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O poder transformador da música | Eder Kinappe e Weslei Felix Ajarda | TEDxLaçador

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    Weslei Ajarda: Hoje venho contar
    um pouco da minha história,
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    começando aos três anos de idade,
    de três a quatro anos de idade,
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    quando minha mãe me levava na igreja
    e eu ficava tão fissurado naquilo,
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    porque eu via a música,
    os músicos tocando na minha frente,
  • 0:27 - 0:31
    os olhos brilhavam, e eu via
    que tinha uma coisa diferente em mim.
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    Era uma questão imensa,
    mas eu não sabia o que era.
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    Como uma criança normal,
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    eu tinha outros tipos
    de brincadeiras, jogava bola,
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    brincava de tantas outras coisas,
  • 0:47 - 0:53
    mas eu sabia que era atraído
    por alguma coisa que tinha muito enfoque,
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    mas não como as brincadeiras me atraíam.
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    Logo depois, com sete anos de idade,
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    eu tive mais conhecimento disso,
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    que foi quando meu amigo
  • 1:08 - 1:10
    me ensinou algumas notas de violão
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    e eu comecei a praticar,
    a gostar bastante e ficar empolgado.
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    Nesse momento, nós queríamos
    brincar de fazer música,
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    mas não tínhamos instrumento,
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    então nós fazíamos bateria
    com panelas e tantas outras coisas.
  • 1:27 - 1:32
    E os sons graves me atraíam, então
    o contrabaixo era a minha cerca.
  • 1:32 - 1:36
    Eu pegava uma ripa de cerca,
    umas cordas de nylon,
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    eu ia destruindo um pouco a casa.
  • 1:39 - 1:42
    Mas era o que eu curtia.
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    Eder Kinappe: Tinha uns pagodes também?
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    WA: Tinha uns pagodes, no domingo,
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    a família tinha costume de fazer
    uma confraternização entre a família.
  • 1:55 - 1:58
    Todos os domingos era aquela
    empolgação: "Hoje tem um pagode, né?"
  • 1:58 - 1:59
    (Risos)
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    Aí ia naquela roda de samba,
    e eu era vidrado naquilo.
  • 2:03 - 2:08
    Quando os músicos paravam,
    soltavam o pandeiro, e eu ia lá batucar.
  • 2:09 - 2:11
    E meus familiares, sabendo disso,
  • 2:11 - 2:16
    a minha tia Carmen Lúcia,
    que eu agradeço até hoje,
  • 2:16 - 2:19
    viu um pequeno trecho no jornal,
  • 2:19 - 2:23
    da Escola de Música da OSPA,
    já no ano de 2013.
  • 2:24 - 2:28
    Naquele momento, ela disse: "Weslei,
    você que gosta tanto de música
  • 2:28 - 2:30
    e é tão atraído por essa arte,
  • 2:30 - 2:33
    aqui tem um trechinho
    sobre a Escola de Música da OSPA,
  • 2:33 - 2:37
    onde abriram inscrições
    para jovens estudantes de baixa renda
  • 2:37 - 2:39
    que queiram fazer música e cursar".
  • 2:39 - 2:42
    Eu falei: "Beleza!", já gostava
    de contrabaixo elétrico.
  • 2:42 - 2:48
    Cheguei na hora, fiz a inscrição certinho,
    mas pensando que era contrabaixo elétrico.
  • 2:48 - 2:50
    (Risos)
  • 2:52 - 2:54
    Chego na primeira aula
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    e me deparo com um instrumento
    de 1,80 m de altura, maior que eu.
  • 2:57 - 2:59
    Naquele tempo eu era pequeno.
  • 2:59 - 3:01
    (Risos)
  • 3:01 - 3:04
    Era maior que eu, imenso,
  • 3:04 - 3:06
    e eu fico apavorado!
  • 3:07 - 3:09
    EK: Bom, foi nesse momento
    que eu conheci o Weslei,
  • 3:09 - 3:12
    na reabertura da Escola de Música da OSPA,
  • 3:12 - 3:15
    que, infelizmente, ficou fechada
    durante um longo período.
  • 3:15 - 3:18
    Então, praticamente tivemos
    que começar do zero.
  • 3:19 - 3:23
    A direção adotou esse critério
    de que comprovação de baixa renda
  • 3:23 - 3:25
    era uma das formas de entrar.
  • 3:25 - 3:28
    Foi assim que o Weslei entrou na Escola.
  • 3:28 - 3:33
    Logo nos primeiros meses de aula,
    já pude perceber que ele tinha um talento
  • 3:33 - 3:37
    bastante acima da média,
    algo que merecia muita atenção.
  • 3:38 - 3:42
    Nesse mesmo período,
    uma emissora de TV e outra de jornal
  • 3:42 - 3:44
    procuraram a Escola de Música
    pra fazer uma reportagem
  • 3:44 - 3:48
    acerca dessa reabertura.
  • 3:48 - 3:51
    Mas a reportagem também tinha o intuito
  • 3:51 - 3:54
    de tentar conseguir
    doação de instrumentos,
  • 3:54 - 3:57
    de tentar ajudar os alunos
    que eram de baixa renda.
  • 3:57 - 4:01
    Eles me perguntaram se eu tinha algum
    aluno que se enquadrava neste contexto,
  • 4:01 - 4:06
    que fosse de baixa renda e tivesse
    um grande talento a ser desenvolvido.
  • 4:06 - 4:09
    Eu indiquei o nome do Weslei.
  • 4:09 - 4:12
    Foi feita a reportagem, que foi muito
    bem feita, muito bem produzida
  • 4:12 - 4:16
    e surtiu os efeitos que nós imaginávamos,
  • 4:16 - 4:21
    porque ele recebeu a doação
    de um contrabaixo, que está aqui.
  • 4:22 - 4:25
    WA: Esse momento da primeira reportagem
    foi um baque na minha vida,
  • 4:25 - 4:30
    porque eu não tinha noção do que era
    essa coisa de câmeras apontadas.
  • 4:30 - 4:32
    Mas eu curti.
  • 4:32 - 4:35
    (Risos)
  • 4:35 - 4:40
    A minha história foi levada
    pras outras pessoas,
  • 4:40 - 4:41
    para saberem realmente meu íntimo,
  • 4:41 - 4:44
    porque, nesse momento,
    você revela o que realmente sente.
  • 4:44 - 4:47
    Naquela época, já estava aflorada
    essa questão da música,
  • 4:47 - 4:50
    e eu sabia que realmente queria isso.
  • 4:51 - 4:56
    Um jornalista do Rio de Janeiro curtiu,
    gostou muito da minha história
  • 4:56 - 4:59
    e resolveu doar um instrumento pra mim.
  • 4:59 - 5:02
    Entrou em contato, perguntou
    a melhor forma de fazer isso,
  • 5:02 - 5:06
    e eu aceitei de muito bom grado.
  • 5:06 - 5:08
    (Risos)
  • 5:08 - 5:11
    (Aplausos)
  • 5:14 - 5:18
    EK: Esse foi um fato
    decisivo na vida dele,
  • 5:18 - 5:22
    porque, no momento em que ele tinha
    um contrabaixo pra estudar em casa,
  • 5:22 - 5:27
    ele pôde botar em prática a metodologia
    que eu desenvolvi pra todos meus alunos,
  • 5:27 - 5:32
    que consiste em estudar de quatro
    a seis horas de contrabaixo por dia,
  • 5:32 - 5:37
    pra alcançar o nível de excelência
    que essa profissão exige.
  • 5:37 - 5:42
    E ele abraçou essa ideia, adorou,
    correspondeu de imediato.
  • 5:43 - 5:47
    E logo o Weslei já estava em condições
    de participar de eventos importantes.
  • 5:47 - 5:48
    Ele participou,
  • 5:48 - 5:52
    com dois anos de instrumento,
    do 5° Festival SESC de Música, em Pelotas,
  • 5:52 - 5:56
    no qual teve a oportunidade de conhecer
    um dos maiores contrabaixistas do mundo,
  • 5:56 - 5:59
    o italiano Giuseppe Ettorre.
  • 6:00 - 6:02
    Ele também participou da edição deste ano,
  • 6:02 - 6:05
    na qual conheceu
    o professor Alberto Bocini,
  • 6:05 - 6:08
    que é um dos grandes contrabaixistas,
  • 6:08 - 6:10
    dos mais importantes do mundo.
  • 6:10 - 6:15
    Mas, no início do segundo semestre
    do ano passado, a direção da Escola,
  • 6:15 - 6:20
    em conjunto com os professores,
    resolveu fazer um concurso
  • 6:20 - 6:23
    nos moldes de uma orquestra profissional,
  • 6:23 - 6:25
    que consiste no seguinte:
  • 6:25 - 6:27
    sempre que tem concurso pra orquestra,
  • 6:27 - 6:30
    tem uma banca examinadora
    com uma cortina na frente
  • 6:30 - 6:33
    que impede que ela veja quem está tocando.
  • 6:33 - 6:36
    Assim, a banca só pode julgar
    aquilo que ela ouve.
  • 6:36 - 6:38
    Nós fizemos um concurso como esse,
  • 6:38 - 6:41
    com a maioria dos alunos
    avançados da Escola,
  • 6:41 - 6:47
    a Escola tem mais de 200 alunos,
    e o Weslei tirou o primeiro lugar geral.
  • 6:47 - 6:49
    (Aplausos)
  • 6:54 - 6:57
    WA: Esse concurso, pra mim,
    foi um grande desafio,
  • 6:57 - 6:59
    porque, de todos os alunos
    que fizeram o concurso,
  • 6:59 - 7:02
    eu era o que tinha menos tempo
    de estudo do contrabaixo,
  • 7:02 - 7:04
    não estava tão aflorado
    quanto muitos outros.
  • 7:04 - 7:08
    Mas, mesmo assim, eu sabia
    que tinha condições de fazer
  • 7:08 - 7:11
    e que seria um grande desafio,
    e eu e o Eder abraçamos essa causa
  • 7:11 - 7:16
    com a grande importância que precisava
    e um grande apego pelo momento.
  • 7:16 - 7:17
    EK: Exatamente.
  • 7:17 - 7:21
    É muito importante relatar
    tudo isso, porque nos mostra...
  • 7:21 - 7:27
    o Weslei vem de uma origem
    humilde e, teoricamente, distante
  • 7:27 - 7:33
    desse universo da música de concerto,
    mais conhecida como música clássica;
  • 7:33 - 7:37
    que é esse universo das grandes salas
    de concerto, grandes maestros e solistas,
  • 7:37 - 7:42
    todo aquele glamour que existe
    no ritual dos músicos de fraque
  • 7:42 - 7:44
    e aquele momento do concerto.
  • 7:44 - 7:49
    Mas o que a gente vê com tudo isso
    é o poder transformador que a arte,
  • 7:49 - 7:55
    em especial a música, nesse caso,
    teve de mudar tudo na vida dele.
  • 7:55 - 8:00
    Foi através da linguagem musical
    que se descobriu algo que, na verdade,
  • 8:00 - 8:03
    já existia dentro do Weslei,
    que ele já possuía,
  • 8:03 - 8:07
    que é essa sensibilidade
    artística que ele tem.
  • 8:08 - 8:12
    Isso me faz lembrar uma ocasião nesse
    primeiro festival que ele participou,
  • 8:12 - 8:13
    com o Giuseppe Ettorre.
  • 8:13 - 8:17
    A gente estava conversando, depois
    de ele ter conhecido o Weslei
  • 8:17 - 8:19
    e estar ciente do pouco
    tempo de contato dele
  • 8:19 - 8:22
    com a música de concerto
    e com o instrumento,
  • 8:22 - 8:25
    e ele me disse uma coisa que eu acho
    extremamente relevante.
  • 8:25 - 8:28
    Ele ficou impressionado e disse:
  • 8:28 - 8:33
    "É impressionante como o Weslei
    faz todas as nuances da música de Vivaldi
  • 8:33 - 8:38
    com uma naturalidade tão grande,
    que nem alunos europeus,
  • 8:38 - 8:41
    que já nasceram nesse contexto,
    às vezes, conseguem fazer".
  • 8:41 - 8:46
    Isso vem provar, também,
    que a música não tem barreiras.
  • 8:46 - 8:49
    Para o Weslei tocar Vivaldi é tão natural,
  • 8:49 - 8:53
    não interessa que ele é
    do período barroco, italiano...
  • 8:53 - 8:56
    Ele entende aquilo naturalmente.
  • 8:56 - 8:58
    E o próprio professor reconheceu isso.
  • 8:58 - 9:01
    Inclusive, este ano ele teve
    contato com outro italiano,
  • 9:01 - 9:06
    um supercontrabaixista,
    o Alberto Bocini, que eu citei antes,
  • 9:06 - 9:10
    e ele também reconheceu
    todo esse potencial que o Weslei tem.
  • 9:11 - 9:13
    Ele é professor
  • 9:13 - 9:15
    da Escola Superior de Música de Genebra
  • 9:15 - 9:18
    e fez um convite para que o Weslei
    vá estudar com ele lá.
  • 9:18 - 9:21
    (Aplausos)
  • 9:27 - 9:33
    WA: Pra mim, saber que eu saí
    da periferia, e tudo isso,
  • 9:33 - 9:35
    às vezes as pessoas
    têm um certo preconceito,
  • 9:35 - 9:39
    mas eu sei que a música,
    pra mim, significa muita coisa.
  • 9:39 - 9:41
    Pra mim, a música significa vida.
  • 9:41 - 9:46
    E saber que uma pessoa num nível
    tão alto quanto Alberto Bocini,
  • 9:46 - 9:50
    um dos maiores instrumentistas
    e contrabaixistas do mundo,
  • 9:50 - 9:54
    ele saber que eu existo,
    e saber que ele quer,
  • 9:54 - 9:59
    realmente, que eu esteja ao lado dele,
  • 9:59 - 10:04
    ele ministrando aulas pra mim,
    isso, pra mim, é gratificante.
  • 10:05 - 10:09
    E saber que, como eu já disse,
    a música faz parte da minha vida,
  • 10:10 - 10:16
    é muito pra mim saber que, mesmo
    se eu ficar sem muitas coisas,
  • 10:16 - 10:18
    às vezes ficar longe,
  • 10:18 - 10:20
    ficar em Genebra, na Suíça,
  • 10:20 - 10:22
    longe de familiares, de amigos,
  • 10:22 - 10:26
    e de tantas outras coisas
    que sei que vão fazer muita falta,
  • 10:26 - 10:29
    mas eu sei que vou estar
    com o meu contrabaixo,
  • 10:29 - 10:32
    e a música comigo,
    e eu sei que não vou estar só.
  • 10:32 - 10:35
    (Aplausos)
  • 10:41 - 10:45
    EK: Bom, agora o Weslei vai mostrar
    um pouco do trabalho dele.
  • 10:46 - 10:49
    Ele vai executar dois movimentos:
  • 10:50 - 10:54
    um Andante e um Allegro giusto,
  • 10:54 - 10:57
    do compositor italiano
    Domenico Dragonetti,
  • 10:57 - 11:00
    Concerto para Contrabaixo e Orquestra.
  • 11:02 - 11:05
    (Música)
  • 17:17 - 17:20
    (Aplausos)
  • 17:21 - 17:22
    EK: Bravo!
  • 17:26 - 17:28
    EK: Bravo! Bravo!
Title:
O poder transformador da música | Eder Kinappe e Weslei Felix Ajarda | TEDxLaçador
Description:

Eder Kinappe é professor de contrabaixo do Conservatório Pablo Komlós, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, OSPA.

Weslei Ajarda iniciou seus estudos de contrabaixo na Escola de Música da OSPA, orientado por Éder Kinappe, no ano de 2013. Em 2015, foi aprovado no 5° Festival SESC de Música, tendo "master classes" com o renomado contrabaixista italiano, Giuseppe Ettorre. Foi ganhador do primeiro concurso interno da Escola da OSPA passando em primeiro lugar. Em 2014 entrou na Orquestra Jovem da OSPA, na qual atua como primeiro contrabaixo.

Juntos, eles falam sobre o poder transformador da música e das conquistas do jovem Weslei, de apenas 17 anos, que ficava fascinado com os músicos da igreja e, em casa, tocava nas panelas. Por adorar os sons graves, tocava a ripa da cerca como se fosse um instrumento musical. Quando entrou para a Escola da OSPA não tinha noção de música clássica, nem do instrumento, mas curtiu e se dedicou. O professor conta que quando Weslei ganhou um contrabaixo pôde estudar em casa e atingir a excelência. Sempre ao lado de Eder, seu professor, o menino com talento de gente grande conta que: "Saí da periferia e, apesar do preconceito, a música faz parte da minha vida e me abriu para o mundo".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:38

Portuguese, Brazilian subtitles

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