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Fotos deslumbrantes do ameaçado Everglades

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    Tive o enorme privilégio
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    de viajar para locais incríveis,
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    fotografando paisagens distantes
    e culturas remotas
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    pelo mundo todo.
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    Adoro o meu trabalho.
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    Mas sempre acham que ele é uma sequência
    de epifanias, nascer do sol e arcos-íris,
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    quando, na realidade,
    é mais ou menos assim.
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    (Risos)
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    Este é o meu escritório.
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    Sem grana para passar
    a noite em hotéis caros,
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    é comum dormirmos ao relento.
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    Se conseguirmos ficar secos, já é lucro.
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    Também não comemos
    em restaurantes chiques.
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    Por isso costumamos comer
    o que há no menu local.
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    Se estivermos no páramo equatoriano,
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    vamos comer um grande roedor
    chamado porquinho-da-índia.
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    (Risos)
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    Mas o que talvez torne
    nossa experiência um pouco diferente
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    e um pouco mais especial
    do que a das pessoas comuns
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    é termos essa inquietação
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    que, mesmo nos momentos
    difíceis e de desespero, pensamos:
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    "Opa, pode ser que isso
    aqui dê uma boa foto;
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    talvez haja aqui uma boa história".
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    Mas por que é importante
    contar essa história?
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    Porque ajuda a nos conectar
    com nossa herança cultural e natural.
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    No sudeste dos EUA, há um divórcio
    alarmante entre a população
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    e as áreas naturais que, para início
    de conversa, nos permitem estar aqui.
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    Somos seres visuais,
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    por isso usamos o que vemos
    para aprender o que sabemos.
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    Claro que a maioria das pessoas não vai
    mergulhar de boa vontade num pântano.
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    Como esperar, então, que as pessoas
    abracem a causa do pântano?
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    Não funciona assim.
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    Então, meu trabalho é usar a fotografia
    como instrumento de comunicação
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    para construir uma ponte sobre o fosso
    que separa a ciência e a estética,
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    para que as pessoas falem sobre isso,
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    para que pensem nisso
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    e, finalmente, para que se importem.
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    Comecei a fazer isso há 15 anos
    aqui mesmo em Gainesville,
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    bem aqui no meu quintal.
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    Eu me apaixonei pela aventura
    e pela descoberta
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    explorando todos esses lugares diferentes
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    que estavam a minutos
    da porta da minha casa.
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    Há imensos e belíssimos locais
    a serem descobertos.
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    Mesmo após esses anos todos,
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    ainda vejo o mundo
    com os olhos de uma criança
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    e tento incorporar
    essa sensação de maravilhamento
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    e esse sentimento de curiosidade
    às minhas fotografias
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    sempre que possível.
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    Temos muita sorte, porque, aqui no sul,
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    ainda temos a bênção
    de termos uma tela em branco
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    que podemos preencher
    com as aventuras mais fantásticas
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    e as experiências mais incríveis.
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    É só uma questão de nos deixarmos
    levar pela imaginação.
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    Muita gente olha para isso e diz:
    "Puxa, que árvore bonita".
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    Mas para mim não é só uma árvore;
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    olho para isso e vejo uma oportunidade,
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    vejo um final de semana inteiro.
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    Porque, quando era menino,
    esse tipo de imagem
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    me fazia pular do sofá e me atrever
    a explorar, descobrir as matas
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    e pôr a cabeça debaixo d'água
    para ver o que havia lá.
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    Tenho fotografado pelo mundo afora
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    e posso lhes garantir uma coisa:
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    o que temos aqui no sul,
    aqui neste "Estado Ensolarado",
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    não fica devendo nada
    a tudo isso que tenho visto.
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    Contudo, a nossa indústria do turismo
    anda promovendo as coisas erradas.
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    Antes dos 12 anos, a maioria
    das crianças já foi à Disney
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    mais vezes do que já andaram de canoa
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    ou acamparam sob um céu estrelado.
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    Não tenho nada contra a Disney,
    ou o Mickey; também costumava ir lá.
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    Mas faltam aí as ligações fundamentais
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    que criam um sentimento real
    de orgulho e de pertencimento
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    ao local que eles chamam de lar.
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    E isso resulta da percepção
    de que as paisagens
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    que definem a nossa herança natural
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    e alimentam os aquíferos
    da água que bebemos
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    têm sido consideradas assustadoras,
    perigosas e fantasmagóricas.
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    Quando nossos antepassados
    chegaram aqui, alertaram:
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    "Afastem-se dessas áreas, são assombradas.
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    Estão cheias de fantasmas
    e espíritos maus".
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    Não sei de onde tiraram essa ideia.
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    (Risos)
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    Mas isso levou a um afastamento bem real,
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    a uma mentalidade muito negativa,
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    que tem mantido a população
    desinteressada, silenciosa,
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    e que acaba por colocar
    em risco o meio ambiente.
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    Somos um estado rodeado
    e definido pela água.
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    No entanto, durante séculos,
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    os pântanos e as áreas úmidas
    têm sido considerados
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    obstáculos a serem transpostos.
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    Assim, eles têm sido tratados
    como ecossistemas de segunda classe,
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    pois têm baixo valor econômico
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    e, claro, são o lar de cobras e jacarés,
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    os quais, reconheço, não são
    os embaixadores mais simpáticos.
  • 4:36 - 4:37
    (Risos)
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    Portanto, chegou-se à conclusão
    de que pântano bom era pântano drenado.
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    Na verdade, drenar um pântano
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    para dar lugar à agricultura
    e ao desenvolvimento
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    era considerado, até há pouco tempo,
    a quintessência do conservacionismo.
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    Mas agora estamos remando para trás,
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    porque, quanto mais aprendemos
    sobre essas paisagens alagadas,
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    mais segredos conseguimos desvendar
    sobre as relações entre as espécies
  • 5:00 - 5:05
    e a interação entre habitats,
    bacias hidrográficas e rotas migratórias.
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    Vamos pegar este pássaro, por exemplo:
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    é a mariquita-protonotária.
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    Eu o adoro, porque é um pássaro
    do pântano em todos os sentidos:
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    fazem ninhos, se acasalam e procriam
    nesses pântanos primários,
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    nessas florestas inundadas.
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    No fim da primavera,
    após criarem os filhotes,
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    voam milhares de quilômetros
    sobre o Golfo do México
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    para a América Central e a do Sul.
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    Depois, no fim do inverno,
    na primavera, eles voltam.
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    Voam milhares de quilômetros
    sobre o Golfo do México.
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    E para onde vão? Onde pousam?
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    Exatamente na mesma árvore.
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    É muito louco.
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    Este pássaro é do tamanho
    de uma bola de tênis.
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    Vejam só, é uma loucura!
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    Eu mesmo precisei de um GPS
    para chegar aqui hoje,
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    e esta é a minha cidade natal.
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    (Risos)
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    É muito louco.
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    Mas o que acontece quando este pássaro
    voa sobre o Golfo do México
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    para a América Central,
    para passar o inverno,
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    volta na primavera
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    e dá de cara com isto:
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    um campo de golfe novinho?
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    Esta é uma narrativa frequente
    demais aqui no estado da Flórida.
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    E esse é um processo natural
    que ocorre há milhares de anos
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    e só agora estamos entendendo.
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    Imaginem o quanto poderemos
    aprender sobre essas paisagens
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    se as preservarmos antes.
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    Apesar da vida rica e abundante
    que há nesses pântanos,
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    eles continuam a ter má reputação.
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    Muita gente sente-se desconfortável
    com a ideia de entrar
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    nas águas escuras da Flórida.
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    É compreensível.
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    Mas o bom de ter crescido
    aqui no Estado Ensolarado
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    é que muitos de nós
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    convivemos com esse medo latente,
    mas muito palpável,
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    de que, quando mergulhamos os pés na água,
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    pode haver alguma coisa muito mais antiga
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    e muito mais adaptada do que nós.
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    Saber que não somos os maiorais
    é um desconforto saudável.
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    Quantas vezes, nesta era
    moderna, urbana e digital,
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    temos a oportunidade
    de nos sentirmos vulneráveis
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    ou de considerarmos que o mundo
    talvez não tenha sido feito só para nós?
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    Assim, na última década,
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    comecei a procurar as áreas
    em que a floresta deu lugar ao asfalto,
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    e os pinheiros se transformaram
    em ciprestes.
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    Cheguei à conclusão de que todos
    esses mosquitos e répteis,
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    todos esses desconfortos,
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    eram afirmações de que eu tinha
    encontrado a verdadeira vida selvagem,
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    e me rendi a ela completamente.
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    Como fotógrafo conservacionista,
    obcecado pela água escura,
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    não admira ter ido parar
    no pântano mais famoso de todos:
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    o Everglades.
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    Cresci aqui no centro-norte da Flórida
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    e sempre ouvi estes nomes encantados:
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    lugares como Loxahatchee e Fakahatchee,
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    Corkscrew, Big Cypress.
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    Iniciei o que viria a ser
    um projeto de cinco anos,
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    na esperança de apresentar
    o Everglades sob uma nova luz,
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    uma luz mais inspirada.
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    Sabia que ia ser difícil,
    pois temos aqui uma área
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    que é quase um terço do estado
    da Flórida; é enorme.
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    Quando falo Everglades, as pessoas
    dizem: "Ah, sei, o parque nacional".
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    Mas o Everglades não é só um parque;
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    é toda uma bacia hidrográfica
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    que começa com a cadeia de lagos
    Kissimmee ao norte.
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    Quando caem as chuvas de verão,
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    as enxurradas vão dar no Lago Okeechobee,
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    e o Lago Okeechobee se enche,
    transborda pelas margens
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    e escorre para o sul lentamente,
    ao sabor da topografia,
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    penetrando o "rio de grama",
    as pradarias de capim-navalha,
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    antes de ir dar nos pântanos de ciprestes,
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    até avançar mais para o sul,
    para os manguezais,
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    e, por fim, chegar à Baía da Flórida,
  • 8:35 - 8:37
    a gema de esmeralda do Everglades,
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    o grande estuário,
    um estuário de 2 mil km².
  • 8:40 - 8:45
    Claro, o parque nacional
    é a parte sul desse sistema,
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    mas o que o torna tão especial são
    os elementos que ali desembocam,
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    a água fresca que percorreu
    160 km do norte até ali.
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    Não há como fronteiras
    políticas ou invisíveis
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    protegerem o parque das águas poluídas
    ou da escassez de água.
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    Infelizmente, é exatamente
    isso o que temos feito.
  • 9:03 - 9:04
    Nos últimos 60 anos,
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    drenamos, construímos barragens,
    dragamos o Everglades,
  • 9:08 - 9:13
    de tal forma que hoje só chega à baía
    um terço da água que costumava chegar.
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    Infelizmente, esta história não é só
    sobre o brilho do sol e arcos-íris.
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    Para o bem ou para o mal,
  • 9:21 - 9:25
    a história do Everglades
    está intrinsecamente ligada
  • 9:25 - 9:29
    aos altos e baixos da relação
    do homem com a natureza.
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    Mas vou lhes mostrar estas lindas fotos,
    porque elas vão sensibilizá-los.
  • 9:33 - 9:36
    E enquanto tenho a sua atenção,
    posso lhes contar a verdadeira história.
  • 9:36 - 9:38
    Acontece que pegamos isto...
  • 9:38 - 9:40
    e trocamos por isto,
  • 9:41 - 9:43
    num ritmo alarmante.
  • 9:43 - 9:45
    E o que as pessoas ignoram
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    é a dimensão real
    do que estamos discutindo.
  • 9:48 - 9:51
    Porque o Everglades é responsável
    não só pela água potável
  • 9:51 - 9:53
    para 7 milhões de habitantes da Flórida,
  • 9:53 - 9:56
    mas hoje também alimenta as lavouras
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    de tomates e laranjas durante o ano todo,
  • 9:59 - 10:01
    para mais de 300 milhões
    de norte-americanos.
  • 10:02 - 10:06
    E é a mesma quantidade sazonal
    de água, no verão,
  • 10:06 - 10:10
    que ajudou a construir
    o rio de grama há 6 mil anos.
  • 10:10 - 10:15
    E hoje, ironicamente, também é
    responsável por 200 mil hectares
  • 10:15 - 10:18
    do infindável "rio de cana-de-açúcar".
  • 10:18 - 10:20
    E esses mesmos campos são responsáveis
  • 10:20 - 10:24
    pela descarga de níveis extremamente altos
    de fertilizantes na bacia hidrográfica,
  • 10:24 - 10:27
    alterando permanentemente o sistema.
  • 10:27 - 10:30
    Mas não só para vocês entenderem
    o funcionamento desse sistema,
  • 10:30 - 10:32
    como também se envolverem com ele,
  • 10:32 - 10:35
    decidi dividir a história
    em várias narrativas diferentes.
  • 10:35 - 10:38
    Queria começar esta história
    no Lago Okeechobee,
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    onde pulsa o coração
    do sistema Everglades.
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    Para tanto, escolhi um embaixador,
    uma espécie icônica.
  • 10:45 - 10:48
    Este é o gavião-caramujeiro do Everglades.
  • 10:48 - 10:49
    Uma ave fantástica.
  • 10:49 - 10:53
    Eles costumavam nidificar
    aos milhares no norte do Everglades.
  • 10:53 - 10:56
    Atualmente estão reduzidos
    a cerca de 400 casais.
  • 10:56 - 10:58
    E qual a razão?
  • 10:58 - 11:01
    Porque só têm uma fonte
    de alimentos, um caramujo,
  • 11:01 - 11:04
    um gastrópode aquático do tamanho
    duma bola de pingue-pongue.
  • 11:04 - 11:07
    Quando começamos a construir
    barragens no Everglades,
  • 11:07 - 11:10
    a fazer diques no Lago Okeechobee
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    e a drenar as áreas úmidas,
    acabamos com o habitat do caramujo.
  • 11:13 - 11:16
    Por isso a população de gaviões diminuiu.
  • 11:17 - 11:20
    Por esse motivo, eu queria uma foto
    que transmitisse não só essa relação
  • 11:20 - 11:23
    entre as áreas úmidas,
    o caramujo e o gavião,
  • 11:23 - 11:26
    mas uma foto que transmitisse também
  • 11:26 - 11:28
    como essa relação era incrível
  • 11:28 - 11:33
    e como é muito importante
    que eles possam contar um com o outro:
  • 11:33 - 11:34
    as áreas úmidas sadias e essa ave.
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    Para isso, bolei uma ideia.
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    Comecei a esboçar planos para fazer a foto
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    e os enviei para o biólogo
    da vida selvagem em Okeechobee.
  • 11:42 - 11:45
    Como é uma espécie ameaçada,
    é preciso uma autorização especial.
  • 11:45 - 11:47
    Construí uma plataforma submersa
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    que mantinha os caramujos
    na superfície da água.
  • 11:50 - 11:54
    Foram meses planejando essa ideia maluca.
  • 11:54 - 11:57
    Levei a plataforma para o Lago Okeechobee
  • 11:57 - 11:59
    e passei uma semana
    dentro d'água, esperando
  • 11:59 - 12:03
    com a água pelo peito, nove horas por dia,
    do nascer ao pôr do sol,
  • 12:03 - 12:06
    para conseguir uma imagem
    que pudesse transmitir isso.
  • 12:06 - 12:09
    Esse foi o dia em que finalmente consegui:
  • 12:09 - 12:11
    (Vídeo): Depois de instalar a plataforma,
  • 12:11 - 12:14
    olhei e vi um gavião se aproximando
    por cima das taboas.
  • 12:14 - 12:16
    Vi que olhava e procurava.
  • 12:16 - 12:19
    Ele sobrevoou a armadilha,
    e percebi que ele a tinha visto.
  • 12:19 - 12:22
    E veio direto para ela.
  • 12:22 - 12:25
    Naquele momento, todos os meses
    de planejamento, de espera,
  • 12:25 - 12:27
    todas as queimaduras de sol,
    picadas de mosquitos,
  • 12:27 - 12:29
    tudo isso, de repente, valeu a pena.
  • 12:29 - 12:33
    "Ah, meu Deus, nem acredito!"
  • 12:34 - 12:37
    Podem imaginar minha empolgação
    naquele momento.
  • 12:37 - 12:40
    A ideia era que, para alguém
    que nunca tinha visto esta ave
  • 12:40 - 12:42
    e não tinha razões
    para se preocupar com ela,
  • 12:42 - 12:45
    estas fotos, estas novas perspectivas,
  • 12:45 - 12:48
    ajudassem a lançar uma nova luz
    sobre uma das muitas espécies
  • 12:48 - 12:52
    que tornam essa bacia hidrográfica
    tão especial, tão valiosa e importante.
  • 12:52 - 12:56
    Sei muito bem que não posso
    chegar aqui em Gainesville
  • 12:56 - 13:00
    e falar dos animais do Everglades
    sem falar dos jacarés.
  • 13:00 - 13:02
    Adoro jacarés, desde criança.
  • 13:02 - 13:06
    Meus pais diziam que minha relação
    com os jacarés era doentia.
  • 13:06 - 13:07
    Mas gosto do fato
  • 13:07 - 13:10
    de serem considerados
    os tubarões da água doce.
  • 13:10 - 13:15
    São temidos, são odiados
    e, tragicamente, mal compreendidos.
  • 13:15 - 13:18
    Porque eles são uma espécie especial,
    não apenas superpredadores.
  • 13:18 - 13:22
    Na verdade, são os verdadeiros
    arquitetos do Everglades,
  • 13:22 - 13:26
    porque, quando a água baixa
    no inverno, que é a estação seca,
  • 13:26 - 13:29
    eles começam a cavar aqueles buracos,
    os "buracos de jacaré".
  • 13:29 - 13:31
    E fazem isso porque, quando a água baixa,
  • 13:31 - 13:35
    eles conseguem se manter úmidos
    e procurar comida.
  • 13:35 - 13:37
    Isto não afeta somente eles,
  • 13:37 - 13:40
    mas outros animais que também
    dependem dessas relações,
  • 13:40 - 13:42
    portanto, eles também são
    uma espécie fundamental.
  • 13:43 - 13:47
    Então, como fazer para que esse
    superpredador, esse réptil primitivo,
  • 13:47 - 13:52
    pareça, ao mesmo tempo,
    vulnerável e dominador do sistema?
  • 13:53 - 13:57
    Entrando num poço com 120 jacarés
  • 13:57 - 14:00
    e rezando para ter tomado a decisão certa.
  • 14:00 - 14:02
    (Risos)
  • 14:02 - 14:05
    Está tudo bem: não perdi nenhum dedo.
  • 14:05 - 14:08
    Mas percebo que não vou mobilizar vocês,
  • 14:08 - 14:11
    não vou arregimentar tropas para
    "Salvem o Everglades para os jacarés!"
  • 14:11 - 14:14
    Isso não vai acontecer,
    porque hoje eles estão por toda parte.
  • 14:14 - 14:18
    São uma das grandes histórias
    de sucesso do conservacionismo nos EUA.
  • 14:18 - 14:22
    Mas há uma espécie no Everglades
    pela qual é impossível não se apaixonar:
  • 14:22 - 14:24
    o colhereiro americano.
  • 14:24 - 14:28
    Pássaros maravilhosos, mas tiveram
    uma vida difícil aqui no Everglades,
  • 14:28 - 14:32
    pois começaram com milhares
    de casais na Baía da Flórida
  • 14:32 - 14:34
    e, na virada do século 20,
  • 14:34 - 14:37
    foram reduzidos a dois, dois casais.
  • 14:37 - 14:39
    Por quê?
  • 14:39 - 14:42
    Porque as mulheres os achavam
    mais bonitos em seus chapéus
  • 14:42 - 14:44
    do que voando no céu.
  • 14:44 - 14:46
    Então, proibiu-se o comércio das penas,
  • 14:46 - 14:49
    e o número deles voltou a aumentar.
  • 14:49 - 14:51
    Quando o número começou a aumentar,
  • 14:51 - 14:55
    os cientistas começaram a prestar
    atenção neles, a estudar esses pássaros.
  • 14:55 - 14:56
    E descobriram que seu comportamento
  • 14:56 - 15:01
    está intrinsecamente ligado
    ao ciclo anual da água no Everglades,
  • 15:01 - 15:05
    aquilo que forma a bacia
    hidrográfica do Everglades.
  • 15:05 - 15:07
    E descobriram que essas aves
  • 15:07 - 15:09
    começam a nidificar no inverno,
    quando a água baixa,
  • 15:09 - 15:13
    porque, como se alimentam pelo tato,
    têm de tocar tudo o que comem.
  • 15:13 - 15:16
    Assim, esperam por
    essas poças cheias de peixes
  • 15:16 - 15:18
    para comerem o suficiente
    para alimentarem as crias.
  • 15:19 - 15:22
    Então, essas aves se tornaram
    um verdadeiro ícone do Everglades,
  • 15:22 - 15:26
    um termômetro da saúde geral do sistema.
  • 15:26 - 15:29
    E, quando esse número começou a aumentar,
    em meados do século 20,
  • 15:29 - 15:34
    disparando para 900, 1000, 1100, 1200,
  • 15:34 - 15:37
    começamos, justamente aí,
    a drenar o sul do Everglades.
  • 15:37 - 15:41
    Impedimos dois terços dessa água
    de correr para o sul.
  • 15:41 - 15:43
    E isso teve consequências drásticas.
  • 15:44 - 15:47
    Justo quando os números
    estavam atingindo o pico,
  • 15:47 - 15:50
    infelizmente, a verdadeira
    história do colhereiro hoje,
  • 15:50 - 15:55
    a verdadeira foto do que temos
    hoje é mais ou menos assim.
  • 15:55 - 15:59
    E hoje estamos com menos
    de 70 casais na Baía da Flórida,
  • 16:00 - 16:02
    porque desequilibramos o sistema demais.
  • 16:02 - 16:05
    E todas essas organizações ficam gritando:
  • 16:05 - 16:07
    "O Everglades é frágil! É frágil!"
  • 16:07 - 16:09
    Não é.
  • 16:09 - 16:10
    É resiliente.
  • 16:10 - 16:13
    Porque, apesar de tudo
    o que tiramos de lá,
  • 16:13 - 16:16
    de tudo o que fizemos e drenamos,
    apesar das barragens e dragagens,
  • 16:16 - 16:19
    ainda há ali partes
    à espera de serem recompostas.
  • 16:19 - 16:21
    E é isto o que adoro no sul da Flórida.
  • 16:21 - 16:25
    No mesmo lugar, temos o encontro
    da força desenfreada da civilização humana
  • 16:25 - 16:29
    e o objeto imóvel da natureza tropical.
  • 16:29 - 16:33
    E nessa fronteira somos obrigados
    a reavaliar nosso comportamento.
  • 16:33 - 16:35
    Quanto vale a vida selvagem?
  • 16:35 - 16:38
    Qual o valor da biodiversidade
    ou da água potável?
  • 16:39 - 16:42
    Felizmente, depois de décadas de debates,
  • 16:42 - 16:45
    estamos finalmente agindo.
  • 16:45 - 16:50
    Pouco a pouco, estamos realizando projetos
    para canalizar mais água doce para a baía.
  • 16:50 - 16:53
    Mas cabe a nós, como cidadãos,
    como residentes, como guardiões,
  • 16:53 - 16:56
    cobrar dos políticos suas promessas.
  • 16:57 - 16:59
    E vocês, o que podem fazer para ajudar?
  • 16:59 - 17:00
    É tão fácil.
  • 17:00 - 17:02
    Simplesmente saiam de casa.
  • 17:02 - 17:04
    E levem seus amigos, seus filhos,
  • 17:04 - 17:06
    levem sua família.
  • 17:06 - 17:08
    Contratem um guia de pescas.
  • 17:08 - 17:10
    Mostrem ao estado
    que proteger a vida selvagem,
  • 17:10 - 17:14
    para além da questão ecológica,
    também tem vantagens econômicas.
  • 17:14 - 17:18
    É muito divertido, façam isso,
    ponham os pés na água.
  • 17:18 - 17:21
    O pântano vai transformar vocês, garanto.
  • 17:21 - 17:24
    Ao longo dos anos,
    temos sido muito generosos
  • 17:24 - 17:26
    com as outras paisagens do nosso país,
  • 17:26 - 17:29
    cobrindo-as com nosso orgulho,
  • 17:29 - 17:32
    considerando-as lugares que nos definem:
  • 17:32 - 17:35
    o Grand Canyon, Yosemite, Yellowstone.
  • 17:35 - 17:37
    Usamos esses parques
    e essas áreas naturais
  • 17:37 - 17:40
    como faróis e como bússolas culturais.
  • 17:41 - 17:45
    Infelizmente, o Everglades
    normalmente fica fora dessa história.
  • 17:46 - 17:48
    Mas creio que seja
    tão icônico e emblemático
  • 17:48 - 17:52
    de quem somos como país
    quanto qualquer um desses parques.
  • 17:53 - 17:55
    É só um tipo diferente de natureza.
  • 17:56 - 17:58
    Mas estou confiante,
  • 17:58 - 18:00
    porque, finalmente, talvez
    estejamos mudando de opinião:
  • 18:00 - 18:03
    o que outrora era considerado
    um pântano improdutivo,
  • 18:03 - 18:05
    hoje é considerado patrimônio mundial.
  • 18:05 - 18:08
    É uma área úmida
    de importância internacional.
  • 18:09 - 18:12
    Percorremos um longo caminho
    nos últimos 60 anos.
  • 18:12 - 18:16
    Com o maior e mais ambicioso projeto
    de recuperação de uma área úmida,
  • 18:16 - 18:20
    os olhos do mundo se voltam
    para nós, o Estado Ensolarado.
  • 18:20 - 18:22
    Porque, se conseguirmos
    curar esse sistema,
  • 18:22 - 18:27
    ele vai se tornar um ícone da recuperação
    de áreas úmidas do mundo inteiro.
  • 18:28 - 18:31
    Mas cabe a todos nós decidir a qual legado
  • 18:31 - 18:33
    queremos hastear nossa bandeira.
  • 18:34 - 18:38
    Dizem que o Everglades
    é o nosso maior teste.
  • 18:38 - 18:41
    Se passarmos, conseguiremos
    conservar o planeta.
  • 18:42 - 18:43
    Adoro essa citação,
  • 18:43 - 18:45
    porque é um desafio, é um estímulo.
  • 18:45 - 18:47
    Vamos conseguir? Vamos fazer?
  • 18:47 - 18:50
    Temos de conseguir; temos o dever.
  • 18:50 - 18:52
    Mas o Everglades não é apenas um teste,
  • 18:52 - 18:54
    é também uma dádiva,
  • 18:54 - 18:56
    e, afinal, é nossa responsabilidade.
  • 18:57 - 18:59
    Obrigado.
  • 18:59 - 19:01
    (Aplausos)
Title:
Fotos deslumbrantes do ameaçado Everglades
Speaker:
Mac Stone
Description:

Durante séculos, as pessoas consideraram os pântanos e as áreas úmidas obstáculos a serem evitados. Mas, para o fotógrafo Mac Stone, que documenta histórias da vida selvagem no Everglades, na Flórida, o pântano não é um estorvo, mas um tesouro nacional. Através de suas fotografias deslumbrantes, Stone lança uma nova luz sobre uma natureza selvagem negligenciada, antiga e importante. Seu conselho é: saia e veja você mesmo. "Faça isto: ponha seus pés na água", ele diz. "Prometo que o pântano vai lhe transformar."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:15

Portuguese, Brazilian subtitles

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