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Uma forma simples de quebrar um mau hábito

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    Quando comecei a aprender a meditar,
  • 0:03 - 0:06
    as instruções eram simplesmente
    prestar atenção à respiração,
  • 0:06 - 0:08
    e quando me distraísse,
    recuperar o controlo.
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    Parecia ser fácil.
  • 0:11 - 0:14
    No entanto, eu ficava sentado
    nestes retiros silenciosos,
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    transpirando através de T-shirts
    no meio do inverno.
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    Dormia sempre que podia
    porque era mesmo difícil.
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    Na verdade, era exaustivo.
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    As instruções eram simples
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    mas faltava-me algo
    realmente importante.
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    Porque é tão difícil prestar atenção?
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    Bem, os estudos demonstram
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    que, mesmo quando tentamos
    prestar atenção a algo
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    — como talvez esta palestra —
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    a dada altura,
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    metade de nós começam
    a sonhar acordados,
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    ou teremos vontade
    de aceder ao Twitter.
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    O que é que acontece aqui?
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    Estamos a lutar contra
    um dos processos de aprendizagem
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    mais conservados pela evolução
    que a ciência conhece,
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    um processo que está conservado
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    nos sistemas nervosos
    mais básicos que conhecemos.
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    Este processo à base de recompensa
  • 1:00 - 1:02
    chama-se reforço positivo e negativo,
  • 1:02 - 1:04
    e funciona basicamente assim:
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    vemos comida com bom aspecto,
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    o nosso cérebro diz:
    "Calorias! ... Sobrevivência!"
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    Comemos, saboreamos a comida,
    sabe bem.
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    Especialmente com o açúcar,
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    o corpo envia um sinal
    para o cérebro que diz:
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    "Lembra-te do que estás a comer
    e onde o encontraste."
  • 1:19 - 1:22
    Registamos esta memória contextual
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    e aprendemos a repetir o processo.
  • 1:25 - 1:26
    Ver comida,
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    comer, sentir-se bem,
  • 1:28 - 1:29
    repetir.
  • 1:29 - 1:32
    Estímulo, comportamento, recompensa.
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    Simples, não é?
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    Ao fim de uns tempos,
    o nosso cérebro criativo diz:
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    "Sabes que mais?
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    "Podes usar isto para além de
    memorizar onde há comida.
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    "Da próxima vez que te sentires mal,
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    "porque é que não tentas comer
    alguma coisa boa para te sentires melhor?"
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    Agradecemos ao cérebro a boa ideia,
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    experimentamos e depressa aprendemos
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    que, se comermos chocolate ou gelado,
    quando estamos zangados ou tristes,
  • 1:55 - 1:57
    sentimo-nos melhor.
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    O mesmo processo,
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    com um estímulo diferente.
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    Em vez do sinal de fome
    que sai do nosso estômago,
  • 2:03 - 2:05
    este sinal emocional — tristeza —
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    provoca o desejo de comer.
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    Talvez na nossa adolescência,
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    fôssemos marrões na escola,
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    e víamos os miúdos rebeldes
    a fumar lá fora e pensávamos:
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    "Quero ser fixe."
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    Então começamos a fumar.
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    O Marlboro Man não era um idiota,
    e isso não era por acaso.
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    Ver fixe,
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    fumar para ser fixe,
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    sentir-se bem, repetir.
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    Estímulo, comportamento, recompensa.
  • 2:29 - 2:31
    Cada vez que fazemos isso,
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    aprendemos a repetir o processo
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    até se tornar um hábito.
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    Mais tarde,
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    sentir-se nervoso provoca
    o desejo de fumar um cigarro
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    ou comer qualquer coisa doce.
  • 2:41 - 2:44
    Com estes mesmos processos cerebrais,
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    passámos de aprender a sobreviver
  • 2:46 - 2:49
    a matar-nos com esses hábitos.
  • 2:49 - 2:50
    A obesidade e o tabaco
  • 2:50 - 2:55
    são duas das principais causas evitáveis
    de morbidez e mortalidade no mundo.
  • 2:55 - 2:57
    Voltemos à minha respiração.
  • 2:58 - 3:00
    E se, em vez de lutarmos
    contra o nosso cérebro,
  • 3:00 - 3:03
    ou tentarmos forçar-nos
    a prestar atenção,
  • 3:03 - 3:07
    aproveitássemos este processo
    natural e baseado na recompensa,
  • 3:07 - 3:08
    acrescentando um truque?
  • 3:09 - 3:11
    E se fôssemos muito curiosos
  • 3:11 - 3:13
    sobre o que acontece na nossa
    experiência momentânea?
  • 3:13 - 3:15
    Vou dar-vos um exemplo.
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    No meu laboratório,
  • 3:16 - 3:19
    estudámos se o treino da consciência
    poderia ajudar a deixar de fumar.
  • 3:19 - 3:23
    Tal como eu tentava forçar-me
    a prestar atenção à minha respiração,
  • 3:23 - 3:26
    os fumadores poderiam tentar
    forçar-se a deixar de fumar.
  • 3:26 - 3:29
    A maioria deles
    já tinha tentado e falhado,
  • 3:29 - 3:31
    em média, seis vezes.
  • 3:32 - 3:34
    Com o treino da consciência,
  • 3:34 - 3:37
    eliminámos a obrigação
    e concentrámo-nos na curiosidade.
  • 3:38 - 3:41
    De facto, até lhes dissemos para fumar.
  • 3:41 - 3:43
    O quê? Sim, dissemos:
  • 3:43 - 3:46
    "Podem fumar, mas sejam curiosos
    sobre o que sentem quando o fazem."
  • 3:46 - 3:48
    Em que é que eles repararam?
  • 3:48 - 3:51
    Este é um exemplo
    de uma das nossas fumadoras.
  • 3:51 - 3:53
    Ela disse: "Fumar conscientemente:
  • 3:53 - 3:55
    "cheira a queijo fedorento
  • 3:55 - 3:56
    "e sabe a químicos,
  • 3:56 - 3:57
    "Brrr!"
  • 3:58 - 4:01
    Ela sabia, cognitivamente,
    que fumar lhe fazia mal,
  • 4:01 - 4:03
    foi por isso que aderiu ao nosso programa.
  • 4:04 - 4:08
    O que ela descobriu só por estar
    curiosamente consciente quando fumava
  • 4:08 - 4:11
    foi que o sabor do fumo é horrível.
  • 4:11 - 4:13
    (Risos)
  • 4:14 - 4:18
    O conhecimento dela
    transformou-se em discernimento.
  • 4:18 - 4:22
    Ela começou por saber, na cabeça,
    que fumar lhe fazia mal
  • 4:22 - 4:24
    e acabou por reconhecê-lo intrinsecamente,
  • 4:24 - 4:26
    e o feitiço do tabaco foi quebrado.
  • 4:26 - 4:30
    Ela começou a desiludir-se
    com o seu comportamento.
  • 4:31 - 4:33
    O córtex pré-frontal,
  • 4:33 - 4:37
    a parte mais jovem do cérebro
    do ponto de vista evolutivo,
  • 4:37 - 4:41
    percebe, a nível intelectual,
    que não devíamos fumar.
  • 4:41 - 4:45
    E tenta, tanto quanto pode, ajudar-nos
    a mudar o nosso comportamento,
  • 4:45 - 4:46
    ajudar-nos a não fumar,
  • 4:46 - 4:50
    ajudar-nos a não comer aquela
    segunda, terceira, quarta bolacha.
  • 4:51 - 4:53
    Chamamos a isto controlo cognitivo.
  • 4:53 - 4:56
    Usamos o conhecimento para
    controlar o nosso comportamento.
  • 4:56 - 4:59
    Infelizmente, esta também é
    a primeira parte do cérebro
  • 4:59 - 5:01
    que se desliga quando
    ficamos sob tensão,
  • 5:01 - 5:03
    o que não ajuda muito.
  • 5:03 - 5:05
    Todos já vivemos
    experiências semelhantes.
  • 5:05 - 5:08
    É muito mais provável gritarmos
    com o nosso cônjuge ou filhos
  • 5:08 - 5:11
    quando estamos sob tensão ou cansados
  • 5:11 - 5:12
    apesar de sabermos que não vai ajudar.
  • 5:12 - 5:14
    Mas não conseguimos evitá-lo.
  • 5:15 - 5:17
    Quando o córtex pré-frontal se desliga,
  • 5:17 - 5:20
    regressamos aos nossos velhos hábitos.
  • 5:20 - 5:22
    É por isso que esta desilusão
    é tão importante.
  • 5:22 - 5:24
    Ver o resultado dos nossos hábitos
  • 5:24 - 5:26
    ajuda-nos a compreendê-los
    mais a fundo
  • 5:26 - 5:28
    — conhecê-los intrinsecamente
  • 5:28 - 5:30
    para não termos de
    forçar-nos a conter-nos
  • 5:30 - 5:32
    ou a reprimir comportamentos.
  • 5:32 - 5:34
    Ficamos à partida menos
    interessados em realizá-los.
  • 5:34 - 5:37
    A consciência é precisamente isto:
  • 5:37 - 5:41
    Ver claramente o que obtemos quando
    ficamos presos nos nossos comportamentos,
  • 5:42 - 5:45
    desiludirmo-nos a nível visceral
  • 5:45 - 5:49
    e, desta posição desiludida,
    libertarmo-nos naturalmente.
  • 5:49 - 5:52
    Isto não significa que
    deixamos magicamente de fumar.
  • 5:52 - 5:55
    Mas com o tempo, à medida
    que vamos tomando consciência
  • 5:55 - 5:57
    dos resultados das nossas acções,
  • 5:57 - 6:00
    libertamo-nos de hábitos
    antigos e criamos novos.
  • 6:00 - 6:01
    O paradoxo aqui
  • 6:01 - 6:04
    é que a consciência é apenas
    um interesse verdadeiro
  • 6:04 - 6:06
    em tornarmo-nos íntimos
  • 6:06 - 6:08
    com o que realmente acontece
    no nosso corpo e mente,
  • 6:08 - 6:10
    a cada momento.
  • 6:10 - 6:12
    Esta vontade de nos voltarmos
    para a experiência
  • 6:12 - 6:16
    em vez de tentarmos afastar rapidamente
    desejos desagradáveis.
  • 6:17 - 6:19
    e esta vontade de nos voltarmos
    para a experiência
  • 6:19 - 6:21
    é sustentada pela curiosidade,
  • 6:21 - 6:23
    que é naturalmente recompensadora.
  • 6:23 - 6:25
    A que é que sabe a curiosidade?
  • 6:25 - 6:26
    Sabe bem.
  • 6:27 - 6:29
    E o que acontece quando
    nos tornamos curiosos?
  • 6:29 - 6:33
    Reparamos que os desejos são feitos
    simplesmente de sensações corporais
  • 6:33 - 6:36
    — aperto, tensão, agitação —
  • 6:37 - 6:40
    e que estas sensações
    corporais vão e vêm.
  • 6:40 - 6:43
    São pequenos pedaços de experiências
  • 6:43 - 6:45
    que conseguimos gerir a cada momento,
  • 6:45 - 6:49
    em vez de sermos dilacerados
    por estes desejos enormes e assustadores
  • 6:49 - 6:51
    que nos sufocam.
  • 6:51 - 6:53
    Por outras palavras,
    quando somos curiosos,
  • 6:53 - 6:58
    abandonamos os nossos velhos e reactivos
    padrões de hábitos baseados no medo
  • 6:58 - 7:00
    e passamos a "ser" conscientemente.
  • 7:00 - 7:03
    Tornamo-nos um cientista interior,
  • 7:03 - 7:06
    esperando ansiosamente
    pelos próximos resultados.
  • 7:06 - 7:11
    Isto pode parecer demasiado simplista
    para afectar comportamentos.
  • 7:11 - 7:13
    Mas um estudo concluiu
    que o treino da consciência
  • 7:13 - 7:17
    era duas vezes mais eficaz que
    a terapia padrão no abandono do tabaco.
  • 7:17 - 7:19
    A verdade é que funciona.
  • 7:20 - 7:23
    Quando estudámos os cérebros
    de meditadores experientes,
  • 7:23 - 7:24
    descobrimos que estavam em jogo
  • 7:24 - 7:27
    partes de uma rede neural
    de processamento auto-referencial
  • 7:27 - 7:29
    chamada "rede de modo por defeito".
  • 7:29 - 7:32
    Uma hipótese actual
    é que uma região desta rede,
  • 7:32 - 7:34
    chamada córtex cingulado posterior,
  • 7:35 - 7:37
    é activada, não necessariamente
    pelo desejo em si,
  • 7:37 - 7:40
    mas quando somos apanhados por ele,
    quando somos sugados
  • 7:40 - 7:42
    e perdemos o controlo.
  • 7:42 - 7:44
    Por outro lado, quando nos libertamos
  • 7:44 - 7:45
    — abandonando o processo
  • 7:45 - 7:48
    por estarmos curiosamente
    conscientes do que acontece —
  • 7:48 - 7:50
    esta mesma região do cérebro acalma-se.
  • 7:51 - 7:56
    Agora, estamos a testar aplicações e
    programas "online" de treino da consciência
  • 7:56 - 7:59
    que se concentram
    nestes mecanismos centrais
  • 7:59 - 8:03
    e, ironicamente, usam
    a mesma tecnologia que nos distrai
  • 8:03 - 8:06
    para nos ajudar a abandonar
    os nossos hábitos nocivos,
  • 8:06 - 8:10
    como fumar, comer devido à tensão
    e outros comportamentos aditivos.
  • 8:10 - 8:12
    Lembram-se daquela parte
    sobre memória contextual?
  • 8:12 - 8:15
    Podemos colocar estas ferramentas
    nas pontas dos dedos das pessoas,
  • 8:15 - 8:17
    nos contextos mais significativos.
  • 8:18 - 8:19
    Assim, podemos ajudá-las
  • 8:19 - 8:22
    a usar a sua capacidade inerente
    de serem curiosamente conscientes
  • 8:22 - 8:26
    quando surgir o desejo de fumar,
    comer ou qualquer outro.
  • 8:27 - 8:29
    Se não fumarem ou comerem em demasia,
  • 8:29 - 8:32
    da próxima vez que estiverem aborrecidos
    e quiserem verificar o "email",
  • 8:32 - 8:34
    ou estiverem a tentar
    distrair-se do trabalho,
  • 8:34 - 8:38
    ou talvez responder compulsivamente
    a uma mensagem enquanto conduzem,
  • 8:39 - 8:43
    tentem usar esta capacidade natural,
  • 8:43 - 8:44
    tenham curiosidade consciente
  • 8:44 - 8:47
    sobre o que acontece no vosso corpo
    e na vossa mente nesse momento.
  • 8:47 - 8:49
    Será só mais uma oportunidade
  • 8:49 - 8:52
    de perpetuar um dos nossos infinitos
    e exaustivos ciclos de hábitos
  • 8:52 - 8:54
    ou de sair dele.
  • 8:54 - 8:57
    Em vez de ver a mensagem,
    de responder compulsivamente,
  • 8:57 - 8:59
    de sentir-se um pouco melhor,
  • 8:59 - 9:00
    reparem no desejo,
  • 9:00 - 9:02
    sejam curiosos,
  • 9:02 - 9:04
    sintam a alegria de se libertarem
  • 9:04 - 9:05
    e repitam.
  • 9:05 - 9:07
    Obrigado.
  • 9:07 - 9:10
    (Aplausos)
Title:
Uma forma simples de quebrar um mau hábito
Speaker:
Judson Brewer
Description:

Podemos quebrar maus hábitos ao sermos mais curiosos sobre eles? O psiquiatra Judson Brewer estuda a relação entre a consciência e o vício — desde fumar a comer em excesso, passando por todas as coisas que fazemos apesar de sabermos que nos fazem mal. Aprendam mais sobre o mecanismo de desenvolvimento de hábitos e descubram uma táctica simples mas profunda que pode ajudar-vos a contrariar o vosso próximo desejo de fumar, comer ou ler uma mensagem enquanto conduzem.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:24

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