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Sarah Kay: Se eu tiver uma filha ...

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    Se eu tiver uma filha,
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    em vez de Mãe,
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    ela vai me chamar de Ponto B,
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    porque assim ela saberá que aconteça o que acontecer,
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    ao menos, poderá sempre encontrar seu caminho até mim.
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    E eu pintarei o sistema solar em suas mãos,
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    assim ela terá que aprender o universo todo
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    antes de dizer, "Ah, sei isso como a palma da minha mão."
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    E ela vai aprender
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    que esta vida vai lhe acertar com força, na cara,
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    esperar que você se levante só para lhe dar um chute no estômago.
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    Mas, ficar sem folêgo
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    é o único meio de lembrar aos seus pulmões
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    do quanto gostam do sabor do ar.
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    Há dores aqui
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    que não podem ser curadas com Band-Aids ou poesia.
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    Então, na 1ª vez que ela perceber
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    que a Mulher Maravilha não vem,
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    me assegurarei que ela saiba
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    que ela não terá que usar a capa sozinha.
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    Porque não importa o quanto você estique os dedos,
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    suas mãos serão sempre muito pequenas
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    para colher toda a dor que você quer curar.
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    Acredite, eu já tentei.
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    "E, querida," eu lhe direi,
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    não empine seu nariz assim.
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    Conheço esse truque: já usei um milhão de vezes.
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    Você só está procurando a fumaça
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    para poder seguir o caminho de volta a uma casa em chamas,
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    para achar o garoto que perdeu tudo no fogo
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    e ver se pode salvá-lo.
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    Ou então achar o garoto que acendeu o fogo,
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    e ver se pode mudá-lo."
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    Mas sei que ela irá de todo jeito,
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    por isso terei sempre um estoque extra
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    de chocolate e botas de chuva por perto,
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    porque não existe sofrimento que chocolate não conserte.
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    OK, existem alguns sofrimentos que chocolate não conserta.
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    Mas é para isso que servem as botas.
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    Porque a chuva lavará tudo, se você deixar.
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    Quero que ela veja o mundo
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    através do fundo de vidro de um barco,
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    que através de um microscópio
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    veja as galáxias que existem
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    nesse pontinho que é uma mente humana,
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    porque foi assim que minha mãe me ensinou.
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    Que existirão dias assim.
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    ♫ Existirão dias assim, minha mãe disse. ♫
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    Quando você abre as mãos para pegar algo
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    e acaba só com bolhas e hematomas;
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    quando você sai da cabine telefônica e tenta voar
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    e as pessoas que você mais quer salvar
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    são aquelas em cima da sua capa;
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    quando suas botas se encherem de chuva,
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    e você estiver de joelhos, desapontada.
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    E esses são os dias que você tem mais motivo para dizer obrigado.
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    Porque não há nada mais lindo
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    que o jeito como o oceano se recusa a parar de beijar a costa,
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    não importa quantas vezes ele é varrido.
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    Você colocará o vento a ganhar algo, perder algo.
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    Você colocará a estrela
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    começando de novo e de novo.
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    Não importa quantas minas terrestres explodam por minuto,
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    fique certa que sua mente aterrisse
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    na beleza desse curioso lugar chamado vida.
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    E sim, numa escala de um a super confiante,
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    Eu sou bem ingênua.
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    Mas eu quero que ela saiba que este mundo é feito de açucar.
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    Pode se esfarelar tão facilmente,
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    mas não tenha medo de esticar a língua e experimentá-lo.
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    "Querida", direi, "lembre-se, sua mãe é preocupada,
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    e seu pai é guerreiro,
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    e você é a garota com mãos pequenas e olhos grandes
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    que nunca para de querer mais."
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    Lembre-se que as boas coisas vêm em três
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    e assim vêm as ruins.
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    E sempre peça desculpas quando fizer algo errado.
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    Mas nunca se desculpe
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    pelo jeito como seus olhos se negam a parar de brilhar.
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    Sua voz é baixa, mas nunca pare de cantar.
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    E quando eles finalmente lhe fizerem sofrer,
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    quando lançarem guerra e ódio debaixo de sua porta
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    e oferecerem nas esquinas panfletos
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    de cinismo e derrota,
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    diga que realmente eles tem que conhecer a sua mãe.
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    Obrigada. Obrigada.
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    (Aplausos)
  • 3:30 - 3:32
    Obrigada.
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    (Aplausos)
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    Obrigada.
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    (Aplausos)
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    Obrigada.
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    (Aplausos)
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    Certo, então quero que vocês deem um tempo,
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    e que pensem em 3 coisas
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    que sejam verdade para vocês.
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    Elas podem ser o que vocês quiserem --
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    tecnologia, entretenimento, design,
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    sua família, o que comeram no café da manhã.
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    A única regra é não pensar muito.
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    OK, pronto? Comecem.
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    OK.
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    Aqui estão 3 coisas que são verdade para mim.
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    Sei que Jean-Luc Godard estava certo
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    quando disse que, "uma boa história
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    tem começo, meio e fim,
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    não necessariamente nessa ordem."
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    Sei que estou super nervosa e entusiasmada por estar aqui,
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    o que inibe muito minha capacidade de ficar calma.
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    (Risos)
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    E eu sei
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    que esperei a semana toda para contar essa piada.
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    (Risos)
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    Por que o espantalho foi convidado ao TED?
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    Porque ele se destaca em seu campo.
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    (Risos)
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    Desculpem-me.
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    OK, então há três coisas que são verdade para mim.
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    Mas há muitas coisas que tenho dificuldade em compreender.
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    Então escrevo poemas para entendê-las.
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    Às vezes, o único caminho que conheço para resolver algo
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    é escrevendo um poema.
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    E às vezes, eu chego ao fim de um poema
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    e olho para trás e falo, "Ah, então é isso".
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    E às vezes chego ao fim de um poema
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    e não resolvi nada.
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    mas ao menos tenho um novo poema.
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    Poesia falada é a arte da poesia de performance.
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    Digo às pessoas que isso envolve criar poesia
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    que não quer ficar só no papel,
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    que algo nela exige que seja escutada em voz alta
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    ou presenciada ao vivo.
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    Quando estava no 1ª série do ensino médio,
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    eu era uma explosão de hormônios.
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    E era subdesenvolvida
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    e super agitada.
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    E a despeito de meu temor
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    de ser observada por muito tempo,
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    eu era fascinada pela poesia falada.
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    Sentia que meus dois amores secretos, poesia e teatro,
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    tinham ficado juntos, tido um bebê,
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    um bebê que eu precisava conhecer.
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    Então decidi tentar.
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    Meu primeiro poema falado,
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    envolto na sabedoria dos 14 anos,
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    era sobre a injustiça
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    de ser vista como pouco feminina.
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    O poema era de muita indignação,
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    e bastante exagerado,
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    mas a única poesia falada que já tinha visto até então
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    era principalmente de indignação,
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    então eu pensei que era o que se esperava de mim.
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    Em minha primeira apresentação
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    a plateia de adolescentes clamava e gritava em solidariedade,
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    e quando deixei o palco estava tremendo.
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    Senti um toque no ombro,
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    e me virei para ver
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    essa garota gigante num moleton de capuz surgir da multidão.
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    Ela talvez tivesse uns 2,40m de altura
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    e parecia que poderia me bater com uma mão,
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    mas ao contrário, ela balançou a cabeça
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    e disse, "Ei, eu realmente senti isso. Obrigada".
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    E como se um raio me atingisse.
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    Eu me encantei.
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    Descobri esse bar em Manhattan, no Lower East Side,
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    que mantinha um sarau semanal aberto de poesia,
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    e meus desconcertados, mas encorajadores pais me levaram
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    para eu absorver cada grama de poesia falada que eu pudesse.
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    Fui a mais nova por ao menos uma década,
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    mas os poetas do Clube de Poesia de Bowery
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    não pareciam se incomodar com os meus 14 anos --
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    de fato, eles me receberam bem.
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    E foi lá, ouvindo esses poetas compartilharem suas histórias
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    que aprendi que poesia falada não precisava ser de protesto,
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    poderia ser divertida ou sofrida
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    ou séria ou boba.
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    O Clube de Poesia de Bowery tornou-se minha sala de aula e lar.
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    E os poetas que se apresentavam
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    me encorajavam a dividir minhas histórias.
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    Não importava o fato de eu ter 14 anos--
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    eles me diziam, "Escreva sobre ter 14 anos".
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    E assim eu fiz e ficava impressionada toda semana
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    quando esses brilhantes, poetas adultos
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    riam comigo e sofriam em solidariedade
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    e me aplaudiam e diziam, "Ei, eu realmente senti isso também."
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    Agora posso dividir meu caminho de poesia falada
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    em três etapas.
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    Etapa um foi o momento que eu disse,
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    "Eu consigo. Eu consigo fazer isso."
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    E foi graças a uma garota de capuz.
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    Etapa dois foi o momento que eu disse,
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    "Eu irei. Eu irei continuar.
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    Amo poesia falada. Continuarei voltando semana após semana."
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    E a etapa três começou
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    quando entendi que não precisava escrever poemas de protesto,
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    se eu não era assim.
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    Havia coisas que eram específicas para mim,
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    e quanto mais eu focava naquelas coisas,
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    mais estranha ficava minha poesia,
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    mas cada vez mais se parecia comigo.
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    Não é só o adágio "escreva o que você sabe,"
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    é sobre juntar todo o conhecimento e experiência
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    que tenha acumulado até o momento
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    para ajudá-lo a mergulhar nas coisas que desconhece.
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    Uso poesia para me ajudar a lidar com o que não compreendo,
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    mas eu chego para cada novo poema
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    com uma mochila cheia
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    dos lugares onde já estive.
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    Na universidade, conheci um colega poeta
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    que partilhou da minha crença na magia da poesia falada.
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    E realmente, Phil Kaye e eu
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    coincidentemente partilhamos o mesmo sobrenome.
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    Quando estava no ensino médio criei o Projeto V.O.I.C.E.
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    como um meio de encorajar amigos a fazer poesia falada comigo.
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    Mas Phil e eu decidimos reinventar o Projeto V.O.I.C.E. --
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    dessa vez mudando a missão
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    usando poesia falada como meio de entreter,
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    educar e inspirar.
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    Éramos alunos em tempo integral, mas nos intervalos viajávamos,
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    nos apresentando e ensinando
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    de crianças de 9 anos a mestrandos em Artes,
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    da Califórnia, à Indiana, à Índia
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    à escola pública perto do campus.
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    E víamos toda vez
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    como a poesia falada
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    entreabria fechaduras.
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    Mas, às vezes,
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    poesia pode ser assustadora.
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    Às vezes,
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    é preciso jeito para que adolescentes escrevam poesia.
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    Então eu pensei em listas. Todos conseguem escrever listas.
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    E a primeira lista que passei
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    foi "10 coisas que conheço como verdade."
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    E é isso que acontece, e é isso que você descobriria também
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    se todos nós começássemos a compartilhar as listas.
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    Num certo momento, você perceberia
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    que alguém tem exatamente a mesma coisa,
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    ou uma coisa bem similar,
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    a algo em sua lista.
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    E então mais alguém
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    tem algo completamente oposto ao seu.
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    Terceiro, alguém tem algo que você nunca ouviu falar antes.
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    E quarto, alguém tem algo que você pensava saber tudo a respeito,
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    mas eles apresentam sob uma nova perspectiva.
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    E eu digo as pessoas que é de onde grandes histórias começam --
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    Essas quatro interseções
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    sobre o que você é apaixonado
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    e sobre o que os outros podem estar se dedicando.
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    E a maioria das pessoas respondem bem a esse exercício.
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    Mas uma de minhas alunas, da 1ª série, chamada Charlotte,
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    não estava convencida.
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    Charlotte era muito boa em escrever listas, mas se recusava a escrever poemas.
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    "Senhorita", ela dizia, "Não sou interessante.
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    Não tenho nada interessante a dizer."
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    Então eu passava uma lista depois da outra,
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    e um dia eu passei uma lista
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    "10 Coisas que eu deveria ter aprendido até agora."
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    Número três na lista de Charlotte era,
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    "Eu deveria ter aprendido a não me apaixonar por caras
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    três vezes mais velho."
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    Eu perguntei a ela o significado daquilo,
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    e ela disse, "Senhorita, é uma história meio longa."
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    E eu disse, "Charlotte, isso me parece bem interessante."
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    Então ela escreveu seu primeiro poema,
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    um poema de amor diferente de qualquer um que eu tenha ouvido.
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    E o poema era assim,
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    "Anderson Cooper é um homem deslumbrante."
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    (Risos)
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    "Você o viu em 60 Minutos,
  • 10:56 - 10:58
    competindo com Michael Phelps na piscina --
  • 10:58 - 11:00
    só de sunga de praia --
  • 11:00 - 11:02
    nadando, decidido a ganhar do campeão de natação?
  • 11:02 - 11:05
    Depois da competição, sacudiu os cabelos platinados, molhados
  • 11:05 - 11:07
    e disse, "Você é um deus."
  • 11:07 - 11:09
    Não, Anderson, você é o deus."
  • 11:09 - 11:11
    (Risos)
  • 11:11 - 11:15
    (Aplausos)
  • 11:15 - 11:18
    Agora eu sei que a regra número 1 para ser interessante
  • 11:18 - 11:20
    é parecer inabalável,
  • 11:20 - 11:23
    nunca admitir que algo o amedronta
  • 11:23 - 11:25
    ou o impressiona ou o entusiasma.
  • 11:25 - 11:27
    Alguém uma vez me disse
  • 11:27 - 11:29
    que é como caminhar pela vida assim.
  • 11:29 - 11:31
    Você se protege
  • 11:31 - 11:34
    de todos os sofrimentos inesperados ou mágoas que possam surgir.
  • 11:34 - 11:36
    Mas eu tento caminhar pela vida assim.
  • 11:36 - 11:39
    E sim, isso significa ir pegando todas os sofrimentos e mágoas,
  • 11:39 - 11:42
    mas também significa que quando lindas, maravilhosas coisas
  • 11:42 - 11:44
    simplesmente caem do céu,
  • 11:44 - 11:46
    eu estou pronta para pegá-las.
  • 11:46 - 11:48
    Uso poesia falada para ajudar meus alunos
  • 11:48 - 11:50
    redescobrir o encantamento,
  • 11:50 - 11:53
    combater seus instintos de ser o interessante e inabalável
  • 11:53 - 11:56
    e, ao contrário, ativamente se envolver com o que está ao seu redor,
  • 11:56 - 11:59
    para que possam reinterpretar e criar algo disso.
  • 11:59 - 12:01
    Não penso que poesia falada
  • 12:01 - 12:03
    é a forma ideal de arte.
  • 12:03 - 12:06
    Estou sempre tentando encontrar o melhor meio de contar cada história.
  • 12:06 - 12:09
    Escrevo musicais, faço curtas-metragens, além dos meus poemas.
  • 12:09 - 12:11
    Mas eu ensino poesia falada
  • 12:11 - 12:13
    porque é acessível.
  • 12:13 - 12:15
    Não é todo mundo que sabe ler música
  • 12:15 - 12:17
    ou tem uma câmera,
  • 12:17 - 12:19
    mas todo mundo consegue se comunicar de algum jeito,
  • 12:19 - 12:21
    e todos têm histórias
  • 12:21 - 12:23
    com as quais podemos aprender.
  • 12:23 - 12:26
    Além disso, poesia falada permite conexões imediatas.
  • 12:26 - 12:28
    Não é incomum as pessoas sentirem que são sós
  • 12:28 - 12:30
    ou que ninguém as compreende,
  • 12:30 - 12:32
    mas professores de poesia falada
  • 12:32 - 12:35
    se vocês têm a habilidade de se expressarem
  • 12:35 - 12:37
    e a coragem de apresentarem essas histórias e opiniões,
  • 12:37 - 12:39
    vocês poderiam ser recompensados
  • 12:39 - 12:41
    com uma sala cheia de colegas,
  • 12:41 - 12:43
    ou de sua comunidade, que lhes ouvirão.
  • 12:43 - 12:45
    E talvez até uma garota gigante de capuz
  • 12:45 - 12:47
    se conectará com o que você partilhou.
  • 12:47 - 12:50
    E isso é uma descoberta maravilhosa,
  • 12:50 - 12:52
    especialmente quando se tem 14 anos.
  • 12:52 - 12:54
    E mais, agora com YouTube,
  • 12:54 - 12:56
    essa conexão não se limita mais a sala em que você está
  • 12:56 - 12:59
    Tenho tanta sorte que há esse arquivo das apresentações
  • 12:59 - 13:01
    que posso compartilhar com meus alunos.
  • 13:01 - 13:03
    Isso permite até mais oportunidades
  • 13:03 - 13:06
    para que eles encontrem um poeta ou poema
  • 13:06 - 13:08
    com os quais se identifiquem.
  • 13:08 - 13:10
    É tentador -- uma vez que você entende isso --
  • 13:10 - 13:12
    É tentador continuar escrevendo o mesmo poema,
  • 13:12 - 13:15
    ou continuar contando a mesma história, toda vez,
  • 13:15 - 13:17
    já que sabe que será aplaudido.
  • 13:17 - 13:20
    Não é suficiente apenas ensinar que você pode se expressar,
  • 13:20 - 13:22
    você tem que crescer e explorar
  • 13:22 - 13:24
    e se arriscar e desafiar a si mesmo.
  • 13:24 - 13:27
    E isso é etapa três
  • 13:27 - 13:29
    infusionando seu trabalho
  • 13:29 - 13:31
    com as coisas específicas que fazem você ser você,
  • 13:31 - 13:33
    mesmo quando essas coisas estão sempre mudando.
  • 13:33 - 13:36
    Porque etapa três nunca acaba.
  • 13:36 - 13:38
    Mas você não tem que começar na etapa três,
  • 13:38 - 13:41
    até que comece na etapa um antes: eu consigo.
  • 13:41 - 13:43
    Viajo muito quando estou ensinando,
  • 13:43 - 13:46
    e nem sempre consigo ver meus alunos chegarem na etapa três,
  • 13:46 - 13:48
    mas tive muita sorte com Charlotte,
  • 13:48 - 13:51
    pois vi sua jornada se desvelar desse jeito.
  • 13:51 - 13:53
    Eu a vi perceber
  • 13:53 - 13:56
    que, colocando as coisas que ela conhece como verdade no que ela está fazendo,
  • 13:56 - 13:59
    ela consegue criar poemas que só Charlotte consegue escrever --
  • 13:59 - 14:02
    sobre globos oculares, elevadores e a exploradora Dora.
  • 14:02 - 14:04
    E estou tentando contar histórias que só eu posso contar --
  • 14:04 - 14:06
    como essa história.
  • 14:06 - 14:09
    Gastei tempo pensando sobre o melhor jeito de contar essa história,
  • 14:09 - 14:11
    e pensei se o melhor jeito
  • 14:11 - 14:13
    seria através de PowerPoint ou curta metragem --
  • 14:13 - 14:15
    e onde exatamente seria o começo ou meio ou o fim?
  • 14:15 - 14:18
    E eu pensei se chegaria ao fim dessa palestra
  • 14:18 - 14:21
    e finalmente entenderia tudo ou não.
  • 14:21 - 14:23
    E eu sempre pensei que meu começo fora no Club de Poesia de Bowery,
  • 14:23 - 14:26
    mas é possível que tenha sido bem antes.
  • 14:26 - 14:28
    Me preparando para o TED,
  • 14:28 - 14:30
    descobri essa página num antigo diário.
  • 14:30 - 14:34
    Penso que 54 de dezembro era provavelmente dia 24.
  • 14:34 - 14:36
    É claro que quando era criança,
  • 14:36 - 14:38
    eu definitivamente andava pela vida assim.
  • 14:38 - 14:40
    Penso que nós todos andávamos.
  • 14:40 - 14:43
    Gostaria de ajudar os outros a redescobrir esse encanto --
  • 14:43 - 14:45
    de se comprometer com isso, de querer aprender,
  • 14:45 - 14:47
    querer compartilhar o que aprenderam,
  • 14:47 - 14:49
    o que eles compreenderam como verdade
  • 14:49 - 14:51
    e o que ainda estão tentando compreender.
  • 14:51 - 14:54
    Então gostaria de terminar, com esse poema
  • 14:54 - 14:57
    Quando bombardearam Hiroshima,
  • 14:57 - 15:00
    a explosão formou uma mini-supernova,
  • 15:00 - 15:03
    então cada ser vivo, humano ou planta
  • 15:03 - 15:05
    que teve contato direto
  • 15:05 - 15:07
    com os raios daquele sol
  • 15:07 - 15:09
    virou instantaneamente cinzas.
  • 15:09 - 15:11
    E o que restou da cidade também virou cinzas.
  • 15:11 - 15:13
    O duradouro estrago da radiação nuclear
  • 15:13 - 15:16
    fez com que uma cidade inteira e sua população
  • 15:16 - 15:19
    virassem pó.
  • 15:19 - 15:22
    Quando nasci, minha mãe diz que eu olhava ao redor do quarto de hospital
  • 15:22 - 15:26
    com a expressão que dizia, "Isso? já fiz isso antes."
  • 15:26 - 15:28
    Ela diz que tenho velhos olhos.
  • 15:28 - 15:31
    Quando me avó Genji morreu, eu tinha apenas 5 anos,
  • 15:31 - 15:33
    mas peguei minha mãe pela mão e disse a ela,
  • 15:33 - 15:36
    "Não se preocupe, ele voltará como um bebê."
  • 15:36 - 15:39
    E ainda, para alguém que aparentemente já havia feito isso antes,
  • 15:39 - 15:42
    eu ainda não compreendi nada.
  • 15:42 - 15:45
    Meus joelhos ainda vacilam toda vez que subo num palco.
  • 15:45 - 15:47
    Minha autoconfiança pode ser medida
  • 15:47 - 15:49
    em colheres de chá misturadas a minha poesia,
  • 15:49 - 15:52
    e isso ainda dá um gosto estranho em minha boca.
  • 15:52 - 15:55
    Mas em Hiroshima, pessoas foram exterminadas,
  • 15:55 - 15:58
    deixando apenas um relógio ou página de diário.
  • 15:58 - 16:01
    Então não importa se tenho inibições de encher meus bolsos,
  • 16:01 - 16:03
    continuo tentando,
  • 16:03 - 16:05
    esperando que um dia escreva um poema
  • 16:05 - 16:07
    que me dê orgulho ver exposto em um museu
  • 16:07 - 16:09
    como prova única de que existi.
  • 16:09 - 16:11
    Meus pais me deram o nome Sarah,
  • 16:11 - 16:13
    que é um nome biblíco.
  • 16:13 - 16:16
    Na história original, Deus disse a Sarah que ela poderia fazer algo impossível
  • 16:16 - 16:19
    e ela riu,
  • 16:19 - 16:21
    porque a primeira Sarah,
  • 16:21 - 16:23
    não sabia o que fazer com o impossível.
  • 16:23 - 16:26
    E eu? Bem, nem eu,
  • 16:26 - 16:28
    mas eu vejo o impossível todo dia.
  • 16:28 - 16:31
    Impossível é tentar se relacionar neste mundo,
  • 16:31 - 16:33
    tentar se apoiar nos outros quando as coisas estão explodindo ao seu redor,
  • 16:33 - 16:35
    sabendo que enquanto você fala,
  • 16:35 - 16:38
    eles não estão apenas esperando a vez de falar -- eles ouvem você.
  • 16:38 - 16:40
    Eles sentem exatamente o que você sente
  • 16:40 - 16:42
    ao mesmo tempo que você sente.
  • 16:42 - 16:44
    É para o que me esforço toda vez que abro a boca --
  • 16:44 - 16:46
    essa impossível conexão.
  • 16:46 - 16:49
    Tem esse pedaço de parede em Hiroshima
  • 16:49 - 16:52
    que foi completamente carbonizado pela radiação
  • 16:52 - 16:54
    Mas no primeiro degrau, uma pessoa lá sentada
  • 16:54 - 16:56
    bloqueou os raios para não atingir a pedra.
  • 16:56 - 16:58
    A única coisa que sobrou
  • 16:58 - 17:00
    é uma sombra permanente de luz positiva.
  • 17:00 - 17:02
    Depois da bomba atômica,
  • 17:02 - 17:04
    especialistas disseram que levaria 75 anos
  • 17:04 - 17:07
    para que o solo danificado pela radiação em Hiroshima
  • 17:07 - 17:09
    voltasse a produzir algo.
  • 17:09 - 17:12
    Mas, naquela primavera, novos brotos germinaram da terra.
  • 17:12 - 17:14
    Quando encontro vocês, nesse momento,
  • 17:14 - 17:16
    Não sou mais parte do seu futuro.
  • 17:16 - 17:18
    Começo rapidamente a ser parte do seu passado.
  • 17:18 - 17:21
    Mas nesse momento, faço parte do seu presente.
  • 17:21 - 17:23
    E vocês, do meu.
  • 17:23 - 17:25
    E isso é o maior presente de todos.
  • 17:25 - 17:27
    Então se vocês me disserem que posso fazer o impossível,
  • 17:27 - 17:29
    Provavelmente vou rir de vocês.
  • 17:29 - 17:31
    Não sei se posso mudar o mundo já,
  • 17:31 - 17:33
    porque eu não sei muita coisa sobre ele --
  • 17:33 - 17:35
    e não sei muito sobre reincarnação também,
  • 17:35 - 17:37
    mas se vocês me fizerem rir bastante,
  • 17:37 - 17:40
    às vezes, esqueço em que século estou.
  • 17:40 - 17:43
    Esta não é minha primeira vez aqui. Não é minha última vez.
  • 17:43 - 17:45
    Estas não são as últimas palavras que compartilharei.
  • 17:45 - 17:48
    Mas só por garantia, estou me esforçando ao máximo
  • 17:48 - 17:51
    acertar desta vez.
  • 17:51 - 17:53
    Obrigada.
  • 17:53 - 17:57
    (Aplausos)
  • 17:57 - 17:59
    Obrigada.
  • 17:59 - 18:01
    (Aplausos)
  • 18:01 - 18:03
    Obrigada.
  • 18:03 - 18:07
    (Aplausos)
Title:
Sarah Kay: Se eu tiver uma filha ...
Speaker:
Sarah Kay
Description:

"Se eu tiver uma filha, em vez de Mãe, ela vai me chamar de Ponto B..." assim começou a poetisa de palavras faladas, Sarah Kay, em uma palestra que levou a duas ovações de pé no TED2011. Ela conta a história de sua metamorfose -- de uma adolescente imersa em versos no Clube Browery de Poesia em Nova York a uma professora unindo crianças ao poder da auto-expressão através do Projeto V.O.I.C.E. -- e faz duas emocionantes apresentações de "B" e "Hiroshima".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:08
Viviane Ferraz Matos added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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