a conversa.
  • 1:12 - 1:16
    Quando a conversa segue, inevitavelmente,
  • 1:16 - 1:18
    aparece uma destas duas frases:
  • 1:18 - 1:22
    A) "Eu era péssima em matemática,
    mas não era minha culpa.
  • 1:22 - 1:24
    O professor é que era péssimo."
  • 1:24 - 1:25
    (Risos)
  • 1:25 - 1:28
    B) "Mas pra que serve matemática?"
  • 1:28 - 1:29
    (Risos)
  • 1:29 - 1:31
    Vou tratar do Caso B.
  • 1:31 - 1:33
    (Risos)
  • 1:33 - 1:38
    Quando alguém pergunta para que serve
    a matemática, ele não quer saber
  • 1:38 - 1:41
    quais são as aplicações
    das ciências matemáticas.
  • 1:41 - 1:42
    Ele está perguntando:
  • 1:42 - 1:46
    "Por que tive que estudar esta droga
    que nunca mais usei na vida?" (Risos)
  • 1:46 - 1:48
    É isso que está perguntando realmente.
  • 1:48 - 1:49
    Por isto,
  • 1:49 - 1:52
    quando os matemáticos são questionados
    para que serve a matemática,
  • 1:52 - 1:55
    costumamos nos dividir em grupos:
  • 1:55 - 2:01
    cerca de 54,51% dos matemáticos
    vão tomar uma posição de ataque,
  • 2:01 - 2:06
    e 44,77% deles ficarão na defensiva.
  • 2:06 - 2:09
    Há uma exceção de 0,8%,
    na qual eu me incluo.
  • 2:09 - 2:11
    Quem são os que atacam?
  • 2:11 - 2:14
    São aqueles matemáticos
    que irão te dizer:
  • 2:14 - 2:16
    "Esta pergunta não faz sentido,
  • 2:16 - 2:19
    porque a matemática
    tem um significado próprio.
  • 2:19 - 2:22
    É um bela estrutura que se constrói
    com a sua lógica própria,
  • 2:22 - 2:26
    e que não precisa que estejam sempre
    buscando todas as aplicações possíveis.
  • 2:26 - 2:28
    Para que serve a poesia?
    Para que serve o amor?
  • 2:28 - 2:31
    Para que serve a própria vida?
    Que tipo de pergunta é esta?"
  • 2:31 - 2:33
    (Risos)
  • 2:33 - 2:37
    Hardy, por exemplo, era um expoente
    deste tipo de ataque.
  • 2:37 - 2:39
    E os que ficam na defensiva vão dizer:
  • 2:39 - 2:43
    "Mesmo que você não perceba, amigo,
    a matemática está por trás de tudo".
  • 2:43 - 2:45
    (Risos)
  • 2:45 - 2:51
    Estes caras sempre vão citar
    pontes e computadores.
  • 2:51 - 2:53
    "Se você não sabe matemática,
    sua ponte vai desabar."
  • 2:53 - 2:55
    (Risos)
  • 2:55 - 2:58
    Realmente, os computadores
    são matemática pura.
  • 2:58 - 3:01
    E esses caras também
    vão dizer que por trás
  • 3:01 - 3:06
    da segurança da informação e dos cartões
    de créditos estão os números primos.
  • 3:06 - 3:10
    Estas são as respostas que o seu professor
    vai lhe dar se você perguntar.
  • 3:10 - 3:12
    Ele é do time dos defensivos.
  • 3:12 - 3:14
    Tudo bem, mas quem está certo então?
  • 3:14 - 3:17
    Os que dizem que a matemática
    não precisa ter um propósito,
  • 3:17 - 3:19
    ou os que afirmam que a matemática
    está por trás de tudo?
  • 3:19 - 3:21
    Na verdade, ambos estão certos.
  • 3:21 - 3:26
    Mas lembra que eu disse que pertenço
    aos 0,8% que alegam outra coisa?
  • 3:26 - 3:29
    Então vá em frente e me pergunte
    para que serve a matemática.
  • 3:29 - 3:32
    Plateia: "Pra que serve a matemática?"
  • 3:32 - 3:37
    Eduardo Saenz de Cabezon: Certo,
    76,34% perguntaram para que serve,
  • 3:37 - 3:40
    23,41% não falaram nada
  • 3:40 - 3:44
    e 0,8% que não sei o que está fazendo.
  • 3:44 - 3:47
    Bem, queridos 76,34%...
  • 3:48 - 3:52
    É verdade que a matemática
    não precisa servir a um propósito.
  • 3:52 - 3:55
    Realmente ela é
    uma estrutura bela, lógica,
  • 3:55 - 3:58
    provavelmente um dos maiores
    esforços coletivos
  • 3:58 - 4:00
    já realizados na história da humanidade.
  • 4:00 - 4:02
    Mas também é verdade que lá,
  • 4:02 - 4:07
    onde cientistas e técnicos estão à procura
    de teorias matemáticas e modelos
  • 4:07 - 4:13
    que os permitam avançar, está a estrutura
    da matemática que permeia tudo.
  • 4:13 - 4:17
    É verdade que devemos nos aprofundar
    para ver o que está por trás da ciência.
  • 4:17 - 4:22
    A ciência funciona
    através da intuição, da criatividade.
  • 4:22 - 4:26
    E a matemática controla a intuição
    e comanda a criatividade.
  • 4:26 - 4:28
    Quase todo mundo
    que nunca ouviu isto antes
  • 4:28 - 4:30
    se surpreende ao saber
  • 4:30 - 4:34
    que, se pegar uma folha de papel
    de 0,1 milímetro de espessura,
  • 4:34 - 4:35
    das que usamos normalmente,
  • 4:35 - 4:39
    e se ela for grande o suficiente
    para ser dobrada 50 vezes,
  • 4:39 - 4:44
    a espessura final ocuparia
    a distância da Terra até o Sol.
  • 4:45 - 4:47
    A sua intuição diz que isso é impossível.
  • 4:47 - 4:50
    Faça os cálculos
    e verá que ela está certa.
  • 4:50 - 4:52
    A matemática serve para isso.
  • 4:52 - 4:56
    É verdade que a ciência, todos os tipos
    de ciência, só faz sentido
  • 4:56 - 4:59
    porque nos ajuda a entender melhor
    o belo mundo em que vivemos.
  • 4:59 - 5:01
    E ao fazer isso,
  • 5:01 - 5:04
    ela nos ajuda a escapar das armadilhas
    deste mundo doloroso em que vivemos.
  • 5:04 - 5:08
    Há ciências que nos ajudam
    nessa direção claramente.
  • 5:08 - 5:10
    As ciências oncológicas, por exemplo.
  • 5:10 - 5:13
    E há outras que olhamos de longe,
    com inveja às vezes,
  • 5:13 - 5:16
    mas sabendo que somos o seu suporte.
  • 5:16 - 5:18
    Todas as ciências básicas
    são a base daquelas,
  • 5:18 - 5:21
    incluindo a matemática.
  • 5:21 - 5:25
    Tudo o que faz a ciência
    ser ciência é o rigor da matemática.
  • 5:25 - 5:30
    E esse rigor existe
    porque seus resultados são eternos.
  • 5:30 - 5:32
    Você já disse ou ouviu dizer,
    em algum momento,
  • 5:32 - 5:35
    que um diamante é eterno, não é?
  • 5:36 - 5:39
    Isso depende da sua definição de eterno.
  • 5:39 - 5:41
    Um teorema, isso sim, é eterno.
  • 5:41 - 5:42
    (Risos)
  • 5:42 - 5:46
    O teorema de Pitágoras
    continua verdadeiro,
  • 5:46 - 5:49
    eu garanto, apesar de Pitágoras
    estar morto. (Risos)
  • 5:49 - 5:50
    Mesmo se o mundo desabasse,
  • 5:50 - 5:53
    o teorema de Pitágoras
    ainda seria verdadeiro.
  • 5:53 - 5:57
    Onde quer que um par de catetos
    e uma boa hipotenusa se reúnam,
  • 5:57 - 5:58
    (Risos)
  • 5:58 - 6:02
    o teorema de Pitágoras estará la,
    funcionando como um louco.
  • 6:02 - 6:05
    (Aplausos)
  • 6:08 - 6:11
    Bem, nós, matemáticos,
    nos dedicamos a fazer teoremas,
  • 6:11 - 6:13
    verdades eternas.
  • 6:14 - 6:17
    Mas nem sempre é fácil saber
    o que é uma verdade eterna, um teorema,
  • 6:17 - 6:19
    e o que é uma simples hipótese.
  • 6:19 - 6:22
    Você precisa de uma demonstração.
  • 6:22 - 6:24
    Por exemplo:
  • 6:24 - 6:29
    imagine que eu tenho aqui
    um campo grande, enorme, infinito.
  • 6:29 - 6:32
    Eu quero cobri-lo com peças iguais
    sem deixar espaços.
  • 6:32 - 6:34
    Eu poderia usar quadrados, não é?
  • 6:34 - 6:39
    Eu poderia usar triângulos;
    círculos não, eles deixam lacunas.
  • 6:39 - 6:41
    Qual é o melhor formato para usar?
  • 6:41 - 6:46
    Um que cubra a mesma superfície,
    mas com uma borda menor.
  • 6:46 - 6:51
    Pappus de Alexandria, no ano 300,
    disse que o melhor era usar hexágonos,
  • 6:51 - 6:53
    assim como as abelhas.
  • 6:53 - 6:54
    Mas ele não provou.
  • 6:54 - 6:57
    O cara disse: "Hexágonos, ótimo!
    Vamos com hexágonos!"
  • 6:57 - 7:00
    Ele não provou, permaneceu uma hipótese.
  • 7:00 - 7:02
    Disse: "Hexágonos!"
  • 7:02 - 7:05
    E o mundo, como você sabe, se dividiu
    entre Pappistas e anti-Pappistas,
  • 7:05 - 7:11
    até que, 1.700 anos depois,
  • 7:11 - 7:16
    em 1999, Thomas Hales provou
  • 7:16 - 7:21
    que Pappus e as abelhas estavam certos:
    o melhor é usar hexágonos.
  • 7:21 - 7:24
    E isso se tornou um teorema,
    o "teorema da colmeia",
  • 7:24 - 7:26
    que será verdadeiro para todo o sempre.
  • 7:26 - 7:29
    Mais que qualquer diamante
    que você tenha. (Risos)
  • 7:29 - 7:31
    Mas o que acontece se formos
    para a terceira dimensão?
  • 7:31 - 7:36
    Se eu quiser preencher
    o espaço com peças iguais,
  • 7:36 - 7:37
    sem deixar espaços,
  • 7:37 - 7:39
    eu posso usar cubos, certo?
  • 7:39 - 7:42
    Esferas não, elas deixam lacunas.
  • 7:42 - 7:43
    (Risos)
  • 7:43 - 7:45
    Qual é o melhor formato para usar?
  • 7:45 - 7:50
    Lord Kelvin, dos famosos
    "graus Kelvin" e tudo mais,
  • 7:50 - 7:54
    disse que o melhor era usar
    um octaedro truncado.
  • 7:56 - 7:58
    (Risos)
  • 7:58 - 8:00
    Que, como todo mundo sabe...
  • 8:00 - 8:01
    (Risos)
  • 8:01 - 8:03
    É esta coisa aqui.
  • 8:03 - 8:06
    (Aplausos)
  • 8:08 - 8:10
    Qual é?
  • 8:11 - 8:13
    Quem não tem um octaedro
    truncado em casa? (Risos)
  • 8:13 - 8:17
    Mesmo de plástico. "Querida, traga
    o octaedro truncado, temos visitas!"
  • 8:17 - 8:18
    Todo mundo tem.
    (Risos)
  • 8:18 - 8:21
    Mas Kelvin não provou.
  • 8:21 - 8:25
    Permaneceu uma hipótese,
    a "conjectura de Kelvin".
  • 8:25 - 8:31
    E o mundo, como você sabe, se dividiu
    entre Kelvinistas e anti-Kelvinistas.
  • 8:31 - 8:32
    (Risos)
  • 8:32 - 8:36
    Até que cento e poucos anos depois...
  • 8:37 - 8:42
    Cento e poucos anos depois,
    alguém descobriu uma estrutura melhor.
  • 8:43 - 8:45
    Weaire e Phelan...
  • 8:45 - 8:49
    Weaire e Phelan descobriram
    esta coisinha aqui.
  • 8:49 - 8:50
    (Risos)
  • 8:50 - 8:54
    Esta estrutura, à qual deram
    o criativo nome de:
  • 8:54 - 8:56
    "estrutura de Weaire-Phelan".
  • 8:56 - 8:58
    (Risos)
  • 8:58 - 9:01
    Parece uma coisa rara, mas não é tão rara.
  • 9:01 - 9:02
    Também está presente na natureza.
  • 9:02 - 9:07
    É bem curioso que esta estrutura,
    devido a suas propriedades geométricas,
  • 9:07 - 9:13
    foi usada para construir o Centro Aquático
    para os Jogos Olímpicos de Pequim.
  • 9:14 - 9:16
    Lá, Michael Phelps ganhou
    oito medalhas de ouro
  • 9:16 - 9:19
    e se tornou o melhor nadador
    de todos os tempos.
  • 9:19 - 9:23
    Bom, de todos os tempos
    até que apareça alguém melhor, não é?
  • 9:23 - 9:28
    Assim como a estrutura de Weaire-Phelan
    é a melhor até que apareça outra melhor.
  • 9:28 - 9:33
    Mas cuidado! Pois esta tem
    uma chance real,
  • 9:33 - 9:38
    mesmo que passem cento e poucos anos,
    ou mesmo 1.700 anos,
  • 9:38 - 9:44
    de alguém provar que ela é
    o melhor formato possível.
  • 9:44 - 9:48
    Então ela se tornará um teorema,
    uma verdade para todo o sempre.
  • 9:48 - 9:50
    Mais que qualquer diamante.
  • 9:51 - 9:55
    Então, se você quiser dizer para alguém
  • 9:56 - 9:59
    que o amará por toda a vida,
    (Risos)
  • 9:59 - 10:01
    dê-lhe um diamante.
  • 10:01 - 10:05
    Mas se você quiser dizer
    que o amará para todo o sempre,
  • 10:05 - 10:07
    dê-lhe um teorema!
    (Risos)
  • 10:07 - 10:11
    Mas espere um pouco!
  • 10:11 - 10:16
    Você terá que provar que o seu amor
    não é apenas uma hipótese.
  • 10:16 - 10:20
    (Aplausos)
  • 10:21 - 10:23
    Obrigado.
  • 10:23 - 10:26
    (Aplausos)
Title:
A matemática é eterna | Eduardo Sáenz de Cabezón | TEDxRíodelaPlata
Description:

Nesta palestra, Eduardo Sáenz de Cabezón responde à pergunta clássica: "Pra que serve a matemática?", com toques de humor e história.

Graduado em Teologia e doutor em Matemática, é autor de várias palestras de divulgação na sua área em universidades e escolas de ensino médio. É narrador de histórias para crianças, jovens e adultos.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:40

Portuguese, Brazilian subtitles

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