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Lições dos presos no corredor da morte | David R. Dow | TEDxAustin

  • 0:09 - 0:11
    Bom dia a todos.
  • 0:13 - 0:14
    Há duas semanas,
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    eu estava sentado à mesa da cozinha
    com a minha mulher Katya,
  • 0:19 - 0:23
    a falar sobre o que é que eu
    havia de dizer hoje.
  • 0:24 - 0:27
    Temos um filho de 11 anos,
    chamado Lincoln.
  • 0:27 - 0:31
    Ele também estava à mesa,
    a fazer os trabalhos de matemática.
  • 0:32 - 0:35
    Durante uma pausa
    na minha conversa com Katya,
  • 0:35 - 0:37
    olhei para o Lincoln
  • 0:37 - 0:40
    e, de repente, fui fulminado
  • 0:42 - 0:44
    pela recordação de um cliente meu.
  • 0:45 - 0:48
    O meu cliente era um tipo chamado Will.
  • 0:48 - 0:51
    Era do Texas do Norte.
  • 0:52 - 0:54
    Nunca conhecera muito bem o pai dele,
  • 0:54 - 0:59
    porque o pai abandonara a mãe
    quando ela estava grávida dele.
  • 1:00 - 1:04
    Por isso, ficou destinado a ser criado
    por uma mãe sozinha,
  • 1:04 - 1:06
    o que podia ter corrido bem,
  • 1:06 - 1:11
    não fosse a mãe dele
    ser uma esquizofrénica paranoica.
  • 1:11 - 1:14
    Quando Will tinha cinco anos,
  • 1:14 - 1:17
    ela tentou matá-lo
    com uma faca de cozinha.
  • 1:18 - 1:22
    Foi levada pelas autoridades
    e metida num hospital psiquiátrico.
  • 1:23 - 1:26
    Durante os sete anos seguintes
    Will viveu com o irmão mais velho,
  • 1:26 - 1:29
    até que este se suicidou
    com um tiro no coração.
  • 1:30 - 1:33
    Depois disso, Will andou
    de um lado para outro,
  • 1:33 - 1:35
    de parente em parente,
  • 1:35 - 1:39
    até que, quando tinha nove anos,
    vivia praticamente por sua conta.
  • 1:40 - 1:43
    Naquela manhã, em que eu estava
    com a Katya e o Lincoln,
  • 1:43 - 1:47
    olhei para o meu filho
    e apercebi-me que,
  • 1:47 - 1:51
    quando o meu cliente Will
    tinha a mesma idade,
  • 1:51 - 1:53
    já vivia, praticamente sozinho,
    há dois anos.
  • 1:55 - 1:57
    Will acabou por se juntar a um gangue
  • 1:57 - 2:01
    e praticou uma série
    de crimes muito graves,
  • 2:02 - 2:04
    incluindo o mais terrível de todos,
  • 2:05 - 2:07
    um homicídio horrível, trágico.
  • 2:09 - 2:14
    Will acabou por ser executado
    como punição por esse crime.
  • 2:16 - 2:22
    Mas hoje não quero falar
    sobre a moral da pena de morte.
  • 2:23 - 2:26
    Claro que penso que o meu cliente
    não devia ter sido executado,
  • 2:26 - 2:29
    mas do que eu quero falar hoje
  • 2:29 - 2:33
    é da pena de morte,
    numa forma que nunca fiz antes.
  • 2:35 - 2:38
    Queria falar sobre a pena de morte
  • 2:38 - 2:42
    numa forma que é
    totalmente incontroversa.
  • 2:44 - 2:45
    Penso que é possível,
  • 2:45 - 2:50
    porque há um ponto
    no debate sobre a pena de morte
  • 2:51 - 2:53
    — talvez o ponto mais importante —
  • 2:53 - 2:56
    com que toda a gente concorda,
  • 2:56 - 3:00
    em que os defensores mais ardentes
    da pena de morte
  • 3:00 - 3:06
    e os abolicionistas mais veementes
    se encontram na mesma página.
  • 3:07 - 3:09
    É esse ponto que eu quero explorar.
  • 3:10 - 3:13
    Mas, antes de o fazer,
    quero gastar uns minutos
  • 3:13 - 3:17
    a contar-vos como se processa
    uma condenação à morte
  • 3:17 - 3:19
    e depois quero contar-vos duas lições
  • 3:19 - 3:24
    que aprendi nos últimos 20 anos,
    enquanto advogado da pena de morte,
  • 3:24 - 3:29
    ao observar mais de 100 casos
    que se processaram desse modo.
  • 3:31 - 3:36
    Podemos pensar no processo de pena de morte
    como uma história com quatro capítulos.
  • 3:36 - 3:41
    O primeiro capítulo de cada processo
    é exatamente o mesmo, e é trágico.
  • 3:42 - 3:46
    Começa com o homicídio
    de um ser humano inocente,
  • 3:47 - 3:49
    e é seguido por um julgamento
  • 3:49 - 3:52
    em que o assassino é condenado
    e enviado para o corredor da morte.
  • 3:52 - 3:56
    Essa condenação à morte vem a ser
    confirmada pelo tribunal de recurso estatal.
  • 3:57 - 4:00
    O segundo capítulo consiste
    num procedimento legal complicado
  • 4:00 - 4:02
    conhecido por apelo de habeas corpus.
  • 4:03 - 4:06
    O terceiro capítulo é um procedimento
    legal ainda mais complicado
  • 4:06 - 4:09
    conhecido por procedimento
    de habeas corpus federal.
  • 4:09 - 4:14
    E no quarto capítulo podem acontecer
    uma série de coisas.
  • 4:14 - 4:16
    Os advogados podem apresentar
    uma petição de clemência,
  • 4:16 - 4:19
    podem iniciar uma litigação
    ainda mais complexa,
  • 4:19 - 4:21
    ou podem não fazer nada de nada.
  • 4:22 - 4:26
    Mas esse quarto capítulo
    acaba sempre com uma execução.
  • 4:27 - 4:31
    Quando eu comecei a representar presos
    no corredor da morte, há mais de 20 anos,
  • 4:31 - 4:35
    as pessoas no corredor da morte
    não tinham direito a um advogado
  • 4:35 - 4:38
    nem no segundo nem no quarto
    capítulos desta história.
  • 4:38 - 4:40
    Estavam entregues a si próprios.
  • 4:40 - 4:42
    Foi só nos finais dos anos 80,
  • 4:42 - 4:46
    que adquiriram o direito a um advogado
    durante o terceiro capítulo da história.
  • 4:47 - 4:53
    Portanto, os presos no corredor da morte
    tinham que confiar em advogados voluntários
  • 4:53 - 4:55
    para tratar dos procedimentos legais.
  • 4:55 - 4:58
    O problema é que havia mais presos
    no corredor da morte
  • 4:58 - 5:00
    do que os advogados que havia,
  • 5:00 - 5:03
    que tinham interesse e conhecimentos
    para trabalhar nesses processos.
  • 5:03 - 5:05
    Inevitavelmente,
  • 5:05 - 5:09
    os advogados aglomeravam-se nos processos
    que já estavam no quarto capítulo,
  • 5:09 - 5:11
    o que, claro, fazia sentido.
  • 5:11 - 5:12
    São esses os casos mais urgentes,
  • 5:12 - 5:15
    são esses os presos que estão
    mais perto de serem executados.
  • 5:15 - 5:17
    Alguns desses advogados tinham êxito,
  • 5:17 - 5:20
    conseguiam obter novos julgamentos
    para os seus clientes.
  • 5:20 - 5:23
    Outros conseguiam prolongar
    a vida dos seus clientes,
  • 5:23 - 5:26
    por vezes, durante anos,
    outras vezes, durante meses.
  • 5:26 - 5:29
    Mas uma coisa que nunca acontecia
  • 5:29 - 5:33
    era haver uma verdadeira
    redução sustentada
  • 5:33 - 5:36
    no número de execuções anuais no Texas.
  • 5:36 - 5:37
    Como podem ver por este gráfico,
  • 5:37 - 5:41
    desde que o aparelho de execução
    do Texas se tornou eficaz
  • 5:41 - 5:43
    desde os meados até ao final dos anos 90,
  • 5:43 - 5:45
    só houve alguns anos
  • 5:45 - 5:48
    em que o número de execuções anuais
    desceu abaixo das 20.
  • 5:49 - 5:51
    Num ano normal, o Texas
  • 5:51 - 5:54
    tinha uma média de cerca
    de duas pessoas por mês.
  • 5:55 - 6:00
    Nalguns anos, no Texas executámos
    perto de 40 pessoas, numa base anual.
  • 6:00 - 6:05
    Este número nunca baixou significativamente
    durante os últimos 15 anos.
  • 6:05 - 6:09
    Contudo, ao mesmo tempo
    que continuamos a executar
  • 6:09 - 6:11
    o mesmo número de pessoas
    todos os anos,
  • 6:11 - 6:15
    o número de pessoas que estão a ser
    condenadas à morte, numa base anual,
  • 6:15 - 6:17
    tem-se reduzido muito acentuadamente.
  • 6:17 - 6:19
    Portanto, temos este paradoxo.
  • 6:19 - 6:23
    Ou seja, o número de execuções anuais
    tem-se mantido alto,
  • 6:23 - 6:28
    mas o número de condenações à morte
    tem descido.
  • 6:28 - 6:29
    Porque é que isso acontece?
  • 6:29 - 6:32
    Não pode ser atribuído
    a uma descida da taxa de homicídios,
  • 6:32 - 6:36
    porque a taxa de homicídios
    não tem baixado tão acentuadamente
  • 6:36 - 6:39
    como desceu a linha vermelha
    naquele gráfico.
  • 6:39 - 6:41
    O que aconteceu
  • 6:41 - 6:45
    é que os júris começaram a condenar
    cada vez mais as pessoas
  • 6:45 - 6:49
    a prisão perpétua, sem possibilidade
    de liberdade condicional,
  • 6:49 - 6:52
    em vez de as enviarem
    para a câmara de execução.
  • 6:53 - 6:56
    Porque é que isto aconteceu?
  • 6:56 - 7:00
    Não aconteceu por falta
    do apoio popular à pena de morte.
  • 7:00 - 7:03
    Os opositores à pena de morte
    sentem-se muito satisfeitos
  • 7:03 - 7:08
    porque o apoio à pena de morte no Texas
    é o mais baixo de sempre.
  • 7:08 - 7:10
    Sabem o que isso significa no Texas?
  • 7:10 - 7:12
    Significa que anda pelos 60%.
  • 7:12 - 7:15
    Isto é muito bom, em comparação
    com meados dos anos 80
  • 7:15 - 7:17
    em que era acima dos 80%.
  • 7:18 - 7:21
    Mas não podemos explicar
    a diminuição das condenações à morte
  • 7:21 - 7:24
    e a simpatia pela vida, sem possibilidade
    de liberdade condicional,
  • 7:24 - 7:26
    pela diminuição do apoio à pena de morte,
  • 7:26 - 7:29
    porque as pessoas continuam
    a apoiar a pena de morte.
  • 7:29 - 7:31
    O que aconteceu então
    que causou este fenómeno?
  • 7:32 - 7:34
    O que aconteceu foi que os advogados
  • 7:34 - 7:37
    que representam os presos
    do corredor da morte
  • 7:37 - 7:40
    têm virado o seu interesse
    cada vez mais para os primeiros capítulos
  • 7:40 - 7:42
    da história da condenação à morte.
  • 7:42 - 7:45
    Há 25 anos, concentravam-se
    no capítulo quatro.
  • 7:45 - 7:48
    E passaram do capítulo quatro, há 25 anos
  • 7:48 - 7:51
    para o capítulo três,
    no final dos anos 80.
  • 7:51 - 7:53
    Passaram do capítulo três,
    no final dos anos 80,
  • 7:53 - 7:56
    para o capítulo dois,
    em meados dos anos 90.
  • 7:56 - 7:58
    Entre meados e final dos anos 90,
  • 7:58 - 8:01
    começaram a concentrar-se
    no capítulo um da história.
  • 8:01 - 8:04
    Podem pensar que esta diminuição
    de condenações à morte
  • 8:04 - 8:06
    e o aumento no número
    de condenações à vida
  • 8:06 - 8:08
    é uma coisa boa ou uma coisa má.
  • 8:08 - 8:10
    Não quero falar disso hoje.
  • 8:10 - 8:13
    Tudo o que vos quero dizer
    é que a razão para tudo isto acontecer
  • 8:13 - 8:16
    é porque os advogados
    da pena de morte perceberam
  • 8:16 - 8:19
    que, quanto mais cedo
    interviessem num processo,
  • 8:19 - 8:22
    maior era a probabilidade
    de salvarem a vida do seu cliente.
  • 8:23 - 8:26
    Esta foi a primeira coisa que aprendi.
  • 8:27 - 8:30
    Agora, a segunda coisa que aprendi.
  • 8:30 - 8:34
    O meu cliente Will não foi exceção à regra.
  • 8:35 - 8:37
    Confirmou a regra.
  • 8:38 - 8:39
    Por vezes, eu digo:
  • 8:39 - 8:42
    "Se me disserem o nome
    dum preso no corredor da morte
  • 8:42 - 8:45
    " — não interessa em que estado,
    não interessa se eu já o conheço —
  • 8:45 - 8:47
    "eu posso escrever a biografia dele".
  • 8:47 - 8:50
    Oito em dez vezes
  • 8:50 - 8:54
    os pormenores dessa biografia
    serão mais ou menos rigorosos.
  • 8:54 - 8:58
    A razão para isso é que 80%
    das pessoas no corredor da morte
  • 8:58 - 9:03
    são pessoas que vêm do mesmo tipo
    de famílias disfuncionais como a de Will.
  • 9:03 - 9:05
    80% das pessoas no corredor da morte
  • 9:05 - 9:08
    são pessoas que passaram
    pelo sistema de justiça juvenil.
  • 9:09 - 9:12
    Foi a segunda lição que aprendi.
  • 9:13 - 9:17
    Agora estamos mesmo pertinho daquele ponto
  • 9:17 - 9:19
    em que toda a gente vai estar de acordo.
  • 9:20 - 9:22
    As pessoas nesta sala podem discordar
  • 9:22 - 9:24
    se Will devia ter sido executado,
  • 9:24 - 9:26
    mas acho que toda a gente concorda
  • 9:26 - 9:30
    que a melhor versão possível desta história
  • 9:30 - 9:34
    seria uma história em que
    não houvesse nenhum homicídio.
  • 9:36 - 9:38
    Como é que fazemos isso?
  • 9:38 - 9:42
    Quando o meu filho Lincoln estava
    a resolver o problema de matemática,
  • 9:42 - 9:44
    há duas semanas
  • 9:44 - 9:46
    — era um problema
    complicado, retorcido —
  • 9:46 - 9:49
    ele estava a aprender como,
    quando temos um problema complicado,
  • 9:49 - 9:53
    por vezes a solução é dividi-lo
    em problemas mais pequenos.
  • 9:53 - 9:56
    É o que fazemos
    com a maior parte dos problemas
  • 9:56 - 9:58
    — em matemática, em física,
    em política social —
  • 9:58 - 10:01
    dividimo-lo em problemas mais pequenos,
    mais fáceis de resolver.
  • 10:01 - 10:05
    Mas, de vez em quando,
    como disse Dwight Eisenhower,
  • 10:05 - 10:09
    a forma como resolvemos um problema
    é torná-lo maior.
  • 10:10 - 10:13
    A forma como resolvemos este problema
  • 10:13 - 10:16
    é tornar maior a questão da pena de morte.
  • 10:17 - 10:19
    Temos que dizer, está bem,
  • 10:19 - 10:24
    temos estes quatro capítulos
    da história duma condenação à morte,
  • 10:24 - 10:28
    mas o que acontece
    antes de essa história começar?
  • 10:29 - 10:32
    Como é que podemos intervir
    na vida de um assassino
  • 10:33 - 10:36
    antes de ele ser um assassino?
  • 10:36 - 10:42
    Que opções é que temos para empurrar
    essa pessoa para fora do caminho
  • 10:42 - 10:46
    que o vai levar a um resultado
    que toda a gente
  • 10:46 - 10:49
    — apoiantes da pena de morte
    e opositores à pena de morte —
  • 10:49 - 10:52
    pensa que é um mau resultado:
  • 10:52 - 10:54
    o assassínio dum ser humano inocente?
  • 10:57 - 11:02
    Por vezes, as pessoas dizem
    que "isso não é ciência de foguetões".
  • 11:03 - 11:07
    Com isso, querem dizer que a ciência
    de foguetões é muito complicada
  • 11:07 - 11:10
    e que o problema de que estamos
    a falar agora é muito simples.
  • 11:11 - 11:13
    Bem, o que é a ciência de foguetões?
  • 11:13 - 11:18
    É a expressão matemática para
    o impulso criado por um foguetão.
  • 11:20 - 11:24
    Hoje estamos a falar
    duma coisa igualmente complicada.
  • 11:25 - 11:29
    Do que hoje estamos a falar
    também é "ciência de foguetões".
  • 11:30 - 11:34
    O meu cliente Will e 80%
    das pessoas no corredor da morte
  • 11:35 - 11:38
    tiveram cinco capítulos na sua vida
  • 11:38 - 11:43
    que antecederam os quatro capítulos
    da história da condenação à morte.
  • 11:43 - 11:47
    Penso nesses cinco capítulos,
    como pontos de intervenção,
  • 11:47 - 11:49
    como locais na vida deles,
  • 11:49 - 11:53
    em que a nossa sociedade
    não pôde intervir na vida deles
  • 11:53 - 11:56
    e afastá-los do caminho
    em que se encontravam
  • 11:56 - 11:59
    o que criou uma consequência,
    que todos nós
  • 11:59 - 12:01
    — apoiantes da pena de morte,
    opositores da pena de morte —
  • 12:01 - 12:04
    dizemos que foi um mau resultado.
  • 12:04 - 12:07
    Durante cada um desses cinco capítulos:
  • 12:07 - 12:09
    quando a mãe dele ficou grávida;
  • 12:09 - 12:11
    nos seus primeiros anos da infância;
  • 12:11 - 12:13
    quando andou no pré-escolar;
  • 12:13 - 12:15
    quando andou na primária e na secundária;
  • 12:15 - 12:17
    e quando esteve
    no sistema de justiça juvenil.
  • 12:17 - 12:19
    Durante esses cinco capítulos,
  • 12:19 - 12:23
    houve uma enorme série de coisas
    que a sociedade podia ter feito.
  • 12:23 - 12:24
    Se nós imaginássemos
  • 12:24 - 12:27
    que há cinco módulos
    diferentes de intervenção,
  • 12:27 - 12:30
    a forma como a sociedade podia intervir
    em cada um destes cinco capítulos,
  • 12:30 - 12:33
    e pudéssemos misturá-los e combiná-los
    da maneira que quiséssemos,
  • 12:33 - 12:37
    há 3000 — mais de 3000 —
    estratégias possíveis
  • 12:37 - 12:39
    que podíamos adotar,
  • 12:39 - 12:43
    a fim de afastar miúdos como o Will
    do caminho em que se encontram.
  • 12:44 - 12:47
    Não estou aqui hoje
    com a solução.
  • 12:48 - 12:52
    Mas o facto de ainda termos
    muito a aprender,
  • 12:53 - 12:57
    não significa que não saibamos já muito.
  • 12:57 - 13:00
    Sabemos, pela experiência
    de outros estados,
  • 13:00 - 13:04
    que há uma ampla variedade
    de modos de intervenção
  • 13:04 - 13:06
    que podiam ser usados no Texas
  • 13:06 - 13:08
    e em todos os outros estados
    que ainda não os usam,
  • 13:08 - 13:13
    para impedir uma consequência
    que todos concordamos ser má.
  • 13:12 - 13:14
    Vou referir só alguns.
  • 13:17 - 13:22
    Não vou falar aqui hoje
    em reformar o sistema legal.
  • 13:23 - 13:24
    Provavelmente, isso é um tópico
  • 13:24 - 13:28
    que é melhor reservar para uma sala
    cheia de advogados e juízes.
  • 13:28 - 13:32
    Em vez disso, vou falar
    de alguns modos de intervenção
  • 13:32 - 13:35
    que todos podemos ajudar a concretizar,
  • 13:35 - 13:38
    porque há modos de intervenção
    que serão implementados
  • 13:38 - 13:41
    quando os legisladores e os políticos,
    quando os contribuintes e os cidadãos
  • 13:41 - 13:44
    concordem que é o que devemos fazer
  • 13:44 - 13:47
    e é como devemos gastar o nosso dinheiro.
  • 13:46 - 13:50
    Podíamos proporcionar
    cuidados à primeira infância
  • 13:50 - 13:54
    a crianças economicamente débeis
    e com outros problemas,
  • 13:55 - 13:57
    e podíamos fazê-lo gratuitamente.
  • 13:57 - 14:01
    Podíamos afastar crianças como o Will
    do caminho em que se encontram.
  • 14:01 - 14:05
    Há outros estados que fazem isso,
    mas nós não fazemos.
  • 14:05 - 14:08
    Podíamos proporcionar escolas especiais,
  • 14:08 - 14:10
    a nível do ensino básico
    e do ensino secundário,
  • 14:10 - 14:13
    e mesmo no pré-escolar,
  • 14:13 - 14:16
    viradas para crianças economicamente
    débeis e com outros problemas,
  • 14:16 - 14:20
    em especial, crianças que já passaram
    pelo sistema de justiça juvenil.
  • 14:20 - 14:22
    Há alguns estados que fazem isso.
  • 14:22 - 14:24
    O Texas não faz.
  • 14:26 - 14:30
    Há uma outra coisa que podemos fazer
    — aliás, há muitas outras coisas —
  • 14:30 - 14:32
    mas há uma coisa que vou referir,
  • 14:32 - 14:35
    e vai ser a única coisa polémica
    que vou dizer hoje.
  • 14:36 - 14:39
    Podíamos intervir
    muito mais agressivamente
  • 14:39 - 14:42
    nas casas perigosamente disfuncionais,
  • 14:42 - 14:45
    e retirar-lhes as crianças
  • 14:45 - 14:48
    antes de as mães agarrarem em facas
    e ameaçarem matá-las.
  • 14:50 - 14:53
    Se viermos a fazer isso,
    precisamos de um sítio para as pôr.
  • 14:54 - 14:56
    Mesmo que façamos todas estas coisas,
  • 14:56 - 14:58
    haverá crianças que cairão pelas fendas
  • 14:58 - 14:59
    e irão acabar no último capítulo
  • 14:59 - 15:01
    antes de começar a história do crime,
  • 15:01 - 15:04
    vão acabar no sistema de justiça juvenil.
  • 15:04 - 15:07
    Mas, mesmo que isso aconteça,
    ainda não é tarde demais.
  • 15:08 - 15:11
    Ainda há tempo para os afastar,
  • 15:11 - 15:14
    se pensarmos em afastá-los
    em vez de os punirmos.
  • 15:15 - 15:16
    Há dois professores no nordeste
  • 15:16 - 15:18
    — um em Yale e outro em Maryland —
  • 15:18 - 15:22
    que instalaram uma escola
    ligada a uma prisão de jovens.
  • 15:23 - 15:25
    Os miúdos estão na prisão
    mas vão à escola
  • 15:25 - 15:28
    das oito da manhã
    até às quatro da tarde.
  • 15:28 - 15:30
    Do ponto de vista logístico, é difícil.
  • 15:30 - 15:33
    Tiveram que contratar professores
    dispostos a ensinar numa prisão,
  • 15:33 - 15:36
    tiveram que separar as pessoas
    que trabalham na escola
  • 15:36 - 15:38
    e as autoridades da prisão,
  • 15:38 - 15:40
    e, o mais assustador de tudo,
  • 15:40 - 15:42
    precisaram de inventar um novo programa
  • 15:42 - 15:46
    porque as pessoas não entram e saem
    da prisão numa base semestral.
  • 15:46 - 15:47
    (Risos)
  • 15:47 - 15:50
    Mas fizeram essas coisas todas.
  • 15:50 - 15:53
    O que é que todas estas coisas
    têm em comum?
  • 15:53 - 15:58
    O que todas estas coisas têm em comum
    é que custam dinheiro.
  • 16:00 - 16:02
    Algumas pessoas nesta sala
    podem ter idade suficiente
  • 16:02 - 16:06
    para se lembrarem do tipo
    dum antigo anúncio de óleo para carros.
  • 16:06 - 16:12
    Dizia: "Podem pagar-me agora,
    ou podem pagar-me mais tarde".
  • 16:14 - 16:18
    O que estamos a fazer,
    no sistema da pena de morte,
  • 16:18 - 16:22
    é que estamos a pagar mais tarde.
  • 16:22 - 16:26
    Mas, por cada 15 000 dólares
  • 16:26 - 16:28
    que gastarmos, a intervir na vida
  • 16:28 - 16:32
    de crianças economicamente débeis
    ou com outros problemas,
  • 16:32 - 16:35
    nesses capítulos anteriores,
  • 16:34 - 16:37
    poupamos 80 000 dólares em custos
    relacionados com o crime,
  • 16:37 - 16:39
    ao longo do seu percurso.
  • 16:39 - 16:45
    Mesmo que não estejam de acordo
    que há um imperativo moral para o fazer,
  • 16:45 - 16:48
    faz sentido economicamente.
  • 16:50 - 16:53
    Quero contar a última conversa
    que tive com o Will.
  • 16:54 - 16:59
    Foi no dia em que ele ia ser executado.
  • 17:00 - 17:02
    Estávamos apenas a conversar.
  • 17:02 - 17:06
    Já não havia mais nada a fazer
    no processo dele.
  • 17:05 - 17:08
    Estávamos a falar da vida dele.
  • 17:08 - 17:12
    Primeiro, ele falou do pai
    que mal conhecia e que já tinha morrido.
  • 17:12 - 17:17
    Depois falou da mãe, que ele conhecia
    e ainda estava viva.
  • 17:18 - 17:20
    E eu disse-lhe:
  • 17:21 - 17:22
    "Conheço a história.
  • 17:23 - 17:24
    "Li os registos.
  • 17:25 - 17:27
    "Sei que ela tentou matar-te.
  • 17:27 - 17:29
    "Sempre me interroguei
  • 17:29 - 17:32
    "se tu realmente te lembras disso.
  • 17:32 - 17:36
    "Eu não me lembro de nada
    de quando tinha cinco anos.
  • 17:36 - 17:38
    "Talvez te lembres
    porque alguém te contou".
  • 17:39 - 17:42
    Ele olhou para mim,
    inclinou-se para a frente e disse:
  • 17:42 - 17:44
    "Professor"
  • 17:44 - 17:47
    — conhecia-me há 12 anos,
    mas continuava a chamar-me Professor.
  • 17:47 - 17:49
    "Professor, não quero
    faltar-lhe ao respeito,
  • 17:50 - 17:53
    "mas quando a nossa mãe
    agarra numa faca de cozinha
  • 17:53 - 17:55
    "que parece maior do que nós,
  • 17:55 - 17:59
    "e nos persegue pela casa,
    a gritar que nos vai matar,
  • 17:59 - 18:02
    "e temos que nos trancar na casa de banho,
    e encostar-nos à porta
  • 18:02 - 18:05
    "a gritar por socorro
    até aparecer a polícia... "
  • 18:06 - 18:08
    Ele olhou para mim e disse:
  • 18:08 - 18:11
    "... é uma coisa que não esquecemos".
  • 18:11 - 18:14
    Espero que haja uma coisa
    de que não se esqueçam:
  • 18:14 - 18:16
    Desde que chegaram aqui, esta manhã,
  • 18:16 - 18:18
    até ao intervalo para o almoço,
  • 18:18 - 18:21
    vai haver quatro homicídios nos EUA.
  • 18:22 - 18:25
    Vamos dedicar enormes recursos sociais
  • 18:25 - 18:27
    para punir as pessoas
    que praticarem esses crimes,
  • 18:27 - 18:29
    e isso tem que ser feito
  • 18:29 - 18:31
    porque há que punir as pessoas
    que fazem coisas más.
  • 18:31 - 18:34
    Mas três desses crimes podem ser evitados.
  • 18:35 - 18:38
    Se aumentarmos o quadro
  • 18:38 - 18:41
    e dedicarmos a nossa atenção
    aos capítulos antecedentes.
  • 18:42 - 18:46
    nunca teremos que escrever
    a primeira frase
  • 18:46 - 18:48
    com que começa a história
    da pena de morte.
  • 18:49 - 18:50
    Obrigado.
  • 18:50 - 18:52
    (Aplausos)
Title:
Lições dos presos no corredor da morte | David R. Dow | TEDxAustin
Description:

Esta palestra foi dada num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx.

O que é que acontece antes de um homicídio? Na procura de formas para reduzir os processos de pena de morte, David R. Dow percebeu que há um número surpreendente de presos no corredor da morte com biografias semelhantes. Nesta palestra, propõe um plano arrojado, para impedir os homicídios.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:52

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