Vocês são agentes de mudança? | Hugo Menino Aguiar | TEDxYouth@Leiria

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Esta é a nossa vida. Ninguém é obrigado a nada mas basta um de nós usar um bocadinho mais do seu tempo a ajudar para o mundo ficar um bocadinho melhor. Podemos escolher quem queremos ser, como queremos ser, quando queremos ser, aqui e agora.

Hugo Menino Aguiar é presidente da Associação Fazer Avançar, trabalha na sede europeia da Google em estratégias de suporte, automação e é especialista de comunidades. É de riso fácil.

Apresentadora: Acredita nos jovens como
chave na criação de soluções sustentáveis

para problemas sociais.

Interessa-se por empreendedorismo social

e por criar soluções simples
para problemas complexos.

Hugo Menino Aguiar gostaria
de inverter o conformismo,

o aceitar as coisas como são.

(Aplausos)

Menino Hugo Aguiar: Olá!

Obrigado TEDx pelo convite.
É um prazer estar aqui.

Obrigado a todos vocês.

Afinal são vocês
que dão sentido a este evento.

Quando eu tinha 18 anos
fiz um "inter-rail"

e conheci um casal belga.

Numa das viagens, o casal belga entra,

eu ia a dormir.

Não sei se vocês já repararam,
mas existe um tipo de pessoa

que, quando viaja de comboio,
de carro ou de avião,

partilha a comida que tem
com as pessoas que estão ao lado,

independentemente de as conhecerem ou não.

Eu sou desse tipo.

Então usei esse truque, mais uma vez,

saquei da minha caixinha de chocolates
e partilhei com o casal belga.

Este truque tem uma vantagem

que é o facto de percebermos
se a pessoa quer comunicar

ou se quer que me cale
e vá a dormir o resto da viagem.

Eles queriam falar e então falaram
e falaram muito.

Explicaram-me que estavam a dar a volta
ao mundo, que se tinham reformado.

Falaram dos filhos, dos trabalhos.

Estavam cheios de energia
e cheios de emoção a falar da viagem.

Lembro-me que o meu primeiro
comentário foi: "Fantástico!

"Estarem a viajar, os dois, e ver a vossa
emoção a contar a vossa história."

Um deles fez um compasso de espera,

como se quisesse
que eu percebesse aquela mensagem

melhor do que todas as outras e disse-me:

"Estamos a compensar o facto de termos
trabalhado em trabalhos que odiamos,

"para comprar coisas que não precisávamos

e para impressionar pessoas
de quem não gostávamos."

Com esta mensagem, talvez a partir dali
eu tenha ficado mais sensibilizado.

Mas a verdade é que ouvi esta frase,

ou coisas muito parecidas
ao longo da vida, até hoje.

Vi pessoas muito parecidas,

com vivências muito parecidas,
a sentir coisas parecidas.

Eu acho que há tanta outra
coisa para fazer no mundo.

Tenho também uma boa capacidade

para me ridicularizar em público,

como vocês estão a ver,

(Risos)

Faço voluntariado desde os 15 anos

e tenho estado envolvido em alguns
projetos de intervenção social.

Não percebo porque é que nós,
que temos tanto potencial,

tanta energia e tanta capacidade,

não usamos um bocadinho mais do nosso tempo

para ajudar, para inspirar,
para resolver problemas sociais.

E isso preocupa-me.

Eu não sou contra fazer dinheiro
ou as empresas gerarem lucro.

É importante as empresas gerarem lucro.
É importante nós ganharmos dinheiro.

O que me preocupa é que passemos
toda a nossa vida focados nisto.

Nos últimos 12 anos fiz voluntariado e
estive envolvido em projetos sociais.

Faço parte de uma associação,
a Associação Fazer Avançar,

— que nasceu aqui em Leiria —

e é uma associação que acredita nos jovens
para fazer a diferença.

Acredita que eles podem ser
desencadeadores de mudança,

agentes de transformação social,
"changemakers", chamem-lhes o que quiserem.

Na Associação Fazer Avançar,
fazemos formação

para desenvolvermos competências

e estarmos preparados para
resolver problemas.

Identificamos problemas
sociais à nossa volta,

para ficarmos mais sensibilizados
para outras realidades,

conhecer outros mundos,
e tentamos criar soluções.

É nesta tentativa, ou no criar da solução,

que crescemos como agentes
de transformação social.

Eu, nesta experiência, tive a sorte
de conhecer muitas pessoas

que fazem a diferença
de formas distintas.

Eu acho que essas formas distintas
cabem em duas dimensões principais.

Estas duas dimensões principais
ajudam-nos a perceber

como é que podemos usar um
bocadinho mais de tempo

para fazer a diferença.

A primeira dimensão é
o empreendedorismo social.

Empreendedorismo social é um processo.

É o processo de identificar um problema,
aprender sobre o problema,

conhecer esse problema, e tentar criar
uma solução, criar a solução.

Uma solução sustentável, escalável,
e que seja eficiente,

que resolva o problema.

A outra dimensão,
são as pequenas ações do dia-a-dia.

Estas duas dimensões são importantes

para percebermos e termos alguma ideia
sobre como fazer a diferença.

Do empreendedorismo social, deste processo,

acho que nascem dois tipos de resultados.

O primeiro é o "negócií social",
que é uma iniciativa hibrida.

Vende um produto ou um serviço,
paga as suas contas,

tem uma equipa profissional a gerir.

E tem do outro lado uma dimensão social

que é para isso que o projeto existe,

para resolver o problema social,
ter impacto social.

A parte do negócio apenas traz
sustentabilidade ao projeto.

Aqui em Leiria, temos um exemplo, o SPEAK.

O SPEAK resolve o problema da
exclusão sociocultural.

Tem uma dimensão social que é um
intercâmbio de línguas e de culturas,

onde pessoas
de diferentes culturas e países

aprendem e ensinam línguas,
gratuitamente, uns com os outros.

Esta experiência ainda tem eventos,
para além das aulas,

e tem um programa de capacitação.

E o SPEAK SOCIAL, como um todo, integra,
valoriza a diversidade cultural.

Naquela experiência,
as pessoas conhecem o "outro",

quebram preconceitos, quebram estigmas,

e assim, resolvemos o problema social.

Do outro lado, tem o SPEAK PRO,

que é a parte do "business",
é uma escola de línguas de baixo custo,

que é paga, e onde alguns dos
tutores do SPEAK SOCIAL,

aqueles que passam
pelo programa de capacitação

e estão mais preparados para o fazer,

podem dar as aulas e serem
remunerados por isso.

O outro resultado possível
do empreendedorismo social

são os projetos sociais.

Projetos sociais que, pela sua natureza,

podem não precisar da venda de um serviço
ou de um produto para serem sustentáveis.

Ou porque não têm custos
ou porque os custos que têm

podem ser tratados
via parcerias estratégicas.

Como exemplo, aqui em Portugal também,
o programa Aconchego,

reconhecido e premiado
já a nível internacional,

resolve o problema da solidão dos idosos

e o alojamento de jovens estudantes
com limitações financeiras.

Funciona de forma simples.

O idoso recebe o jovem gratuitamente
e o jovem faz companhia ao idoso.

Portanto isto promove
o diálogo intergeracional

traz mais felicidade ao idoso,
traz mais felicidade ao jovem.

A segunda dimensão são
as pequenas ações do-dia-a-dia.

E aqui entram todas aquelas coisas
que podemos fazer todos os dias.

Como fazer horas de voluntariado numa IPSS,

como escrever uma carta a alguém,

ou enviar uma mensagem
ou ir jantar com alguém

que tenha feito a diferença na nossa vida

e que nem sequer saiba porquê.

Explicar-lhe o que fez,
porque foi importante.

Ou então sorrir ou fazer sorrir.
Todas essas coisas.

E estas são as duas grandes dimensões.

Eu acho que, se nós quisermos
fazer a diferença.

independentemente de ser numa ou noutra,
ou nas duas,

acho que há cinco coisas
que é fundamental saber.

A primeira é que é preciso acreditar.

Se tu não acreditas em ti,
eu não vou acreditar em ti.

É preciso acreditar que consegues

e é preciso definires
aquilo em que acreditas

e a causa em que acreditas.

Principalmente se trabalhares numa equipa,

— porque uma equipa trabalha em conjunto,

não por aquilo que faz
mas por aquilo em que acredita.

Por exemplo, eu acredito que
os jovens podem fazer a diferença.

E a Associação Fazer Avançar acredita

que os jovens podem fazer a diferença.

Eu estou na Associação Fazer Avançar
porque acreditamos na mesma coisa.

Aquilo que a Associação Fazer Avançar faz,
é muito importante,

mas o que cria lealdade, confiança

e inspira a ação, entre todos os membros,

é o facto de acreditarmos todos no mesmo.

A segunda coisa que é fundamental saber
é que falhar é uma escola.

Não se muda o mundo a criticar.

É preciso agir e fazer ações.

E quem faz, erra muitas vezes.

É preciso libertarmo-nos
de uma coisa chamada "ego"

e oferecermo-nos ao erro,

aprendermos com o erro.

Ter capacidade de partilhar
os nossos erros.

É também muito importante que nunca nos
deixemos sentir um falhanço,

principalmente
se trabalharmos numa equipa,

é igualmente importante
deixar a nossa equipa falhar

mas nunca, nunca deixar que um membro
da equipa se sinta um falhanço.

A terceira é que
sustentabilidade não é um cliché.

Hoje, para um projeto social
ou negócio social,

o problema da sustentabilidade
não é só desse projeto

é do terceiro setor como um todo.

E portanto hoje, ou fazes a diferença
de forma sustentável ou não fazes.

Esquece financiamentos ou subsídios.

A quarta coisa que
é fundamental saber é que

quem levanta a taça sozinho,
normalmente perde o próximo jogo.

E é importante lembrarmo-nos
que há sempre alguém que nos ajuda

ou faz a diferença para uma vitória,

para conseguirmos alcançar
os nossos objetivos.

A quinta, é que os heróis não estão na TV.

Eu acho que todos nós tivemos
momentos da nossa vida

em que fomos heróis.

Fizemos do heroísmo
algo muito maior do que nós.

É muito arrogante deixarmo-nos
sentir que somos heróis.

Eu acho que as pequenas vitórias
e as grandes vitórias

devem ser comemoradas

e devemos comemorar
também as vitórias dos outros

que estão ao nosso lado

e ajudá-los a atingir as suas vitórias.

Todos nós podemos ser heróis
em diferentes momentos da vida.

Uma última mensagem.

Penso que temos o poder de escolher

ser aquilo que queremos ser,

como queremos ser e quando queremos ser.

Aqui e agora.

Basta um de nós usar um bocado
de mais tempo nesta vida

para ajudar, para inspirar,
para resolver problemas sociais,

e acho que o mundo
vai ficar um bocadinho melhor.

Eu acho que esta é uma ideia
que vale a pena ser partilhada.

Obrigado.

(Aplausos)