Return to Video

Bahia Shehab: Mil vezes não

  • 0:00 - 0:03
    Há dois anos, fui convidada a participar
  • 0:03 - 0:06
    enquanto artista, numa exibição
    de comemoração
  • 0:06 - 0:09
    dos 100 anos da arte islâmica na Europa.
  • 0:09 - 0:11
    O curador tinha apenas uma condição:
  • 0:11 - 0:15
    Eu tinha que usar os caracteres árabes
    no meu trabalho artístico.
  • 0:15 - 0:18
    Agora, enquanto artista, mulher, árabe
  • 0:18 - 0:22
    ou ser humano que vive no mundo em 2010,
  • 0:22 - 0:25
    tinha apenas uma coisa a dizer:
  • 0:25 - 0:27
    Eu queria dizer não.
  • 0:27 - 0:30
    E em árabe, para dizer "não", dizemos "não,
  • 0:30 - 0:32
    e mil vezes não".
  • 0:32 - 0:36
    Então decidi procurar mil nãos diferentes,
  • 0:36 - 0:38
    em tudo o que foi produzido
  • 0:38 - 0:42
    sob mecenato islâmico ou árabe nos
    últimos 1.400 anos,
  • 0:42 - 0:46
    desde Espanha até à fronteira chinesa.
  • 0:46 - 0:48
    Reuni os meus achados num livro,
  • 0:48 - 0:52
    organizei-os cronologicamente,
    mencionando o nome,
  • 0:52 - 0:55
    o patrono, o meio e a data.
  • 0:55 - 0:58
    O livro estava numa pequena prateleira
    perto da instalação,
  • 0:58 - 1:02
    e tinha três por sete metros,
    em Munique, Alemanha,
  • 1:02 - 1:05
    em setembro de 2010.
  • 1:05 - 1:11
    Agora, em janeiro de 2011,
    a revolução começou,
  • 1:11 - 1:14
    e a vida parou por 18 dias,
  • 1:14 - 1:16
    e no dia 12 de fevereiro,
  • 1:16 - 1:19
    ingenuamente celebrámos nas ruas do Cairo,
  • 1:19 - 1:23
    acreditando que a revolução
    tinha sido bem-sucedida.
  • 1:23 - 1:26
    Nove meses depois, dei por mim
    a pintar mensagens
  • 1:26 - 1:30
    na Praça de Tahrir. A razão para esta atitude
  • 1:30 - 1:34
    foi uma imagem que vi no
    meu 'feed' de notícias.
  • 1:34 - 1:37
    Senti que não podia viver numa cidade
  • 1:37 - 1:39
    onde as pessoas estavam a ser mortas
  • 1:39 - 1:42
    e deitadas fora como lixo nas ruas.
  • 1:42 - 1:44
    Então peguei num "não" de uma lápide
  • 1:44 - 1:48
    do Museu Islâmico do Cairo e
    adicionei-lhe uma mensagem:
  • 1:48 - 1:50
    "não à governação militar".
  • 1:50 - 1:53
    E comecei a pintar essa mensagem
    nas ruas do Cairo.
  • 1:53 - 1:56
    Isso levou a uma série de nãos,
    saídos do livro
  • 1:56 - 1:59
    como se fossem munições,
    com mensagens adicionadas,
  • 1:59 - 2:01
    e eu comecei a pintá-los nas paredes.
  • 2:01 - 2:04
    Vou partilhar alguns desses nãos convosco.
  • 2:04 - 2:06
    Não a um novo Faraó, porque
    quem vier a seguir
  • 2:06 - 2:10
    tem que compreender que não
    seremos governados por outro ditador.
  • 2:10 - 2:14
    Não à violência: Ramy Essam veio a Tahrir
  • 2:14 - 2:16
    no segundo dia da revolução,
  • 2:16 - 2:20
    ele sentou-se com a sua guitarra, a cantar.
  • 2:20 - 2:24
    Um mês depois da queda de Mubarak,
    esta foi a sua recompensa.
  • 2:24 - 2:29
    Não a heróis cegos. Ahmed Harara
    perdeu a vista direita
  • 2:29 - 2:31
    a 28 de janeiro,
  • 2:31 - 2:34
    e a vista esquerda a 19 de novembro,
  • 2:34 - 2:38
    por dois snipers diferentes.
  • 2:38 - 2:41
    Não ao homicídio. Neste caso, não
    a matar homens de religião,
  • 2:41 - 2:44
    pois Sheikh Ahmed Adina Refaat
    foi assassinado
  • 2:44 - 2:48
    a 16 de dezembro, durante uma manifestação,
  • 2:48 - 2:51
    deixando uma viúva e três filhos órfãos.
  • 2:51 - 2:55
    Não a queimar livros. O Instituto do Egito
    foi incendiado
  • 2:55 - 2:59
    a 17 de dezembro. Uma enorme
    perda cultural.
  • 2:59 - 3:01
    Não a despir as pessoas.
  • 3:01 - 3:05
    O sutiã azul é para nos relembrar
    da nossa vergonha
  • 3:05 - 3:09
    enquanto nação, quando permitimos
    que uma mulher de véu seja despida
  • 3:09 - 3:13
    e espancada nas ruas.
    Na pegada lê-se:
  • 3:13 - 3:15
    "Longa vida a uma revolução pacífica",
  • 3:15 - 3:18
    porque nunca iremos retaliar com violência.
  • 3:18 - 3:22
    Não a barreiras de muros.
    A 5 de fevereiro,
  • 3:22 - 3:26
    barricadas de cimento foram
    montadas no Cairo
  • 3:26 - 3:32
    para proteger o Ministério da Defesa
    dos protestantes.
  • 3:32 - 3:34
    Agora, falando de muros, quero partilhar
    convosco a história
  • 3:34 - 3:37
    de um muro no Cairo.
  • 3:37 - 3:41
    Um grupo de artistas decidiu
    pintar um tanque em tamanho real
  • 3:41 - 3:43
    num muro. É à escala real.
  • 3:43 - 3:47
    Em frente ao tanque está um
    homem de bicicleta
  • 3:47 - 3:50
    com um cesto de pão à cabeça.
    Para qualquer transeunte,
  • 3:50 - 3:53
    não há qualquer problema com esta imagem.
  • 3:53 - 3:57
    Após atos de violência, veio outro artista
  • 3:57 - 4:01
    que pintou sangue, protestantes a serem
    atropelados pelo tanque,
  • 4:01 - 4:04
    manifestantes e uma mensagem que dizia:
  • 4:04 - 4:08
    "A partir de amanhã, uso o meu novo rosto,
  • 4:08 - 4:11
    o rosto de cada mártir. Eu existo".
  • 4:11 - 4:14
    Vem a autoridade, pinta a parede de branco,
  • 4:14 - 4:17
    deixa o tanque e acrescenta a mensagem:
  • 4:17 - 4:22
    "Exército e povo, uma mão.
    Egito para os egípcios".
  • 4:22 - 4:26
    Vem outro artista, pinta a cabeça do militar
  • 4:26 - 4:29
    como um monstro a comer uma
    donzela, num rio de sangue,
  • 4:29 - 4:32
    em frente ao tanque.
  • 4:32 - 4:36
    Vem a autoridade, pinta a parede de branco,
    deixa o tanque,
  • 4:36 - 4:38
    deixa o fato e atira um balde
    de tinta preta
  • 4:38 - 4:40
    no rosto do monstro para o esconder.
  • 4:40 - 4:44
    Então chego eu com os meus estênceis
    e pinto em cima do fato,
  • 4:44 - 4:46
    no tanque e em toda a parede
  • 4:46 - 4:48
    e é assim que está hoje
  • 4:48 - 4:50
    até ver. (Risos)
  • 4:50 - 4:54
    Agora, eu quero deixar-vos com um não final.
  • 4:54 - 4:58
    Encontrei Neruda rabiscado
    num pedaço de papel
  • 4:58 - 5:03
    num hospital militar em Tahrir e
    decidi pegar num não do
  • 5:03 - 5:06
    mausoléu Mamluk no Cairo.
  • 5:06 - 5:07
    A mensagem diz:
  • 5:07 - 5:14
    [Árabe]
  • 5:14 - 5:17
    "Podem esmagar as flores, mas não
    podem atrasar a primavera".
  • 5:17 - 5:21
    Obrigada. (Aplausos)
  • 5:21 - 5:30
    (Aplausos)
  • 5:30 - 5:36
    Obrigada. Shukran. (Aplausos)
Title:
Bahia Shehab: Mil vezes não
Speaker:
Bahia Shehab
Description:

A historiadora de arte Bahia Shehab há muito que tem um fascínio pela escrita árabe de 'não'. Quando a revolução varreu o Egito em 2011, ela começou a pintar a imagem nas ruas dizendo não aos ditadores, não ao regime militar e não à violência.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
05:56
Ilona Bastos approved Portuguese subtitles for A thousand times no
Ilona Bastos edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Ilona Bastos edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Leila Teixeira accepted Portuguese subtitles for A thousand times no
Leila Teixeira edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Leila Teixeira edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Rita Maia edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Rita Maia edited Portuguese subtitles for A thousand times no
Show all

Portuguese subtitles

Revisions