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Ligados, mas sós?

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    Há momentos,
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    a minha filha Rebecca mandou-me
    uma mensagem de boa sorte.
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    A mensagem dizia:
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    "Mãe, vais arrasar".
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    Eu adoro isto.
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    Receber aquela mensagem
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    foi como receber um abraço.
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    Então, a situação é esta.
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    Eu personifico
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    o paradoxo central.
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    Sou uma mulher
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    que adora receber mensagens
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    mas que vos vai dizer
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    que, em demasia, podem ser um problema.
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    Na verdade, esta recordação da minha filha
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    leva-me ao princípio da minha história.
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    Em 1996, quando fiz
    a minha primeira palestra no TED,
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    a Rebecca tinha 5 anos
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    e estava sentada mesmo ali
    na primeira fila.
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    Eu tinha acabado de escrever um livro
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    que celebrava a nossa vida na Internet
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    e estava prestes a ser capa
    da revista Wired.
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    Nesses dias de glória,
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    estávamos a experimentar
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    salas de diálogo
    e comunidades virtuais online.
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    Estávamos a explorar os diferentes
    aspetos de nós próprios.
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    E depois desligávamos.
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    Eu estava empolgada.
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    e, como psicóloga, o que mais me empolgou
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    foi a ideia de que usaríamos
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    o que aprendemos no mundo virtual
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    sobre nós próprios,
    sobre a nossa identidade,
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    para vivermos uma vida melhor
    no mundo real.
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    Agora avancemos rapidamente para 2012.
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    Estou novamente no palco do TED.
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    A minha filha tem 20 anos.
    É uma estudante universitária.
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    Dorme com o telemóvel,
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    tal como eu.
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    Acabei de escrever um novo livro,
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    mas, desta vez, não é um livro
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    que me irá pôr na capa da revista Wired.
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    Então, o que aconteceu?
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    Ainda estou empolgada pela tecnologia,
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    mas acredito,
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    — e estou aqui para defender a ideia —
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    que estamos a deixá-la
    levar-nos para sítios
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    para onde não queremos ir.
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    Nos últimos 15 anos,
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    tenho estudado tecnologias
    de comunicação móvel
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    e tenho entrevistado centenas
    e centenas de pessoas,
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    jovens e adultos,
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    sobre as suas vidas online.
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    Descobri que
    os nossos pequenos aparelhos,
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    aqueles pequenos aparelhos
    nos nossos bolsos,
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    são tão poderosos psicologicamente
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    que não só mudam o que nós fazemos,
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    mas mudam quem nós somos.
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    Algumas das coisas que fazemos agora
    com os nossos aparelhos
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    são coisas que, há apenas uns anos.
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    acharíamos estranhas
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    ou perturbadoras,
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    mas que depressa se tornaram familiares,
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    é apenas como fazemos as coisas.
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    Só para dar alguns exemplos rápidos:
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    As pessoas mandam mensagens ou emails
  • 2:54 - 2:56
    durante reuniões da direção da empresa.
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    Mandam mensagens e fazem compras
    e vão ao Facebook
  • 3:00 - 3:03
    durante as aulas, durante palestras,
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    na verdade durante todas as reuniões.
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    As pessoas falam-me sobre
    a nova capacidade importante
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    de fazer contacto visual
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    enquanto estamos a mandar mensagens.
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    (Risos)
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    As pessoas explicam-me
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    que é difícil, mas pode ser feito.
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    Os pais mandam mensagens e emails
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    ao pequeno-almoço e ao jantar
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    enquanto os filhos se queixam
  • 3:25 - 3:28
    de não ter a atenção total dos pais.
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    Mas depois estas mesmas crianças
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    negam umas às outras a sua atenção total.
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    Esta é uma foto recente
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    da minha filha e das suas amigas
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    juntas
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    embora não estando juntas.
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    Até mandamos mensagens durante funerais.
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    Eu estudo isto.
  • 3:47 - 3:49
    Nós alienámo-nos
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    da nossa dor ou dos nossos devaneios
  • 3:51 - 3:53
    e vamos para os nossos telefones.
  • 3:54 - 3:56
    Porque é que isto é importante?
  • 3:56 - 3:58
    Para mim, é importante
  • 3:58 - 4:01
    porque penso que estamos
    a preparar-nos para ter problemas,
  • 4:01 - 4:03
    problemas certamente
  • 4:03 - 4:05
    na forma como nos relacionamos
    uns com os outros,
  • 4:05 - 4:07
    mas também problemas
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    na forma como nos relacionamos
    com nós próprios
  • 4:10 - 4:12
    e na nossa capacidade
    para a autorreflexão.
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    Estamos a habituar-nos a uma nova forma
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    de estarmos sozinhos e juntos.
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    As pessoas querem estar
    umas com as outras,
  • 4:20 - 4:22
    mas também noutro lado,
  • 4:22 - 4:25
    ligadas a todos os diferentes sítios
    onde querem estar.
  • 4:25 - 4:27
    As pessoas querem personalizar a sua vida.
  • 4:27 - 4:30
    Querem entrar e sair
    de todos os sítios onde estão
  • 4:30 - 4:33
    porque a coisa mais importante
    para a maior parte delas
  • 4:33 - 4:36
    é controlar o foco da sua atenção.
  • 4:36 - 4:39
    Então, vocês querem ir
    àquela reunião da direção
  • 4:39 - 4:41
    mas só querem prestar atenção
  • 4:41 - 4:44
    às partes que vos interessam.
  • 4:44 - 4:46
    Algumas pessoas pensam
    que isso é uma coisa boa.
  • 4:46 - 4:48
    Mas podem acabar
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    por se esconderem uns dos outros
  • 4:51 - 4:53
    mesmo que estejam constantemente
    ligadas umas às outras.
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    Um homem de negócios de 50 anos
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    queixou-se
  • 4:58 - 5:01
    de que sente já não ter
    colegas no trabalho.
  • 5:01 - 5:04
    Quando vai para o trabalho,
    não para, para falar com ninguém,
  • 5:04 - 5:06
    não telefona.
  • 5:06 - 5:09
    E diz que não quer interromper
    os seus colegas, porque:
  • 5:09 - 5:11
    "Estão demasiado ocupados
    com os seus emails".
  • 5:11 - 5:13
    mas depois ele interrompe-se
    a si mesmo e diz:
  • 5:13 - 5:16
    "Sabe, não lhe estou a dizer a verdade.
  • 5:16 - 5:18
    "Eu é que não quero ser interrompido.
  • 5:19 - 5:22
    "Eu acho que devia querer,
  • 5:22 - 5:25
    "mas, na realidade, preferia simplesmente
    fazer coisas no meu Blackberry".
  • 5:25 - 5:27
    Ao longo das gerações,
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    vejo que as pessoas
    não se fartam umas das outras,
  • 5:31 - 5:33
    se e apenas se
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    podem estar longe umas das outras,
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    em quantidades que podem controlar.
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    Chamo-lhe o efeito Goldilocks:
  • 5:41 - 5:44
    não muito perto, não muito longe,
  • 5:44 - 5:46
    a medida certa.
  • 5:46 - 5:48
    Mas o que pode parecer a medida certa
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    para aquele executivo de meia-idade
  • 5:50 - 5:52
    pode ser um problema para um adolescente
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    que precisa de desenvolver
    relações cara a cara.
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    Um rapaz de 18 anos
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    que usa mensagens para quase tudo
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    diz-me melancolicamente:
  • 6:03 - 6:05
    "Qualquer dia, qualquer dia,
  • 6:05 - 6:09
    "mas certamente não agora,
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    "gostaria de aprender a ter uma conversa".
  • 6:12 - 6:13
    Quando pergunto às pessoas
  • 6:13 - 6:16
    "O que há de errado em ter uma conversa?"
  • 6:16 - 6:18
    as pessoas dizem:
  • 6:18 - 6:21
    "Eu digo-lhe o que está errado
    com ter uma conversa.
  • 6:21 - 6:23
    "Passa-se em tempo real
  • 6:24 - 6:27
    "e não pode controlar o que vai dizer".
  • 6:27 - 6:30
    Então, esse é o ponto principal.
  • 6:30 - 6:32
    Enviar mensagens, email, publicar,
  • 6:32 - 6:34
    todas essas coisas
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    permitem que nos apresentemos
    como queremos ser.
  • 6:37 - 6:39
    Temos a possibilidade de editar,
  • 6:39 - 6:42
    e isso significa que podemos apagar,
  • 6:42 - 6:45
    e isso significa que podemos retocar,
  • 6:45 - 6:47
    a face, a voz,
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    a carne, o corpo,
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    não de menos, não demais,
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    na medida certa.
  • 6:54 - 6:56
    As relações humanas
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    são ricas e são confusas
  • 6:59 - 7:00
    e são exigentes.
  • 7:00 - 7:03
    Quando as limpamos com tecnologia.
  • 7:03 - 7:05
    quando o fazemos,
  • 7:05 - 7:07
    uma das coisas que pode acontecer
  • 7:07 - 7:10
    é sacrificarmos a conversa
  • 7:10 - 7:12
    por uma simples ligação.
  • 7:12 - 7:14
    Nós defraudamo-nos a nós próprios.
  • 7:14 - 7:16
    E ao longo do tempo,
  • 7:16 - 7:18
    parece que esquecemos isto,
  • 7:18 - 7:21
    ou parece que deixamos de nos preocupar.
  • 7:22 - 7:25
    Eu fui apanhada de surpresa
  • 7:25 - 7:27
    quando Stephen Colbert
  • 7:27 - 7:31
    me fez uma pergunta profunda,
  • 7:31 - 7:34
    uma pergunta profunda.
  • 7:34 - 7:36
    Ele disse:
  • 7:37 - 7:40
    "Esses pequenos tweets todos
  • 7:40 - 7:44
    "esses golinhos todos
  • 7:44 - 7:46
    "de comunicação online,
  • 7:46 - 7:51
    "não se somam num grande gole
  • 7:51 - 7:52
    "de conversa real?"
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    A minha resposta foi não,
  • 7:56 - 7:58
    eles não se somam.
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    Ligar-se aos bocadinhos pode resultar
  • 8:01 - 8:05
    para recolher bocados
    discretos de informação,
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    pode funcionar para dizer:
    "Estou a pensar em ti",
  • 8:09 - 8:12
    ou até para dizer: "Amo-te",
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    Vejam como me senti
  • 8:14 - 8:17
    quando recebi aquela mensagem
    da minha filha.
  • 8:17 - 8:19
    Mas não funcionam realmente
  • 8:19 - 8:22
    para aprendemos uns com os outros,
  • 8:22 - 8:24
    para nos conhecermos
    e percebermos uns aos outros.
  • 8:24 - 8:29
    E nós usamos as conversas
    uns com os outros
  • 8:29 - 8:32
    para aprender como
    ter conversas com nós mesmos.
  • 8:32 - 8:35
    Então, uma fuga à conversa
  • 8:35 - 8:37
    pode ser importante
  • 8:37 - 8:39
    porque pode comprometer
  • 8:39 - 8:41
    a nossa capacidade de autorreflexão.
  • 8:41 - 8:44
    Para os miúdos em crescimento,
  • 8:44 - 8:46
    essa capacidade
    é a base do desenvolvimento.
  • 8:47 - 8:49
    Oiço repetidamente,
  • 8:49 - 8:52
    "Prefiro mandar mensagens do que falar".
  • 8:52 - 8:53
    E o que estou a ver
  • 8:53 - 8:56
    é que as pessoas habituam-se tanto
    a serem defraudadas
  • 8:56 - 8:58
    de uma conversa real,
  • 8:58 - 9:00
    tão habituadas a safar-se com menos,
  • 9:00 - 9:03
    que se tornaram quase dispostas
  • 9:03 - 9:05
    a dispensar totalmente as pessoas.
  • 9:05 - 9:06
    Assim, por exemplo,
  • 9:06 - 9:09
    muitas pessoas partilham
    comigo este desejo,
  • 9:09 - 9:12
    de que algum dia uma versão
    mais avançada do Siri,
  • 9:12 - 9:15
    o assistente digital no iPhone da Apple,
  • 9:15 - 9:17
    será mais como um melhor amigo,
  • 9:17 - 9:19
    alguém que vai ouvir
  • 9:19 - 9:21
    quando os outros não o fazem.
  • 9:21 - 9:22
    Eu acredito neste desejo
  • 9:22 - 9:25
    reflete uma verdade cruel
  • 9:25 - 9:28
    que aprendi nos últimos 15 anos.
  • 9:28 - 9:32
    Aquela sensação
    de que ninguém está a ouvir-me
  • 9:32 - 9:33
    é muito importante
  • 9:33 - 9:36
    nas nossas relações com a tecnologia.
  • 9:36 - 9:38
    É por isso que é tão apelativo
  • 9:38 - 9:40
    ter uma página no Facebook
  • 9:40 - 9:42
    ou um feed no Twitter,
  • 9:42 - 9:44
    tantos ouvintes automáticos.
  • 9:44 - 9:48
    A sensação de que ninguém está a ouvir-nos
  • 9:48 - 9:49
    faz-nos querer gastar tempo
  • 9:49 - 9:52
    com máquinas que parecem
    importar-se connosco.
  • 9:52 - 9:55
    Estamos a desenvolver robôs,
  • 9:55 - 9:57
    chamamos-lhes robôs sociais,
  • 9:57 - 10:01
    que são especificamente concebidos
    para serem companheiros para idosos,
  • 10:01 - 10:03
    para as nossas crianças
  • 10:03 - 10:05
    para nós.
  • 10:06 - 10:08
    Será que perdemos a confiança
  • 10:08 - 10:12
    de que estaremos lá uns para os outros?
  • 10:12 - 10:14
    Durante a minha pesquisa
  • 10:14 - 10:16
    trabalhei em lares,
  • 10:16 - 10:19
    e introduzi estes robôs sociáveis
  • 10:19 - 10:22
    que foram concebidos para dar aos idosos
  • 10:22 - 10:24
    a sensação de que eram percebidos.
  • 10:25 - 10:26
    Um dia entrei
  • 10:26 - 10:29
    e uma mulher que tinha perdido uma criança
  • 10:29 - 10:31
    estava a falar para um robô
  • 10:31 - 10:33
    com a forma de uma foca bebé.
  • 10:34 - 10:36
    Parecia estar a olhá-la nos olhos.
  • 10:36 - 10:39
    Parecia estar a acompanhar a conversa.
  • 10:39 - 10:41
    Isso confortou-a.
  • 10:42 - 10:45
    Muita gente acha isto extraordinário.
  • 10:46 - 10:50
    Mas aquela mulher estava a tentar
    dar um sentido à sua vida
  • 10:50 - 10:54
    com uma máquina que nunca teve experiência
  • 10:54 - 10:56
    da curva de uma vida humana.
  • 10:56 - 10:59
    Aquele robô deu um grande espetáculo.
  • 10:59 - 11:02
    E nós somos vulneráveis.
  • 11:02 - 11:04
    As pessoas vivem a empatia simulada
  • 11:04 - 11:06
    como se fosse a verdadeira.
  • 11:07 - 11:10
    Assim, durante aquele momento
  • 11:10 - 11:12
    quando aquela mulher
  • 11:12 - 11:15
    estava a viver aquela empatia simulada,
  • 11:15 - 11:19
    eu fiquei a pensar:
    "Aquele robô não pode sentir empatia.
  • 11:19 - 11:21
    "Não enfrenta a morte.
  • 11:21 - 11:23
    "Não conhece a vida".
  • 11:23 - 11:25
    E como aquela mulher encontrou conforto
  • 11:25 - 11:27
    no seu companheiro robótico,
  • 11:27 - 11:29
    não o achei extraordinário.
  • 11:29 - 11:34
    Achei um dos momentos
    mais dolorosos e complicados
  • 11:34 - 11:36
    nos meus 15 anos de trabalho.
  • 11:36 - 11:39
    Mas quando dei um passo atrás,
  • 11:39 - 11:43
    senti-me no centro frio e duro
  • 11:43 - 11:45
    de uma tempestade perfeita.
  • 11:45 - 11:48
    Nós esperamos mais da tecnologia
  • 11:48 - 11:51
    e menos uns dos outros.
  • 11:51 - 11:53
    E eu pergunto-me:
  • 11:53 - 11:56
    "Como é que as coisas
    chegaram a este ponto?"
  • 11:56 - 11:58
    E acredito ser porque
  • 11:58 - 12:01
    a tecnologia apela à maioria de nós
  • 12:01 - 12:03
    onde somos mais vulneráveis.
  • 12:03 - 12:06
    E nós somos vulneráveis.
  • 12:06 - 12:07
    Sentimo-nos sós,
  • 12:07 - 12:10
    mas temos medo da intimidade.
  • 12:10 - 12:13
    Portanto, das redes sociais
    a robôs sociáveis,
  • 12:13 - 12:15
    estamos a conceber tecnologias
  • 12:15 - 12:18
    que nos darão a ilusão de companheirismo
  • 12:18 - 12:20
    sem as exigências de uma amizade.
  • 12:20 - 12:23
    Recorremos à tecnologia para nos ajudar
    a sentirmo-nos ligados
  • 12:23 - 12:26
    de maneiras que podemos
    controlar facilmente.
  • 12:26 - 12:28
    Mas não estamos tão confortáveis.
  • 12:28 - 12:31
    Não estamos tão em controlo.
  • 12:31 - 12:34
    Hoje em dia, estes telefones
    nos nossos bolsos
  • 12:34 - 12:36
    estão a mudar as nossas mentes e corações
  • 12:36 - 12:38
    porque nos oferecem
  • 12:38 - 12:40
    três fantasias gratificantes.
  • 12:40 - 12:42
    Primeiro, que podemos
    colocar a nossa atenção
  • 12:42 - 12:44
    onde quisermos que ela esteja.
  • 12:44 - 12:47
    Segundo, que iremos ser sempre ouvidos.
  • 12:47 - 12:50
    E terceiro, que nunca teremos
    de estar sozinhos.
  • 12:50 - 12:52
    Esta terceira ideia,
  • 12:52 - 12:54
    de que nunca teremos de estar sozinhos.
  • 12:54 - 12:57
    é fulcral para mudar as nossas mentes.
  • 12:57 - 13:00
    Porque a partir do momento
    em que as pessoas estão sozinhas,
  • 13:00 - 13:02
    mesmo que por alguns segundos,
  • 13:02 - 13:05
    elas ficam ansiosas, entram em pânico,
    ficam nervosas,
  • 13:05 - 13:07
    agarram-se a um aparelho.
  • 13:07 - 13:09
    Pensem nas pessoas numa fila de espera
  • 13:09 - 13:11
    ou num semáforo vermelho.
  • 13:11 - 13:14
    Estar sozinho parece ser um problema
    que necessita de ser resolvido.
  • 13:14 - 13:18
    E então, as pessoas tentam-no
    resolver ao ligarem-se.
  • 13:18 - 13:19
    Mas neste caso, a ligação
  • 13:19 - 13:22
    é mais como um sintoma do que uma cura.
  • 13:23 - 13:26
    Exprime mas não resolve,
  • 13:26 - 13:27
    um problema de fundo.
  • 13:27 - 13:30
    Mas mais que um sintoma,
  • 13:30 - 13:31
    a ligação constante está a mudar
  • 13:31 - 13:34
    a maneira como as pessoas
    pensam de si próprias.
  • 13:34 - 13:36
    Está a modelar uma nova maneira de ser.
  • 13:36 - 13:39
    A melhor maneira para o descrever é,
  • 13:39 - 13:41
    "eu partilho, logo existo".
  • 13:42 - 13:45
    Usamos a tecnologia para nos
    definirmos a nós mesmos
  • 13:45 - 13:47
    partilhando os nossos pensamentos
    e sentimentos
  • 13:47 - 13:49
    mesmo enquanto os estamos a ter.
  • 13:49 - 13:51
    Então, antes era:
  • 13:51 - 13:54
    "Eu tenho um sentimento,
    quero fazer uma chamada".
  • 13:54 - 13:59
    Agora é: "Eu quero ter um sentimento,
    preciso de enviar uma mensagem".
  • 14:01 - 14:03
    O problema com este novo regime
  • 14:03 - 14:05
    de "eu partilho, logo existo"
  • 14:05 - 14:07
    é que, se não tivermos uma ligação,
  • 14:07 - 14:09
    não nos sentimos como nós próprios.
  • 14:09 - 14:11
    Nós quase não nos sentimos a nós próprios.
  • 14:11 - 14:14
    Então, o que fazemos?
    Ligamo-nos cada vez mais.
  • 14:14 - 14:16
    Mas no processo,
  • 14:16 - 14:18
    predispomo-nos a estar isolados.
  • 14:19 - 14:22
    Como é que vamos da ligação ao isolamento?
  • 14:22 - 14:24
    Acabamos isolados
  • 14:24 - 14:27
    se não cultivarmos
    a capacidade para a solidão,
  • 14:27 - 14:29
    a capacidade de ser separado,
  • 14:29 - 14:32
    para se reunirem a si próprios.
  • 14:32 - 14:34
    A solidão é onde nos encontramo
    a nós próprios
  • 14:34 - 14:38
    de forma a alcançar as outras pessoas
  • 14:38 - 14:39
    e formar ligações reais.
  • 14:39 - 14:42
    Quando não temos a capacidade
    para a solidão,
  • 14:42 - 14:46
    viramo-nos para as outras pessoas,
    de forma a sentirmo-nos menos ansiosos
  • 14:46 - 14:48
    ou de forma a nos sentirmos vivos.
  • 14:48 - 14:50
    Quando isto acontece,
  • 14:50 - 14:53
    quando não somos capazes
    de apreciar quem eles são,
  • 14:53 - 14:54
    é como se os estivéssemos a usar
  • 14:54 - 14:56
    como peças sobresselentes
  • 14:56 - 14:59
    para apoiar o nosso sentido frágil do ser.
  • 15:00 - 15:03
    Caímos no pensamento de que,
    estarmos sempre ligados
  • 15:03 - 15:06
    vai fazer-nos sentir menos sozinhos.
  • 15:06 - 15:08
    Mas estamos em risco,
  • 15:08 - 15:11
    porque, na realidade,
    o contrário é que é verdade.
  • 15:11 - 15:13
    Se não somos capazes de estar sozinhos,
  • 15:13 - 15:16
    vamos estar ainda mais solitários.
  • 15:16 - 15:19
    E se não ensinarmos às nossas crianças
    a estarem sozinhas,
  • 15:19 - 15:21
    elas só vão saber
  • 15:21 - 15:23
    como estar solitárias.
  • 15:23 - 15:26
    Quando falei no TED em 1996,
  • 15:26 - 15:27
    relatando os meus estudos
  • 15:27 - 15:31
    das primeiras comunidades virtuais,
    eu disse:
  • 15:31 - 15:33
    "Aqueles que passam a maior parte
  • 15:33 - 15:35
    "da vida no ecrã
  • 15:35 - 15:37
    "chegam a ela num espírito
    de autorreflexão".
  • 15:38 - 15:40
    E é isso que estou a pedir aqui, agora:
  • 15:40 - 15:44
    reflexão e, mais do que isso, uma conversa
  • 15:44 - 15:47
    sobre onde é que o uso atual da tecnologia
  • 15:47 - 15:49
    estará a levar-nos,
  • 15:49 - 15:51
    o que nos poderá estar a custar.
  • 15:51 - 15:54
    Estamos apaixonados pela tecnologia.
  • 15:54 - 15:57
    E temos medo, como jovens apaixonados,
  • 15:57 - 16:00
    de que demasiada conversa
    possa estragar o romance.
  • 16:00 - 16:02
    Mas é tempo de falar.
  • 16:02 - 16:05
    Nós crescemos com a tecnologia digital
  • 16:05 - 16:07
    e assim vemo-la como desenvolvida.
  • 16:07 - 16:09
    Mas não está, ainda é cedo.
  • 16:09 - 16:11
    Há muito tempo
  • 16:11 - 16:14
    para reconsiderarmos a forma de usá-la,
  • 16:14 - 16:16
    como a construímos.
  • 16:16 - 16:17
    Não estou a sugerir
  • 16:17 - 16:20
    que desliguemos os nossos aparelhos,
  • 16:20 - 16:23
    apenas que desenvolvamos
    uma relação mais autoconsciente
  • 16:23 - 16:25
    com eles, uns com os outros
  • 16:25 - 16:27
    e com nós próprios.
  • 16:27 - 16:30
    Vejo alguns primeiros passos.
  • 16:30 - 16:32
    Comecem a pensar na solidão
  • 16:32 - 16:34
    como uma coisa boa.
  • 16:34 - 16:36
    Deem-lhe espaço.
  • 16:36 - 16:38
    Encontrem maneiras de demonstrar isso
  • 16:38 - 16:41
    enquanto um valor para os vossos filhos.
  • 16:41 - 16:43
    Criem espaços sagrados em casa
  • 16:43 - 16:45
    — a cozinha, a sala de jantar —
  • 16:45 - 16:48
    e recuperem-nas para conversar.
  • 16:48 - 16:49
    Façam a mesma coisa no trabalho.
  • 16:49 - 16:52
    No trabalho, estamos
    tão ocupados a comunicar
  • 16:52 - 16:55
    que, muitas das vezes,
    não temos tempo para pensar,
  • 16:55 - 16:57
    não temos tempo para falar,
  • 16:57 - 16:59
    sobre as coisas que realmente importam.
  • 16:59 - 17:01
    Mudem isso.
  • 17:01 - 17:05
    Acima de tudo, todos nós precisamos
    de nos ouvir uns aos outros,
  • 17:05 - 17:09
    incluindo as partes aborrecidas.
  • 17:10 - 17:12
    Porque é quando tropeçamos
  • 17:12 - 17:14
    ou hesitamos ou perdemos as palavras
  • 17:14 - 17:18
    que nos revelamos uns aos outros.
  • 17:19 - 17:21
    A tecnologia está a fazer uma proposta
  • 17:21 - 17:24
    para redefinir a ligação humana
  • 17:24 - 17:26
    — como nos preocupamos uns com os outros,
  • 17:26 - 17:28
    como nos preocupamos com nós próprios —
  • 17:28 - 17:30
    mas está também a dar-nos a oportunidade
  • 17:30 - 17:32
    de afirmar os nosso valores
  • 17:32 - 17:34
    e o nosso caminho.
  • 17:34 - 17:36
    Eu sou otimista.
  • 17:36 - 17:39
    Temos tudo o que precisamos para começar.
  • 17:39 - 17:41
    Temo-nos uns aos outros.
  • 17:41 - 17:44
    E temos a maior probabilidade de sucesso
  • 17:44 - 17:47
    se reconhecermos a nossa vulnerabilidade.
  • 17:47 - 17:49
    Que escutemos
  • 17:49 - 17:51
    quando a tecnologia diz
  • 17:51 - 17:53
    que pegará em algo complicado
  • 17:53 - 17:56
    e promete algo mais simples.
  • 17:57 - 17:59
    Assim, no meu trabalho,
  • 17:59 - 18:01
    oiço que a vida é difícil,
  • 18:01 - 18:03
    as relações estão cheias de risco.
  • 18:04 - 18:06
    E depois há a tecnologia,
  • 18:06 - 18:08
    mais simples, esperançosa,
  • 18:08 - 18:11
    otimista, sempre jovem.
  • 18:11 - 18:13
    É como chamar a cavalaria.
  • 18:13 - 18:15
    Uma campanha publicitária promete
  • 18:15 - 18:17
    que online e com avatares, podem:
  • 18:17 - 18:21
    "Finalmente, gostar dos vossos amigos
  • 18:21 - 18:24
    gostar do vosso corpo,
    gostar da vossa vida,
  • 18:24 - 18:26
    online e com avatares".
  • 18:26 - 18:29
    Somos atraídos para um romance virtual,
  • 18:29 - 18:32
    para jogos de computadores
    que se parecem com mundos,
  • 18:32 - 18:35
    para a ideia que os robôs
  • 18:35 - 18:38
    serão um dia
    os nossos verdadeiros companheiros.
  • 18:39 - 18:41
    Passamos um serão na rede social
  • 18:41 - 18:44
    em vez de ir a um bar com os amigos.
  • 18:45 - 18:47
    Mas as nossas fantasias de substituição
  • 18:47 - 18:49
    têm-nos custado.
  • 18:50 - 18:52
    Agora todos temos de nos focar
  • 18:52 - 18:54
    nas muitas, muitas maneiras
  • 18:54 - 18:57
    em que a tecnologia
    nos pode fazer regressar
  • 18:57 - 19:00
    à nossa vida real, ao nosso próprio corpo,
  • 19:00 - 19:03
    às nossas próprias comunidades,
  • 19:03 - 19:04
    às nossas próprias políticas,
  • 19:04 - 19:06
    ao nosso próprio planeta.
  • 19:06 - 19:07
    Eles precisam de nós.
  • 19:08 - 19:10
    Vamos falar sobre
  • 19:10 - 19:12
    como podemos usar a tecnologia digital,
  • 19:12 - 19:15
    a tecnologia dos nossos sonhos,
  • 19:15 - 19:17
    para fazer desta vida
  • 19:17 - 19:19
    a vida que podemos amar.
  • 19:20 - 19:21
    Obrigada.
  • 19:21 - 19:24
    (Aplausos)
Title:
Ligados, mas sós?
Speaker:
Sherry Turkle
Description:

Se esperamos cada vez mais da tecnologia, será que esperamos menos uns dos outros? Sherry Turkle estuda como os nossos dispositivos e personalidades virtuais estão a redefinir a ligação e a comunicação humana — e pede-nos para refletirmos sobre que tipo de ligações novas queremos.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:28
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Jenny Zurawell approved Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Retired user accepted Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Retired user edited Portuguese subtitles for Connected, but alone?
Carlos Gonçalves added a translation

Portuguese subtitles

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