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A classe trabalhadora esquecida pelos EUA

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    Eu me lembro da primeira vez
    em que fui a um restaurante bem fino.
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    Era um jantar de recrutamento
    de um escritório de advocacia,
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    e me lembro que antes
    do jantar a garçonete veio
  • 0:10 - 0:12
    e nos perguntou se queríamos vinho.
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    Eu disse: "Claro, quero vinho branco".
  • 0:15 - 0:19
    E ela logo disse: "Você quer
    Sauvignon Blanc ou Chardonnay?"
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    Lembro-me de ter pensado:
  • 0:22 - 0:25
    "Ah, moça, pare de falar
    palavras francesas sofisticadas
  • 0:25 - 0:26
    e me dê logo vinho branco".
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    (Risos)
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    Mas eu usei meus poderes de dedução
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    e percebi que Chardonnay
    e Sauvignon Blanc
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    eram tipos diferentes de vinho branco,
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    e eu pedi Chardonnay,
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    porque, francamente,
    era o mais fácil de pronunciar.
  • 0:39 - 0:40
    (Risos)
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    Eu tive várias dessas experiências
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    nos meus primeiros anos
    como aluno de Direito em Yale,
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    porque, apesar das aparências externas,
    eu sou um intruso cultural.
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    Não venho da elite.
  • 0:51 - 0:55
    Não sou do Nordeste ou de São Franciso.
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    Nasci numa cidade do aço de Ohio
  • 0:57 - 1:00
    com dificuldades em vários sentidos
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    que apontam para dificuldades maiores
    da classe trabalhadora dos EUA.
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    A heroína se instaurou, matando
    muitas pessoas que conheço.
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    Violência doméstica e divórcio
    desfizeram famílias.
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    Também, uma noção
    pessimista única se instalou.
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    Pensem na crescente taxa
    de mortalidade dessas comunidades
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    e percebam que para muitas dessas pessoas,
  • 1:22 - 1:24
    os problemas que elas veem
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    estão aumentando o número
    de mortes em suas comunidades,
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    então existe uma noção
    muito forte da luta.
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    Eu presenciei essa luta de camarote.
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    Minha família tem participado
    dessa luta por muito tempo.
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    Sou de uma família
    que não tem muito dinheiro.
  • 1:43 - 1:46
    Os vícios que atingiram minha comunidade
  • 1:46 - 1:49
    também atingiram minha família
    e até minha mãe, infelizmente.
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    Os problemas que eu via
    na minha família eram muitos,
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    às vezes causados pela falta de dinheiro,
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    às vezes pela falta de acesso
    a recursos e capital social
  • 2:01 - 2:03
    que afetaram muito a minha vida.
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    Se tivessem me visto
    quando eu tinha 14 anos, e falado:
  • 2:07 - 2:10
    "O que vai acontecer com este menino?"
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    concluiriam que eu teria que lutar
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    com o que os acadêmicos
    chamam de ascensão social.
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    Ascensão social é um termo abstrato,
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    mas toca num ponto bem central
    da essência do sonho americano.
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    É um conceito,
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    e mede se crianças como eu,
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    que crescem em comunidades pobres,
    terão uma vida melhor,
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    se terão uma chance de viver
    uma existência material melhor,
  • 2:36 - 2:39
    ou se ficarão nas circunstâncias
    em que nasceram.
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    Algo que descobrimos é que, infelizmente,
  • 2:41 - 2:45
    a ascensão social não é tão comum
    neste país quanto gostaríamos,
  • 2:45 - 2:49
    e curiosamente, é bastante
    distribuída geograficamente.
  • 2:50 - 2:52
    Utah, por exemplo.
  • 2:53 - 2:56
    Em Utah, uma criança pobre vive bem,
  • 2:56 - 3:00
    provavelmente vivenciará sua cota
    e sua parte do sonho americano.
  • 3:00 - 3:02
    Mas se pensarmos no lugar onde nasci,
  • 3:02 - 3:06
    ou no Sul, nos Apalaches, no sul de Ohio,
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    é bem improvável
    que tais crianças vão ascender.
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    O sonho americano nessas partes do país
    é, num senso bem real, apenas um sonho.
  • 3:16 - 3:18
    Por que isso acontece?
  • 3:18 - 3:21
    Uma razão é obviamente
    econômica ou estrutural.
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    Pensem nessas áreas:
  • 3:23 - 3:25
    são assoladas por tendências
    econômicas terríveis,
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    construídas em torno
    das indústrias de carvão e aço
  • 3:28 - 3:30
    o que dificulta o avanço das pessoas.
  • 3:30 - 3:32
    Esse é um problema, com certeza.
  • 3:32 - 3:35
    Outro, é a fuga das mentes brilhantes:
    pessoas realmente talentosas
  • 3:35 - 3:38
    não acham trabalho qualificado ali
    e acabam se mudando,
  • 3:38 - 3:41
    não montam seu negócio
    ou associação onde moram,
  • 3:41 - 3:44
    e acabam indo a outros lugares
    com seus talentos.
  • 3:45 - 3:47
    Há escolas deficientes
    em muitas dessas comunidades,
  • 3:47 - 3:50
    que fracassam em dar aos alunos
    a vantagem educativa
  • 3:50 - 3:53
    que lhes daria
    oportunidades futuras na vida.
  • 3:53 - 3:55
    Isso tudo é importante.
  • 3:55 - 3:57
    Não quero menosprezar
    as barreiras estruturais.
  • 3:57 - 4:00
    Mas quando me lembro da minha vida
    e de minha comunidade
  • 4:00 - 4:03
    algo mais importante estava acontecendo.
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    É difícil medir, mas não era menos real.
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    Para começar, havia um senso
    bem real de desesperança
  • 4:12 - 4:14
    na comunidade onde cresci.
  • 4:14 - 4:17
    Crianças tinham um senso
    de que suas escolhas não importavam.
  • 4:17 - 4:20
    Independentemente do que acontecia,
    do quanto trabalhavam,
  • 4:20 - 4:22
    ou tentavam progredir,
  • 4:22 - 4:24
    nada de bom aconteceria.
  • 4:24 - 4:27
    É difícil crescer com esse sentimento.
  • 4:27 - 4:30
    É uma mentalidade difícil de penetrar,
  • 4:30 - 4:35
    e, às vezes, leva
    a situações conspiratórias.
  • 4:35 - 4:39
    Vamos pensar numa questão
    política bem atual:
  • 4:39 - 4:41
    ação afirmativa.
  • 4:41 - 4:44
    Dependendo da posicão política,
    podemos considerar a ação afirmativa
  • 4:44 - 4:47
    uma forma prudente ou não de promover
    diversidade no ambiente de trabalho
  • 4:47 - 4:49
    ou na sala de aula.
  • 4:49 - 4:51
    Mas ao crescer numa região como essa,
  • 4:51 - 4:55
    vemos ação afirmativa
    como uma ferramenta para nos atrasar.
  • 4:55 - 4:58
    Principalmente se pertencemos
    à classe trabalhadora branca.
  • 4:58 - 5:01
    Não vemos só como política boa ou ruim.
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    Vemos como um agente de uma conspiração,
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    em que as pessoas com poder político
    e financeiro trabalham contra nós.
  • 5:08 - 5:13
    Há várias formas que vemos
    esta conspiração contra nós:
  • 5:14 - 5:19
    aparente ou real, mas está lá,
    distorcendo nossas expectativas.
  • 5:19 - 5:22
    Se refletirmos sobre o que fazer
    ao crescer naquele mundo,
  • 5:22 - 5:24
    podemos reagir de algumas maneiras.
  • 5:24 - 5:28
    Podemos dizer: "Não vou trabalhar duro,
    já que o meu esforço não fará diferença".
  • 5:29 - 5:31
    Também podemos dizer:
  • 5:31 - 5:34
    "Não vou seguir a etiqueta
    tradicional de sucesso,
  • 5:34 - 5:36
    como o estudo universitário,
    ou um emprego de prestígio,
  • 5:36 - 5:39
    porque as pessoas que se importam
    com isso não são como eu.
  • 5:39 - 5:41
    Nunca vão me incluir".
  • 5:41 - 5:44
    Quando fui aceito em Yale
    alguém da família me perguntou
  • 5:44 - 5:47
    se eu tinha fingido ser da esquerda
    para o comitê de admissão.
  • 5:47 - 5:49
    Sério.
  • 5:49 - 5:54
    Claro que não tinha um quadrado
    para esquerdistas na inscrição,
  • 5:54 - 5:58
    mas isso mostra a insegurança
    nestes lugares,
  • 5:58 - 6:00
    onde temos que fingir ser quem não somos
  • 6:00 - 6:03
    para atravessar
    as diversas barreiras sociais.
  • 6:03 - 6:05
    É um problema muito sério.
  • 6:06 - 6:08
    Mesmo se não nos entregarmos
    à falta de esperança,
  • 6:08 - 6:10
    mesmo que pensemos, por exemplo,
  • 6:10 - 6:14
    que nossas escolhas importam
    e queiramos fazer boas escolhas,
  • 6:14 - 6:16
    queremos fazer o melhor
    para nós mesmos e nossa família,
  • 6:16 - 6:19
    às vezes é difícil até saber
    quais são as opções
  • 6:19 - 6:22
    ao crescer numa comunidade como a minha.
  • 6:22 - 6:23
    Eu não sabia, por exemplo,
  • 6:23 - 6:26
    que é preciso fazer faculdade
    de Direito para ser advogado.
  • 6:26 - 6:30
    Não sabia que as grandes universidades,
    como apontam as pesquisas,
  • 6:30 - 6:32
    são mais baratas aos alunos de baixa renda
  • 6:32 - 6:37
    porque recebem doações maiores,
    e podem oferecer mais ajuda financeira.
  • 6:37 - 6:38
    Lembro-me de descobrir isso
  • 6:38 - 6:41
    quando recebi uma carta
    da secretaria de bolsas de Yale,
  • 6:41 - 6:44
    uma ajuda de milhares de dólares
    baseados em necessidade,
  • 6:44 - 6:46
    algo de que eu nunca tinha ouvido falar.
  • 6:46 - 6:49
    Eu falei para minha tia
    quando recebi a carta:
  • 6:49 - 6:52
    "Acho que isso significa
    que pela primeira vez na minha vida,
  • 6:52 - 6:54
    compensou ser pobre".
  • 6:54 - 6:55
    (Risos)
  • 6:55 - 6:58
    Eu não tinha acesso àquela informação
  • 6:58 - 7:02
    porque as redes sociais
    ao meu redor não tinham.
  • 7:02 - 7:06
    Eu aprendi com a minha comunidade
    como atirar bem com uma arma.
  • 7:06 - 7:08
    Eu aprendi como fazer
    um pão de minuto ótimo.
  • 7:08 - 7:11
    O truque, aliás, é manteiga congelada,
    não manteiga morna.
  • 7:12 - 7:14
    Mas eu não aprendi como avançar.
  • 7:14 - 7:18
    Não aprendi como tomar boas decisões
    sobre educação e oportunidades
  • 7:18 - 7:21
    que são necessárias
  • 7:21 - 7:24
    para se ter uma chance nesta economia
    de conhecimento do século 21.
  • 7:24 - 7:29
    Economistas chamam o valor que ganhamos
    das nossas redes sociais informais,
  • 7:29 - 7:32
    dos nossos amigos, colegas
    e família, "capital social".
  • 7:32 - 7:38
    O meu capital social não funcionava
    nos EUA do século 21, e era notório.
  • 7:38 - 7:41
    Há uma outra coisa muito
    mais importante acontecendo
  • 7:41 - 7:44
    que nossa comunidade
    não gosta de falar,
  • 7:44 - 7:45
    mas é muito real.
  • 7:45 - 7:47
    Crianças das classes pobres
    são mais expostas
  • 7:47 - 7:50
    à chamada experiência
    adversa na infância,
  • 7:50 - 7:54
    um termo complicado
    para trauma de infância:
  • 7:54 - 7:58
    apanhar ou gritarem com você,
    ser humilhado pelos pais repetidamente,
  • 7:58 - 8:00
    ver alguém agredir ou bater em seus pais,
  • 8:00 - 8:04
    ver alguém usar drogas
    ou abusar do álcool.
  • 8:04 - 8:06
    Estes são todos exemplos
    de trauma de infância,
  • 8:06 - 8:09
    e são bem comuns na minha família.
  • 8:09 - 8:12
    Acima de tudo, não só comuns
    na minha família hoje em dia.
  • 8:12 - 8:14
    Estendem-se por gerações.
  • 8:14 - 8:16
    Meus avós,
  • 8:17 - 8:19
    logo quando tiveram filhos,
  • 8:19 - 8:24
    esperavam educá-los de uma forma
    exclusivamente boa.
  • 8:24 - 8:25
    Eram de classe média,
  • 8:25 - 8:27
    tinham um salário bom da siderúrgica.
  • 8:27 - 8:30
    Mas o que acabou acontecendo
  • 8:30 - 8:32
    foi que expuseram os filhos
    a traumas de infância
  • 8:32 - 8:35
    que vinham de várias gerações.
  • 8:35 - 8:40
    Minha mãe tinha 12 anos quando viu
    minha avó pôr fogo em meu avô.
  • 8:40 - 8:43
    O crime dele foi voltar para casa bêbado
  • 8:43 - 8:44
    depois de ela ter dito a ele:
  • 8:44 - 8:47
    "Se você voltar para casa
    bêbado, eu te mato".
  • 8:47 - 8:49
    Ela tentou matá-lo.
  • 8:49 - 8:53
    Pensem na forma que isso afeta
    a mente de uma criança.
  • 8:54 - 8:57
    Nós achamos que essas coisas
    são extremamente raras,
  • 8:57 - 9:00
    mas um estudo do Wisconsin
    Children's Fund descobriu
  • 9:00 - 9:04
    que 40% das crianças de baixa renda
  • 9:04 - 9:07
    enfrentam diversas situações
    de trauma de infância,
  • 9:07 - 9:10
    comparado com só 29% das crianças
    de classes mais altas.
  • 9:10 - 9:13
    Pensem no que isso representa:
  • 9:13 - 9:15
    se vocês são uma criança de baixa renda,
  • 9:15 - 9:19
    quase metade de vocês vai enfrentar
    situações de traumas de infância.
  • 9:19 - 9:21
    Não é um problema isolado.
  • 9:21 - 9:23
    É um problema muito significante.
  • 9:24 - 9:27
    Sabemos o que acontece às crianças
    que passam por essa vida.
  • 9:28 - 9:31
    São mais propensos a usar drogas,
    a ir para cadeia,
  • 9:31 - 9:34
    a desistir do ensino médio,
  • 9:34 - 9:35
    e o mais importante,
  • 9:35 - 9:37
    são mais propensos
    a fazer com seus filhos
  • 9:37 - 9:40
    o que seus pais fizeram com eles.
  • 9:40 - 9:43
    Este trauma, este caos no lar,
  • 9:43 - 9:46
    é o pior presente da nossa cultura
    às nossas crianças,
  • 9:46 - 9:49
    e é um presente que continua
    sendo repassado.
  • 9:50 - 9:52
    Combinem tudo isso,
  • 9:52 - 9:55
    a desesperança, o desespero,
  • 9:55 - 9:57
    o cinismo pelo futuro,
  • 9:57 - 9:59
    o trauma de infância,
  • 9:59 - 10:01
    ao capital social baixo,
  • 10:01 - 10:04
    e começarão a entender porque eu,
  • 10:04 - 10:05
    aos 14 anos,
  • 10:05 - 10:08
    estava prestes a me tornar
    mais um na estatística,
  • 10:08 - 10:10
    outro menino incapaz
    de vencer as adversidades.
  • 10:11 - 10:13
    Mas algo inesperado aconteceu.
  • 10:13 - 10:15
    Eu venci as adversidades.
  • 10:15 - 10:17
    As coisas deram certo para mim.
  • 10:17 - 10:21
    Eu me formei no ensino médio,
    na faculdade, me especializei em Direito,
  • 10:21 - 10:23
    e tenho um emprego bom agora.
  • 10:23 - 10:25
    O que aconteceu?
  • 10:25 - 10:28
    Uma das coisas que aconteceu
    foi que meus avós,
  • 10:28 - 10:30
    os mesmos avós da história do fogo,
  • 10:30 - 10:33
    tomaram jeito a tempo de eu chegar.
  • 10:33 - 10:36
    Eles me deram um lar estável,
  • 10:36 - 10:38
    uma família estável.
  • 10:38 - 10:40
    Certificaram-se de que quando
    meus pais não conseguiam
  • 10:40 - 10:44
    cuidar das necessidades dos filhos,
    eles entravam em cena e cumpriam o papel.
  • 10:45 - 10:48
    Minha avó fez duas coisas
    que realmente contaram.
  • 10:48 - 10:51
    Ela me deu um lar pacífico, onde pude
    me concentrar em lições de casa
  • 10:51 - 10:54
    e em coisas que crianças
    deveriam se concentrar.
  • 10:54 - 10:56
    Ela também era uma mulher
    incrivelmente atenta,
  • 10:56 - 10:58
    mesmo sem o ensino fundamental.
  • 10:58 - 11:01
    Ela via a mensagem que
    a minha comunidade me passava,
  • 11:01 - 11:05
    que minhas escolhas não importavam,
    que o baralho estava marcado contra mim.
  • 11:05 - 11:06
    Uma vez, ela me disse:
  • 11:06 - 11:10
    "JD, nunca seja como aqueles tontos
    que pensam que o jogo é marcado.
  • 11:10 - 11:13
    Você consegue tudo aquilo que quiser".
  • 11:13 - 11:16
    Ainda assim, ela via
    que a vida não era justa.
  • 11:16 - 11:20
    É difícil conciliar os dois,
    falar a um menino que a vida é injusta,
  • 11:20 - 11:25
    mas ainda assim reforçar nele
    a ideia de que as escolhas dele contam.
  • 11:25 - 11:27
    Mas vovó fez essa conciliação.
  • 11:29 - 11:32
    Outra coisa que ajudou muito
    foram os Fuzileiros Navais dos EUA.
  • 11:32 - 11:36
    Nós os consideramos como militares,
    e claro que são, mas para mim,
  • 11:36 - 11:40
    eles foram um curso intensivo
    de quatro anos de formação de caráter.
  • 11:40 - 11:42
    Me ensinaram a arrumar
    a cama, a lavar roupas,
  • 11:42 - 11:44
    a acordar cedo,
    a cuidar das minhas contas,
  • 11:45 - 11:47
    coisas que minha
    comunidade não me ensinou.
  • 11:47 - 11:50
    Lembro-me que quando fui comprar
    um carro pela primeira vez,
  • 11:50 - 11:54
    me ofereceram um preço
    a juros baixíssimos de 21.9%,
  • 11:54 - 11:57
    e eu estava prestes a assinar.
  • 11:58 - 12:00
    Mas eu não aceitei o negócio,
  • 12:00 - 12:04
    porque eu o levei para o meu oficial,
    que me disse: "Deixe de ser bobo,
  • 12:04 - 12:07
    vá à cooperativa de crédito,
    e consiga um negócio melhor".
  • 12:07 - 12:08
    Eu fui.
  • 12:08 - 12:12
    Mas sem os Fuzileiros Navais, eu nunca
    teria tido acesso a essa informação
  • 12:12 - 12:14
    e estaria num caos financeiro.
  • 12:15 - 12:18
    A última coisa que eu quero dizer
    é que eu tive muita sorte
  • 12:18 - 12:19
    com meus mentores e pessoas
  • 12:19 - 12:22
    que tiveram papéis importantes
    na minha vida.
  • 12:22 - 12:26
    Dos Fuzileiros, da Universidade
    de Ohio, de Yale, de outros lugares,
  • 12:26 - 12:28
    pessoas intervieram
  • 12:28 - 12:31
    e se certificaram
    de preencher a lacuna social
  • 12:31 - 12:33
    que obviamente existia.
  • 12:33 - 12:35
    Isso vem de sorte,
  • 12:36 - 12:39
    mas muitas crianças não terão essa sorte,
  • 12:39 - 12:43
    e eu acho que isso levanta
    questões importantes para todos nós
  • 12:43 - 12:45
    sobre como iremos mudar isso.
  • 12:46 - 12:50
    Precisamos nos perguntar
    como dar às crianças de baixa renda,
  • 12:50 - 12:53
    que vêm de lares rompidos,
    o acesso a um lar amoroso.
  • 12:53 - 12:57
    Precisamos nos perguntar
    como ensinaremos pais de baixa renda
  • 12:57 - 13:01
    como interagir melhor com seus filhos
    e com seus cônjuges.
  • 13:01 - 13:05
    Precisamos nos perguntar
    como dar capital social,
  • 13:05 - 13:08
    tutoria a crianças de baixa
    renda que não os têm.
  • 13:08 - 13:12
    Precisamos avaliar como ensinar
    crianças de famílias pobres
  • 13:12 - 13:16
    não só sobre competências técnicas
    como leitura e matemática,
  • 13:16 - 13:18
    mas também competências pessoais,
  • 13:18 - 13:21
    como resolução de conflito
    e gerenciamento financeiro.
  • 13:21 - 13:25
    Eu não tenho todas as respostas.
  • 13:25 - 13:28
    Não sei todas as soluções
    para esse problema,
  • 13:28 - 13:30
    mas eu sei isto:
  • 13:31 - 13:32
    no sul de Ohio, agora mesmo,
  • 13:32 - 13:36
    há uma criança esperando
    ansiosamente por seu pai,
  • 13:36 - 13:39
    imaginando se, quando
    ele entrar pela porta,
  • 13:39 - 13:41
    ele vai entrar calmamente
    ou cambaleando bêbado.
  • 13:42 - 13:43
    Há uma criança
  • 13:45 - 13:47
    cuja mãe enfia uma agulha no braço
  • 13:47 - 13:48
    e desmaia,
  • 13:48 - 13:51
    e ela não sabe por que a mãe
    não faz a janta,
  • 13:51 - 13:54
    e ela vai dormir com fome aquela noite.
  • 13:54 - 13:58
    Há uma criança que não tem
    esperança no futuro,
  • 13:58 - 14:02
    mas quer desesperadamente
    viver uma vida melhor.
  • 14:02 - 14:04
    Só quer alguém que a mostre essa vida.
  • 14:05 - 14:07
    Não tenho todas as respostas,
  • 14:07 - 14:11
    mas a menos que nossa sociedade
    comece a levantar questões melhores
  • 14:11 - 14:14
    como qual a razão da minha sorte
  • 14:14 - 14:17
    e como levar esta sorte a mais comunidades
  • 14:17 - 14:18
    e às crianças do nosso país,
  • 14:18 - 14:22
    vamos continuar a ter
    um problema muito grave.
  • 14:22 - 14:23
    Obrigado.
  • 14:23 - 14:25
    (Aplausos)
Title:
A classe trabalhadora esquecida pelos EUA
Speaker:
J.D. Vance
Description:

J.D. Vance cresceu numa cidade pequena e pobre do Cinturão da Ferrugem no Sul de Ohio, onde assistiu de camarote os males sociais que atingem os EUA: uma epidemia de heroína, escolas com dificuldades, famílias partidas pelo divórcio e algumas vezes pela violência. Numa palestra reflexiva que ecoa por todas as classes trabalhadoras das cidadelas do país, o autor nos detalha como a perda do "sonho americano" é sentida e levanta questões importantes que todos, desde líderes das comunidades até os dirigentes políticos, precisam se perguntar: como podemos ajudar crianças das cidades esquecidas dos EUA a romper com a falta de esperança e viver uma vida melhor?

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:42

Portuguese, Brazilian subtitles

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