Como Fernão de Magalhães circum-navegou o globo — Ewandro Magalhães

Vejam a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/how-magellan-circumnavigated-the-globe-ewandro-magalhaes

No dia 6 de setembro de 1552, o Victoria aportou no sul da Espanha. O navio danificado e os seus 18 marinheiros eram tudo o que restava de uma frota que tinha partido três anos antes. Mas a viagem foi considerada um êxito, porque o Victoria tinha conseguido uma coisa sem precedentes — a primeira viagem de circum-navegação do globo. Ewandro Magalhães conta a história da viagem de Fernão de Magalhães.

Lição de Ewandro Magalhães, animação de TED-Ed.

No dia 6 de setembro de 1552,

o Victoria aportou no sul da Espanha.

O navio danificado e 18 marinheiros
eram tudo o que restava

de uma frota que tinha partido
três anos antes.

Mas a viagem foi considerada um êxito,

porque o Victoria tinha conseguido
uma coisa sem precedentes

— a primeira viagem
de circum-navegação do globo.

Esta história começa em 1494,

dois anos depois da viagem de Colombo,
por conta da Espanha.

A descoberta de Colombo levou
os reis da Espanha católica

a recorrer ao Papa

para impedir qualquer reivindicação
de Portugal às novas terras.

O Papa resolveu esta disputa

traçando uma linha imaginária
no mapa mundial.

A Espanha ficou com o direito a reclamar
os territórios a oeste dessa linha

e Portugal com o direito à parte leste.

A Espanha e Portugal, na época,
as duas principais potências marítimas.

concordaram com estas condições
e assinaram o Tratado das Tordesilhas.

Na época, estas nações tinham os olhos
no mesmo prémio:

as rotas orientais para as ilhas
das especiarias, a Indonésia atual.

As especiarias que ali havia,

que eram usadas como temperos,
conservantes de alimentos,

e afrodisíacos,

valiam muitas vezes mais
do que o seu peso em ouro.

Mas como Portugal controlava
as rotas marítimas orientais,

a única opção viável para a Espanha
era navegar para ocidente.

Por isso, quando um desertor português
chamado Fernando de Magalhães,

afirmou que existia uma rota pelo ocidente
para as ilhas das especiarias,

o Rei Carlos nomeou-o capitão
de uma armada espanhola,

e deu-lhe todos os recursos
de que ele precisava.

Juntamente com uma parte
dos lucros da viagem,

forneceu a Magalhães cinco barcos
e cerca de 260 homens.

A tripulação incluía um jovem escravo
chamado Enrique,

capturado por Magalhães numa viagem
anterior a Malaca,

e Antonio Pigafetta,

um nobre veneziano
em busca de aventura.

No dia 20 de setembro de 1519,
a frota levantou âncora

e navegou para sudoeste.

Depois de fazer uma paragem
no que hoje é o Brasil,

continuou ao longo da costa,

explorando qualquer caminho marítimo
que entrasse por terra adentro.

Procuravam a lendária passagem
que ligaria o oriente com o ocidente.

À medida que o tempo piorava,

aumentava o ressentimento dos espanhóis
por terem um capitão português.

Em breve, estalou uma amotinação total,

que Magalhães dominou
com uma crueldade indescritível.

Mas os problemas ainda estavam a começar.

Durante uma missão de reconhecimento,

o Santiago foi destruído
por uma tempestade.

Depois, quando exploravam
um estreito caminho marítimo,

o capitão do San Antonio aproveitou
a primeira oportunidade para se escapar

e regressar a casa.

Magalhães insistia em avançar.

Em 21 de outubro, começou
a explorar um caminho navegável.

Ao fim de 27 dias gelados,

os três barcos restantes
saíram pelo estreito a que chamamos

o Estreito de Magalhães
e chegaram ao Oceano Pacífico.

A frota nunca julgara
que o novo oceano fosse tão vasto.

Ao fim de 98 dias no mar,

dezenas de marinheiros
tinham sucumbido ao escorbuto e à fome.

Quando finalmente
chegaram de novo a terra,

Enrique, o jovem escravo, mostrou-se
capaz de comunicar com os nativos.

O seu objetivo não podia estar longe.

Navegando mais para ocidente,

Magalhães foi recebido calorosamente
pelo Rajá Humabon de Cebu.

Por isso, quando o governante
lhe pediu ajuda

para submeter o chefe rebelde de Mactan,

o capitão concordou prontamente.

Esta aventura seria a sua última.

Demasiado confiante
e em número muito menor,

a força de Magalhães foi esmagada

e as lanças de bambu dos nativos
acabaram com a vida do capitão.

Mas a viagem tinha que continuar.

O testamento de Magalhães especificava
que Enrique devia ser libertado,

mas a expedição continuava
a precisar de um intérprete.

Com a liberdade em perigo,

julga-se que Enrique conspirou com o Rajá

para matar 30 dos espanhóis
numa festa na praia.

Nunca mais se ouviu falar de Enrique,

mas, se ele conseguiu voltar a Malaca,

pode ter sido a primeira pessoa
a ter circum-navegado o globo.

Entretanto, os sobreviventes
queimaram o Concepcion

e continuaram a viagem.

Por fim, chegaram às ilhas das especiarias
em novembro de 1521

e carregaram uma carga preciosa.

Mas ainda tinham que voltar para Espanha.

O Trinidad afundou-se pouco depois
de ter sido capturado pelos portugueses.

O Victoria continuou para ocidente,
pilotado por Juan Sebastian Elcano,

um dos amotinados perdoados.

Contra todos os contratempos,
o pequeno barco voltou a Espanha

com uma carga
de cravinho-da-Índia e canela,

suficiente para pagar a expedição
e ainda dar lucro.

Pigafetta, um cronista obcecado,

descreveu as terras
e as pessoas que encontraram.

Com a ajuda de um humilde escravo,

também compilou o primeiro livro
de frases do mundo

de línguas nativas.

O seu diário é a razão
por que podemos contar esta história.

O legado de Magalhães permanece.

Teve galáxias e programas espaciais
batizados com o nome dele.

Elcano também foi festejado em Espanha

com um brasão e o seu rosto
em moedas e selos.

Unidos pelo destino, os sobreviventes

e as centenas que sacrificaram a vida

desafiaram o conhecimento convencional

e completaram uma jornada histórica
até aí considerada impossível.