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Depressão, o segredo que compartilhamos

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    "Senti um féretro em meu cérebro,
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    E carpideiras indo e vindo
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    A pisar, a pisar, até eu sonhar
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    Meus sentidos fugindo.
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    E quando tudo se sentou,
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    O tambor de um ofício,
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    Bateu, bateu, até eu sentir
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    Inerte o meu juízo.
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    E eu as ouvi, erguida a tampa,
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    Rangeram por minha alma com
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    Todo o chumbo dos pés, de novo,
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    E o espaço dobrou,
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    Como se os céus fossem um sino
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    E o ser apenas um ouvido,
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    E eu e o silêncio, a estranha raça
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    Só, naufragada, aqui.
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    Partiu-se a tábua em minha mente,
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    E eu fui cair de chão em chão,
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    E em cada chão havia um mundo
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    E terminei sabendo, então.”
    (Tradução: Augusto de Campos)
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    Conhecemos a depressão por metáforas.
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    Emily Dickinson a convertia em linguagem,
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    Goya, em imagem.
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    Metade do propósito da arte,
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    é descrever esses estados icônicos.
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    No meu caso, sempre pensei ser forte,
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    que sobreviveria,
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    se fosse para um campo de concentração.
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    Em 1991, passei por uma série de perdas.
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    Minha mãe morreu,
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    vivi o fim de um relacionamento,
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    retornei aos Estados Unidos,
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    após anos morando no exterior,
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    e passei por tudo isso intacto.
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    Mas, em 1994, três anos depois,
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    perdi o interesse por quase tudo.
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    Não queria fazer nada
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    do que fazia antes,
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    e não sabia o porquê.
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    O oposto de depressão
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    não é felicidade, e sim vitalidade,
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    e a vitalidade
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    parecia fugir de mim naquele momento.
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    Tudo que eu fazia
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    parecia ser trabalhoso demais.
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    Eu chegava em casa,
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    via a luz da secretária
    eletrônica piscando,
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    e não me animava a saber dos amigos.
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    Eu pensava:
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    “Quanta gente para ligar de volta.”
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    Ou decidia almoçar,
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    e aí pensava em ter que pegar a comida,
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    colocá-la no prato,
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    cortá-la, mastigá-la e engoli-la.
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    e me sentia em uma Via Crucis.
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    Algo que sempre se esquece
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    em discussões sobre depressão,
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    é que sabemos que isso é ridículo.
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    Sabemos disso, quando a vivenciamos.
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    Sabemos que a maioria consegue
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    ouvir as mensagens, almoçar,
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    tomar banho
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    sair de casa,
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    e que não é nada demais.
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    Ainda assim, você fica inerte
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    e incapaz de pensar em uma saída.
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    Assim, comecei a sentir que agia menos,
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    pensava menos,
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    e sentia menos.
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    Era uma espécie de anulação.
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    E assim, veio a ansiedade.
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    Se me dissessem que eu ficaria
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    deprimido este mês, diria:
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    “Desde que termine mês que vem, tudo bem.”
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    Mas, se me dissessem:
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    "Você terá ansiedade aguda por um mês,”
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    eu preferiria cortar os pulsos.
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    Era o sentimento constante,
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    como o de estar andando,
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    escorregar ou tropeçar,
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    e o chão vir a seu encontro,
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    mas em vez de um durar um segundo,
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    ele durou 6 meses.
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    É uma sensação de medo permanente,
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    mas sem saber do que se tem medo.
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    E foi aí que comecei a pensar
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    que era muito sofrido viver,
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    e a única razão de não me matar,
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    era a de não fazer os outros sofrerem.
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    Finalmente, um dia, eu acordei
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    e pensei que tivera um AVC,
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    porque estava deitado
    na cama, paralisado,
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    olhando o telefone, pensando:
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    "Algo está errado e preciso
    pedir socorro”,
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    e não conseguia mover o braço
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    e alcançar o telefone para ligar.
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    Após quatro longas horas,
    imóvel, fixando o telefone,
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    ele tocou,
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    e consegui atendê-lo.
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    Era meu pai,
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    e falei: "Estou com um problema sério.
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    Precisamos fazer algo."
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    Um dia depois, comecei com os medicamentos
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    e a terapia.
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    Comecei a me confrontar
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    com a terrível pergunta:
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    "Se não sou forte como pensara,
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    que sobreviveria a um
    campo de concentração,
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    então, quem sou eu?
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    E se tenho que tomar medicamento,
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    ele fará com que eu seja eu mesmo,
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    ou outra pessoa?
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    Como me sentirei
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    se ele me tornar outra pessoa?"
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    Ao entrar nessa luta,
    eu tinha duas vantagens.
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    A de que sabia, objetivamente,
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    que minha vida era agradável,
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    e se ficasse bem,
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    haveria algo do outro lado
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    pelo qual valeria a pena viver.
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    A outra, era a de ter acesso
    a um bom tratamento.
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    Apesar disso, eu melhorava e recaía,
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    melhorava e recaía,
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    melhorava e recaía,
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    e finalmente entendi
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    que tomaria medicamentos
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    e faria terapia para sempre.
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    Pensei: "É um problema químico
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    ou psicológico?
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    Precisa de cura química ou filosófica?"
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    E não entendia qual seria.
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    Percebi que, na verdade,
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    não avançamos muito nessas áreas
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    para sabermos com precisão.
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    Tanto a cura química como a psicológica
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    têm seu papel.
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    Também pensei que a depressão era algo
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    que estava entranhado tão fundo em nós
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    que não havia uma separação
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    entre caráter e personalidade.
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    Os tratamentos que temos
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    para depressão são lamentáveis.
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    Não são muito eficazes,
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    são extremamente caros,
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    provocam inúmeros efeitos colaterais.
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    São um desastre.
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    Mas sou grato por viver hoje,
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    e não 50 anos atrás,
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    quando quase nada
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    podia ser feito.
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    Espero que daqui a 50 anos,
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    ao saberem do meu tratamento,
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    as pessoas se espantem
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    com ciência tão primitiva.
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    Depressão é a imperfeição no amor.
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    Se você fosse casado e pensasse:
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    "Se minha esposa morrer,
    encontrarei outra",
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    não seria amor como o conhecemos.
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    Amor não existe
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    sem a antecipação da perda,
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    e esse espectro do desespero
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    pode ser o motor da intimidade.
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    Há três coisas que tendemos a confundir:
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    depressão, sentimento de luto e tristeza.
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    O luto é explicitamente reativo.
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    Se você vive uma perda,
    sente-se muito infeliz,
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    e, seis meses depois,
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    você ainda está muito triste,
    mas um pouco melhor,
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    provavelmente, é luto.
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    e provavelmente se resolverá
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    de alguma forma.
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    Se você vivencia uma perda catastrófica,
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    sente-se péssimo,
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    e, seis meses depois, continua muito mal,
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    talvez seja depressão desencadeada
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    pelas circunstâncias catastróficas.
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    A trajetória nos diz muito.
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    As pessoas pensam em
    depressão apenas como tristeza.
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    Ela é excesso de tristeza,
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    excesso de luto,
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    por uma causa qualquer.
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    Ao me preparar para entender a depressão,
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    e entrevistar quem a vivera,
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    percebi que havia gente que parecia
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    à beira de ter
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    uma depressão branda,
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    e mesmo assim, ficava
    incapacitada por ela.
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    E outros tinham algo
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    descrito como depressão terrivelmente severa,
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    que viviam bem nos intervalos
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    dos episódios depressivos.
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    Então, planejei descobrir
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    o que faz com que uns
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    sejam mais resilientes que outros.
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    Quais são os mecanismos
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    que os permitem sobreviver?
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    E fui entrevistando pessoas
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    que sofriam de depressão.
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    Uma das primeiras entrevistadas,
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    descreveu a depressão
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    como um meio mais lento de morrer,
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    e foi bom ouvir isso logo no início
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    porque me fez lembrar
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    que esse jeito lento de morrer
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    pode levar à morte real,
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    que é um negócio sério.
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    É a principal doença
    incapacitante do mundo,
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    e as pessoas morrem disso todos os dias.
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    Conversei com uma pessoa,
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    quando tentava entender isso,
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    uma amiga querida
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    que conhecia há anos,
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    e tivera um surto psicótico
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    no primeiro ano de faculdade,
  • 9:01 - 9:04
    e mergulhou em uma depressão horrível.
  • 9:04 - 9:06
    Ela era bipolar,
  • 9:06 - 9:08
    ou maníaco-depressiva,
    como assim era chamado.
  • 9:08 - 9:10
    E ela ficou muito bem
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    por anos, tomando lítio,
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    e depois,
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    parou de tomá-lo,
  • 9:15 - 9:17
    para ver como ficaria sem ele,
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    e teve outro surto,
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    e se afundou na maior depressão
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    que eu já vira.
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    Ela ficava no apartamento dos pais,
  • 9:26 - 9:29
    meio catatônica, imóvel,
  • 9:29 - 9:32
    dia após dia.
  • 9:32 - 9:35
    Eu a entrevistei sobre essa
    experiência, anos depois...
  • 9:35 - 9:38
    Ela é poeta e psicoterapeuta,
    chama-se Maggie Robbins...
  • 9:38 - 9:42
    Quando a entrevistei, ela disse:
  • 9:42 - 9:45
    "Eu cantava 'Where Have
    All The Flowers Gone'
  • 9:45 - 9:48
    o tempo todo, para ocupar minha mente.
  • 9:48 - 9:51
    Cantava para expulsar
    o que minha mente dizia,
  • 9:51 - 9:56
    que era: ‘Você não é nada.
    Você não é ninguém.
  • 9:56 - 9:59
    Nem merece viver.'
  • 9:59 - 10:01
    E comecei seriamente a pensar
  • 10:01 - 10:03
    em me matar."
  • 10:03 - 10:05
    Com depressão, você não pensa
  • 10:05 - 10:07
    que pôs um véu cinza
  • 10:07 - 10:09
    e vê o mundo através da névoa
  • 10:09 - 10:11
    do mal humor.
  • 10:11 - 10:14
    Você pensa que o véu foi retirado,
  • 10:14 - 10:16
    o véu da felicidade,
  • 10:16 - 10:18
    e que agora você vê de verdade.
  • 10:18 - 10:21
    É mais fácil ajudar esquizofrênicos
    que percebem
  • 10:21 - 10:23
    existir algo estranho neles
  • 10:23 - 10:25
    que precisa ser exorcizado,
  • 10:25 - 10:27
    mas é difícil com deprimidos,
  • 10:27 - 10:31
    pois acreditamos ver a verdade.
  • 10:31 - 10:34
    Mas a verdade mente...
  • 10:34 - 10:36
    Fiquei obcecado com essa frase:
  • 10:36 - 10:38
    "Mas a verdade mente."
  • 10:38 - 10:41
    Descobri, ao conversar com deprimidos,
  • 10:41 - 10:43
    que eles têm muitas percepções ilusórias.
  • 10:43 - 10:45
    Alguém diz: "Ninguém me ama."
  • 10:45 - 10:47
    E você diz: "Eu o amo,
  • 10:47 - 10:49
    sua esposa o ama, sua mãe o ama."
  • 10:49 - 10:51
    Você responde isso na hora,
  • 10:51 - 10:53
    ao menos, a maioria.
  • 10:53 - 10:55
    Mas o deprimido também diz:
  • 10:55 - 10:57
    "Não importa o que façamos,
  • 10:57 - 10:59
    vamos todos morrer, afinal."
  • 10:59 - 11:01
    Ou diz: "Não há comunhão verdadeira
  • 11:01 - 11:03
    entre dois seres humanos.
  • 11:03 - 11:06
    Estamos presos em nosso próprio corpo.”
  • 11:06 - 11:07
    A quem você terá que dizer:
  • 11:07 - 11:09
    "É verdade,
  • 11:09 - 11:11
    mas agora devemos focar
  • 11:11 - 11:12
    o que comer no café da manhã."
  • 11:12 - 11:15
    (Risos)
  • 11:15 - 11:16
    Muitas vezes,
  • 11:16 - 11:19
    o que expressam não é
    doença, e sim insight,
  • 11:19 - 11:22
    e chegamos a pensar que o extraordinário
  • 11:22 - 11:25
    é que a maioria sabe dessas
    perguntas existenciais
  • 11:25 - 11:27
    e elas não nos distraem tanto assim.
  • 11:27 - 11:29
    Gostei de um estudo,
  • 11:29 - 11:31
    em que um grupo de deprimidos
  • 11:31 - 11:33
    e um de não deprimidos
  • 11:33 - 11:35
    tinham que jogar videogame por uma hora,
  • 11:35 - 11:37
    e, ao final do tempo,
  • 11:37 - 11:39
    respondiam quantos monstrinhos
  • 11:39 - 11:41
    eles pensavam ter matado.
  • 11:41 - 11:43
    Os deprimidos tinham uma precisão
  • 11:43 - 11:45
    em torno de 10%,
  • 11:45 - 11:47
    e os não deprimidos
  • 11:47 - 11:50
    falaram um número 15 a 20 vezes maior
  • 11:50 - 11:52
    de monstrinhos — (Risos) —
  • 11:52 - 11:56
    do que o que tinham efetivamente matado.
  • 11:56 - 11:59
    Ao escrever sobre minha depressão, diziam
  • 11:59 - 12:01
    que deve ser muito difícil
  • 12:01 - 12:04
    sair do armário, as pessoas saberem...
  • 12:04 - 12:06
    Perguntavam: "Falam diferente com você?"
  • 12:06 - 12:08
    E dizia: "Sim, falam diferente.
  • 12:08 - 12:10
    Elas falam diferente, na medida
  • 12:10 - 12:13
    em que me contam suas experiências,
  • 12:13 - 12:15
    ou a da irmã,
  • 12:15 - 12:16
    ou do amigo.
  • 12:16 - 12:19
    É diferente porque agora sei
  • 12:19 - 12:21
    que depressão é o segredo de família
  • 12:21 - 12:24
    que todo mundo tem."
  • 12:24 - 12:27
    Há alguns anos, fui a uma conferência,
  • 12:27 - 12:30
    e, no primeiro dia do evento,
  • 12:30 - 12:33
    uma participante me
    chamou de lado e disse:
  • 12:33 - 12:36
    "Sofro de depressão
  • 12:36 - 12:39
    e fico um pouco envergonhada com isso,
  • 12:39 - 12:41
    mas tomo esse medicamento,
  • 12:41 - 12:44
    e queria saber sua opinião."
  • 12:44 - 12:47
    Tentei aconselhá-la da melhor forma.
  • 12:47 - 12:48
    Então, ela disse: "Sabe,
  • 12:48 - 12:51
    meu marido jamais entenderia.
  • 12:51 - 12:54
    Ele não entende o sentido disso,
  • 12:54 - 12:57
    então, sabe, fica só entre nós."
  • 12:57 - 12:59
    E falei: "Certo, tudo bem."
  • 12:59 - 13:01
    No último dia da conferência,
  • 13:01 - 13:04
    o marido dela me chamou de lado,
  • 13:04 - 13:05
    e disse: "Minha esposa pensará
  • 13:05 - 13:08
    que não sou homem de verdade se souber
  • 13:08 - 13:10
    que estou lidando com depressão
  • 13:10 - 13:12
    e tomo medicamento,
  • 13:12 - 13:14
    e gostaria da sua opinião."
  • 13:14 - 13:16
    Eles escondiam
  • 13:16 - 13:18
    medicamentos iguais em locais distintos
  • 13:18 - 13:20
    do mesmo quarto.
  • 13:20 - 13:22
    Eu disse que pensava
  • 13:22 - 13:24
    que a comunicação no casamento
  • 13:24 - 13:26
    estava causando problemas.
  • 13:26 - 13:30
    (Risos)
  • 13:30 - 13:32
    Eu também fiquei surpreso
  • 13:32 - 13:34
    pela natureza opressiva
  • 13:34 - 13:36
    de tal segredo mútuo.
  • 13:36 - 13:38
    A depressão é muito exaustiva.
  • 13:38 - 13:41
    Toma muito tempo e energia,
  • 13:41 - 13:42
    e o silêncio
  • 13:42 - 13:45
    agrava a depressão.
  • 13:45 - 13:46
    E, comecei a pensar
  • 13:46 - 13:49
    sobre o que faz as pessoas melhorarem.
  • 13:49 - 13:51
    Comecei com a medicina conservadora.
  • 13:51 - 13:54
    Eu achava que havia algumas terapias
    que funcionavam,
  • 13:54 - 13:55
    estava claro quais eram...
  • 13:55 - 13:57
    havia medicamentos,
  • 13:57 - 13:58
    certas psicoterapias,
  • 13:58 - 14:01
    talvez, tratamento eletroconvulsivo,
  • 14:01 - 14:04
    e que o restante era besteira.
  • 14:04 - 14:05
    Então, descobri uma coisa.
  • 14:05 - 14:07
    Se você tem câncer no cérebro,
  • 14:07 - 14:09
    e diz que ficar de ponta-cabeça
  • 14:09 - 14:12
    20 minutos todo dia
    faz você se sentir melhor,
  • 14:12 - 14:13
    talvez se sinta melhor,
  • 14:13 - 14:15
    mas ainda tem câncer,
  • 14:15 - 14:17
    e ainda poderá morrer.
  • 14:17 - 14:20
    Mas se você diz que tem depressão,
  • 14:20 - 14:22
    e que ficar de ponta-cabeça de manhã
  • 14:22 - 14:24
    faz você melhorar, então, funcionou,
  • 14:24 - 14:26
    pois é a doença de como você se sente,
  • 14:26 - 14:28
    e se você se sente melhor,
  • 14:28 - 14:31
    então, não está mais deprimido.
  • 14:31 - 14:33
    Assim, tornei-me mais tolerante
  • 14:33 - 14:36
    ao vasto mundo de
    tratamentos alternativos.
  • 14:36 - 14:38
    E recebo cartas, centenas de cartas,
  • 14:38 - 14:41
    de gente que diz o que funciona.
  • 14:41 - 14:43
    Hoje, perguntaram-me nos bastidores
  • 14:43 - 14:44
    sobre meditação.
  • 14:44 - 14:47
    Minha carta favorita
  • 14:47 - 14:48
    é a de uma mulher
  • 14:48 - 14:51
    que disse que tentou terapia,
  • 14:51 - 14:53
    medicamentos, tentou quase tudo.
  • 14:53 - 14:56
    Achou uma solução e desejava
    que o mundo soubesse:
  • 14:56 - 15:00
    fazer coisinhas de lã.
  • 15:00 - 15:03
    (Risos)
  • 15:03 - 15:06
    Ela me enviou algumas peças. (Risos)
  • 15:06 - 15:10
    Não estou usando uma hoje.
  • 15:10 - 15:12
    Sugeri que ela desse uma olhada
  • 15:12 - 15:16
    em comportamento obsessivo
    compulsivo no manual.
  • 15:16 - 15:20
    Ainda assim, ao pesquisar
    tratamentos alternativos,
  • 15:20 - 15:22
    ganhei perspectiva sobre
    vários tipos de tratamentos.
  • 15:22 - 15:25
    Passei por um exorcismo tribal, no Senegal,
  • 15:25 - 15:27
    que envolvia sangue de carneiro,
  • 15:27 - 15:29
    e não entrarei em detalhes,
  • 15:29 - 15:31
    mas, anos depois, fui à Ruanda
  • 15:31 - 15:33
    num projeto diferente,
  • 15:33 - 15:36
    e descrevi minha experiência a alguém,
  • 15:36 - 15:38
    que disse: "Bem, sabe,
  • 15:38 - 15:40
    aqui na África Oriental
  • 15:40 - 15:41
    os rituais são muito diferentes,
  • 15:41 - 15:43
    mas temos rituais com algo
  • 15:43 - 15:45
    em comum com o que descreveu."
  • 15:45 - 15:47
    Falei: "Oh". E ele: "Sim.
  • 15:47 - 15:50
    Mas houve problemas
    com profissionais da saúde do Ocidente,
  • 15:50 - 15:52
    os que vieram após o genocídio."
  • 15:52 - 15:55
    Eu disse: "Que tipo de problema?"
  • 15:55 - 15:56
    Ele disse: "Bem,
  • 15:56 - 15:59
    eles faziam algo bizarro.
  • 15:59 - 16:01
    Ninguém tomava banho de sol
  • 16:01 - 16:03
    para se sentir melhor.
  • 16:03 - 16:06
    Não incluíam batuques
    ou música para animá-los.
  • 16:06 - 16:08
    Não envolviam a comunidade.
  • 16:08 - 16:09
    Não externavam a depressão
  • 16:09 - 16:11
    como um espírito invasor.
  • 16:11 - 16:13
    Ao contrário, levavam as pessoas,
  • 16:13 - 16:16
    uma a uma, para quartinhos escuros
  • 16:16 - 16:17
    e elas falavam por uma hora
  • 16:17 - 16:20
    sobre o que acontecera de ruim."
  • 16:20 - 16:25
    (Risos) (Aplausos)
  • 16:25 - 16:27
    Falou: "Pedimos que
    deixassem o país."
  • 16:27 - 16:30
    (Risos)
  • 16:30 - 16:33
    Na outra ponta dos
    tratamentos alternativos...
  • 16:33 - 16:35
    vou falar sobre Frank Russakoff.
  • 16:35 - 16:38
    Ele tinha a pior depressão
  • 16:38 - 16:41
    que eu talvez tenha visto em um homem.
  • 16:41 - 16:43
    Ele estava sempre deprimido.
  • 16:43 - 16:45
    Eu o conheci em uma época
  • 16:45 - 16:48
    em que todo mês ele tinha
    tratamento de choque.
  • 16:48 - 16:51
    Ficava meio desorientado por uma semana.
  • 16:51 - 16:53
    Depois, ficava bem uma semana.
  • 16:53 - 16:54
    Tinha outra semana de piora.
  • 16:54 - 16:57
    E uma semana de tratamento de choque.
  • 16:57 - 16:58
    Quando o vi, ele disse:
  • 16:58 - 17:01
    "É insuportável passar semanas assim.
  • 17:01 - 17:02
    Não aguento mais,
  • 17:02 - 17:05
    e já sei como acabar com isso
  • 17:05 - 17:06
    se eu não melhorar.
  • 17:06 - 17:09
    Aí, ele disse: "Soube de um protocolo
  • 17:09 - 17:11
    no hospital, um procedimento,
  • 17:11 - 17:13
    cingulotomia, cirurgia no cérebro,
  • 17:13 - 17:16
    e acho que vou tentar."
  • 17:16 - 17:18
    Lembro de ter me espantado
  • 17:18 - 17:19
    por pensar que alguém
  • 17:19 - 17:22
    com tantas experiências ruins,
  • 17:22 - 17:24
    com tantos tratamentos,
  • 17:24 - 17:27
    ainda tinha dentro de si algum otimismo
  • 17:27 - 17:30
    para almejar mais um.
  • 17:30 - 17:32
    Ele fez a cingulotomia,
  • 17:32 - 17:34
    e foi incrivelmente bem sucedida.
  • 17:34 - 17:35
    Ele agora é meu amigo.
  • 17:35 - 17:39
    Tem uma esposa adorável
    e dois filhos lindos.
  • 17:39 - 17:42
    Ele me escreveu uma carta,
    após a cirurgia,
  • 17:42 - 17:43
    e disse:
  • 17:43 - 17:46
    "Meu pai me deu dois presentes este ano.
  • 17:46 - 17:48
    Uma torre de CD, da "The Sharper Image",
  • 17:48 - 17:50
    de que eu não precisava,
  • 17:50 - 17:52
    mas sei que foi para comemorar o fato
  • 17:52 - 17:53
    de eu viver por conta própria,
  • 17:53 - 17:55
    com um emprego que adoro.
  • 17:55 - 17:57
    O outro presente
  • 17:57 - 17:59
    era uma foto da minha avó,
  • 17:59 - 18:01
    que cometeu suicídio.
  • 18:01 - 18:04
    Ao abrir o presente, comecei a chorar,
  • 18:04 - 18:06
    e minha mãe disse:
  • 18:06 - 18:09
    'Está chorando pelos parentes
    que não conheceu?'
  • 18:09 - 18:13
    Falei: 'Ela teve a mesma doença que eu.'
  • 18:13 - 18:16
    Choro agora ao lhe escrever.
  • 18:16 - 18:19
    Não estou muito triste,
    e sim emocionado,
  • 18:19 - 18:21
    pois, poderia quase ter me matado,
  • 18:21 - 18:23
    mas meu pais me deram força,
  • 18:23 - 18:25
    assim como os médicos,
  • 18:25 - 18:27
    e fiz a cirurgia.
  • 18:27 - 18:30
    Estou vivo e agradecido.
  • 18:30 - 18:32
    Vivemos na época certa,
  • 18:32 - 18:36
    mesmo que nem sempre pareça."
  • 18:36 - 18:38
    Fiquei perplexo que a depressão
  • 18:38 - 18:39
    seja amplamente entendida
  • 18:39 - 18:43
    como algo moderno, ocidental,
    de classe média,
  • 18:43 - 18:45
    e fui ver como ela funciona
  • 18:45 - 18:47
    em vários outros contextos,
  • 18:47 - 18:49
    e algo que me interessou muito
  • 18:49 - 18:51
    foi a depressão entre indigentes.
  • 18:51 - 18:53
    Fui dar uma olhada
  • 18:53 - 18:55
    no que se faz para pobres
    com depressão.
  • 18:55 - 18:57
    Descobri que eles
  • 18:57 - 19:00
    geralmente não são tratados de depressão.
  • 19:00 - 19:03
    Depressão resulta
    da vulnerabilidade genética,
  • 19:03 - 19:06
    distribuída igualitariamente na população,
  • 19:06 - 19:08
    e circunstâncias desencadeadoras,
  • 19:08 - 19:10
    que costumam ser mais severas
  • 19:10 - 19:12
    em pessoas mais pobres.
  • 19:12 - 19:15
    Se você tem uma vida agradável
  • 19:15 - 19:16
    mas se sente infeliz o tempo todo,
  • 19:16 - 19:18
    pensa: "Por que me sinto assim?
  • 19:18 - 19:20
    Devo estar com depressão."
  • 19:20 - 19:22
    E busca tratamento.
  • 19:22 - 19:24
    Mas, se tem uma vida horrível,
  • 19:24 - 19:26
    e sente-se péssimo o tempo todo,
  • 19:26 - 19:29
    você se sente de acordo com sua vida,
  • 19:29 - 19:30
    e não lhe ocorre pensar:
  • 19:30 - 19:32
    "Talvez exista tratamento."
  • 19:32 - 19:35
    E assim temos uma epidemia neste país,
  • 19:35 - 19:38
    de depressão entre os mais pobres
  • 19:38 - 19:41
    que não é diagnosticada, tratada,
  • 19:41 - 19:43
    e nem combatida,
  • 19:43 - 19:45
    o que é uma grande tragédia.
  • 19:45 - 19:47
    Conheci uma acadêmica
  • 19:47 - 19:48
    que fazia projeto de pesquisa
  • 19:48 - 19:50
    em favelas nos arredores
    de Washington,
  • 19:50 - 19:53
    com mulheres com outras queixas de saúde,
  • 19:53 - 19:55
    e diagnosticava a depressão,
  • 19:55 - 19:58
    e dava-lhes seis meses
    do protocolo experimental.
  • 19:58 - 20:00
    Uma delas, Lolly, chegou,
  • 20:00 - 20:03
    e eis o que disse...
  • 20:03 - 20:06
    Ela é uma mulher
  • 20:06 - 20:08
    que teve sete filhos. Disse:
  • 20:08 - 20:10
    "Eu tinha emprego, mas desisti dele
  • 20:10 - 20:13
    porque não conseguia sair de casa.
  • 20:13 - 20:15
    Não tenho assunto com meus filhos.
  • 20:15 - 20:18
    De manhã, mal espero eles saírem,
  • 20:18 - 20:21
    volto para a cama,
    cubro-me com o cobertor,
  • 20:21 - 20:23
    e quando voltam às 15:00,
  • 20:23 - 20:24
    sinto que o tempo voou."
  • 20:24 - 20:27
    Ela disse: "Tomo um monte de Tylenol,
  • 20:27 - 20:29
    qualquer coisa para dormir mais.
  • 20:29 - 20:33
    Meu marido diz que sou burra, feia.
  • 20:33 - 20:37
    Queria muito acabar com a dor."
  • 20:37 - 20:39
    Ela veio para o protocolo experimental,
  • 20:39 - 20:42
    e quando a entrevistei seis meses depois,
  • 20:42 - 20:46
    ela trabalhava numa creche
  • 20:46 - 20:50
    da Marinha, deixara o marido ofensor,
  • 20:50 - 20:52
    e disse:
  • 20:52 - 20:54
    "Meus filhos estão mais felizes.
  • 20:54 - 20:56
    Há um quarto em minha nova casa
  • 20:56 - 20:59
    para os meninos e outro para as meninas,
  • 20:59 - 21:01
    mas, à noite, vão todos para a minha cama,
  • 21:01 - 21:04
    e fazemos dever de casa juntos.
  • 21:04 - 21:06
    Um menino quer ser pastor,
  • 21:06 - 21:07
    o outro bombeiro,
  • 21:07 - 21:10
    e uma menina quer ser advogada.
  • 21:10 - 21:12
    Não choram mais como antes,
  • 21:12 - 21:15
    nem brigam como antes.
  • 21:15 - 21:19
    Tudo que preciso agora são meus filhos.
  • 21:19 - 21:21
    As coisas estão mudando:
  • 21:21 - 21:26
    o jeito como me visto, sinto e ajo.
  • 21:26 - 21:29
    Agora, consigo sair sem sentir medo.
  • 21:29 - 21:33
    Acho que os sentimentos
    ruins não voltarão,
  • 21:33 - 21:36
    e se não fosse por Dra. Miranda,
  • 21:36 - 21:40
    ainda estaria em casa, com
    o cobertor sobre a cabeça,
  • 21:40 - 21:42
    se é que ainda estaria viva.
  • 21:42 - 21:46
    Pedi ao Senhor que me enviasse um anjo,
  • 21:46 - 21:50
    e Ele escutou minhas preces."
  • 21:50 - 21:53
    Fiquei muito emocionado
    com esses relatos,
  • 21:53 - 21:56
    e decidi escrever sobre eles
  • 21:56 - 21:57
    não apenas num livro,
  • 21:57 - 21:59
    mas também num artigo,
  • 21:59 - 22:01
    e, a pedido da
    "The New York Times Magazine"
  • 22:01 - 22:03
    escrevi sobre depressão entre indigentes.
  • 22:03 - 22:04
    Entreguei a história,
  • 22:04 - 22:06
    e minha editora me disse:
  • 22:06 - 22:08
    "Não podemos publicar."
  • 22:08 - 22:10
    E falei: "Por que não?"
  • 22:10 - 22:12
    Ela disse: "É inverossímil.
  • 22:12 - 22:16
    Essas pessoas que estão
    na camada mais baixa da sociedade,
  • 22:16 - 22:17
    fazem uns meses de tratamento
  • 22:17 - 22:20
    e podem comandar a Bolsa de Valores?
  • 22:20 - 22:22
    É muito implausível."
  • 22:22 - 22:24
    Falou: “Nunca soube de algo assim."
  • 22:24 - 22:27
    E falei: "O fato de você não saber
  • 22:27 - 22:30
    indica que é notícia."
  • 22:30 - 22:36
    (Risos) (Aplausos)
  • 22:37 - 22:40
    "E vocês são uma revista de notícias."
  • 22:40 - 22:42
    Depois de alguma negociação,
  • 22:42 - 22:43
    eles aceitaram.
  • 22:43 - 22:45
    Penso que o que disseram
  • 22:45 - 22:47
    está ligado, de uma forma estranha,
  • 22:47 - 22:49
    à aversão que as pessoas ainda têm
  • 22:49 - 22:51
    à ideia do tratamento,
  • 22:51 - 22:52
    à noção de que se fôssemos
  • 22:52 - 22:55
    tratar muita gente nas
    comunidades carentes,
  • 22:55 - 22:57
    seria uma exploração.
  • 22:57 - 22:59
    Estaríamos modificando-as.
  • 22:59 - 23:01
    Há essa falsa moral imperativa
  • 23:01 - 23:02
    a nossa volta,
  • 23:02 - 23:05
    de que tratamento de depressão,
  • 23:05 - 23:07
    e medicamentos são um artifício,
  • 23:07 - 23:09
    que não é natural.
  • 23:09 - 23:12
    Acho que é um grande equívoco.
  • 23:12 - 23:16
    Seria natural que os dentes caíssem,
  • 23:16 - 23:19
    mas ninguém milita contra a pasta dental,
  • 23:19 - 23:21
    não que eu saiba.
  • 23:21 - 23:24
    As pessoas dizem: “Mas a depressão
  • 23:24 - 23:26
    não é parte do que devemos vivenciar?
  • 23:26 - 23:28
    Não evoluímos para ter depressão?
  • 23:28 - 23:29
    Não é parte da personalidade?"
  • 23:29 - 23:32
    Eu diria: o humor é adaptável.
  • 23:32 - 23:36
    Ser capaz de sentir tristeza, medo,
  • 23:36 - 23:37
    alegria, prazer
  • 23:37 - 23:39
    e todos os outros humores
  • 23:39 - 23:41
    é muito valioso.
  • 23:41 - 23:44
    Depressão severa é algo que acontece
  • 23:44 - 23:46
    quando esse sistema se rompe,
  • 23:46 - 23:48
    fica mal ajustado.
  • 23:48 - 23:50
    As pessoas me dizem:
  • 23:50 - 23:52
    "Penso que, se ficar firme por mais um ano,
  • 23:52 - 23:54
    consigo me livrar dela."
  • 23:54 - 23:57
    Sempre digo: "Talvez consiga,
  • 23:57 - 23:59
    mas jamais terá 37 anos de novo.
  • 23:59 - 24:02
    A vida é curta, é mais um ano inteiro,
  • 24:02 - 24:04
    do qual você desistirá.
  • 24:04 - 24:06
    Pense nisso."
  • 24:06 - 24:08
    É uma pobreza estranha da língua inglesa,
  • 24:08 - 24:10
    e de tantas outras,
  • 24:10 - 24:13
    que usemos a mesma palavra, depressão,
  • 24:13 - 24:14
    ao descrever como uma criança se sente
  • 24:14 - 24:16
    se chove no seu aniversário,
  • 24:16 - 24:19
    e descrever como alguém se sente
  • 24:19 - 24:21
    um minuto antes de cometer suicídio.
  • 24:21 - 24:24
    Perguntam: "A tristeza normal é contínua?"
  • 24:24 - 24:27
    E digo, de um modo,
    a tristeza normal é contínua.
  • 24:27 - 24:30
    Há uma certa continuidade,
  • 24:30 - 24:32
    assim como há continuidade,
  • 24:32 - 24:34
    entre uma cerca de ferro,
  • 24:34 - 24:35
    com um ponto de ferrugem
  • 24:35 - 24:38
    que você lixa e repinta,
  • 24:38 - 24:41
    e o que ocorre se você
    sai de casa por 100 anos,
  • 24:41 - 24:44
    é que a cerca enferruja até virar
  • 24:44 - 24:45
    uma pilha de pó.
  • 24:45 - 24:47
    É esse ponto de ferrugem,
  • 24:47 - 24:49
    esse ponto de problema,
  • 24:49 - 24:52
    a que nos referimos.
  • 24:52 - 24:54
    Agora as pessoas dizem:
  • 24:54 - 24:57
    "Você toma uma pílula da felicidade
    e fica feliz?"
  • 24:57 - 24:59
    Não fico.
  • 24:59 - 25:01
    Mas não fico triste por ter que almoçar,
  • 25:01 - 25:04
    não fico triste
    pela secretária eletrônica,
  • 25:04 - 25:07
    nem por tomar banho.
  • 25:07 - 25:10
    Sinto mais, na verdade,
  • 25:10 - 25:12
    porque não me sinto
    anulado pela tristeza.
  • 25:12 - 25:17
    Sinto-me triste com
    decepções profissionais,
  • 25:17 - 25:19
    com relacionamentos ruins,
  • 25:19 - 25:21
    com o aquecimento global.
  • 25:21 - 25:24
    Essas são as coisas
    que me entristecem no momento.
  • 25:24 - 25:27
    Disse a mim mesmo: "Qual é a conclusão?
  • 25:27 - 25:29
    Como as pessoas que têm vidas melhores,
  • 25:29 - 25:32
    mesmo com depressão
    mais grave, saíram dela?
  • 25:32 - 25:34
    Qual é o mecanismo da resiliência?"
  • 25:34 - 25:37
    Cheguei à conclusão
  • 25:37 - 25:39
    de que quem renega sua experiência,
  • 25:39 - 25:42
    e diz: "Estive deprimido há muito tempo
  • 25:42 - 25:43
    e nunca mais quero pensar
  • 25:43 - 25:44
    ou saber disso,
  • 25:44 - 25:46
    e vou apenas seguir com a vida",
  • 25:46 - 25:48
    ironicamente, essas são as pessoas
  • 25:48 - 25:51
    mais escravizadas pelo que têm.
  • 25:51 - 25:54
    Afastar a depressão a fortalece.
  • 25:54 - 25:57
    Ao se esconder dela, ela cresce.
  • 25:57 - 26:00
    E as pessoas que se dão melhor
  • 26:00 - 26:02
    são as capazes de suportar o fato
  • 26:02 - 26:04
    de terem essa condição.
  • 26:04 - 26:06
    Aqueles que consegue aceitar a depressão
  • 26:06 - 26:08
    são os que encontram resiliência.
  • 26:08 - 26:10
    Frank Russakoff me disse:
  • 26:10 - 26:12
    "Se tivesse que fazer de novo,
  • 26:12 - 26:14
    acho que não faria desse jeito,
  • 26:14 - 26:16
    mas, ainda assim, sou grato
  • 26:16 - 26:17
    pelo que vivenciei.
  • 26:17 - 26:21
    Sou grato pelas 40 idas ao hospital.
  • 26:21 - 26:24
    Aprendi muito sobre o amor,
  • 26:24 - 26:26
    e a relação com meus pais e médicos
  • 26:26 - 26:31
    é preciosa para mim e sempre será."
  • 26:31 - 26:33
    Maggie Robbins disse:
  • 26:33 - 26:36
    "Eu era voluntária em uma clínica de AIDS,
  • 26:36 - 26:39
    e eu falava e falava,
  • 26:39 - 26:41
    e lidava com pessoas
  • 26:41 - 26:43
    não muito receptivas, e pensava:
  • 26:43 - 26:47
    'Elas não são muito
    simpáticas ou prestativas.'
  • 26:47 - 26:48
    Aí compreendi
  • 26:48 - 26:50
    que elas não se empenhariam
  • 26:50 - 26:53
    além daqueles minutos de conversa fiada.
  • 26:53 - 26:55
    Era apenas uma ocasião
  • 26:55 - 26:58
    em que eu não tinha AIDS,
    e não estava morrendo,
  • 26:58 - 27:01
    mas poderia suportar
    o fato de que elas tinham
  • 27:01 - 27:02
    e morreriam.
  • 27:02 - 27:06
    Nossas necessidades são
    nosso bem maior.
  • 27:06 - 27:08
    Aprendi a dar
  • 27:08 - 27:12
    tudo o que eu preciso."
  • 27:12 - 27:14
    Valorizar a nossa depressão
  • 27:14 - 27:16
    não previne recaída,
  • 27:16 - 27:19
    mas pode fazer a perspectiva da recaída
  • 27:19 - 27:23
    ou mesmo a recaída em si,
    mais fácil de suportar.
  • 27:23 - 27:25
    A questão não é tanto
  • 27:25 - 27:27
    encontrar grande significado e decidir
  • 27:27 - 27:29
    que sua depressão significa muito.
  • 27:29 - 27:31
    É buscar esse significado
  • 27:31 - 27:33
    e pensar quando ela voltar:
  • 27:33 - 27:35
    "Vai ser um inferno,
  • 27:35 - 27:37
    mas aprenderei algo."
  • 27:37 - 27:40
    Aprendi com minha própria depressão
  • 27:40 - 27:42
    como uma emoção pode ser imensa,
  • 27:42 - 27:45
    como ela pode ser mais real do que fatos,
  • 27:45 - 27:48
    e descobri que essa experiência
  • 27:48 - 27:51
    me permite vivenciar emoção positiva
  • 27:51 - 27:54
    de um jeito mais intenso e focado.
  • 27:54 - 27:58
    O oposto de depressão não é felicidade,
  • 27:58 - 27:59
    e sim vitalidade,
  • 27:59 - 28:02
    e, atualmente, minha vida é vital,
  • 28:02 - 28:05
    mesmo nos dias em que estou triste.
  • 28:05 - 28:08
    Senti aquele féretro no meu cérebro,
  • 28:08 - 28:10
    e sentei-me próximo ao colosso,
  • 28:10 - 28:12
    à beira do mundo,
  • 28:12 - 28:14
    e descobri
  • 28:14 - 28:16
    algo dentro de mim,
  • 28:16 - 28:18
    que chamo de alma,
  • 28:18 - 28:22
    que eu nunca elaborara até
    aquele dia, 20 anos atrás,
  • 28:22 - 28:27
    quando o diabo me fez
    uma visita surpresa.
  • 28:27 - 28:31
    Acho que ao odiar estar deprimido,
  • 28:31 - 28:33
    e odiaria novamente,
  • 28:33 - 28:36
    descobri um jeito de amar
    minha depressão.
  • 28:36 - 28:38
    Eu a amo por ela ter me forçado
  • 28:38 - 28:41
    a buscar alegria e a me agarrar a ela.
  • 28:41 - 28:44
    Eu a amo porque, todos os dias, eu decido,
  • 28:44 - 28:46
    às vezes com bravura,
  • 28:46 - 28:48
    e outras, contra a razão do momento,
  • 28:48 - 28:51
    agarrar-me às razões de viver.
  • 28:51 - 28:55
    E isso é um grande privilégio.
  • 28:55 - 28:56
    Obrigado.
  • 28:56 - 29:02
    (Aplausos)
Title:
Depressão, o segredo que compartilhamos
Speaker:
Andrew Solomon
Description:

"O oposto de depressão não é felicidade, e sim vitalidade, e ela parecia fugir de mim naquele momento." Em uma palestra tão eloquente quanto devastadora, o escritor Andrew Solomon nos leva aos cantos mais escuros de sua mente, nos anos em que lutou contra a depressão. Isso o levou a uma reveladora jornada pelo mundo, entrevistando pessoas com depressão, descobrindo, para sua surpresa, que quanto mais ele falava, mais as pessoas queriam contar suas histórias. (Filmado no TEDxMet.)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
29:21
  • Caras Nadja e Viviane,
    Gostaria de colaborar com as legendas da palestra do Andrew Solomon sobre a depressão.
    Como posso ajudar?
    Um abraço,
    Mariangela

Portuguese, Brazilian subtitles

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