Uma canção para a minha heroína, a mulher que remou em um furacão

Dawn Landes, cantora e compositora, conta a história de Tori Murden McClure, que sonhava em atravessar o Atlântico num pequeno barco a remo, mas cujo sonho foi quase emborcado por ondas do tamanho de um prédio de sete andares. Com vídeo, história e música, Landes imagina a mentalidade de uma mulher sozinha no meio de um imenso oceano. (Esta palestra foi parte de uma sessão do TED 2015 com curadoria convidada da revista Pop-Up: popupmagazine.com ou @popupmag no Twitter.)

Em junho de 1998,

Tori Murden McClure partiu de Nags Head,
na Carolina do Norte, rumo à França.

Este é o barco dela, o American Pearl;

sete metros de comprimento
e só 1,8 metro de largura,

em seu ponto mais largo.

O convés tinha o tamanho de uma caçamba
de uma caminhonete Ford F-150.

Tori e seus amigos o construíram a mão

e ele pesava uns 815 kg.

Seu plano era atravessar o Atlântico
sozinha com ele, remando,

sem motores, sem velas,

coisa que nenhuma mulher e nenhum
americano jamais havia feito antes.

Esta seria sua rota:

mais de 5.790 km
pelo Oceano Atlântico Norte.

Tori trabalhava
como administradora de projetos

da cidade de Louisville,
Kentucky, sua cidade natal,

mas sua real paixão era explorar.

Essa não foi sua primeira
grande expedição.

Alguns anos antes, ela havia se tornado
a primeira mulher a esquiar ao Polo Sul.

Ela foi uma remadora
talentosa na faculdade

e até competiu por uma vaga
na equipe olímpica americana de 1992.

Mas isto... isto foi diferente.

(Vídeo) (Música) Tori Murden McClure:
Oi. Hoje é domingo, 5 de julho.

Nove da manhã, horário local.

O mesmo fuso horário de Kentucky.

Dawn Landes: Tori fazia esses vídeos
enquanto remava.

Esse foi seu 21º dia ao mar.

A essa altura, ela já havia percorrido
mais de 1.600 km,

sem contato via rádio
por mais de duas semanas,

após uma tempestade que danificou seus
sistemas de comunicação de longo alcance

logo no quinto dia.

A maioria dos dias era assim.

A essa altura, ela havia dado
mais de 200 mil remadas,

lutando contra a corrente
e contra o vento.

Em alguns dias, ela só percorria
4,5 metros. Pois é.

Mas, embora esses dias fossem frustrantes,

outros dias eram assim.

(Vídeo) TMM: E quero mostrar
meus amiguinhos.

DL: Ela via peixes, golfinhos,
baleias, tubarões

e até algumas tartarugas marinhas.

Após duas semanas sem contato com ninguém,

Tori conseguiu falar com um navio
cargueiro local via rádio VHF.

(Vídeo) TMM: Vocês têm
a previsão do tempo, câmbio?

Homem: Uma área
de baixa pressão seguindo,

à sua frente, mas seguindo,
e obviamente você vai a nordeste

e temos uma área
de alta pressão atrás de nós.

Essa também parece seguir
de leste a nordeste também.

TMM: Que bom.

DL: Ela está muito feliz
por falar com alguém a essa altura.

(Vídeo) TMM: A previsão do tempo mostra
que nada muito ruim vai acontecer.

DL: O que a previsão do tempo não mostrou

foi que que ela estava remando
bem na direção do furacão Danielle,

na pior temporada de furacões
já registrada no Atlântico Norte.

(Vídeo) TMM: Acabei de torcer
meu tornozelo.

Há um vento muito forte agora,
vindo do leste.

Ventando pra lá e pra cá.

Está ventando!

Após 12 dias de tempestade,

consegui remar durante quatro horas
sem vento algum.

Não estou muito feliz agora,
como estava de manhã.

Não estou feliz agora, então...

DL: Após quase três meses no mar,

ela havia percorrido mais de 4.820 km.

Ela estava a dois terços do caminho,

mas, na tempestade, as ondas tinham
a altura de um prédio de sete andares.

O barco virava o tempo todo.

Algumas das ondas deixavam o barco
em pé e remar era impossível.

(Vídeo) TMM: São 6:30 da manhã.

Estou no meio de algo grande, ruim e feio.

O barco virou duas vezes.

Na última vez, arranquei
o friso do teto com as costas.

Até agora, o barco virou umas seis vezes.

Na última, o barco virou no comprimento.

Tenho um sinalizador Argus comigo.

Eu ativaria o sinal de socorro,

mas, francamente, não acho que eles
conseguiriam encontrar este barquinho.

Ele está tão submerso agora,

que a única parte à mostra
é praticamente só a cabine.

São umas 10h da manhã.

Perdi a conta de quantas vezes
o barco virou.

Acho que ele vira a cada 15 minutos.

Acho que quebrei meu braço esquerdo.

As ondas estão despedaçando o barco.

Continuo rezando,
porque não sei se vou sair viva daqui.

DL: Tori disparou o sinal de socorro

e foi resgatada por um navio cargueiro
que passava perto.

O barco abandonado foi encontrado
dois meses depois, próximo à França.

Li a respeito no jornal.

Em 1998, eu estava no ensino médio,
morando em Louisville, Kentucky.

Agora, moro em Nova Iorque.
Sou compositora.

E a bravura dela me impressionou
e estou adaptando sua história

para um musical chamado "Row".

Quando Tori voltou para casa,
ela estava se sentindo desmotivada,

sem dinheiro.

Estava com dificuldades
na transição de volta à civilização.

Nesta cena, ela está sentada em casa.

O telefone está tocando, amigos ligando,
mas ela não sabe como falar com eles.

Ela canta esta música.
Chama-se "Dear Heart".

(Violão)

♪ Enquanto eu sonhava, ♪

♪ Meu corpo visitava ♪

♪ Lugares lindos ♪

♪ Que eu não conhecia ♪

♪ Conheci Gibraltar ♪

♪ E estrelas de Kentucky ♪

♪ Queimadas sob o luar ♪

♪ Fazendo-me sorrir ♪

♪ E quando acordei aqui ♪

♪ O céu estava tão nublado ♪

♪ Fui a uma festa ♪

♪ Onde pessoas que eu conheço ♪

♪ Tentam muito me conhecer ♪

♪ E perguntam onde estive ♪

♪ Mas não posso explicar ♪

♪ O que vi a eles ♪

♪ Ah, ouça, querido coração ♪

♪ Apenas preste atenção ♪

♪ Vá desde o começo ♪

♪ Ah, ouça, querido coração ♪

♪ Você pode sair do mapa ♪

♪ Mas não saia de cena ♪

♪ Ooh ooh ooh ♪

♪ Ah ah ah ah ah ♪

♪ Ah ah ♪

♪ Ah ah ah ♪

♪ Enquanto estive lá fora ♪

♪ O oceano me segurava ♪

♪ Me sacudia e me lançava ♪

♪ Leve como uma criança ♪

♪ Mas agora estou muito pesada ♪

♪ Nada me consola ♪

♪ Minha mente flutua
como destroços ao mar ♪

♪ Desobediente e selvagem ♪

♪ Ah, ouça, querido coração ♪

♪ Apenas preste atenção ♪

♪ Vá desde o começo ♪

♪ Ah, ouça, querido coração ♪

♪ Você pode sair do mapa ♪

♪ Mas não saia de cena ♪

♪ Ooh ♪

Enfim, Tori começou a se recuperar.

Começou a sair com seus amigos novamente.

Ela conheceu um cara
e se apaixonou pela primeira vez.

Ela conseguiu um novo emprego,
com um patrão também nativo de Louisville,

Muhammad Ali.

Um dia, almoçando com seu novo patrão,

Tori contou a notícia de que duas outras
mulheres atravessariam o Atlântico a remo,

algo que ela quase morreu tentando fazer.

A resposta dele foi como o esperado:

"Você não vai querer passar a vida

como a mulher que quase atravessou
um oceano remando".

Ele estava certo.

Tori reconstruiu o American Pearl
e, em dezembro de 1999, ela conseguiu.

(Aplausos) (Violão)

Obrigada.

(Aplausos)